Já era março e as ruas de Bristol, por algum motivo, estavam escuras. Não passava de cinco horas da tarde, e as ruas normalmente iluminadas encontravam-se em uma escuridão sem fim. Elizabeth admirava a escuridão com interesse, e sua avó, Anthea, observava a neta, que era exatamente igual Effy.

— Sabe Elizabeth, você é igual a sua mãe. — Elizabeth virou-se e abriu um sorriso, ela era de poucas palavras, herdou isso de sua mãe. — Normalmente nessas tardes escuras, ela admirava a escuridão animada, eu não entendia o motivo e nem ela me explicava. — Anthea sorriu com as lembranças de sua filha, que hoje, morava na Itália.

— Meu aniversário de quinze anos está se aproximando — Elizabeth mudou de assunto, animada. — E bem, eu já tenho em mente o que eu quero. — Um sorriso brotou no semblante da jovem. — Quero saber sobre a minha mãe, quando ela tinha minha idade. — Anthea espantou-se com o pedido da neta.

— Você tem certeza? — Perguntou-lhe a vó.

Elizabeth lhe respondeu com um grunhido que significava '' uhum '' e sentou-se ao lado de sua avó.

— Muito bem... — Anthea fechou os olhos e voltou no tempo, imaginado Effy, a garota problemática que colecionava corações apaixonados. — Sua mãe era linda, exatamente igual a você. Ela tinha seus olhos, e seus cabelos. — Anthea passou as mãos delicadamente pelos cabelos lisos de Elizabeth, então continuou. — Ela tinha sua turma, e quando eles chegavam em um lugar, era problema. — Anthea sorriu, pensando em quantas vezes Effy havia chegado em casa bêbada, completamente debilitada. — Em um certo momento da vida de sua mãe, ela conquistou o coração de três rapazes: James Cook, JJ, e seu pai, Freddie. — Ela olhou para o porta-retrato em cima da mesa da casa, havia uma foto de Effy e Freddie quando eram jovens.

— Sim, e em um momento, ela teve de escolher. E escolheu o meu pai. — Essa parte da história Elizabeth estava acostumada a ouvir.

— Bem, primeiro ela se relacionou com o Cook. Ele era jovem, inconsequente, e ela, por sua vez, não era uma santa. Eles se meteram em muitas encrencas, e em uma delas, sua mãe fugiu com o Cook. — Não lhe falhava a memória, Anthea lembrava muito bem do dia em que Effy sumiu e ficou dias e dias fora. — Em seguida, ela teve de escolher, e escolheu Freddie. Mas, ainda houve muitos empecilhos. — Anthea ajeitou-se na poltrona e olhou diretamente para a foto de Effy quando era pequena, ela fazia uma careta estranha. — Um deles, foi quando sua mãe ficou com... depressão, mas não era qualquer depressão. Depressão Psicótica. Ela estava cada vez mais destruída, até que Freddie conseguiu ajuda-la por um certo tempo. Sua mãe fazia consultas com um psiquiatra, mas não sabia que ela tão perigoso, e quando eles finalmente resolveram ficar juntos... Freddie foi morto pelo psiquiatra doente de Effy. — Anthea parou de falar por um momento, tentava conter as lágrimas que insistiam em sair, mas por fim, conseguiu se recuperar.

— Sua mãe sofreu muito, Elizabeth. Mas ela sempre foi uma garota forte, e tinha um poder de manipulação afiado. Passou-se meses, e então ela já estava, de certa forma, com a sanidade mental normalizada. Ela mudou-se para Nova York junto com Naomi, elas dividiram um apartamento. Sua mãe estava com a vida estabelecida, mas, ela acabou se metendo em confusões na empresa a qual trabalhava e acabou sendo presa. Anos depois, ela saiu da prisão, e depois de meses, descobriu a gravidez. Assim que você nasceu, ela lhe entregou para mim. Essa foi a melhor decisão tomada por Effy, pois na verdade, ela não teria capacidade de cuidar de um bebê, ela é uma eterna inconsequente. — Anthea sorriu. Por mais que as lembranças de Effy não eram tão boas, ela adorava lembra-las. A adolescência turbulenta de Effy havia lhe inspirado de certa forma. Quando virou-se para acompanhar a reação de Elizabeth, a garota estava com os olhos vidrados na avó, com um sorriso típico de Effy. Aquele sorriso você-não-me-conhece, que ela conhecia muito bem.

— E aonde minha mãe está agora? — Elizabeth perguntou.

— Eu não sei. — Mas essa não era toda a verdade. Ela sabia sim aonde Effy estava enfiada, exatamente na Itália, em alguma cidade que ela não recordava o nome. Estava namorando, e segundo Effy, ele era um Freddie perfeito, desconfiava que o homem o qual namorava era a reencarnação de seu amor adolescente. — Ela não me disse, e nos postais, sempre vem um endereço diferente, sua mãe deve estar viajando o mundo. — Anthea suspirou aliviada, pois Elizabeth parecia ter acreditado.

— Hum, tudo bem. — Quando Elizabeth virou-se, seu amigo Robert Cook estava na janela. Elizabeth desconfiava que Robert tinha uma pequena quedinha por ela, mas nunca comentou com ninguém pois não tinha certeza. Ela na verdade, não queria se relacionar com ninguém no momento, ela era livre. O céu, que antes estava escuro, por algum motivo divino ficou claro, mas não tão claro, o suficiente para andar pelas ruas despreocupadamente. Quando Elizabeth virou-se novamente, Robert estava a chamando para a rua, e então ela lhe mandou um gesto de espera como resposta. — Eu... vou indo. — Ela levantou-se e rapidamente caminhou até a porta, abrindo-a.

Naquele momento, Anthea percebeu. Aquela era a pequena Elizabeth crescendo e virando uma Effy, mas não aquela Effy inconsequente, uma Effy de certa forma moderada. Ela estava contente em ter contado a pequena história de vida de sua filha, mas claro que não havia contado tudo. Todas as lembranças, todos aqueles momentos, Anthea queria guardar aquilo tudo para ela mesma, eram lembranças boas e ao mesmo tempo ruins, que não queria compartilhar com mais ninguém além de ela mesma. Por mais que provavelmente Effy tenha esquecido tudo aquilo, ela não esquecera. Anthea levantou-se da poltrona e se direcionou para a cozinha, onde começou a lavar a louça suja do jantar. Da cozinha, Anthea ouvira a conversa de Elizabeth com seu amigo, Robert.

— Minha avó me contou sobre minha mãe, mas eu tenho certeza que ela pulou metade da história. — Elizabeth realmente não era boba, era tão hábil quanto sua mãe. — Mas, pelo pouco que eu soube, minha mãe definitivamente era poderosa, uma rainha, uma inspiração. — Elizabeth parecia deslumbrada.

— Você tem certeza? — Robert coçou a cabeça. — Pelo pouco que eu soube, sua mãe era uma... vadia. — Robert encolheu-se ao falar a palavra vadia.

Elizabeth levantou-se rapidamente, e enfurecida, deu um chute em Robert.

— A minha mãe não era uma vadia! — Elizabeth parecia descontrolada. — Não fale assim dela, nunca mais! — Quando Elizabeth virou-se para entrar em sua casa, ouviu a voz de Robert.

— Desculpe, Elizabeth. — Robert parecia arrependido.

— Meu nome não é Elizabeth, eu sou Effy Stonem! — Ela parecia orgulhosa. — E pense melhor sobre isso, seu mané. — Então ela bateu a porta na cara de Robert, sentindo-se forte, igual a sua mãe.

— Eu sou Effy Stonem. — Disse Elizabeth, agora Effy, com um sorriso sarcástico formando-se em seus lábios.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.