A Filha das Trevas - Marcados (LIVRO 2 - COMPLETO)

Capítulo Trinta e Oito - Occlumency e a Serpente


Belinda batucou a mão na perna, acabara de chegar e estava parada em frente a Dorian, que estava sentado no chão, somente a analisando.

—Quando você vai aprender a ser pontual?

—Quando você vai parar de fazer pergunta tola? –Ela revidou e o rapaz rolou os olhos.

—Occlumency. –Ele soltou.

—Que? –Ela ficou confusa.

—Você vai aprender Occlumency, a pedido de Rabastan. –Dorian informou, ainda sentado no chão.

—Rabastan pediu?

—Você sabe o que Occlumency? –Ele questionou, se erguendo do chão e espanando com a mão a parte de trás da calça.

Bell ouviu a madeira ranger quando Dorian deu um passo para perto da mochila e olhou ao redor, o chão estava empoeirado e os móveis cheios de teias de aranha, ela fez careta.

—Onde estamos? –Questionou.

—Você não sabe?

Dorian a encarou de sobrancelha arqueada, por sob o ombro. Bell rolou os olhos e olhou em volta novamente.

—Se eu soubesse não estaria perguntando, você não acha?

—Não sei, as vezes seu grau de idiotice me surpreende. –A menina bufou.

—Vai falar ou não?

—Estamos na Casa dos Gritos, Lestrange. –Ele informou, virando para a menina. –O melhor lugar para treinarmos Occlumency.

—Por que diz isso?

—Porque é doloroso no começo, então as coisas podem... Sair do controle. –Bell deu um passo atrás e ele sorriu. –Medo, Lestrange?

Belinda pensou em negar, mas não era medo realmente.

—Desse seu sorriso psicótico e olhar lunático? –Ela questionou e ele sorriu novamente, a encarando por sob os cílios. –Talvez desconfortável e desconfiada seja melhor.

Dorian sorriu de canto e se agachou, baixando a cabeça outra vez, procurando algo na mochila.

—E então, o que você sabe de Occlumency?

—É uma defesa mágica da mente, para ocultar lembranças e sentimentos. –Bell estava desconfortável com a ideia de Dorian vasculhando sua mente.

Dorian se ergueu, ajustou a postura e se virou para ela, mostrando um pequeno e fino livro.

—Isso aqui é um livro de bolso. –Esclareceu, se aproximando da menina, que já estava com a mão dentro da jaqueta, segurando a Varinha. –Você vai ler tudo o que eu anotei sobre a Occlumency e sobre Legilimens.

—Você vai entrar na minha cabeça? –Ela estava irritada.

Dorian percebeu a mudança súbita de humor. Ele sabia que Belinda odiaria a ideia, era alguém que gostava de manter seus sentimentos ocultos.

—Segundo Rabastan, ou faremos isso nós dois, ou será Bellatrix a ensinar. –Deu de ombros. –A escolha é sua. –Sorriu. –Só achei que você me escolheria... Por eu ser melhor que ela.

—Menos pior. –Ela revelou e ele bufou. –Se não gosta de ser comparado com a Vadiatrix, não comece a se assemelhar a ela. –Belinda retirou a mão da Varinha e a ergueu, pegando o livro. –Até eu sei que você é melhor que ela, Dorian.

Belinda passou por ele, deixando a frase no ar e pegando o albino desprevenido.

—Você pode ler em Hogwarts mesmo. –Ele se virou para ela, após um momento. –Hoje vamos treinar algo mais simples.

Bell ergueu os olhos das letras caprichosas de Dorian e encarou os olhos lilases, assentindo.

—O que sugere?

—Vamos fazer isso de uma forma diferente. –Dorian falou, os olhos lilases no rosto da menina. –Eu vou deixar você escolher.

Belinda ponderou e achou que poderia ser interessante.

Lestrange recordou de um velho baú escondido no sótão dos Malfoy, algo que não conseguia abrir mesmo com o Bombarda e que Narcisa insistia em dizer não ser nada, aquilo a incomodava desde criança.

—Eu ouvi falar de um Feitiço que abre objetos, mas não lembro exatamente o nome... É algo como.... Cistim? –Ela fez careta.

—Cistem Aperio. –Dorian respondeu imediatamente.

—Ou isso. –Ela concordou.

Dorian bufou.

—Cistem Aperio, abre qualquer objeto trancado, é um Feitiço não muito difícil de aprender, mas muito útil.

—Ótimo.

Dorian a encarou de olhos semicerrados. Belinda parecia o tipo de pessoa que sempre calculava muito bem antes de dar um passo, ele podia não gostar da menina, mas assumia que ela não era a pior pessoa do mundo, principalmente por essa mente rápida e aguçada.

—Tudo bem. –Ele decidiu. –Me dá alguns minutos somente para encontrar algo que possa ser trancado e vamos começar.

Draco se espreguiçou e continuou a ronda. Hermione estava calada aquela noite, andando alguns metros atrás dele, e isso o estava deixando irritado, não porque era a castanha ao seu lado, mas porque depois da notícia que recebera de Lucius, através de um pergaminho enfeitiçado, qualquer silêncio muito longo o deixaria nervoso. Principalmente quando ele não podia contar a Belinda, não agora, quando ela provavelmente ficaria mais desestabilizada e preocupada, esse era um fardo que teria que engolir sozinho, para o bem da menina.

Malfoy parou e se apoiou na parede, aguardando a aproximação da outra, que o encarou de sobrancelha arqueada e se aproximou com cautela, cruzando os braços sobre o peito.

—O que foi? –Ela questionou e Draco sorriu de canto, sem olha-la diretamente.

—Seu namorado deve ficar bem enciumado, já que você passa toda noite comigo, Granger. –Provocou e pelo canto do olho viu a menina corar, pois ele usou duplo sentido exatamente com a intenção de deixa-la sem jeito.

—O QUE? –Granger não sabia como reagir, o que faz Draco rir e a encarar.

—Eu te deixo nervosa, Granger? –Hermione sentiu as bochechas pegarem fogo diante a pergunta.

—Do que você tá falando, Fuinha?

—Só tô imaginando o que você faria, caso eu te beijasse agora. –Ele sorriu de canto e a encarou por sob os cílios, de um modo que fez o coração de Hermione querer saltar do peito.

—Você enlouqueceu de vez?!

O nervosismo da menina ficou mais que evidente.

Draco se questionou o que havia de sedutor em Hermione, principalmente quando ela corava.

—Tem uma probabilidade muito grande, Granger.

Hermione percebeu que apesar de tudo, Draco estava muito tranquilo enquanto a encarava, sem nem mesmo se movimentar mais que o necessário, era exatamente como uma Serpente antes de dar o bote.

—Você... –Hermione não sabia o que pensar, essa era a verdade.

Granger parecia ponderar o que dizer, mas por fim grunhiu e se virou, como se para ir embora, porém desistiu e virou para ele outra vez, furiosa.

—Não sei qual seu joguinho, Malfoy. –Acusou. –Mas eu não vou ser mais uma das garotas que você usa por ai! –Apontou o dedo para seu peito.

Hermione estava furiosa e isso era contagiante de uma forma divertida.

—Não sei do que você tá falando, Granger. –Disse tocando o rosto da menina.

Hermione sentiu o fogo no toque dele, mas sabia que Malfoy adorava colecionar meninas pela escola, então bateu em sua mão e cutucou seu peito.

—Pare de tentar me seduzir, Fuinha! Não vai rolar!

—Certeza? –Ele sorriu perigosamente. –Sou muito bom nisso.

Hermione viu o brilho divertido nos olhos cinza-azulados, os quais o azul estava muito evidente naquela noite.

—Você é um babaca, Malfoy. Isso que você é.

—Um babaca que sabe agradar uma mulher. –Disse inclinando o rosto para ela, mas sem se desencostar da parede.

—Sabe? –Ela bufou. –Alguém anda te iludindo, Fuinha. Não cai nessa. –Ela informou. –Cansei desse joguinho.

Hermione se virou para ir embora, mas Draco agarrou seu pulso e a puxou para ele, a fazendo vir de encontro a seu peito.

—Joguinho? –Ele sorriu, a encarando. Hermione estava de olhos arregalados devido a surpresa.

—Me larga!

—Não parece tão convicta. –Ele sussurrou, aproximando os lábios dos dela. –Mas afinal, esses “joguinhos”, não são os melhores, Granger?

Hermione sentiu o hálito quente contra sua boca, a fazendo antecipar o gosto de maracujá e baunilha, a lembrança do sabor fez sua boca salivar e ela engolir. O sorriso de Draco era sedutor e ela gostaria de fugir, mas ao mesmo tempo, ele provocando, somente raspando os lábios nos seus, era tentação demais.

Draco a sentiu vir um pouco mais para a frente, em busca de sua boca. Ele poderia ter se afastado, mas não o fez, pelo contrário, provoca-la acabava por despertar sensações nele, sensações que não sentia com facilidade, muito menos com outras garotas.

Os beijos duraram mais do que das outras vezes, nenhum se dando por vencido, por mais que ambos soubessem quer era errado, mas Draco não estava ligando para esses erros ainda, não se ele já estava no inferno, não quando sabia que sua alma já tinha um dono e que não era ele próprio. Malfoy a puxou mais para si, como se fosse possível se prender a algo bom, algo para o fazer manter a cabeça em um lugar que realmente fizesse sentido, ou não, ele nem sabia mais dizer.

Draco encostou a testa na da menina, respirando fundo. Hermione ofegou e abriu os olhos, encarando Malfoy, mas sem se afastar.

Cadê aquela repulsa toda, Hermione?” Ela questionava a si mesma, mas não encontrava resposta.

Ficaram um momento assim, em completo silêncio e se encarando, deixando a respiração normalizar, mesmo que a sensação dos beijos ainda permanecesse. Finalmente, como se ambos recobrassem o sentido, deixaram as mãos caírem ao lado de seus corpos e se afastaram, mas calmamente e ainda se encarando, era uma separação consciente e pactuada. Hermione virou de costas e começou a se afastar.

Draco a viu desaparecer. Houve um pacto silencioso entre os dois. Foi a primeira vez que realmente houvera acordo ali.

Malfoy fechou os olhos e encostou a cabeça na parede. Se sua alma não lhe pertencia, ele poderia aproveitar os últimos momentos de liberdade e como dono de seu corpo.