Belinda recordou que Dorian não poderia aparatar da Mansão Lestrange por conta das proteções, então encarou a pequena Elfa.
—Vick, será que você pode nos ajudar? –Bell chamou, fazendo os olhos verdes, da pequena Elfa, brilharem.
—Em que Vick pode ajudar à senhorita Lestrange?
—Preciso que aparate Dorian para qualquer lugar e volte aqui comigo.
—Como a senhorita quiser.
Dorian deixou a Elfa lhe tocar e tirar da casa Lestrange.
Belinda pensou em quão vantajoso era ter um Elfo-Doméstico completamente fiel a seus serviços, principalmente sendo que eles podiam aparatar de qualquer canto.
Bell sorriu ao recordar que Vick fora um dos presentes que Mary lhe deixou. A Elfa estava na família de Mary desde que ela era somente uma criança e que morara com a mulher por toda sua vida, a deixando como parte da herança para a afilhada.
Vick reapareceu ao lado da menina.
—Vick já levou senhor Dorian para longe, senhorita Lestrange.
—Eu só quero que você vá comigo, mas não precisa me aparatar.
—A senhorita Lestrange vai usar o portal que trabalhou com o senhor Dorian?
—Exato. –Ela sorriu diante a curiosidade de Vick. –Mas como ainda não temos certeza se está funcionando, acho melhor ter você comigo, pra qualquer problema que surja, já que eu não posso aparatar.
—Como a senhorita quiser, senhorita Lestrange.
Belinda respirou fundo e segurou o colar, falando o pequeno feitiço que Dorian criara para seus portais. Belinda sentiu o corpo levitar e ser sugado, logo estava cambaleando em uma ruela desconhecida, mas localizou Dorian imediatamente, encostando em uma parede de tijolinhos avermelhados.
—Demorou. –Ele repreendeu.
—Sentiu minha falta? –Ela debochou, ajustando a postura, e o viu rolar os olhos. –Onde estamos? –Perguntou por fim, colocando o colar no pescoço, ele pendia pouco abaixo do pingente que ela ganhara de Draco.
—Por que não descobre sozinha? –Ele questionou, começando a sair do beco.
Belinda arqueou a sobrancelha.

—Vick, você pode ir. –Ela sorriu para a Elfa. –Obrigada pela ajuda.
—Quando a senhorita quiser.
Belinda saiu do beco e foi atrás de Dorian, se aconchegando mais dentro do moletom. Andaram em silêncio por alguns minutos, até Belinda ver uma placa informando a rua que estavam, ela conhecia aquele lugar.
—Estamos em Wiltshire? –Ela olhou em volta.
—Acho que sua Elfa nos ouviu falando e acabou me trazendo pra cá.
Lestrange assentiu, mas não fora por esse motivo que Vick os trouxera a Wiltshire, sim porque era a cidade que a Elfa morava com Mary e onde Belinda passou uma parte significativa de seus dias na infância.
Belinda puxou o capuz do moletom para esconder o máximo possível de seu rosto e enfiou as mãos nos bolsos, andando silenciosamente ao lado de Dorian. Os olhos negros começaram a reconhecer, mesmo que pouca coisa, os arredores. Estavam na pequena praça em que Mary trazia a garota para brincar.
Dorian a viu parar no meio da rua e encarar a pracinha, logo se dirigindo até lá, ele não comentou nada, apenas a seguiu.
Lestrange caminhou pela praça, passando pelo pequeno balanço onde levara uma queda a qual lhe abriu a testa, certa vez, deixando Mary desesperada. A lembrança à fez sorrir e continuar sua caminhada.
O pequeno lago no centro da pracinha continuava o mesmo, as paredes decoradas com pedras e a água transparente. Fora ali, sentada em uma daquelas pedras que Belinda vira um homem desenhando, por volta de seus 6 a 7 anos, e se encantou pelos traços que ele fazia, perturbando Mary a lhe comprar material de desenho em seguida. Belinda parou na exata pedra onde se apaixonara pelo que um simples rabiscos podiam fazer em um papel.
E assim o papel e o lápis se tornaram amigos inseparáveis, que consequentemente se apaixonaram pela tinta. –Ela falou em irlandês, para ninguém em especial.
Mary lhe falara isso quando Belinda pintou a primeira vez. Havia esquecido a frase até aquele momento, mas retornar a Wiltshire queria dizer voltar a suas memórias de infância ao lado da madrinha e de Draco, até mesmo de Mark, que na época era suportável e tinha seus momentos engraçados, antes da loucura lhe tomar por completo.
Dorian ouviu o que ela dissera, mas não comentou, havia histórias que não se compartilhavam, principalmente com alguém que só estava ligado por obrigação. Dorian podia não gostar de Belinda, mas respeitava as memórias da menina e o fato dela não lhe atormentar com o bicho-papão, poucas pessoas lhe deixariam em silêncio após o ocorrido, contudo Dorian já notara que Belinda permitia que cada um vivesse com seus fantasmas, contando que a deixassem viver com os dela.
—Ao que parece os portais funcionam. –Ela comentou após longos minutos em total silêncio e contemplação.
—Você não foi tão idiota. –Ele concordou e ela sorriu fracamente.
—Já acabamos aqui. –Ela falou.
Dorian assentiu e segurou seu braço.
Belinda ainda não conseguia não sentir a irritante sensação após desaparatar. Ela respirou fundo e encarou a Mansão Malfoy ali perto.
—Amanhã à noite, depois que você conseguir ficar livre dos Malfoy, me encontra. –Ele mandou. –Tem algo que preciso te mostrar.
—Eu tenho escolha? –Ela quis saber, arqueando a sobrancelha.
—Tanto quanto eu. –Ele a encarou, a fazendo estalar a língua.
—Nos vemos amanhã então.
Belinda encarou o rosto de Dorian uma última vez, antes de se virar e entrar na Mansão.
—Por onde você andou? –Narcisa quis saber assim que a garota colocou os pés em casa.
Lestrange a encarou de sobrancelha arqueada.
—Estava andando pela vizinhança, por quê?
—Desde que acordou?
—Ficar presa aqui estava me dando nos nervos. –Ela encarou Narcisa. –A não ser que, assim como Bellatrix, você me queira presa e louca, sim, fui caminhar desde cedo, porque eu não consigo ficar presa nessa casa por muito tempo, então se quiser me colocar de castigo, faça agora, se não, me deixa ir dormir.
Narcisa se chocou com as palavras.

—Você mudou. –Ela sussurrou.
—Agradeça a sua irmã por isso. –Rebateu e começou a caminhar para as escadas.
—Belinda...
—Narcisa, eu agradeço tudo o que faz por mim, mas não tente acalmar as coisas quando se trata de Bellatrix, você só vai me perder se tentar.
Belinda seguiu para seu quarto, onde encontrou Draco jogado na cama, com Rúnda andando de um lado para o outro ao redor do loiro.
—Essa sim é uma visão interessante. –Ela riu.
Draco ergueu os olhos e sorriu para a menina.
—Bem-vinda de volta.
—Valeu.
—Já encontrou a mamãe, né? –Ele quis saber e ela assentiu, batendo a porta do quarto.
—Você me deve um presente. –Ela sorriu, mudando o assunto.
—Devo?
—Sim.
—Não lembro disso.
—É bom que comece a lembrar.
Draco riu e se sentou na cama, puxando uma caixa azul comprida da poltrona e entregando para a amiga.
Belinda abriu a caixa e riu, havia um bota negra sem salto de cano longo e cadarços vermelhos, lhe lembrava muito ao sapato all star, que ganhara certa vez de Hermione.
—Adorei! –Ela falou empolgada.
—Você gosta desse tipo de coisa, então... –Ele deu de ombros e ela sorriu.
—Você foi até uma loja trouxa comprar isso pra mim?
—Não se sente muito. –Ele resmungou.
—Obrigada. –Ela sorriu. –Espera, você tá querendo algo em troca?
—Não sei porque você pensa isso de mim.
Belinda franziu o cenho.
—Eu suspeito até quando você respira, Malfoy. –Isso o fez gargalhar.
Belinda passou grande parte da noite conversando com o amigo. Ela jamais imaginara que seu maior medo fosse perdê-lo, aquela foi uma descoberta que a deixou confusa, mas compreendeu, Draco sempre fora de sua família e era o único que lhe restava. Um medo confuso, mas compreensivo.