Sacrifícios Precisam Ser Feitos

Fiora fechou os olhos, meditando por longos segundos. Quando os abriu, fitou Riven. - Está pronta..?

Riven tinha completa convicção de seu estado físico, no momento. Sangrava sem parar, sentia dor em cada célula de seu organismo. Seria apenas um peso morto, para a duelista.

– Eu não tenho condições de lutar, Fiora... - A loira sussurrou, sem força. A Sedenta por Sangue fora suficiente para impedi-la de morrer imediatamente, mas os ferimentos eram extremamente profundos. Precisaria de tempo, descanso e tratamento médico, para sobreviver, e demoraria algum tempo para estar preparada novamente. - Você pode fugir se quiser... eu tenho certeza que consegue... Se ficar... a morte é certa.

Fiora olhou os antigos aliados se colocando em posição de batalha, franzindo o cenho. - Está louca? Joguei tudo para o alto. Não vou fugir como uma cadela agora! - Mordeu o lábio inferior, lhe sorrindo. - Eu não poderia fugir, nem que quisesse. E não vou te abandonar. A morte é só uma etapa da vida de um guerreiro. Só se assegure de levar uns deles conosco.

A noxiana então deu uma gargalhada, sentindo uma pequena explosão de adrenalina, lhe dominando o corpo.

***

– As vezes é uma contenda de honra. Talvez, para Yasuo, completar sua missão seja mais importante até mesmo que a própria vida...

– CALE A BOCA! Você fala demais, Fiora. Fala, fala, fala, fala, fala. Sua voz... quando eu a escuto por muito tempo, começo a ter dor de cabeça. Seu sotaque é enjoado, dá nos nervos! Acho que é por isso que você está sozinha até hoje. Por que ninguém aguenta você!

***

– Tudo bem... Fiora... - Fez um esforço, se pondo de pé, e segurando a espada. Se ia morrer, seria demonstrando coragem.

– A menos... que... - Fiora sussurrou, quando Xin Zhao avançou.

Riven não entendeu. - A menos que?

– Uma técnica que aprendi, mas nunca testei. - Deu um pequeno sorriso. -Acerte a última marca com a Sedenta. - Avançou contra o antigo companheiro.

– O que!? - Tomada pela adrenalina, Riven começava a sentir lentamente a dor se dissipar, enquanto um ânimo estranho lhe dominava.

Conseguiu erguer a espada bem a tempo de ver o confronto entre os dois demacianos. Fiora e Xin Zhao se atacavam com maestria, mas era somente questão de tempo para Quinn, Garen e os outros intervirem. A própria Shyvana também parecia disposta a entrar em ação. Fiora não os aguentaria juntos por mais que alguns minutos. Ela precisava muito fazer alguma coisa.

Então, viu o milagre começando a se desenhar.

Marcas apareceram ao redor de Xin. Quase como cilindros esféricos, em pontos estratégicos de seu corpo. Pontos vitais, percebeu. Havia um deles na cabeça, no pescoço, no abdome... Mas antes que pudesse analisar todos, Fiora já os estava estourando, com a Valsa da Lamina. Ela se movia muito rapidamente, teletransportando-se ao redor de Zhao, sem que ele pudesse fazer nada, e antes de aproximação dos demacianos.

– Riven! Agora! - A duelista disse, jogando a Sedenta em sua direção.

A loira não precisou pensar duas vezes, largou a Lâmina do Exílio e captou a espada rubra no ar, acertando o último ponto vital que faltava. O coração de Xin Zhao.

A espada o penetrou de uma só vez, lhe cruzando o peito e saindo pelas costas. Riven pôde ouvir seu grito de dor, o mesmo grito conhecido, pelas tantas vidas que havia tirado. Mas o que ocorreu em seguida era diferente de tudo que já havia visto.

Começou a sentir seu corpo "se curando". Mas não a energia que conseguia com a Sedenta. Não. Era algo diferente. Havia uma aura esverdeada, semelhante à cura de Nidalee, lhe regenerando completamente. Mas Nidalee tirava o poder de cura da sua própria alma. De onde ela estava tirando aquilo?

Percebeu então, que roubava a essência vital de Xin Zhao. Enquanto ele caminhava cada vez mais fundo para a morte, Riven se recuperava intensamente.

Podia ver todos parando, ao redor, encarando embasbacados o que estava acontecendo, incluindo a própria Fiora. Provavelmente sua técnica estava funcionando muito melhor do que o que ela havia imaginado.

Quando a energia verde cessou, a chuva caiu, novamente, fria.

Silêncio.

Riven arfava com a espada rubra nas mãos, ainda mais vermelha pelo sangue do, agora cadáver, caído à sua frente. Sentia-se bem. Completamente bem. Tocou os antigos ferimentos com as mãos. Pele lisa. Estava totalmente curada, descansada, alimentada. No auge de sua forma física.

– Fiora! Deu certo! - Gritou para ela, se virando para checar a duelista.

Ela, por sua vez, parecia acabada. Como se o uso daquela habilidade houvesse lhe torrado todo o vigor físico.

– Sim... - A morena tentou sorrir. E então gritou, de dor, tombando, em seguida.

Riven conseguiu ver Vayne, da plateia, com um arco vazio em suas mãos, e lágrimas nos olhos. Aquela flecha agora estava alojada nas costas de Fiora.

– NÃÃÃÃO! - Riven gritou, correndo na direção da amiga.

Agora, que Fiora não podia mais se mover, Jarvan não precisava correr riscos de perder mais nenhum homem num combate singular.

– Arqueiros! - Gritou.

Riven nem lhe deu bola. Alcançou Fiora e se ajoelhou ao seu lado, tentando pegá-la no colo.

– A gente vai conseguir...

– Você precisa fugir... - Ela sussurrou, fraca. - Se você morrer aqui... nada que eu fiz terá valido de nada...

– Não vou fugir sozinha! Sobreviveremos juntas, ou morreremos.

Conseguiu sentir a aproximação de Nidalee.

– Como ela está? - Perguntou, começando a curar Fiora.

– Não sei! - Riven grunhiu, frustrada, sentindo a primeira onda de flechas vindo. Criou um escudo grande o suficiente para proteger as três.

A segunda onda também parou no escudo, o que gerou a impaciência de Garen.

– DEMACIA! - O General gritou, avançando com sua espada.

– Eu o paro! - Riven disse, se levantando, irada. Lâmina do Exílio em uma mão e Sedenta por Sangue na outra.

– E quem vai nos proteger da flechas? - Nidalee perguntou. Ela realmente precisava de tempo para curar Fiora, que já havia desmaiado.

– JARVAN! EU CONTRA GAREN! O DUELO FINAL! - A loira gritou para o rei.

Certamente aquela possibilidade teria agradado Garen, que sem dúvidas estava louco pela oportunidade de poder vingar Katarina. Mas o rei já estava cansado de correr riscos.

– MATEM ELAS! CHEGA DE BRINCADEIRA! AGORA! - Ordenou.

Uma nova chuva de flechas se curvou no ar. Riven ficou encarando os projéteis, com uma expressão vazia. Elas eram tão bonitas.

Garen se arremeteu contra si, no momento seguinte. Um golpe seco, de cima para baixo, com sua espada montante. Riven o bloqueou com a Lâmina do Exílio, mas sentiu algo errado, na mesma hora.

Era como se uma descarga elétrica houvesse sido lançada contra seu corpo. Mas não houve muito tempo para pensar sobre aquilo. O punho do General a acertou em cheio, no rosto, empurrando-a para trás e fazendo-a se chocar contra Nidalee, derrubando-a junto.

Tentou ligar o escudo, mas nada aconteceu. Nada. Não havia proteção. Fechou os olhos e abraçou Fiora. Talvez seu corpo lhe oferecesse alguma defesa.

E no momento em que as flechas deviam ter matado as três garotas, o som do vento dançando ao redor foi a melodia mais bonita que Riven jamais escutara. Pode vê-lo em pé, com a espada embainhada, de costas para si. Uma grande parede de ar, envolvendo os quatro, protegendo-os de qualquer agressão externa.

Ele virou o olhar e lhe fitou na face. Sorriu.

E Riven nunca havia experimentado uma sensação tão boa na vida, como a de revê-lo.

– EXCELÊNCIA! - Yasuo gritou para Jarvan, tendo plena convicção das flechas apontadas para si. - SEI QUE É MUITO DIVERTIDO ASSISTIR SEU PESSOAL DE CONFIANÇA SE ENFRENTANDO ATÉ A MORTE. - Disse, com um humor irônico. - MAS SE ME PERMITE UM CONSELHO, TALVEZ FOSSE MELHOR MANDÁ-LOS SE PREPARAR PARA A BATALHA. - Enquanto falava, ia olhando no rosto de cada demaciano ali presente, tanto os generais, quando os soldados comuns, e até mesmo os poucos civis que ainda haviam ficado para assistir o desenrolar daquele amistoso duelo. E todos eles já começavam a ficar tensos, ouvindo o som crescente dos tambores de guerra, que cada vez mais se faziam notar.

E Yasuo concluiu, olhando no fundo dos olhos do rei, com um misto de desprezo e ódio:

– POIS OS NOXIANOS ESTÃO EM VOSSA PORTA!