A Exilada

Mais Pesadelos


Correu desesperadamente, através das planícies flamejantes de Ionia, enquanto mais uma onda de mísseis caia próxima a si. O impacto de um deles foi suficiente para j

Correu desesperadamente, através das planícies flamejantes de Ionia, enquanto mais uma onda de mísseis caia próxima a si. O impacto de um deles foi suficiente para arremessar a moça longe, fazendo sua imensa espada rúnica cair a vários metros distante de si.

– Ahhhhh! - Gritou, com o tombo.

Não havia, entretanto, tempo para descanso. Um pulo e a moça estava, ofegante, correndo até a arma e rapidamente a recolhendo.

Um segundo míssil caiu ainda mais perto, causando um estrago considerável. Extremamente tonta, tateou o chão com um zunido insistente, que teimava em não sumir, que assolava seu ouvido, mais um misto de sensações gerada pela lateral incandescente de seu traje de batalha, parte tecido, parte aço, e o beijo frio da chuva torrencial que castigava Ionia.

Ergueu-se lentamente, com a visão obscurecida pelo sangue proveniente de seu supercilho aberto, tentando se situar. As chamas que tanto lhe incomodavam foram rapidamente vencidas pela tempestade. Limpou o rosto com as costas da mão, para poder ver uma figura se aproximar rapidamente, gritando.

– É uma armadilha! Estamos presos! O que fazemos? - Ele rapidamente a apoiou, enquanto ela se recuperava.

Rapidamente dispensou a gentileza, voltando a se apoiar sozinha. Apertou o cabo de sua espada, enquanto sons horrendos se expandiam pelo, já caótico, campo de batalha. Os gritos de seus homens a incomodavam profundamente, assim como o fato de, aparentemente, não haver nada que pudesse fazer para cessá-los.

– Miguel! Precisamos nos agrupar! Ou vamos todos morrer! - Gritou, desesperada. Jamais imaginou que a situação pudesse chegar a tal ponto. Jamais imaginou que, em sua primeira missão importante como comandante, fosse cair em uma armadilha traiçoeira como aquela. – Precisamos bater em retirada! A batalha está perdida!

– Jamais! - O capitão disse, convicto. Ela sabia que não podia voltar atrás. Era uma noxiana, e Noxianos não recuavam. Noxianos lutavam até o fim, custasse o que custasse. - Não podemos recuar!

– Agrupe o pessoal! Vou pensar em algo!

Correu, se afastando do epicentro do combate, tentando pensar em uma estratégia que fizesse sentido, que salvasse todos eles. Confiava muito em seu próprio potencial. Nunca havia falhado com Noxus, e essa não seria a primeira vez. Foi quando percebeu um míssil muito maior do que todos os anteriores, lançado contra o grupo de soldados noxianos, que tentava se organizar em meio a todo aquele caos.

– Puta merda!

Havia sido treinada para lutar a vida toda. E, com 14 anos, já era considerada mestra na magia de combate noxiana. Com 18, entrou no Exército. Com 21, na Elite Carmesim, equipe especial, e agora participava de uma das maiores invasões já realizadas em Runaterra, como líder na linha de frente. Tudo com sua eficácia em combate. Não era erraria, não naquele momento..

Ergueu a espada, e cortou o ar. Da ponta de sua lâmina, saiu uma rajada de vento, na direção precisa do míssil. O deslocamento de ar atingiu o projétil em cheio, dividindo-o ao meio, enquanto explodia no céu.

Respirou aliviada, sorrindo, ainda que por um único momento. Havia salvado vários de seus homens, ao menos por hora. Então percebeu um grande número de ionianos avançando contra si. Não importava. Eram simples soldados. Com velocidade, perícia e magia de combate, podia vencer todos eles. E, rapidamente, havia uma pilha de soldados a seus pés.

Mas, havia algo engraçado. Aqueles soldados não usavam elmo. E sim, máscaras de gás.

Finalmente percebeu, o objetivo real dos mísseis.

– MIGUEL! TIRE TODOS... - Seu grito foi interrompido por um golpe de espada, que se viu obrigada a bloquear.

O homem que lhe atacou se aproximou muito rápido, e sua agilidade era quase infinita, pois logo a loira se viu obrigada a defender uma série de ataques que teriam eliminado qualquer excelente soldado noxiano.

Deu um pulo longo para trás, se afastando do homem, que esboçou uma gargalhada provocadora e confiante no rosto, através da máscara de gás. Portava uma katana longa, assim como seus volumosos cabelos castanhos que desciam até sua cintura.

– Ora, ora. Temos aqui alguém... - Ele tentou começar, mas a noxiana não tinha tempo para ouvir o que quer que ele ousasse balbuciar. O veneno dos mísseis já devia estar circulando livremente dentro do seu organismo, e dos seus soldados.

A espada rúnica cortou o ar novamente, lançando uma nova onda cortante, em direção ao espadachim. Aquilo o surpreendeu bastante, ela pode ver em seus olhos. Mas, no segundo seguinte, uma parede de ar apareceu entre o golpe e o alvo, anulando a habilidade lançada.

– Temos aqui alguém que domina a técnica do vento. - Ele completou a frase, sorrindo. - Será divertido.

Então, a loira viu uma nova onda de mísseis, sair de Ionia. Dessa vezes, eles não haviam economizado. Centenas de projéteis cortavam o ar.

E o espadachim avançou novamente.

*******

– Ahhhhhhhhh! - A loira gritou, respirando pesado. Seus olhos vasculharam rapidamente ao redor, em busca de alguma ameaça, mas o eco de seu grito contra o silêncio da catedral em ruínas a fez relaxar. Passou as mãos no rosto, tentando exorcizar aquelas lembranças. Fazia quase dois anos, e não havia um único dia em que não sonhasse com a invasão fracassada de Ionia.

Com o seu fracasso.

Havia perdido 237 companheiros em uma maldita praia, que, em algum momento, havia se transformado no inferno na Terra. 237 companheiros. Em uma unidade com 238 membros.

Era a única sobrevivente. A única que havia posto o rabo entre as pernas, e fugido da batalha. "Pelo que?", se perguntou pela milionésima vez. "Por um sonho de agarrar uma existência miserável que eu nunca aproveitei".

Sabia que jamais poderia voltar a Noxus. Estava morta, para seu país. Não que quisesse, independente de qualquer coisa. Havia mudado muito, depois da invasão. Aquilo era loucura. Ninguém devia ser obrigado a passar por uma dor como aquelas, para satisfazer as ambições de egoístas de um conselho, ou mesmo um rei.

E essa consciência, fora tudo que havia conseguido extrair, daquele dia. Perdeu seus companheiros. Abandonou sua família. Seus títulos. Seu lar. Era agora uma mulher sem pátria, sem objetivos, que apenas vagava por ai, vivendo um dia de cada vez.

Uma palavra resumia bem, o que era.

Exilada.