A Exilada

Lâmina do Exílio


Yasuo deu um novo golpe de espada. Dessa vez, decepou completamente a barba volumosa do homem, fazendo-lhe um pequeno corte na altura do pescoço.

Sorriu, mostrando, em seguida, a espada suja de sangue para a platéia. Os gritos de animação vieram sem demora. O homem, corpulento, largou o machado e ficou encarando sua barba cortada a seus pés, com olhos esbugalhados. Então fez uma careta e coçou o ferimento, derrotado.

– Mais uma dose por conta do gorducho ali. - Yasuo riu, recolocando sua espada na bainha. - Quem quer se o próximo a bancar minha bebedeira? - Perguntou, já extremamente alterado.

Havia chegado no Cutelo Negro - um bar na região periférica de Noxus -, sem um tostão furado, e aceitara participar do "sanguinário", esporte noxiano sem regras no qual vence quem conseguir tirar uma, ou mais, gota de sangue do corpo do adversário primeiro. O perdedor pagava uma dose de cerveja. Depois de dias de caminhada, Yasuo estava disposto a participar de qualquer coisa para garantir uma bebida gelada. Ou duas. Ou três.

Na verdade, aquele homem já era o oitavo que provava o gosto de sua lâmina afiada.

Sentou-se na bancada, jogando a espada de qualquer jeito no chão. Ela precisava ser completamente limpa para o jogo recomeçar. Como já havia se tornado uma celebridade no lugar, em cerca de 30 minutos, rapidamente a arma foi recolhida e levada para dentro. Era a hora de beber aquela cerveja preta da pior qualidade, que lhe parecia um manjar dos deuses.

– Você se move rápido demais para um homem bêbado. - Um velho com um olho furado, lendo um jornal a sua esquerda disse, com uma risada estridente em seguida.

– Amigo, só há três certezas na vida. A morte. O vento. E a ressaca. - Yasuo disse, o fitando por meio segundo. O sorriso já estava estampado em seu rosto, prestes a completar a frase irônica que havia planejado.

Mas percebeu a foto no jornal.

Ficou paralisado, encarando aqueles cabelos loiros quase brancos, aquela expressão confiante, a espada rúnica gigante. Se lembraria dela mesmo que vivesse mil anos.

– Me dá isso aqui! - Disse, tomando o jornal do velho e o jogando sobre a bancada. - Essa mulher, quem é essa mulher? - Disse apontando fixamente para o rosto.

– Essa ai? - O velho aproximou o rosto, e abriu um pequeno sorriso irônico. - Você não é daqui, é? - Ignorou o gesto grosseiro do espadachim e levou o cachimbo à boca.

– Não. Quem é ela?

– Ela se chama Riven. - Ele disse, com uma pausa longa. - Uma das líderes na invasão de Ionia. Aparentemente estava morta há unsde dois anos. Uma heroína de Noxus. - Fez uma careta, olhando para o chão e balançando negativamente a cabeça. - Na verdade ela fugiu da batalha e estava se escondendo em Piltover. Mas foi capturada, e está sendo mandada de volta para cá. Tem tudo ai na matéria. Você pode ler, se quiser.

Yasuo correu rapidamente seus olhos atentos pelas páginas do jornal. Ali dizia que a moça envergonhava o espírito noxiano e que, o único modo de restaurar a honra da unidade de Riven era lhe executar na Praça da Sagrada Paz Noxiana, diante de todo o país.

"Executada em Noxus por um crime cometido contra Noxus?", Yasuo pensou. "Nem pensar". Ali também dizia que uma unidade de Noxus, liderada pelos irmãos Du Conteau, Katarina e Talon estava sendo enviada para interceptar o comboio composto pela carruagem e uma pequena força policial piltovernense."Não se eu chegar antes", virou o resto do copo de cerveja e recolheu a espada.

Saiu do bar, ainda meio tonto e caminhou as cegas. Precisava de um meio de transporte. O pior era que não sabia a que horas o jornal havia sido editado. Talvez Katarina e Talon já estivesse a caminho. Já havia ouvido falar dos Du Conteau. Katarina era uma assassina brilhante, e Talon integrava a Elite Carmesin. Se eles chegassem em Riven primeiro... seria trabalhoso.

Foi então que viu um Capitão da Guarda Noxiana, cavalgando tranquilamente pelas ruas do reino, com seu cavalo de raça. Não teve dúvidas. Era com aquele transporte que chegaria a Riven.


*********

Uma batalha marinha era extremamente diferente, de uma terrestre, percebeu Riven. O Vingadora Ventania estava agora lado a lado com o Dragão do Mar, e um emaranhado de cordas e ganchos uniam os dois navios. Balas de canhão e gritos enlouquecidos vinham de todos os lados. Não demorou muito para os primeiros invasores começarem a pular para o Ventania.

Mas Riven não lutaria pela proteção do navio de Sarah Fortune. Não. Sua missão era ofensiva. Segurou uma corda próxima a si e pulou, sentindo a brisa em seu rosto, pouco antes de aterrissar com os dois pés, espada, e um desejo incontrolável de acabar logo com aquilo.

Os piratas inimigos pareceram realmente chocados com sua visão. Uma garota jovem, invadindo o navio deles com uma espada maior que ela mesma.

– Você será meu jantar, gracinha. - Um deles disse, com uma risada de hiena, um pouco antes de avançar com sua espada em riste.

Foram dois golpes. O primeiro para aparar a lâmina do agressor.

O segundo, o dividiu no meio.

O homem não morreu imediatamente. Caiu no convés, gritando. Riven fitou seus olhos desesperados, não conseguindo deixar de evitar lembrar dos soldados noxianos morrendo queimados pelos mísseis na invasão de Ionia.

Infelizmente, não teve muito tempo para aquelas reflexões, porque uma chuva de piratas caiu sobre si. Eles não usavam armaduras - nem poderiam, com o mar abaixo de si -, de modo que apenas um golpe daquela montante era suficiente para acabar com todos eles. Em pouco tempo até Riven estava surpresa com a carnificina que ela mesma estava causando, diante dos tantos corpos destroçados.

Eram muitas vidas mutiladas.

"Violência para acabar a violência", fora a promessa que havia feito para si mesma, tantos anos antes, ao entrar no exército noxiano. Mordeu o lábio inferior, e escutou o som dos tiros.

Pode ver as balas, todas elas parando em seu escudo mágico. As runas em sua espada ganharam um tom de verde mais intenso. O corte seguinte, feito no ar, provocou uma grande onde de vento, jogando inimigos e aliados todos contra o chão, e danificando uma vela do Dragão do Mar.

– Trouxeram uma deusa para lutar contra nós! - Alguém disse, com voz assustada. Piratas e suas supertições.

– É só uma mulher, como uma outra qualquer! - Uma voz grossa, completamente desprovida de medo soou calando qualquer murmúrio que pudesse existir no navio.

Gangplank veio cruzando o convés. Cimitarra em uma mão e pistola na outra, além do cigarro no canto da bora e desprezo no olhar.

Riven pode ver Sarah Fortune se recostar na balaustrada do próprio navio, e abrir um sorriso discreto no rosto. Todos os focos de luta haviam sido encerrados e agora, tanto a tripulação do vingança quanto a tripulação do Dragão encaravam o capitão e a campeã, designada para lutar por Sarah.

– Apenas se renda. - Riven disse. Estava começando a sentir o estômago embrulhar. Era quase como se pudesse recordar seu encontro com Yasuo, na praia de Ionia. "Eu não quero matar mais ninguém...", pensou consigo mesmo, um pouco antes de perceber a mulher e a criança, com os olhos amedontrados, a fitando do único compartimento aéreo do Dragão do Mar. Provavelmente sua esposa e filha, ou uma mãe desamparada que o pirata, por um motivo inexplicável protegia. - Mais ninguém precisa morrer!

– É muita petulância sua querer me dar ordens dentro do meu próprio navio! - Ele gritou, apontando a arma e atirando.

O escudo mágico de Riven apareceu e bloqueou o tiro, mas uma grande descarga de cargas estáticas, provenientes da bala, sobrecarregou o escudo, fazendo-o desaparecer em seguida. Riven não contava com aquilo. Teria que tomar uma providência rápida.

Um corte de vento, muito mais concentrado que o primeiro, atingiu em cheio a mão da arma de Gangplank, fazendo seu revolver voar longe, e o jogando vários metros a frente, no convés.

– Estão vendo, homens! - Ele gritou, se levantando com certa dificuldade. - Uma balinha e seu escudo veio abaixo. Ela é SÓ uma mulher! - Ele avançou.

Riven tinha que admitir que Gangplank era bom. Seus golpes eram velozes e dotados de grande experiência. As espadas se beijaram uma, duas, três vezes, numa dança demoníaca. Um golpe poderoso de cima para baixo e a espada montante grudou no convés, obrigando a loira a se abaixar para não ter seu pescoço decepado.

Um pulo para trás, e a posição de combate foi novamente assumida.

– É a última vez que aviso. Cansei de brincar. - Disse, o fitando como um predador.

– Pode vir! - Gangplank respondeu, com voz grave. - Não tenho medo de você, putinha! - Ele cuspiu no convés.

A runas na espada clarearam, e Riven avançou com uma estocada muito veloz. A cimitarra de Gangplank até tentou bloquear a investida, mas a intensidade do golpe foi tanta que ela se partiu ao meio. A montante não parou, até perfurar e atravessar completamente a barriga do capitão, espetando-o na lâmina.

Riven ouviu um gemido abafado de dor, e um grito desesperado de cima. Gangplank apertou a lâmina e abriu a boca, com uma expressão de rosto indescritível. Logo em seguida, a cabeça pendeu para frente e o olhar perdeu o foco.
A mulher e a criança deram um último olhar de ódio para a noxiana, com os olhos lacrimando, e entraram. Miss Fortune bateu palmas, com um sorriso exultante no rosto.

Riven retirou a espada e caminhou de volta na direção do navio. A partir dali, o dia morreu para si. Não aceitou nem um centavo do saque, se recusou a participar de qualquer comemoração e até mesmo ignorou o chamado de Sarah para receber um prêmio por serviços prestados a Bilgewater, cidade que ela, supostamente, tentava salvar de Gangplank.

Só conseguia pensar em uma coisa. "Violência para acabar a violência". A mulher e a criança chorando no compartimento de cima. O que seriam delas agora, sem a capacidade de se cuidarem sozinhas. "Violência para acabar a violência". Aquela promessa não fazia sentido. A violência só conduzia a mais dor. Vozes sussurrantes do mortos nas praias de Ionia. Sangue encrustado nas runas de sua espada.

Riven segurou a lâmina na metade, e as runas assumiram um tom esverdeado. Ela mordeu o lábio inferior e continuou transmitindo energia à lâmina. Sentia as runas começando a sobrecarregar. Não importava. Aquela espada só servia para causar dor e destruição. E Riven sentia que nunca seria nada além de uma arma, enquanto a portasse. "Violência para acabar a violência". Ela apertou a lâmina e a puxou com força.

Sentiu a espada se desfazendo em seus dedos. Cada pedaço de metal, guardando uma runa, se separando do corpo principal da espada e caindo no convés.

Somente a metade da espada permaneceu compacta.

O resto foi lançado ao mar.