Riven ficou apática, diante do beijo. Gostaria de dizer que correspondeu com vigor, se entregando completamente nos braços do rapaz. Ou até mesmo que lhe deu um tapa na cara, chamando-o de insolente, e saindo dali, irritada.

Mas ficou assustada. Como jamais havia ficado antes, em nenhuma batalha. Fitava os olhos fechados de Yasuo, e sentia sua língua passeando pelo interior de sua boca. Quando finalmente pensou em começar a aproveitar aquilo, o rapaz estava novamente olhando para si.

– Riven? - Ele sussurrou, lentamente, olhando para ela, a espera de algum sinal. Não encontrou nenhum. A garota parecia ainda mais assustada do que ele mesmo. - Desculpe. Eu... eu não devia ter feito isso. Me desculpe. - Disse, dando uma gargalhada, e virando de costas, enquanto caminhava para o interior da casa. - Por que você iria querer me beijar?

– Mas eu quero... - Riven sussurrou, ainda encostada na parede. Cerrou os dentes, o fitando desaparecer no interior da mansão. - Droga! - Deu um tapa na própria perna. Havia sido extremamente idiota. Mas também, como podia ter reagido? Ele nunca demonstrara nada quanto a sentimentos amorosos para si. A loira achava que, no máximo, estavam virando bons amigos. Não era como se acreditasse que Yasuo fosse capaz de beijá-la.

Sentia-se completamente inútil e frustrada. Havia treinado grande parte da vida para lutar, e por isso era um soldado excelente, mas percebeu que, no fundo, por detrás de toda a pompa de guerreira, ainda era uma garotinha, inocente, e sem nenhum conhecimento da vida real.

Suspirou, fazendo cara de muchocho, sem a menor vontade de entrar em casa.

– Você está bem? - Perguntou uma voz, que vinha do alto.

Riven ergueu a cabeça para olhar, e lá estava Nidalee, sentada no topo do altíssimo muro da casa.

– Como você chegou até ai? - Riven perguntou, ao mesmo tempo surpresa, e querendo desviar a conversa do que havia acabado de acontecer.

Nidalee deu um sorriso.

– É costume dos humanos responder uma pergunta com outra pergunta?

– Você viu tudo? - Riven perguntou, baixo, e desviou o olhar, fitando o chão.

Nidalee pulou. Era uma altura considerável, mas a garota caiu em pé, apenas curvando levemente o corpo, com incrível graça e desenvoltura.

– Desculpe. Não era a intenção bisbilhotar. Apenas lá em cima é ótimo para ver as estrelas. E um beijo... chama mais atenção que as estrelas. - Seus olhos não demonstravam arrependimento. - Você está bem?

– Sim. Quer dizer, não... - Olhou para ela e mordeu o lábio inferior. - Eu não sei. Eu queria ter correspondido, mas meu corpo travou. Como se age numa situação dessas?

Nidalee balançou a cabeça, rindo.

– Não tenho muito conhecimento sobre os jogos sexuais humanos.

– Humanos... você fala como se não fosse.

– E não sou. Como a Shyvana. Uma híbrida. - E, já prevendo a próxima pergunta, completou: - Entre mulher e puma.

Riven sempre a havia achado com olhos de gato. Entretanto era difícil pensar nela daquele jeito, afinal jamais havia lhe visto transformada.

– E como... você e Fiora se tornaram amigas?

– Faz um bom tempo. Encontrei Fiora e Vayne num pantano, extremamente feridas.

– É difícil pensar nelas nessas condições. - Riven admitiu, com um sorriso.

– Pois é. Fiora estava um pouco melhor, e fez uma série de curativos em Vayne, e nela mesma.

– Mas estavam péssimos... - Riven previu.

– Eu discordo. Levando em conta sua falta de treinamento, o fato de estar trabalhando em péssimas condições e ajudando uma amiga necessitada. - Nidalee a olhou no fundo dos olhos. - Mas sim, elas precisavam de ajuda. Dois dias depois, nos encontramos novamente. Elas me ajudaram a afugentar um grupo noxiano que tentava derrubar a Mata Juremah.

– Dizem que a madeira de lá é boa, para confeccionar armas de cerco... - Riven havia escutado as histórias.

– É sagrada para o meu povo. Mas não é só a Juremah. Os noxianos destroem tudo. Não há paz, não há limites. Eles são um cancêr, incrustado nesse mundo. - Riven sentiu que, talvez, Nidalee a estivesse acusando. Entretanto, o olhar da gata estava agora mais distante. - Por isso me aliei aos demacianos. E quer saber... odeio todos eles. - Balançou negativamente a cabeça. - Então, por enquanto, obedeço apenas Fiora. - Voltou a olhar Riven nos olhos. - Mas você parecia querer falar sobre o incidente. Precisa de um conselho?

Riven sentiu a bochecha esquentar, diante da palavra "incidente".

– É... bem...

– Como eu disse, não conheço nada dos jogos sexuais humanos. Mas há duas perguntas que são infalíveis para qualquer espécie. Você já sabe que ele gosta de você... - Ela ficou em silêncio, por alguns segundos. - Também gosta dele? - Fitou-a, no fundo dos olhos.

Riven parou para pensar, por alguns segundos. Analisou todos os momentos que havia passado com Yasuo. Os bons, como ele a salvando da polícia de Piltover e cuidando de seus machucados. E os ruins, onde ele a havia acusado injustamente e lhe ferido com sua espada. Nos momentos bons, sentia vontade de sorrir. Nos ruins, tinha a sensação de "ele não fez por querer", e tentava entender o lado do garoto.

Então pensou no beijo dela, e no arrependimento que havia sentido, por não haver correspondido o mesmo imediatamente.

– Sim! Eu gosto!

Então, Nidalee olhou para ela e sorriu gentilmente.

– Então, qual o problema?


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Riven não conseguiu dormir, naquela noite, pensando em Yasuo e nas palavras de Nidalee. Queria fazer alguma coisa, mas o que? Não podia simplesmente agarrá-lo e beijá-lo. Ou podia? E se pudesse, teria coragem para aquilo? Tinha medo de que as coisas ficassem estranhas. Yasuo, antes de tudo, era a pessoa mais próxima de si, naquele lugar desconhecido que era Demácia. Precisava dele.

Levantou-se da cama, após algum tempo. Sabia que ficar deitada seria inútil. Vestiu umas roupas leves e pôs-se a caminhar, pela mansão Laurent. Não conhecia muito bem, ainda, o lugar, mas tinha espírito aventureiro.

E não precisou de muito tempo para achar o que estava procurando.

Yasuo dormia com a porta aberta. Estava sem camisa, os cabelos lisos e longos escorriam pela cama. Sua cicatriz parecia estranhamente fofa, naquele momento. Com os olhos fechados, ele transmitia uma paz incrível.

A exilada se aproximou, com o coração batendo forte. O que ele pensaria, com aquela atitude dela? Fechou os olhos, tentando bloquear aqueles pensamentos. Insegurança não a ajudaria. Não naquele momento.

Respirou fundo, e deitou-se ao lado dele, o abraçando e ficando de conchinha. Apertou-o contra si, deixando os corpos de ambos bastante próximos.

– Riven...? - Ele sussurrou, sonolento, olhando para ela.

A garota apenas esboçou um pequeno sorriso.

– Oi... - Disse baixinho. - Boa noite.

– O que... o que você está fazendo? - Ele se virou, ficando de frente para ela.

– Eu estou... lhe devendo. - Ela sussurrou baixo, acariciando o rosto dele.

Sentia a respiração quente do rapaz, em seu rosto. Ele estava muito próximo, e se aproximava cada vez mais. Mas não haveria problemas. Riven estava aceitando aquilo, queria aquilo. Fechou os olhos, um pouco antes de ter seus lábios selados por ele, com desejo. Correspondeu da mesma forma, sentindo a mão em seus cabelos.

Jamais havia beijado um garoto em Noxus. Yasuo era seu primeiro. De qualquer forma, Riven duvidava muito, que fosse gostar de beijar alguém, o tanto quanto estava gostando dele. Não sabia classificar o que sentia, mas, se pudesse dar um palpite, diria que era paixão. Uma paixão forte, intensa, desde o momento que havia visto o espadachim pela primeira vez.

Sorriu, com expressão tranquila, quando o beijo foi interrompido. Sua respiração ofegava e, durante alguns segundos, apenas o som das arfadas de ambos eram ouvidas dentro do quarto.

– Posso dormir aqui? - Riven perguntou, com um sorriso em seus lábios.

Yasuo também sorriu.