Riven ficou impressionada, ao ver Demácia pessoalmente, pela primeira vez. Parecia um reino extremamente organizado, com um castelo imenso, no topo de uma montanha, com a cidade embaixo, sendo tudo cercado por um muro imenso. Várias tochas acesas permitiam a visibilidade do lugar. Era praticamente impenetrável, se mantendo soberana em Runaterra por anos. Por mais que Noxus tentasse, Riven sabia que, derrubar aquela nação era uma missão quase impossível.

– Castelinho de areia. - Yasuo comentou, sem nenhuma empolgação, do topo do seu cavalo.

– Seu insolente! Deveria demonstrar mais respeito. Principalmente agora que está em nossas mãos. - Fiora respondeu, com um semblante mórbido.

Yasuo lhe deu a língua, virando a cara para ela. Se pudesse fazer do seu jeito, já teria fugido dali a muito tempo. Mas havia Riven. E, por estar em dívida com ela, permaneceria sendo um bom prisioneiro.

Nidalee se mostrara uma curandeira eficiente e, apenas duas semanas após o golpe mortal que recebera, Yasuo estava completamente curado, assim como Riven. Ambos estavam no auge da sua forma física.

– Deveríamos lutar por nossa liberdade? - Disse-lhe uma noite, enquanto Fiora dormia, e Nidalee patrulhava a distância.

– E depois? Você vai me recapturar, ou vamos sair sem rumo por ai, com inimigos por todos os lados?

– Você não entende? Eu sou inimigo de Ionia, e você é uma noxiana. Como pode ter tanta certeza que nada de ruim vai acontecer com a gente? - Perguntou, visivelmente incomodado. - Quando eles decretarem nossa execução, será tarde demais para fazer qualquer coisa. - Disse, apertando o cabo de sua espada.

Fiora havia permitido que os dois portassem suas armas. Na opinião de Yasuo aquilo demonstrava um excesso de confiança dela nas próprias habilidades, ou a plena certeza de que não tentariam escapar. Fosse qual fosse o caso, já era uma vantagem a mais que tinham.

– Fiora disse que o rei Jarvan IV quer conversar comigo. E quero ouvir o que ele tem a dizer.

– Jarvan IV pode se foder com a coroa real se ele quiser! Isso não nos diz respeito nenhum!

– Yasuo! Eu não vou fugir! Eu dei minha palavra a Fiora que não fugiria se ela te poupasse e, não sei você, mas cumpro minhas promessas. - Desviou o olhar, querendo que aquele assunto morresse.

Yasuo também olhou para o outro lado, visivelmente incomodado. Poderia tentar sozinho, é claro, mas além de ter um pouco de receio de não dar conta de Fiora e Nidalee sem a ajuda de Riven, também não queria abandonar a garota. Ela havia ficado com ele em seu momento de necessidade. E, em muito tempo, fora a primeira pessoa a se importar consigo. Não era o tipo de coisa que Yasuo ignorava assim, de uma hora para outra.

– Ao menos você está pensando em nós como "nós" agora... - Ouviu Riven tornar a falar e em seguida o olhou nos olhos, abrindo um pequeno sorriso. - Acho que formamos uma boa dupla. E, por mais que isso seja irracional, gosto de sua companhia.

Yasuo ficou olhando para ela, quase boquiaberto, por alguns segundos, diante da fala inesperada. E, por não saber o que dizer, deixou uma gargalhada intensa romper o silêncio da noite.

– Ahhhhh, garota. Você não existe mesmo.

A viagem não fora longa, mas os ânimos se alteraram em algumas ocasiões. Aparentemente era impossível fazer Yasuo e Fiora se darem bem. O ioniano se sentia vingativo com relação à mulher, e não perdia uma oportunidade de lhe dar uma provocada. Fiora, também não facilitava, fazendo questão de demonstrar por ele todo seu desprezo e lhe lembrando constantemente que, só estava vivo, por que ela assim quisera.

Riven chegou a acreditar que, antes de chegarem a Demácia, cruzariam espadas novamente e, dessa vez, seria até a morte.

Mas, aquilo não havia acontecido e, agora, cavalgavam lentamente pelas ruas de Demácia. River percebeu que estavam vazias. Não havia civis. Talvez, a cidade houvesse instituido o toque de recolher, diante da guerra contra Noxus. Afinal uma invasão poderia ocorrer a qualquer momento e, tudo que Demácia não precisava, era de espiões disfarçados de civis, explorando o reino na calada da noite.

– Se fosse uma cobra, não teria me mordido. - Fiora disse do nada, sem sequer desviar o olhar, ou humor na voz.

Riven não entedeu exatamente do que ela falava, até ouvir uma risada proxima a si.

– Se fosse uma flecha, você estaria morta. Deveria ter um humor um pouco melhor, Laurent.

Riven olhou para a figura que havia aproximado. Uma moça com óculos escuros, de roupa e cabelos negros, com uma besta de combate presa nas costas, de uma espécie de arco próprio no antebraço. Era literalmente uma criatura da noite. E silenciosa, Riven percebeu.

– Apresento-lhes Shauna Vayne. Também capitã da Guarda Real. - Ela disse, olhando para a mulher. - Esses são Riven e Yasuo.

– Riven! - Shauna disse, saboreando o nome. - Então a missão obteve sucesso...

– Não exatamente. Garen e os outros ainda perseguem Katarina e Talon.

Vayne deu uma risada maldosa. Tinha um humor bastante ácido.

– Tenho certeza que Garen conseguirá exatamente o que deseja. Quanto a você, Fiorinha... Estava ansiosa pelo seu retorno. Temos coisas importantes para discutir. Sobre aquele assunto.

A duelista assentiu.

– Apenas vou entregar os prisioneiros para Shyvana.

Vayne riu novamente.

– Shyvana? Boa sorte. Você vai precisar. - Piscou para ela. - Te esperarei ansiosa em casa. E nua. - Piscou para ela, num tom safado. - Talvez possamos fazer horas extras, mais tarde.

Fiora não sorriu. Corria o boato em Demácia que Shauna era lésbica. A Grande Duelista não sabia se ele era real, ou apenas mais uma das intermináveis provocações de Vayne. Então, sua conduta era sempre ignorá-la.

Shauna desapareceu abruptmente, noite adentro, assim como tinha chegado, e Riven se perguntou o quão mortal ela poderia ser, numa batalha.

Não demorou muito para encontrarem a tal Shyvana. Ela vestia uma armadura completa e era muito alta. Aquela mulher deveria ter quase dois metros e meio de altura. E aquilo não era a única coisa estranha que a cercava. Seus olhos pareciam olhos de cobra, e eram vermelho intensos. Riven não pode negar que se sentiu um pouco intimidado pela mulher. Além disso, ela estava acompanhada por outros homens, sete ou oito soldados demacianos fortemente armados. A parte especial da Guarda Real, chamada Guarda Especial, destinada exclusivamente para a proteção de Jarvan IV, e de seus interesses pessoais.

– Então você conseguiu mesmo. - Shyvana disse, com um sorriso zombeteiro. Assim como Fiora, ela tinha uma voz característica. Mas, ao contrário da primeira, era mais profunda e grave. Com certeza ela não era humana. - Só gostaria de saber porque os prisioneios estão soltos e armados. - Ela deu risada. - Você sabe lutar, mas é de uma incompetência terrível, Fiora. Sempre foi! Aposto que esse foi o motivo que lhe levou a ser expulsa dos Corvos Noturnos. E nem sei como ainda não saiu da guarda real. - Ela deu uma gargalhada esganiçada.

Riven percebeu de cara que o "pelotão de elite" de Demácia não era exatamente unido. Todos eles, excelentes soldados, eram extremamente competitivos. Se Fiora estivesse certa, e Jarvan a quisesse como membro do exército demaciano, teve certeza naquele momento, seria odiada por todos eles.

– Shyvana! Seus comentários comoventes só me lembram que tenho obrigações. - Fiora tratou-a com respeito, apesar da leve irônia. O que fez Riven confirmar suas certezas de que aquela mulher era realmente perigosa. - Riven está aqui. Imagino que o rei estava ansioso pela oportunidade de falar com ela.

– Está. Mas, pelo que me lembro, Riven era a única que deveria ser trazida. Yasuo não fazia parte da missão. - Ela disse, com um sorriso zombeteiro. - Lux me mandou uma mensagem anteontem, explicando tudo. Imagino que nossa aliada Ionia vá ficar muito satisfeita com o cadáver de um criminosos tão perigoso. - Olhou para seus soldados. - Matem-no!

Tanto Riven quanto Yasuo saltaram dos cavalos, já com as espadas em punho.

– Está vendo, garota burra! - O homem a repreendeu, enquanto olhava os homens se aproximando.

– Pelo menos vamos morrer lutando. - Riven disse, calculando o problema que tinham pela frente. Sete guerreiros de elite demacianos, e depois Shyvana. Quando matassem alguém, Fiora e Nidalee se uniriam a lista de inimigos. Era suicídio. Mas não tinham opção melhor.

Então, para a surpresa de Riven, no segundo seguinte, tanto Fiora quanto Nidalee haviam se posto entre eles e os homens da Guarda Especial.

– Shyvana! Eu recomendo que mande seus homens recuarem. - Fiora a advertiu. - Ou terei que intervir.

– Se fizer isso, estará cometendo traição. - Shyvana desdenhou.

Fiora sacou a espada. Riven não podia ver a expressão em seu rosto, mas duvidou muito que estivesse brincando.

– Acho que terei direito a um julgamento, quanto a isso. E suponho que conseguirei minha inocência, mesmo depois de assassinar toda a Guarda Especial.

– O que você vê, quando olha para mim? - Shyvana disse, colérica. Seus olhos brilhavam, vermelhos. - Se erguer a espada contra um membro da minha guarda, eu mato você. Está me ouvindo, Fiora? Eu mato você!

Riven estava tensa. Aquela situação era bastante inesperada e a perspectiva era a pior possível. Se a luta estourasse, ela teria que matar demacianos. Uma exilada noxiana talvez até pudesse ser aceita naquele lugar. Mas não uma noxiana que havia acabado de matar soldados de Demácia. Logo agora que a loira começava a criar fantasias sobre recomeçar ali, naquele lugar promissor, quem sabe ao lado de Yasuo. Torcia para que a luta não estourasse, mas só um milagre impediria aquilo.

– Você nunca lutou contra mim, Shyvana. - Fiora disse, calma até demais. - Então não faça ameaças que não pode cumprir. Você me perguntou o que eu vejo quando olho para você. Eu vejo um soldado que, diante de uma escolha arbitrária, está pronta para iniciar um conflito civil dentro de sua própria nação, e está disposta a pagar com a vida por tamanha estupidez. - Os homens da Guarda Especial haviam parado, ao perceber que não conseguiriam intimidar a Duelista. - Então eu lhe pergunto, Meia-Dragão. O que você vê quando olha para mim?

Shyvana ficou olhando para ela, por vários segundos de aflição, em silêncio. Então, esboçou uma gargalhada maldosa.

– Desarmem os dois. Levem Yasuo para a prisão e tragam Riven.

Fiora assentiu de leve e Nidalee também relaxou a postura, enquanto os soldados da Guarda Especial passavam pelo meio das duas.

Riven não queria deixar Yasuo. Sabia exatamente o que aconteceria. Fiora iria a casa de Vayne e ele estaria a mercê do que quer que Shyvana quisesse fazer com ele. Sua própria perspectiva também não era a melhor possível. Talvez Jarvan IV estivesse apenas querendo informações sobre Noxus. E não hesitaria em torturá-la, caso fosse necessário. Talvez Yasuo estivesse certo. Eles deveria ter escapado há muito tempo.

Estava pronta para lutar, mas o olhar de Fiora a convenceu a deixar a espada ser retirada de sua mão. A mulher havia se arriscado muito pelos dois, naquela noite. Confiaria nela, ao menos um pouco.

Ficou surpresa, ao ver que Yasuo também entregou a espada, sem resistir. Estavam agora, novamente, indefesos e entregues, aos soldados de Demácia.

– Mande minhas lembranças ao Rei! - Fiora disse, montando no cavalo, sendo seguida imediatamente por Nidalee. - E Shyvana... se qualquer coisa acontecer com qualquer um dos dois... eu irei investigar. E se a ordem não tiver sido de Jarvan...

Shyvana desdenhou a fala dela.

– Não faça ameaças que não pode cumprir!

Fiora montou no cavalo e partiu, sem olhar para trás. Riven sentiu uma algema ser presa em seu braço, e Yasuo ser afastado de si. Não gostou nem um pouco daquilo.

– Por aqui, exilada! - Shyvana disse, sem um pingo de emoção na voz, entrando numa espécie de carruagem. - Está na hora de conhecer o Rei!