Luta pelo Destino

Parando para pensar, nunca me sentia totalmente confortável dentro do território dos Cullen. No entanto ali, com as costas na parede e braços colados ao corpo, eu me sentia um inseto grande, nojento e indesejado perante todos aqueles olhos dourados. No topo da escada, quase escondida, estava Nessie assistindo a tudo.

Eu voltava meus olhos pelos cantos, procurando sentir-me menos desconfortável, mas era praticamente impossível. Eu podia sentir o fantasma de Jasper me fuzilando entre os Cullen. Havia contado tudo a eles, contei sobre os planos de Edgar sobre dominar os humanos, sobre os anti-Volturi, não deixei nenhum detalhe passar e apenas mantive-me calada esperando que algum deles se pronunciasse.

Apenas silêncio. Comecei a ficar irritada, estava prestes a dizer alguma coisa que provavelmente não tinha direito de dizer quando Carlisle, o patriarca do clã, fez seu primeiro movimento.

– É arriscado demais. – ele disse com a voz baixa e aveludada, sem me encarar nos olhos.

Voltei-me a todos os outros, estava com mais coragem diante deles do que pensaria que estaria na hora certa.

– E vocês? – disse mais seca do que deveria. – O que acham? Podem ficar aqui e se esconder debaixo da própria asa ou lutarem.

Rosalie deu uma risada curta e sarcástica.

– Tem mesmo direito de dizer isso? – ela desafiou. – Afinal, quem foi mesmo que se escondeu debaixo da nossa asa quando os Foster foram extintos?

Ergui a sobrancelha, o ar pareceu ficar mais pesado, enfiei as mãos nos bolsos da jaqueta.

– Rosalie... – Edward começou a dizer.

– Não – eu o cortei sem tirar os olhos da loira. – Esperava que dissesse isso. Mas usou o argumento errado, Cullen. Isso não tem nada haver comigo, nem com vocês. Tem haver com o mundo e se são ignorantes demais para ligarem apenas para o próprio rabo eu não posso fazer nada.

– Olhe aqui sua... – Rosalie recomeçou.

– Ela tem razão – disse Alice no outro lado da sala, ela mantinha os olhos fechados, mas os abriu para me encarar. – Mas a vitória do inimigo é certa.

Irritei-me.

– Por quê? – cuspi as palavras.

Alice deu um passo adiante.

– Porque eu vi. – ela disse. – Desde que você pós os pés nessa casa eu tenho visto isso. Vestígios de um futuro escuro, um mundo aonde os humanos são animais, são a caça e os vampiros caçadores, lutando entre si para se alimentar... “Mundo de Sangue” é o projeto deles.

– Exatamente! – eu exclamei. – Temos que impedir, é nessa hora que os heróis da história...

– Você não disse que era uma vilã? – retrucou Rosalie me cortando. – Você mesmo quando entrou aqui disse isso. Que não era mais uma pessoa. Não estava tentando convencer a todos disso? Não foi por isso que matou Jasper?

A conversa chegou ao lado que eu temia que chegasse. Lancei um olhar para Nessie no alto da escada, ela já estava no segundo degrau.

– Sabe que não – defendeu Edward. – Ela estava sendo controlada...

– Alex – Bella se pronunciou. – Já nos metemos em problemas demais com os Volturi.

– E daí? – eu insisti. – Estão me dizendo que nem vão tentar?

Esme e Carlisle trocaram olhares cúmplices.

– Escute Alex... – Alice voltou parando na minha frente. – Sua causa é nobre e eu acredito que você não teve culpa pelo o que houve com Jasper, mas não devemos nos arriscar. Você não pode mudar o futuro, irá morrer.

– Eu posso mudar o meu futuro – eu disse. – Afinal de contas ele é meu, não é? Quer saber? Espero que eu morra lutando mesmo, é melhor do que recuar e escolher viver em um “Mundo de Sangue”.

Eu andei a passos pesados até a porta parando no caminho, esperei algum deles dizer “Não! Espere, tudo bem, nós vamos ajudar!”, mas isso não aconteceu, eu soquei um vaso de mármore que se quebrou em mil pedaços no chão. Olhei com ódio para os Cullen e soltei tudo o que queria dizer desde que Bree foi morta.

– Vocês são um bando de covardes. – falei. – Egoístas. Por si mesmos reúnem um exército, agora... Agora estão com medo dos Volturi. Ficaram com medo dos Volturi quando Bree estava diante de vocês... Mas depois quando veio Nessie vocês disseram “Ah, não! Vamos desafiá-los!”...

– Alex... – Bella se aproximou erguendo o braço pra mim.

– Não me toque! – eu gritei recuando. – Você me dá nojo também.

– Alex, para! – Nessie finalmente disse alguma coisa.

Mas eu estava fora de controle, já era tarde, estava me mordendo de raiva...

– “Já nos metemos em problemas demais com os Volturi.” – eu disse em falsete andando até a porta. – Vocês que se explodam.

Então eu literalmente atravessei a porta de entrada, estava com raiva demais para me preocupar em usar a maçaneta, o que teria sido um problema se eu ainda fosse humana. Eu saio a tempo de ver Nessie correndo escada abaixo e Bella advertindo a filha. Nessie tropeçou e iria cair, mas ela simplesmente flutuou até o chão. Eu já estava na entrada da floresta quando a voz da híbrida me chamou.

– Alex! – ela gritou.

Voltei-me para Nessie, com a expressão dura. Ela estava maior, poderia ter aproximadamente quatorze anos. Estava linda, os cabelos da cor do chocolate desciam em cascatas onduladamente pelos ombros. Usava um casaco de veludo azul escuro, a pele pálida se destacava com os lábios rosados. Eu há comparava um pouco com uma Branca de Neve. Fazia-me sentir certo orgulho dela. Lembro-me das noites em que eu ficava olhando-a dormir em seu quartinho rosa abraçada com um macaco verde de pelúcia (cujo nome era Fletcher).

Ela se aproximou de mim com lágrimas nos olhos, fechando seus braços finos ao meu redor, ainda era meio baixa, eu pousei a mão em suas costas, afagando seus cabelos.

Bree...

– Preciso ir. – eu disse. – Estão me esperando.

– Me leve com você. – ela chorava.

Por um momento eu não conseguia dizer nada.

– Me leve com você! – ela repetiu soluçando. – Eu quero lutar também.

– Você não pode... – eu murmurei.

– Eu quero lutar! – ela praticamente gritou.

Eu rangi os dentes.

– Preciso de você aqui. – eu murmurei. – Você é a minha única chance, eles vão ouvir você.

Afastei-me com dificuldade e segurei seus ombros forçando-a a me olhar nos olhos, seus olhos castanhos já tinham um tom meio dourado.

– Precisa convencê-los. – insisti.

– Eu não consigo.

– Consegue sim! – eu insisti mais. – Tem que conseguir. Meu lado está fraco, temos poucas pessoas... Precisamos de vocês.

Ela me abraçou novamente.

– Você é a minha heroína Alex. – ela disse. – Me sinto segura com você. Você é minha família e eu tenho medo que... Que tirem minha família de mim, por favor... Deixe-me ir.

Eu fiquei chocada com suas palavras, engoli seco. Toquei meu próprio rosto, estava úmido. Eu estiquei a língua para tocar o líquido em meu rosto. Salgado.

Lágrimas.

Olhei para Renesmee... O que ela estava fazendo comigo? Seus pensamentos, suas emoções... Eu estava recebendo carga total. Senti seu desespero, seus medos, eu senti sua vontade de lutar, sua vontade de ajudar e proteger quem ama. Senti sua fé.

Limpei meu rosto, era um alívio me sentir humana.

– Não me sinto uma heroína – eu a encarei. – Não é engraçado? Não consigo proteger ninguém? Apenas assisto a todos morrerem ao meu redor. Sinto apenas desejo de vingança. Sinto-me amargurada... Só quero arrancar a cabeça dos Volturi. É o pensamento de uma heroína? É o pensamento de uma vilã? Nessie, não sei o que sou.

Ela limpou seu próprio rosto e se afastou.

– Eu sei. –ela sorriu.

– Então me responda... – murmurei sentindo-me impaciente.

Ela sacudiu a cabeça negando e abriu um sorriso maroto.

– Tem que descobrir por si mesma... – ela disse. – Não morre tá?

Revirei os olhos, mas sorri.

– Tá.

– Jura juradinho? – ela ergueu o dedo mindinho pra mim.

Hesitei, mas entrelacei meu mindinho no dela.

– Juro juradinho.

Então, eu dei uns passos em ré, transformei em um vulto, o território dos Cullen desapareceu diante de mim e eu me uni as sombras na floresta. Em segundos me uni aquela promessa, e de repente senti pelo menos uma vez que tudo ia dar certo.