A sirene tocou novamente e a mulher de jaleco branco se virou para fitar seus alunos.

“ Eu quero que façam uma pesquisa para nossa próxima semana sobre a Teoria do Caos”, falou tentando esconder sua animação. Ela adorava falar sobre assuntos como este; eram seus preferidos. Escondia a alegria para que os alunos não soubessem o que lhe agradava e usassem isso contra ela.

Guardou seus matérias na bolsa grande e marrom, jogando-os lá dentro sem se importar com a bagunça.

“Professora?”, ouviu alguém a chamar.

Virou-se, assustando-se com a figura de uma menina baixinha e magricela. Seus cabelos negros estavam presos em uma trança caída ao lado e seus olhos estavam escondidos por sua franja e por seus óculos ao mesmo tempo. Ela lhe lembrou a si mesma quando mais jovem.

Saindo de seus devaneios, sorriu e arqueou as sobrancelhas.

“Sim?”, falou. A menina abriu o caderno e folheou as páginas, procurando por algo. Quando encontrou, se aproximou da mulher e estendeu-o para que esta pudesse vê-lo.

A garota começou a ler o que estava escrito.“A Teoria do Caos dá-se quando interações aleatórias são apresentadas, formando uma cadeia de acontecimentos ligados um ao outro. Ou seja, quando uma nuvem se forma, há vários fatores a serem considerados de o por quê dela ter se formado. Primeiramente devemos considerar o Sol, que com sua temperatura elevada fez a água de algum lago ou rio evaporar. Este vapor, elevado ao céu e misturado com vários outros elementos se transforma na nuvem. A Teoria do Caos explica como as coisas se formam a partir de uma série de acontecimentos desencadeados.”, terminou de falar e fechou o caderno, colocando-o debaixo do braço e esperando uma resposta por parte da mulher.

Esta apenas ficou estática, imóvel. Não tinha pistas de o que falar sobre o que acabara de acontecer. Queria comentar alguma coisa, mas estava impressionada demais para emitir algum som.

“Está bom ou preciso acrescentar mais dados e pesquisar mais a fundo?”, perguntou a garota.

A mulher piscou várias vezes as pálpebras e finalmente achou as palavras certas.

“Quando você pesquisou sobre isso?”, questionou. A garota franziu o cenho por um instante, tentando se concentrar em lembrar-se de quando vira sobre a Teoria do Caos.

“Nas férias eu fiquei sem nada para fazer. Decidi pesquisar mais sobre a física, já que tenho interesse nesta matéria.”, respondeu enquanto um leve sorriso se formava em seus lábios. A professora ficou impressionada com tamanha dedicação.

“Qual o seu nome, querida?”, questionou.

“Judy Bahman.”, respondeu.

A mulher sorriu e tentou anotar aquele nome mentalmente em sua cabeça, para poder ficar de olho na menina. Ela viu um futuro para a física nela.

A professora elogiou o trabalho de Judy e esta saiu da sala contente por sua curiosidade tê-la ajudado em alguma coisa que prestasse.

Caminhou a passos largos e lentos até a escada em que sempre ficava e sentou-se no terceiro degrau, encostando-se á parede. Procurou o celular em seus bolsos e ao achá-lo foi logo ligando-o. Conectou seus fones de ouvido e colocou sua música favorita, deixando-a invadir sua mente e deixá-la calma.

Fechou os olhos e deitou a cabeça na parede, balançando-a para os lados e cantando, bem baixinho, para apenas ela mesma ouvir.

Não percebeu quando uma garota de cabelos curtos e castanhos chegou com o lanche na mão e se assustou ao vê-la ali.

“ Olá?”, abordou a garota.

Judy não a escutou. Estava concentrada demais em permitir os pensamentos envolverem sua mente.

A garota chegou mais perto.

“Olá?”, tornou a repetir.

Desta vez Judy percebeu que alguém falara com ela e abriu os olhos, encontrando mais dois pares a fitando bem de perto.

Num pulo de susto, ela se afastou e inclinou o corpo para trás, desviando da garota.

“ Olá?”, mais uma vez insistiu.

Judy limpou a garganta e pigarreou. “Oi.”, falou, apenas.

“ Meu nome é Alice. E o teu?”, se apresentou estendendo a mão.

Judy apertou-a e respondeu á sua pergunta: “Judy”, falou.

Alice sorriu e sentou-se do outro lado da escada, de frente á Judy.

“ Há quanto tempo estuda aqui, Judy?”, perguntou Alice.

Judy se ajeitou e deixou apenas um fone de ouvido na orelha. “Há quatro anos. E você?”, respondeu.

Alice sorriu e deu uma mordida em seu lanche, um pão com recheios de vários tipos. “Já fazem treze anos que estudo aqui”, orgulhosa de si mesma, ela respondeu á Judy.

Mastigou com vontade seu pão e franziu o cenho. “Que estranho. Nunca a vi por aqui”, comentou ao pensar em todas as pessoas que conhecia.

“É porque eu sempre fico aqui quando tem o intervalo. Também não me destaco muito na sala”, ponderou.

Alice assentiu e continuou a saborear seu lanche com um interesse fora do comum. Mastigava aquilo com prazer, como se fosse a melhor coisa do mundo.

Judy a observava com uma expressão de interrogação.

Continuaram naquele silêncio até que um garoto apareceu.

“Aí está você, Alice!”, falou animado.

Alice revirou seus olhos castanhos esverdeados.

“Estive aqui o tempo todo, Murilo”, falou com uma pitada de tédio em sua voz.

O garoto viu Judy sentada do outro lado o observando. Ela rolava os olhos por cada canto de seu corpo,como se quisesse guardar cada pedacinho dele. Estava o estudando, já que nunca vira um garoto tão de perto antes.

Ele acenou com sua mão, cumprimentando Judy.

“Olá!”, disse.

Ela acenou de volta e ficou observando enquanto os dois conversavam animadamente sobre seus gostos musicais.

Até que Murilo decidiu incluir Judy na conversa.

“Aposto que ela tem bom gosto, assim como eu”, desafiou Alice.

Alice deu um sorriso maléfico.

“Judy, qual sua banda favorita?”, perguntou-a.

Ela pensou por alguns instantes.

“Você tem cara de beatlemaníaca”, comentou Murilo enquanto sorria.

Judy assentiu, devolvendo-lhe o sorriso.

Ele se virou para Alice e levantou uma das sobrancelhas, mostrando-se orgulhoso.”Eu falei que ela tinha bom gosto”, comentou.

Alice revirou os olhos e bufou de raiva. Judy e Murilo riram e começaram a conversar sobre as músicas dos The Beatles que eles mais gostavam.