A Escolhida

Capítulo 50: Sempre: Parte 1: Face a face


Capítulo 50: Face a face

Anteriormente em A Escolhida...

“–Muito prazer, Aspen Leger, ex-namorado da sua ex-futura esposa.”

O ar ficou pesado, e por um segundo, esqueci como respirava.

Me encolhi mais como uma bola no chão, enquanto trovões ressoavam no céu negro de dores e sentimentos corrosivos.

Isso aí, é o fim.

Levantei-me do chão, sem desviar os olhos de Maxon, que estava olhando para o chão, como se estivesse perdido em pensamentos.

Aspen se dirigiu ao banquinho da minha penteadeira se sentando no mesmo, com os cotovelos apoiados no joelho.

Mason continuava ali, sentado em minha cama, apoiando o corpo pelas mãos.

Ainda não conseguia acreditar que Aspen tinha feito aquilo.

Tinha dito à Maxon, que já fomos namorados.

Que já tivemos algo. Que já o amei.

–É mentira- Maxon falou com um sorriso de canto- ela não-

Aspen não deixou Maxon terminar de falar.

–Ah não?! Amor, você esqueceu de contar para ele dos nossos beijos? Dos nossos encontros na casa da árvore, e aqui no castelo?- Aspen falou se dirigindo a mim, ainda sentado.

Uma veia estava se sobressaindo em seu pescoço, como se ele estivesse com raiva.

–Eu sei como é... - ele se levantou e deu passos lentos até Maxon, apreciando de uma dor, de gosto tão amargo, que nunca o havia visto provar – ela disse que te amava não foi? Ela...- sua voz se tornou amarga e grave, como se ele estivesse prendendo as lágrimas- também segurou seu coração, e então o teve, ela também teve o meu...- ele começou a circular Maxon, com os mesmos passos, chutando o chão como se tivesse várias pedras dispersas no mesmo- e então o despedaçou.

–America...- Maxon falou com o olhar mais alerta, ele deu aquela risada nasalada de tristeza, como se estivesse se controlando para chorar. E provavelmente lembrou que eu e meu antigo namorado nos encontrávamos na casa da árvore, como eu havia o contado, e que, assim como Aspen, eu também quebrei seu coração- diz, diz que é mentira- ele implorou com a voz.

–Desculpa- disse abaixando minha cabeça.

–DIZ QUE É MENTIRA!- ele gritou dessa vez, batendo o pé com força no chão, enquanto quebrava umas quinhentas regras de conduta e estereótipos de ética.

Levantei-me e fui até ele, que apenas desviou o rosto olhando para algum ponto na parede, sem se mexer mais.

Coloquei minhas mãos em seu rosto, em um ato de desespero, tentando virar o rosto dele para poder olhar em seus olhos, para poder amostrar que eu o amava.

Mais que as palavras.

Mas ele nem virou o rosto. E eu sabia que se ele visse o brilho de arrependimento no meu olhar e visse o quanto eu estava sofrendo como ele, ele ia compreender, se ele realmente me amava, como tinha dito várias vezes, ele ia me perdoar.

–Até no castelo?- ele perguntou ainda sem me olhar nos olhos.

–Principalmente no castelo- Aspen falou- não leva pra o lado pessoal, é assim, ela diz que te ama, e depois te quebra. - ele se encostou a parede, ao lado da minha porta- só uma dica Meri, antes de quebrar um coração, certifique-se de que não está dentro dele. Você estava no meu.

Então Maxon me olhou, e eu nunca senti uma dor tão grande.

Seus olhos eram tão cruéis, tão pertubados.

Eles me faziam querer morrer.

Suas orbes se mesclavam à sua dor, tão...facilmente, que, meu coração sangrava por saber que eu provoquei aquela dor, que eu fui a culpada e que a pessoa que eu mais amei na minha vida, agora estava sofrendo por minha causa.

–Você algum dia já me amou?- ele sussurrou, sem tirar os olhos dos meus, sem retesar ao meu toque.

–Me perdoa...eu sei que errei, só...me perdoa. Não me olhe assim!- eu passei a mão por seus cabelos macios, e por aquele rosto delicado. Tão quebrado. Tão amargo. Tão rude.

–Você algum dia já me amou?- ele perguntou novamente, percebendo que por algum motivo eu não havia respondido sua pergunta.

Lembrei-me do dia em que viajei para a casa de Mason, e minhas palavras de despedida.

“...sua voz quebrou novamente ao proferir nossas últimas palavras.

–Volta pra mim?

Abri meus olhos, no mesmo momento que ele abriu os seus. Levei nossas mãos entrelaçadas aos meus lábios, beijando o elo que as unia, enquanto sussurrava...

–Sempre...”

Olhei em seus olhos suaves, que agora pareciam ser vítimas de um pandemônio.

–Sempre- sussurrei, soltando aquele código em um lufada de ar.

–Não me olhe assim!-falei de novo para ele, em um tom de desespero. Eu não estava suportando mais.

Ele afastou minhas mãos de seu rosto, e segurou meus pulsos no mesmo instante que meus joelhos cederam.

–Quer que eu te olhe como? Me diz! Como você quer que eu te olhe America? Quem é você?!

Ele soltou meu pulsos me jogando para longe dele com força. Tropecei em meu vestido branco, e cai no chão, recuando à medida que ele andava à minha frente. Aspen foi à meu encontro para me ajudar a levantar do chão, mas parou no ato, como se repensasse.

–Me diz!- Sua voz era completa fúria. Me levantei do chão, protegendo meu corpo com meus braços cruzados perante o mesmo.

–Me diz America, o que você quer que eu fale?! Que não estou triste por saber que a mulher que eu amei estava se agarrando pelos cantos da minha casa como...uma mulher da vida?!- ele gritou em minha face nojo e repugnância. Cuspindo suas palavras como se provasse o pior dos venenos.

Amei.

Amei.

Amei.

Amei.

Ele não me ama mais...? É assim?

Mulher da vida? Ele me trata assim e ainda me chama de mulher da vida?!

Sem conseguir suportar mais aquele martírio, aquelas discórdias e todas aquelas brigas. Uma raiva começou a borbulhar dentro de mim, vindo das profundezas acumuladas de anos de amores reprimidos, de meses de jogos emocionais, e névoas entorpecidas de sarcasmo, decepções, humilhações e vulgaridade. Das profundezas do meu ser, brotou um ódio, tão amargo que fez meu coração sangrar.

Sem pensar mais, fiz algo que nunca pensei que faria.

Minha mão bateu com força na face de Maxon, que apenas continuou imóvel, de olhos fechado com o rosto virado, como se absorvesse a dor.

O eco do tapa, foi como um último grito antes da escuridão. Não havia quem me fizesse escutar, embora não houvesse nada para ouvir. A raiva em mim era tão forte, que sinto que se não colocá-la para fora, ela irá eclodir dentro do meu ser, e rasgar toda minha sanidade.

–Ah é?! E o que exatamente você estava fazendo com Celeste esse tempo todo?! Pelo menos eu tive a decência de estar em dúvida, mas nós dois sabemos que você nunca esteve nem perto de apaixonado por ela!- disse com nojo, assim como ele disseram para mim, com repulsa, repugnância e superioridade.

Ergui meu queixo com altivez, nada podia me abalar. Meu olhos marejaram, mas eu não me permiti chorar, não mais. Estufei meu peito com aquele ar tóxico e envenenado, sentindo meus pulmões arderem por mais uma dose dele.

–Eu posso sim! Ter ido ao menor dos níveis, descer aos restos da minha dignidade, mas acredite...eu nunca seria capaz de chegar ao seu patamar!

–Uh! Agora ela pegou pesado!- Aspen disse com um risinho enquanto mexia em seus cabelos negros e bagunçados.

–Eu te amei Maxon! Eu te amo...tudo que eu pedi foi um pouco de tempo...- falei um pouco mais calma, com doses de arrependimento invadindo letargicamente meu cérebro, ao me dar conto do meu ato.

Eu bati em Maxon.

Eu bati no príncipe de Illéa!

Maxon virou lentamente seu rosto para mim, rindo fracamente, enquanto uma fina linha de sangue escapava do canto de seus lábios.

Ele limpou o sangue com as costas da mãos, e se aproximou de mim, tão perto que pude sentir seu hálito em minhas bochechas, e podíamos respirar a mesma respiração. Face a face.

–Tempo America?- ele sussurrou baixo o suficiente apenas para eu ouvi-lo- tempo? Você tem idéia do quanto eu te esperei. Eu podia ter acabado toda a seleção, toda essa palhaçada, em questão de dias, se você pedisse, mas nãooo- seu timbre de voz aumento gradativamente- você precisava de MAIS tempo, para ficar se agarrando com seu amantezinho, na minha casa...Talvez, meu pai esteja certo, e você não passe apenas de uma cinco. Uma garota insegura, que sempre cobiçou a coroa e se faz de santinha, para me conquistar.

–O que- comecei a falar, me preparando para soltar minhas milhares de injúrias, mas ele não deixou, me interrompendo, sem se importar mais com o volume de sua voz.

–Parabéns America Singer! Você finalmente conseguiu o que sempre quis, você está fora da Seleção, e expulsa para sempre da minha vida.