Em Guangzhou, a esposa do líder estava em sua casa, preocupada com seu marido e sua única filha.

Já era hora do jantar e foi à cozinha comer alguma coisa leve para depois ir dormir. Amanhã passaria uma parte de seu dia no escritório do marido cuidando das finanças e organizações da cidade para depois à academia.

Esperava que Feng voltasse com notícias positivas acerca do treinamento da pequena Tigresa e sobre a ajuda na proteção que teriam que proporcionar. Não estava tão certa sobre o casamento da filha com o primo de segundo grau. Que confusão!

Sentada à mesa, já havia colocado um prato com alguns cortes de tofu e uma jarra com chá. Serviu-se do líquido e suspirou antes de dar o primeiro gole. Desde que aquele casamento fora armado, não imaginava quando e nem como iria contar à felina. Ela era uma criança muito doce e de caráter forte, possivelmente ficaria tentada a não assumir o compromisso feito por seus pais, mas Ming-Yue imaginava que ela acabaria cedendo. Só temia a reação de Tigresa no momento em que soubesse já que imaginava que as consequências, seriam a aceitação e algum dia, a bendição da pequena à respeito disso, claro, quando ficasse mais velha para entender melhor e estivesse com seu esposo.

Tomou pedaço por pedaço de tofu com os chopsticks e terminou o chá, depositou a louça na pia, na manhã seguinte iria lavar, se a empregada não fizesse isso antes. Não quis incomodar ninguém para servir o jantar porque além de ainda não estar acostumada à mordomia, dos donos da casa, restava apenas ela.

Depois se levantou, subiu as escadas e caminhou para seu quarto, mas não sem antes parar em frente ao quarto da filha e abri-lo por uns instantes para olhar. Estava com tanta saudade dela, e com tanto medo que tudo desse errado... mesmo que custasse admitir isso.

– Tudo para não te perder, filha. Sinto muito, mas é tudo pra que você continue conosco – disse ela, o que foi seguido por um suspiro.

Ming-Yue foi para seu quarto, colocou sua camisola e deitou. Dormir cedo assim a fazia madrugar e por parte era bom, pra poder acabar com as papeladas do escritório de Feng mais cedo. Fechou os olhos, fez o possível para tentar buscar o estado de espírito que conhecia que fosse o mais próximo à paz interior, já que ela ainda não possuía e agora menos ainda por conta dos problemas da cidade desde que era pequena, envolvendo-se mais neles quando se casou com o líder.

Permitiu-se dormir e ignorar seus pensamentos ruins e seus temores.

No Palácio de Jade, todos estavam na cozinha, saboreando o jantar. Além de tofu, haviam alguns rolinhos recheados, arroz, verduras e legumes, cozidos e crus, para que os visitantes pudessem comer como desejassem.

Tigresa pediu ao pai que a servisse com tofu, arroz e alguns legumes. Agora estava terminando de comer. Víbora comeu algumas verduras e rolinhos. Tai Lung se servia apenas de tofu e arroz assim como Shifu e Feng se serviu com tudo. Mestre Oogway comia verduras e legumes. Estavam todos em silêncio, até que...

– Você deveria comer mais do que verduras e rolinhos recheados, Víbora, daqui a pouco vai ficar roliça como eles – disse o leopardo das neves sorrindo de lado.

Ele gostava de provocar a serpente, às vezes parecia tão filhote quanto ela. A pequena soltou um silvo. Tigresa olhou para ela preocupada enquanto seu pai apenas observava com uma sobrancelha levantada.

– Não sei se percebeu, mas meu corpo já é roliço.

– Eu quis dizer: gorda.

– Tai Lung, pare de provoca-la – disse Shifu num tom de voz calmo, aguentando a vontade de rir assim como Oogway.

As palhaçadas e brincadeiras entre os dois eram o divertimento dos mestres.

– Já terminei – anunciou Tigresa – posso ir pro meu quarto?

– Claro, filha. Quer ajuda pra desfazer a mochila? – Feng já ia se levantar mas a serpente saiu de seu assento primeiro,

– Eu ajudo, já terminei – sorriu – com licença, mestres – se curvou e a felina a imitou.

– Podem ir, meninas – disse a velha tartaruga.

Ambas saíram correndo de lá e antes que Feng pudesse advertir a filha para não correr, já haviam desaparecido pela porta da cozinha. Tai Lung soltou uma risada leve, assim como Oogway quando viu o rosto do tigre transformado em careta pelo temperamento e atitudes da pequena felina.

Chegando ao quarto, Tigresa abriu as duas portas de uma vez e entrou seguida da serpente. Após a entrada de Víbora, Tigresa fechou as portas e as duas começaram a tirar as coisas da mochila. Entre escovas para o pelo, roupas e seus pergaminhos de kung fu, estava uma pintura com sua mãe, ambas em uma posição de ataque do estilo que praticavam. Ming apontava as palmas das patas para a esquerda do papel na posição do arco e flecha, assim como Tigresa, cuja única diferença além do tamanho, era que ela estava para o lado esquerdo. Ambas com roupas iguais, em vermelho como costumava usar Ming-Yue.

– Muito linda a pintura – Víbora sorriu ao dizer.

– Obrigada – Tigresa também sorriu e a colocou no criado mudo ao lado de sua cama.

As duas se acomodaram sobre a cama. Tigresa encostada na cabeceira da cama e Víbora enrolada sobre seu próprio corpo de frente para a felina.

– Então, como foi a viagem? Viu lugares legais? Eram bonitos?

– Foi legal, não choveu nenhum dia e eu pude ver várias estrelas e constelações, meu pai me ensinou – a jovem tigresa sorriu e continuou – a gente dormiu encostados em árvores e quando era no campo foi a melhor noite. Vi a lua, é tão bonita e é um dos nomes da minha mãe...

– Sério? Como ela chama?

– Ming-Yue.

– Lua Brilhante, que lindo.

– É. Quando eu tiver uma filha, quero colocar um desses nomes nela.

– Eu quero colocar... a não sei ainda – riu a pequena serpente – eu ainda não penso nisso. Quero ficar forte pra ajudar meu pai.

– E eu pra ajudar minha mãe na academia. Ela é Grã-Mestre.

– Que legal! Meu pai é o líder da nossa vila. Mestre Víbora.

– Já ouvi falar dele e que ele tem uma ótima técnica.

– É, a da presa venenosa, mas eu não posso usar. Não tenho presas.

– É por isso que quer fazer kung fu?

– Sim, porque eu sou ou era a melhor dançarina com fitas de tanto dançar pro meu pai. Isso alegrava ele, e uma vez, um gorila atacou de novo a vila, num festival. Mesmo com a minha mãe dizendo que meu pai me protegeria, não queria dar trabalho e fiquei em casa porque tinha medo de me machucar já que não consigo usar o veneno.

Nesse momento, Tigresa sentiu-se um pouco mal pela jovem. O que era de uma serpente sem veneno? Certamente, seria alvo fácil, mas não parecia que esse era o destino que seus pais queriam para ela, tanto que estava no Palácio de Jade agora.

– A minha casa fica no lugar mais alto de lá – continuou ela –, perto de um penhasco. Eu ouvi gritos e olhei da janela, vi o gorilão atacando meu pai e desci com a fita. Meu pai com as presas quebradas sem poder lugar e gritei com o gorila. Ele me desafiou e eu o ataquei com a fita. Perdi o medo pra salvar meu pai.

– Uau! E seu pai viu que você podia ser boa em kung fu?

– Sim, é uma forma de aumentar minhas habilidades corporais que ganhei com dança, e além disso, um jeito de poder lutar pra me defender e também defender quem eu amo.

– Também quero isso pra mim - sorriu.

– Ha ha – Víbora sorriu e se lembrou que mudaram de assunto – então, mudamos de assunto. O que você viu de legal e bonito?

– Vi lagos, montanhas, o bosque, a floresta de bambu. Nunca tinha viajado, então tudo é bonito pra mim.

– Eu também nunca viajei, só quando vim pra cá.

– E, o lugar mais bonito foi no pessegueiro. A vista é linda de lá – disse a felina com ar sonhador e inocente.

– É verdade.

– Queria que minhas amigas estivessem aqui.

– Como elas se chamam?

– Seyoung e Shaohanna.

– Quem sabe da próxima vez, elas vem... e eu também posso ser sua amiga se você quiser – disse Víbora timidamente.

– É, quero que elas vejam esses lugares também. E eu quero sim – sorriu.

– Ok, amiga – devolveu o sorriso - amanhã, se o mestre Shifu deixar, a gente vai pro vale e você conhece o resto, aí quando elas vierem, você vai saber lugares legais pra levar suas amigas. É bem legal e tem um lugar aqui que tem um macarrão muito bom.

– Acho que sei onde é.

– Como sabe?

– Almocei lá. É onde tem um ganso e um panda que parece um bonequinho de pelúcia, não é?

– Sim, é lá mesmo.

– Já comi lá e quero comer de novo.

– Então amanhã a gente vai.

– Tá bom.

– E ele parece os seus bonequinhos de pelúcia – acenando com a cabeça para o boneco de tigre com roupas negras de kung fu que a felina trouxe - ah, eu tenho um, vem ver – disse Víbora descendo da cama.

Tigresa a seguiu para o quarto dela. Chegando lá, a serpente mostrou um bonequinho de uma serpente enrolada que ela usava às vezes como travesseiro e um em forma de porco com um vestidinho rosa, tão redondo e cheio quanto aquele filhote de panda.

– É fofinho mesmo, igual a ele, só não tem cara de assustado – riu Tigresa.

– Ha ha ha, é verdade.

– Eu não entendo uma coisa...

– O que?

– Como é que o pai dele é um ganso e ele um panda?

– Ele é adotado – sussurrou Víbora – mas não sabe que é.

– Como não sabe?!

– Ninguém contou. Não sei como não percebeu. Todo mundo sabe e ele não, e ele parece que não se importa em descobrir.

– Hm.

Ao mesmo tempo, na cozinha, os mestres ainda estavam conversando com o governante de Guangzhou.

– Então, o senhor ou Mestre Oogway podem me dizer a verdade?

Feng, que estava terminando seu chá, quase engasga com a pergunta do panda vermelho. Tai Lung também estava surpreso e sentia que à qualquer hora ordenariam que se retirasse. No entanto, resolveu ficar quieto.

Mestre Oogway apenas observava Shifu seriamente. Queria contar as coisas a seu aluno, mas a decisão não cabia a ele.

– A verdade sobre o que?

– Sobre esse comércio que fará com sua filha.

– Não é comércio – respondeu Feng de forma ríspida, isso o ofendera – ela não é uma mercadoria.

– Então por que age como se fosse? E se ela vai se casar, por que permitir que aprenda kung fu? – Perguntou ele colocando o copo vazio à mesa.

– Porque, na verdade, eu não quero que ela se case à força – abaixou a cabeça – e pode ser que nos dias da luta quando ela participar pra vencer, ela tenha que se defender e muito.

– Quer que eu saia? – Perguntou Tai Lung se levantando.

– Não, pode ficar. O que vou contar, todos vocês devem saber. Afinal, futuramente ela vai vir treinar aqui e terão que protegê-la.

– Quer conversar no salão? As meninas podem ouvir... – perguntou a tartaruga.

– Claro.

Se dirigiram ao salão e lá, depois de fecharem as portas, se sentaram em círculo para ouvir o que Feng tinha a dizer.

– Além dos atentados nas disputas, que acontecem sempre que há a luta pelo território, meu tio disse que existe um trato de honra com meu pai. Eu não sei a que se refere esse trato, mas a primeira fêmea da linhagem deve se casar com o herdeiro direto do trono, que é o neto dele. E ele também tem controle sobre a nossa cidade. Pode nos destruir à qualquer momento, eu duvido que faça, sempre foi muito bom conosco, mas ele tem esse poder e direito. E também... – parou de falar segurando suas lágrimas.

– E também o que? – Shifu o animou a seguir falando.

Oogway sabia qual era o trato, mas Feng deveria descobrir sozinho. Não acreditaria na tartaruga e talvez sentisse ódio do próprio avô por forçar o pai a voltar de tal forma. Tai Lung era engolido pela curiosidade e aguardava de olhos arregalados que o tigre terminasse de contar.

– Tentaram tirar minha filha quando era recém-nascida.

– Por quê?

– Por ela ser minha herdeira. O clã branco queria enviá-la ao palácio imperial desde cedo pra que fosse prometida do próximo imperador, que já tinha dois anos de idade. Eles acham que mulheres não tem vez. Assim, não teria quem competisse com o desafiante deles e seriam os donos de Guangzhou até a próxima geração. Por isso ela deve aprender a lutar. Se ela se recusar a casar, vai ficar lá e vencer pra governar. Mas se for obrigada ou aceitar o compromisso de matrimônio, o clã branco vai reinar até o próximo desafiante do meu clã poder lutar – respondeu Feng deixando as lágrimas rolarem soltas sobre sua pelagem alaranjada.

– Por isso disse que não haverá desonra se ela se recusar e ela deve recusar... e devemos protegê-la quando vier pra cá – refletiu Tai Lung.

– Isso mesmo.

– Proteger Tigresa se ela escolher casar ou lutar.

– É.

– Não chore. As mãos do destino guiarão sua filha ao caminho certo, desde que ela continue com a mente e a alma abertas para receber e compreender o que a vida lhe presenteia – disse a sábia tartaruga.

– Será que vai? – Perguntou Feng, enxugando os rastros do choro com o dorso da pata.

– Sim. Só não se deve descarregar tanta informação para ela em tão pouco tempo. Faça isso aos poucos ou pode fazer com que ela não aceite.

– Farei isso, ela tem um temperamento forte, tenho que tomar cuidado pra não magoá-la, não é?

– Sim – sorriu Oogway – bom, meus amigos, é hora de irem deitar – levantou-se apoiado em seu bastão, que levava consigo o tempo todo, e tocou o ombro de Feng com a pata – apenas faça as coisas com cautela, sentindo o que seu coração manda fazer, meu jovem. E lembre-se, há mais na vida do que kung fu.

– Tesouros não são apenas posses – disse o leopardo das neves que levantou e se e curvou – boa noite.

– Boa noite – responderam Shifu e Oogway.

– Ele também está certo – disse a tartaruga apontando para o felino de pelagem cinza.

Oogway se retirou junto à Shifu, cada qual para seu quarto. Tai Lung voltou à ala dos estudantes junto à Feng, e foi para seu quarto. O tigre foi checar a filha, que a essa altura, depois de conversar com sua nova amiga, já adormecera. Abriu a porta devagar para vê-la deitada e dormindo tranquila, sem nem imaginar os dois caminhos que seus pais planejavam para ela.

Ele sorriu de onde estava, com certo ar de melancolia. Sacudiu a cabeça expulsando esses pensamentos e se aproximou dela para cobri-la bem com a manta. Depois, deu um beijo de boa noite no topo da cabeça da felina, o que foi um pouco difícil, porque ela estava um pouco torta na cama.

Então foi a seu quarto para se trocar e deitar, deixando as coisas ruins de lado, ao menos à noite, para descansar e estar lá, firme e forte para sua filha nos dias que se seguissem.

Horas depois, o sol iluminava o vale. Entrou pela janela do quarto onde Feng se encontrava. Depois de se revirar um pouco na cama, abriu lentamente os olhos para soltar um profundo suspiro.

“Tigresa. É por tudo isso que somos tão protetores, é pra que tenha uma boa vida”, pensava ele. “Vamos fazer de tudo pra que você escolha se aceita casar ou lutar pelo seu lar.”

Fechou os olhos um segundo pra depois se levantar. Colocou suas roupas habituais retirando tais pensamentos de sua cabeça. Aproveitaria o passeio com sua filha, agora que já havia acertado as questões importantes. Saiu de seu quarto para procurar a pequena Tigresa. Não estava no quarto dela, já havia levantado.

Na cozinha, avistado todos. Entrou desejando “bom dia”.

– Bom dia, papai.

– Bom dia, Lord Feng – disseram os outros em uníssono.

– Papai, posso ir pro vale com Tai Lugn e a Víbora?

Feng olhou para ela, logo para o leopardo e os mestres. Sorriu e acenou positivamente com a cabeça.

– Mas só depois que você terminar seu café da manhã.

– Tá bom – respondeu ela e continuou a comer.

Depois de alguns minutos, Tigresa terminou, assim como a serpente e então o leopardo as levou para passear.

Já nas escadas que levavam ao vale, as duas jovenzinhas queriam correr na frente do mestre que estava fechando os portões.

– Ei, ei, ei. Não corram, vocês vão cair da escada.

– Não se preocupa – respondeu a serpente – ei, você quer ir no restaurante visitar o pandinha? – Perguntou de forma que fez a felina corar.

– Ah, pode ser... vamos – respondeu ela um pouco nervosa.

– Onde querem ir? – Perguntou Tai Lung.

– Ao restaurante de macarrão do senhor Ping – respondeu Víbora.

– Mas é cedo pra almoçar. Na hora do almoço a gente vai, prometo.

– Tá bom – responderam ambas em uníssono.

Já na zona comercial, na rua principal, os três passaram por tendas de roupas, brinquedos onde haviam bonecos de ação do Mestre Tai Lung, o mestre do estilo leopardo das neves.

Foram até uma parte, que era próximo a um rio. No lado oeste do vilarejo. Era um campo calmo e de grama alta, onde a brisa movia a vegetação suavemente. Desse modo, algumas flores que cresciam ali, soltavam pétalas que voavam como se dançassem no ar. Tigresa não resistiu, elas pareciam provocá-la como sua bola de lã, então correu para tentar pegar as pequenas pétalas coloridas.

Víbora foi atrás para brincar também, mesmo sem entender que esse era o instinto felino chamando a pequena tigresa. Tai Lung apenas olhava com um sorriso no rosto.

As levou por o lugar, até chegou a hora de comer. Se dirigiram ao restaurante ao qual elas tanto queriam ir.

Já no restaurante, se sentaram e esperaram que alguém os viesse atender. Foi então que chegou um panda, um tanto distraído e que arregalou os olhos quando viu a felina. Engoliu em seco e foi até a mesa.

– Boa tarde – disse ele.

– Oi – disseram Tigresa e Víbora com um sorriso simpático.

– Olá, pode trazer três da sua melhor sopa de macarrão e três chás de jasmim.

Foi então que o pequeno panda reparou no leopardo que as acompanhava e ficou em choque.

– Mestre Tai Lung! Não acredito, que legal o senhor por aqui! – Disse o panda, que de uma hora a outra deixou a timidez por ver o mestre, assustando as meninas – você é show de bola, sou seu maior fã! O senhor é o maior mestre de toda a China, tirando Oogway e Shifu. Ainda mais depois que você ficou bonzinho de novo...

Tai Lung corou e sorriu ao menino. A essa altura, todo o restaurante prestava atenção naquela mesa, embora alguns disfarçassem mais e outros menos.

– Obrigado, jovem – tocou a cabeça do panda e fez cafuné.

– Uau! Eu nunca mais lavo a cabeça... – parou de falar reparando na besteira que soltara – er, quero dizer... já trago sua comida – correu disparado para a cozinha.

Tigresa soltou uma risadinha e Víbora a seguiu.

– É, simpático esse filhote... – disse o leopardo.

– Sim, e Tigresa gosta dele – disse Víbora brincando com a felina.

– Não, eu nem conheço ele. Só... quero ser amiga – respondeu um tanto nervosa desviando o olhar.

– Podemos chamar ele pra ir junto se você quiser...

– Verdade, Mestre Tai Lung? – Perguntou Tigresa entre surpresa e feliz.

– Claro, espera ele voltar, a gente vê se ele quer ir.

– Tá.

– Tigresa e o panda, debaixo da árvore... – cantarolou a serpente.

– Sh! Ele já tá vindo. Para Víbora.

Agora nem sua pelagem pôde esconder a vermelhidão e a felina sentia sua bochecha esquentar.

O jovem panda chegou equilibrando os pratos e copos em seus braços e cabeça.

– Nossa, que bom equilíbrio que você tem... – elogiou Tai Lung.

– Sério? – Perguntou o panda servindo os clientes.

– Sim.

– Obrigada, mestre – Po inclinou-se em respeito fazendo com que todos da mesa sorrissem.

– Gostaria de vir conosco dar um passeio. Tem um lugar sagrado que vou mostrar a elas...

– Posso mesmo?

– Por que não?

– Já volto...

Os três começaram a comer e estavam terminando, o panda não voltava da cozinha. Tigresa se levantou e foi até lá ver o que estava acontecendo.

– Onde você vai? – Perguntou Tai Lung, mas ela o ignorou.

Chegando à bancada ela viu o panda pedindo ao pai e o pai parecia estar pensando.

– Olá – disse ela atraindo as atenções.

– Ah, olá, pequena. Algo errado com o macarrão?

– Não, é que, eu gostaria muito que ele pudesse ir passear com a gente – sorriu – por favor...

– Ah, está bem. Mas não volte muito tarde. Por favor, cuide dele, ele é meio estabanado e é muito importante pra mim...

– Papai! – Falou Po saindo da cozinha com o rosto corado.

– À propósito, meu nome é Tigresa.

– E o meu é Po.

Depois de pagar a conta, os quatro saíram de lá e fizeram uma pequena viagem até o lugar mais sagrado do Vale da Paz demorando mais do que deveriam pelas paradas que fizeram para o panda descansar. Chegaram então ao Lago das Lágrimas Sagradas e Tai Lung contou sobre Mestre Oogway e que ele descobrira o equilíbrio das forças de dentro do ser, desenvolvendo uma técnica de defesa que usa o oponente contra ele mesmo e a energia vital que se chama Chi. Assim nasceu o kung fu.

Todos os filhotes ficaram maravilhados e Po chorou de emoção de estar num lugar tão lindo e especial como esse.

– Eu quero muito aprender kung fu. É meu sonho – disse ele.

– Quem sabe um dia – disse Tai Lung dando esperanças a ele.

– Sério?!

– Claro, assim que Mestre Oogway disser que você pode, você virá ao palácio treinar.

– Show de bola! – Comemorou Po levantando os braços e fazendo as meninas rirem.

Passadas algumas horas, tinham que voltar. Deixaram Po no restaurante de seu pai, mas não sem antes Tigresa dedicar-lhe um beijo no rosto e correr ás escadas para o palácio, deixando um panda tão corado e sorridente quanto ela.

No jantar, ambos compartilharam com seus pais suas descobertas, embora Feng estivesse surpreso por saber de um panda aqui e Sr. Ping estivesse com receio quanto ao kung fu para seu filho.

No dia seguinte, quem sabe, os amigos pudessem se encontrar novamente e compartilhar mais um dia, quem sabe um dia inteiro juntos dessa vez, antes que a felina voltasse para casa.