O duque e a duquesa de Hastings estão grávidos!

O anúncio foi feito pelo próprio casal durante um baile organizado na Casa Hastings na semana passada e recebido com muita alegria por todos os convidados e familiares!

Essa autora não foi convidada, mas, segundo o que pôde apurar, Lady Bridgerton não pareceu tão surpresa ao ouvir a novidade como tentou transparecer.

Ah, querido leitor, as mães têm faro...

Essa autora aposta que a mãe da duquesa já sabia do neto (ou neta) a caminho há algum tempo.

CRÔNICAS DA SOCIEDADE DE LADY WHISTLEDOWN

20 DE OUTUBRO DE 1813

Meses depois — Meados de 1814

Simon estava ansioso pelo nascimento de seu primeiro filho com Daphne. Não apenas para enfim conhecê-lo e segurar a felicidade nos braços, mas porque, àquela altura, havia se tornado uma questão de pura sobrevivência.

O duque achava que merecia um prêmio por não ter enlouquecido nos primeiros meses de gestação. Daphne enjoava todas as manhãs, e ele sofria muito por vê-la tão mal. Outras vezes, ela pegava no sono no meio de uma conversa — às vezes, até mesmo quando Simon estava tentando seduzi-la no meio do dia — e era bem frustrante.

Isso para não falar das constantes reclamações sobre ele balançar a cama enquanto dormia e deixá-la mais mareada pela manhã. Por sorte, à noite os sintomas davam uma trégua, e Daphne voltava a ser a mulher com quem Simon se casou há um ano.

Agora, no entanto, no final do nono mês de gravidez, sua duquesa praticamente se arrastava pela casa. Estava exausta e a barriga enorme. Sempre reclamava dos tornozelos inchados e dos sapatos que não lhe serviam mais.

Várias vezes, Simon mandou trazer uma modista renomada para atender a esposa na Casa Hastings. Nessas ocasiões, Daphne convidava a mãe e as irmãs, Eloise, Francesca e (por tabela) Hyacinth, para ajudá-la a escolher os tecidos e cores, bem como opinar sobre os sapatos.

Simon ouvia diálogos insanos quando passava próximo ao corredor, como a diferença entre verde claro e verde mais suave. Era óbvio que, para ele e qualquer pessoa em sã consciência, não havia diferença alguma.

Existia um Deus misericordioso, e Simon nunca foi convocado para opinar. Mas, quanto ao enxoval do filho, Daphne fez questão de ouvi-lo, torturá-lo e esmiuçar à exaustão cada comentário sucinto dele, a ponto de deixá-lo zonzo.

A criança precisava nascer. Era mesmo uma questão de sobrevivência.

[...]

Certa manhã, enquanto ele caminhava ao lado da esposa pelo jardim, Daphne lhe perguntou:

— Você acha que eu estou radiante ou andando feito uma pata?

Distraído pelo momento de prazer tranquilo, Simon não levou a pergunta tão a sério. Respondeu sem pensar e com um sorriso astuto:

— Uma pata radiante!

Daphne parou na mesma hora, encarou o marido como um dragão cuspidor de fogo faria, apertou as mãos com força na lateral do corpo rechonchudo e grunhiu:

— Simon Arthur Henry Fitzranulph Basset!

Ela. Grunhiu. E acertou todos os nomes dele.

Simon sentiu um arrepio e se encolheu um pouco. E assim percebeu que não fora a resposta mais inteligente de sua parte.

Com certeza, ainda estaria em maus lençóis acaso a primeira contração não tivesse acontecido bem naquele instante.

— Ai, meu Deus! — Daphne levou a mão à barriga com uma careta de dor e ansiedade.

Simon a segurou no colo, agradecendo aos céus por ser um homem forte e ágil. Em poucos minutos, estavam de volta à casa.

Logo, as criadas já tinham sido orientadas a ferver água e levar panos limpos para o quarto deles. Em paralelo, o mordomo Jeffries tratou de enviar um dos cavalariços para buscar a parteira com urgência.

[...]

Durante o parto, Simon segurou a mão da esposa o tempo inteiro e acreditou que era Daphne quem merecia um prêmio de verdade. Era difícil para um homem entender como alguém podia suportar aquele martírio todo e, apesar de sem forças no final de tudo, sorrir.

Foi o que aconteceu.

Quando o choro forte da filha se espalhou pelo quarto, a dor trilhada foi esquecida e Daphne sorriu. E sorriu ainda mais quando o pequeno embrulho foi colocado em seus braços.

Simon jamais admitiria para os cunhados mais velhos, Anthony, Benedict e Colin (e certamente nunca para o mais novo, o pestinha Gregory), mas seus olhos azul-claros, muitas vezes descritos como glaciais pela sociedade, derreteram ao ver a filha pela primeira vez também.

Ela era linda. Os cabelos castanhos como os de Daphne. O rostinho em formato de coração como o da mãe. Simon perdeu o fôlego.

Naquele momento, soube que não iria parar no primeiro. Não poderia parar. Queria mais filhos com a mulher que tanto amava. Queria ficar sem palavras como estava e se sentir completo como se sentia.

— Amelia — sua duquesa e seu amor anunciou de repente, arrancando o marido dos pensamentos. — Ela vai se chamar Amelia. Você gosta?

A pergunta foi dirigida a Simon. A resposta veio logo e certeira:

— É lindo.

Daphne sorriu, satisfeita por ele ter aprovado. Se não tivesse gostado da escolha, ela estava disposta a discutir as possibilidades, mas seria uma pena. A bebezinha tinha cara de Amelia, parecendo-se muito com a boneca favorita de Daphne na infância, e o nome simplesmente se revelou para ela num piscar de olhos.

Simon pensou um pouco e estreitou o olhar. Uma suspeita cutucando sua mente.

— Deixe-me adivinhar. O próximo terá B como letra inicial?

Daphne corou. Ele não soube se por ele ter descoberto a estratégia (o que, aliás, era uma clara homenagem às escolhas dos próprios pais dela, que nomearam os oito filhos em ordem alfabética) ou se por Simon ter deixado claro o desejo de não pararem na primeira filha.

Talvez fossem as duas coisas.

— Você pode escolher o nome do nosso segundo filho — Daphne propôs, timidamente.

Simon sentiu um calor especial crescendo no coração.

— Só do segundo?

Daphne abriu a boca algumas vezes, feito um peixe articulado. O olhar dardejando. Ficava linda quando surpreendida.

— Bem... — Ela limpou a garganta. — Certamente podemos chegar a um consenso. Revezar, talvez? E claro que, se um não concordar, nós podemos discutir um pouco mais antes de escolher o nome ideal.

Simon sorriu. Pegou a mão dela e beijou os nós dos dedos.

— Parece um bom plano.

Tão logo a parteira e as criadas se retiraram, Simon se ajeitou ao lado de Daphne na cama, beijou o topo de sua cabeça com carinho e três palavras escaparam de sua garganta:

— Eu amo você, Daff.

A esposa ergueu o olhar para ele. Um sorriso estampado nos olhos castanhos circundados por aquela intrigante linha verde que sempre o hipnotizava.

— E nós amamos você, Simon.

O peito dele foi tomado por uma emoção nova, mais forte e radiante, toda a sua vida parecia certa porque estava realmente certa agora. O passado definitivamente superado. O presente lindo e o futuro promissor no horizonte. Simon era o homem mais afortunado do mundo, e quem discordasse seria um tolo.

Feliz, segurou com apenas um dedo a mão pequenina e rosada da filha, percebendo que ela era o prêmio dos dois afinal.

— Amo você também — declarou com a voz embargada.

[...]

Um ano depois, Amelia ganhou uma irmã, Belinda. Em 1816 e 1817, vieram Caroline e, finalmente um menino e futuro duque, David. E em 1834, dezessete anos depois da última gravidez, quando nem Daphne nem Simon esperavam que fosse acontecer de novo, o pequeno Edward surgiu em suas vidas, aumentando ainda mais a família feliz e barulhenta.

Nenhum dos filhos de Simon e Daphne apresentaram dificuldades quanto à fala. Porém, não teria feito diferença se tivessem. Eles teriam sido aceitos e amados do mesmo jeito porque amor era algo abundante na Casa Hastings e na enorme família Bridgerton do lado materno também.

Ainda assim, cada criança foi um desafio novo para Simon e Daphne. Desafios enlouquecedores e maravilhosos ao mesmo tempo, como todo filho costuma ser. Valeu a pena. No fim, cada precioso dia e momento valeu a pena.

E todos eles viveram felizes para sempre.

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.