Todo ano Sasori ficava ansioso para suas férias. O jovem professor de inglês tinha apenas trinta dias durante os 365 do ano para se dedicar a si mesmo. Todos os outros eram divididos entre dar suas aulas num cursinho para adolescentes e cuidar de sua avó Chiyo, que tinha alguns problemas de saúde.

O momento das férias era sua válvula de escape da rotina dura que enfrentava, por isso sempre viajava para algum lugar. Como nunca podia deixar a avó sozinha, Sasori pediu ajuda de seu vizinho e melhor amigo, Deidara, para que cuidasse de Dona Chiyo.

O loiro ficava com ela de bom grado, além disso era um grande amigo da velhinha que sempre simpatizou muito com o rapaz. Deidara era a única amizade verdadeira que Sasori tinha cultivado na vida. Tanto a vovó quanto o ruivo davam valor a ele por isso. Deidara era pau para toda obra. Sempre prestativo, ele nem pestanejou ao aceitar ficar com Chiyo por trinta dias para que Sasori pudesse viajar para Konoha e aproveitar suas férias sem qualquer impedimento ou preocupação.

— Obrigada por tomar conta dela pra mim de novo! – Disse Sasori já arrumando as malas, pois embarcaria para Konoha no dia seguinte.

— Amigos servem pra isso, meu caro! Além disso, sua avó é adorável. – Comentou Deidara.

— Eu sei, mas, como ela tem alguns problemas de saúde, eu sempre fico preocupado em deixá-la sozinha.

— Ela estará comigo e não sozinha! Não tem porque se preocupar! Vá e aproveite essa viagem! Todo mundo fala que Konoha é um lugar mágico. Quem sabe você não encontra lá algo divertido pra fazer?

— Você nunca foi lá também, Deidara?

— Não. Primeiro, Konoha é longe daqui. Segundo, acredito que Suna ofereça tudo que eu preciso.

Deidara, assim como Sasori, era professor. Mas ele dava aulas particulares e de reforço escolar em sua própria casa. O loiro se sentia mais livre dessa forma. Além disso, poderia se dedicar às artes no seu tempo extra. Deidara era um grande apreciador de arte e tinha influenciado Sasori desde a infância a gostar também.

— Eu gosto de conhecer outros lugares. Ver a vida em um ângulo diferente do costumeiro. – Afirmou Sasori já fechando sua mala.

— Você é um aventureiro, meu caro! Eu sou tão pacato quanto esta cidade!

— Mentiroso! Se tem uma coisa que você nunca foi é pacato! Você é muito mais nervosinho que eu, Deidara!

— Todo mundo perde as estribeiras de vez em quando! É normal! No entanto, eu sou um cara sossegado! Não tenho essa sua necessidade de ficar desbravando os quatro cantos do mundo!

— Acho que estou procurando alguma coisa e ainda não encontrei.

— O que?

— Não sei o que é. Apenas não sinto que aqui seja o meu lugar.

— Se a sua avó escuta isso, ela te mata cara!

— Eu sei. Vovó quer que eu fique aqui pra sempre!

— Aham. Ela quer que você fique aqui pra sempre, se case com a Shion e dê a ela bisnetos deslumbrantes! – Completou Deidara e Sasori riu.

— Vovó vai ter que entender um dia que a Shion não é mulher pra mim.

— Ah cara, é que a Shion foi a única mulher que durou com você aí a velhota se apegou! Afinal, ela vê a garota como uma filha e vocês namoraram por três anos e meio!

— Eu sei que vovó fazia planos assim como Shion, mas eu não posso me anular desta forma para fazer as vontades da Dona Chiyo.

— Cara até eu nunca entendi o que deu errado entre você e aquela mulher! Ela é bonita e gosta de você, o que quer mais?

— Sei lá, acho que eu não gostava dela da mesma forma. Com o passar dos anos, ficamos unidos por costume, mas ela não me acrescentava em nada. Aí, de repente, ela começou a forçar a barra junto com a vovó para que eu a pedisse em casamento e foi aí que eu não aguentei a pressão. Tive que terminar! Não quero me casar agora e também não tinha certeza se gostaria de fazer de Shion minha mulher.

— Mulheres e essa mania chata de querer subir ao altar! A minha gata também tá com essa mania.

— A Ino tem muita paciência com você, Deidara! Faz quantos anos mesmo que você a enrola?

— Seis anos ininterruptos!

— Ela já ameaçou você quantas vezes para se casar com ela?

— Nem parei pra contar! Já te disse que ela comprou um vestido de noiva?

— Não.

— Pois é, ela comprou! Daqui a pouco ela compra o anel de noivado e me pede em casamento por conta própria! Não quero nem imaginar...

— Vocês dois combinam. Sei que você a ama, então deveria se casar. É diferente de mim com a Shion.

— Eu sei, mas acho que não to pronto pra virar pai de família. – Deidara fez uma careta e Sasori riu.

Sasori sempre sorria ao lado de seu amigo. Deidara era capaz de fazer graça com as situações mais inapropriadas. O loiro estava com Ino há tanto tempo que Sasori ficava se perguntando porque eles não se uniam oficialmente de uma vez por todas. Ino era muito bonita e tinham vários caras em Suna que dariam tudo para tê-la, mas Deidara fora o escolhido e não conseguia tomar a decisão de casar com aquela mulher. O ruivo acreditava que o amigo não queria crescer, afinal ser marido e pai de família exige muitas responsabilidades. Depois que se despediu do amigo, Sasori se preparou para dizer até logo para sua avó.

— Vovó, eu vou ficar um tempo longe, mas se precisar pode me ligar. Tudo bem? – Disse Sasori já segurando as mãos de Chiyo.

— Vá em paz, meu filho. Eu vou ficar bem com o loiro destrambelhado.

— Eu sei que Deidara vai cuidar bem da senhora, mas...

— Mas nada! Vá se divertir! Você tem férias para que possa curtir sua juventude. Nada mais justo.

— Obrigado por entender.

— Contando que você volte para Suna, não tem problema nenhum você ficar trinta dias longe.

— Eu sempre volto.

Sasori abraçou a avó. Saber que algum dia ela não estaria mais lá o esperando sempre o deixava abalado. Por mais que estivesse procurando por algo fora daquela cidade, Sasori sabia que enquanto sua avó vivesse tinha de permanecer ali para cuidar dela.

[...]

Após várias horas de viagem, Sasori chegou a Konoha e logo ajeitou seu relógio. A cidade tinha um fuso horário diferente de Suna. Ou seja, se eram 14h em sua cidade natal, em Konoha já eram 18h. Sasori estranhou um pouco, mas não demoraria muito e se acostumaria. Quando chegou ao hostel, que ficava no centro da cidade, o ruivo foi atendido por Konan na recepção. A garota, que era estudante de relações internacionais, trabalhava por meio período no hostel para pagar os custos de sua faculdade. Sasori gostou de conversar com ela. Como Sasori não gostava de dividir o dormitório com estranhos, ele preferiu reservar um quarto individual. Era um pouco mais caro, mas valia a pena por causa da privacidade.

Depois de tomar um banho para relaxar, Sasori trocou de roupa e saiu para comer. Após o jantar, ele deu uma breve volta pela cidade e deu de cara com uns artistas de rua que chamavam a atenção dos pedestres. Ele andou mais um pouco e se deparou pela primeira vez com a Full of Songs. A loja parecia grande, mas já estava fechada. Sasori ficou olhando um pouco para a arquitetura do prédio e viu que ele era antigo. Como não pode entrar lá, o ruivo caminhou até um bar onde bebeu um pouco sozinho.

Quando já passava às 23h, Sasori retornou ao hostel e Konan ainda estava lá. Resolveu então pedir alguma dica da local para programar as atividades do próximo dia na cidade.

— Konan, você poderia me falar um pouco o que tem de legal na cidade e que os turistas comuns não sabem?

— Bem, todos os turistas daqui frequentam o mesmo bar por ser o mais hypado. Você já foi ao Uzumaki’s?

— Já, acabei de voltar de lá. A cerveja é ótima!

— Além da boa cerveja, lá você encontra comida de boa qualidade e num preço acessível. Fora que tem sempre uma banda legal tocando lá aos domingos.

— Legal. Vou voltar lá no domingo. O que mais?

— Não sei se você já ouviu falar, mas a loja de discos Full of Songs é um lugar que você não pode deixar de conhecer caso goste de música. Lá tem de tudo. Fora que o pessoal da cena independente da cidade frequenta lá, então, se procura gente interessante, deve ir lá.

— Eu passei lá na frente hoje, mas estava fechada.

— Hoje é segunda-feira, Sasori. E toda segunda a loja fecha pra manutenção. A família Haruno mora no terceiro andar da loja, então eles pegam esse dia para organizar tudo, limpar, botar ordem no estoque. Essas coisas.

— Essa loja pertence a essa família há quanto tempo? Notei que o prédio é antigo.

— Há milhares de gerações. A dona é a Sakura Haruno, uma amiga minha. Pode procurá-la na loja. Ela adora mostrar a loja para os turistas.

— Eu vou lá amanhã então.

— Se encontrar a Sakura, fala pra ela que eu pago o que to devendo na próxima semana.

— Ok, Konan. Até mais.

— Até.

[...]

Sasori foi dormir satisfeito. Seu primeiro dia em Konoha tinha sido legal. Tinha tido suas primeiras impressões da cidade e elas correspondiam ao que tinha imaginado. Konoha era mesmo mais alegre que Suna e as pessoas eram hospitaleiras. Konan havia sido simpática o tempo todo com ele e na rua conversou com alguns estranhos que também não se importaram em lhe informar como usar o transporte público da cidade. Sem dúvida, suas férias seriam inesquecíveis.