Era avassalador, Remy nunca havia sentido nada igual, e não era por falta de experiências com mulheres. Ele não lembrava exatamente todos os rostos de mulheres que havia ficado, e não importava, por mais covarde que pareça, eram sempre números.

Era incompreensível, não havia toque, era apenas companheirismo.

E, no fim, era a melhor coisa que tinha acontecido com ele.

Na primeira semana que notou que sentia algo mais que "um desafio a ser cumprido", pela garota que não poderia e nem queria ser tocada, Remy decidiu numerar todos seus defeitos projetando a mulher perfeita comparando com Vampira:

Ele gostava de pele bronzeada, e por não se expor muito ao sol, ela mantinha sua pele pálida, mas contemplando as memórias de seu rosto, seu jeito de corar rápido beirava a inocência, um item excluído de sua lista. Preferia mulheres fáceis de manipular — por mais que esse fato tirasse todo seu lado heroico, era verdade — mas o fato dela ter esse jeito marrento e forte era de se admirar, dava-lhe uma maior curiosidade sobre toda sua vida. Não se sentia atraído por mutantes, tinha esperança que seus futuros filhos tivessem uma chance de não nascer uma aberração, a viagem desse pensamento fez se questionar como seria seus filhos com Vampira, seriam muito poderosos.

Foi nesse momento que ele afastou qualquer pensamento como esse, percebendo limite que poderia ter com ela, pensar em filhos era muito forte e muito cedo.

Mesmo sabendo seu gosto para mulheres, mesmo sabendo que Vampira não se encaixa em muitos de suas predileções, era inevitável sentir o que ele sentia. "Não é paixão" ele pensou ela quinta vez nessa hora, "É desafio".

— Você gosta dela? — questionou Jubileu. Acordando-o de seus pensamentos, havia até esquecido que estava no sofá com sua amiga, na sala de jogos, observando o restante das pessoas que estavam ali, jogar cartas.

— Não, petit, é só — fez uma breve pausa para recalcular suas palavras, Jubileu era jovem, e ele queria muito falar a palavra tesão nesse momento, mas não achou apropriado. — Amizade.

— A gente é só amizade, Rémy.

— Não, Jubs, a gente é irmandade, eu te protejo como se fossemos da mesma família. — sua voz embargou, era estranho sentir isso, mas era verdade — Eu não sinto vontade de proteger a Vampira.

— Isso porque ela se defende muito melhor sozinha.

Antes que pudesse retrucar, Gambit percebe que Professor Xavier estava na sala de recriação, ouvindo a conversa de ambos, distante dos outros que jogavam.

— Gambit, podemos conversar?

— Ok.

Charles tinha uma sala ampla, cheia de livros, havia uma prateleira em destaque para livros de sua própria autoria, demonstrava inteligência, orgulho e um pouco e egocentrismo. Era esse o grande ponto de desconfiança de Remy LeBeau com toda aquela escola para Jovens Superdotados, era nobre? Ou era uma massagem em seu ego?

— Remy, para uma boa convivência no Instituto Xavier, preciso que confie em mim.

— Eu confio. — mentiu.

— Não parece, sinceramente — Charles era incisivo.

— Para onde essa conversa vai?

— Eu sei como aprimorar seus poderes, sei como instabilizar seu emocional, isso vai te transformar, Remy.

— Eu não preciso me aprimorar, "sinceramente". — disse planejando sair da sala.

— Já usou sua aura bio-cinética? — questionou num tom mais alto, querendo chamar atenção.

— O quê? — disse, virando completamente seu corpo, para direcionar seu olhar confuso para Xavier.

— É quando você usa seu poder no máximo, consegue uma energia que envolve seu corpo e pode neutralizar o poder de outros mutantes, principalmente telepatas. — sua explicação virou uma chavinha automática na cabeça de Gambit.

— E como isso acontece? — questionou com sua atenção completamente interessado nas próximas palavras que Charles que diria, fechando a porta atrás de si, evidenciando que a conversa fosse particular.

...

Mais tarde, naquele mesmo dia, Vampira sofria novamente do calor, e lembranças do dia que mergulho a noite lhe deixou em êxtase, precisava fazer novamente.

Repetindo os mesmos passos daquele dia, mudando somente a olhares mais atentos em todos os cômodos que passava para não enfrentar mais "Gambit" ou qualquer coisa desse tipo novamente. Porém, para sua surpresa, já havia alguém sentado à beira da piscina, com as pernas dentro da piscina.

— O que você está fazendo aqui?

Chérie, não nos vimos o dia todo, não sentiu minha falta?

— Nem percebi sua ausência — mentiu, com um sorriso no rosto, o fato era que Vampira tinha sim sentido sua ausência, mas não fez grande questão de comentar, já eram muitos comentários nos corredores da mansão sobre a aproximação dos dois, ela não queria intensificar. E, também, havia a preocupação com os Vingadores, sobre uma nova ameaça do Caveira Vermelha manipulando pessoas com ajuda de Emma Frost.

— Eu estava com Xavier a tarde toda.

— Pensei que não confiasse nele — respondeu relembrando essa firmação saindo de Gambit numa madrugada que estavam conversando, dias atrás, para ouvir atentamente, decidiu sentar-se ao seu lado, mantendo uma distância confiável, mas com uma boa "acústica" — O que houve?

— Ele me deu uma informação importante — ponderou se realmente deveria fazer o que estava planejando, lembrando que essa tarde seria somente o primeiro treinamento, mas era muito tentador, de fato. Contemplou os pezinhos delicados de Vampira batendo na água, subiu sua visão para suas pernas grossas, a parte debaixo de seu biquíni, sua barriga, a toalha por volta de seus ombros que cobria seus seios, mas ele podia desenha-los em sua mente, e por fim, seu rosto ruborizado ao perceber seu olhar, avistou o fundo de seus olhos. — Ele me disse que existe algo em mim que pode bloquear poderes, dá para fazer com telepatas, sabe?

— E você tentou com Xavier? — perguntou, sem saber de suas verdadeiras intenções.

— Esperava testar com você — Gambit não esperou muito sua reação, com agilidade direcionou seus dedos para nuca de Vampira, puxando-a com força encaixando perfeitamente seus lábios nos seus. Ele repetia em sua cabeça "controle e objetivação" ele tinha controle de sua aura e o objetivo de descobrir o que sentia pela garota.

Foi rápido, mas ele poderia ter desmaiado desde o primeiro toque em sua nuca, o que chocou muito Vampira, ainda de olhos abertos surpresa, pode contemplar aquele momento que ela achou que nunca mais viveria depois de Cody. Ela relaxou, seus olhos fecharam, sua língua deu sinal que queria encontrar a dele. E foi nesse momento que Gambit lembrou como os dois estavam vestidos, o fato dela estar num biquíni que facilitaria sua retirada, os pensamentos rápidos de vê-la nua, em cima de seu corpo enquanto tudo isso acontecia fez seu sangue ferver e seu controle esvair pelo seu corpo. Enquanto seus poderes não funcionavam, o dela seguiu o caminho contrário, funcionando muito bem. Seus pensamentos passaram de libidinosos para escuro, sua pressão caiu, seu corpo desfaleceu, sua consciência não existia mais.

Em desespero, Vampira agarrou forte seu corpo mole, carregando-o para dentro da mansão, seguindo para seu quarto. Deixando-o em sua cama com cuidado, muitas lágrimas escorreram pelo seu rosto até que adormecesse no chão, desejando que Gambit acordasse logo.

...

Na manhã seguinte, a luz que entrava em seu campo de visão fez com que acordasse atordoado, foi uma ideia idiota e as consequências de seus atos seriam altas demais. Olhou confuso para o quarto, sentiu o cheiro característico do cabelo da Vampira e seguiu seu olfato para o chão ao lado da cama.

— Vampira? — perguntou confuso — Vampira, chérie, acorde!

— Hm — ainda meio acordada, com um olho fechado e outro aberto — Gambit!

— Oi — engoliu seco — Me perdoa!

— Perdoar? — disse acordada, sua expressão era de ódio, mas era nítido que seus olhos inchados eram de choro — Gambit, eu me odeio por ser assim, mas odeio mais você por desejar mais ainda coisas que não posso ter, caralho! Eu me fechei durante todos esses anos, Gambit, foram cinco anos desde de Cody — sua voz embargou com as lembranças e seus olhos encheram de lágrimas, enquanto é observada por Remy, em silêncio — Você se pergunta por que eu não me abro pra você? Eu sei, eu vejo tudo!

— Vampira, eu — Gambit não pode terminar.

— Não! Não existe justificativa, você só é mais um desses filhos da puta egoísta do caralho que só pensa no próprio pau! — Vampira gritou, parte daquilo era exagero, era um mecanismo de defesa. Atacar, machucar para afastar, funcionava.

...

Antes mesmo que Gambit pudesse se defender, ele percebeu que não teria como fazê-lo e decidiu ficar quieto enquanto mirava Vampira partir de seu quarto, na esperança de poder se explicar depois. Mas isso nunca mais aconteceu.

Depois de tudo que aconteceu, ainda naquela semana, ela recebeu uma missão como nova integrante de uma equipe chamada "Fabulosos Vingadores", era uma missão muito perigosa contra o Caveira Vermelha.

Para Remy, era uma missão rápida, e logo ela voltaria. Mas o que era para durar semanas, se tornaram meses, Vampira havia perdido seu aniversário de dezenove anos durante toda essa luta, parte do que estava acontecendo era noticiado.

No primeiro mês, Gambit não conseguiu comer direito, nem dormir direito.

No segundo, se sentiu um peixe fora d'água e decidiu sair do Instituto Xavier, com uma graninha que tinha roubado em alguns lugares, conseguiu alugar um apartamento no Queens. Ainda nesse período criou raiva, e começou a embebedar-se em casa.

No terceiro mês percebeu que beber sozinho era deprimente, então decidiu frequentar clubes e bares, conheceu garotas sensuais e logo se lembrara como era antes de assistir aquele noticiário idiota, começou a amaldiçoar os X-Mens e todo esse tempo que fingiu que era herói. Voltou à ativa, mas não pretendia voltar a seu clã, estava gostando de ser independente.

No quarto mês, ele adotou gato, e nomeou de Lúcifer. Conheceu uma garota e decidiu finalmente transar com outra pessoa desde conhecera Vampira. Nessa mesma noite se questionou como ela estaria, ligou a TV e não obteve notícias, quando a angustia apareceu, para afasta-la, bebeu madrugada fora. Na semana seguinte havia saído com mais três garotas, inclusive uma no aniversário de Vampira.

Quase no fim do quinto mês, veio com a notícia da derrota do Caveira Vermelha, mas sem mais detalhes que o interessava. O medo da morte de Vampira se intensificou, e naquela noite, para esquecer, visitou o bar de sempre, mas com a sensação de estar sendo seguido. Levou a primeira garota que encontrou, e a sensação permanecera, e foi sentado em seu sofá servindo uma taça de vinho para a acompanhante seminua que teve uma impressão de um vulto em sua janela.

"Vampira?" questionou em seu pensamento, a angustia misturada com raiva fez com que sua cabeça balançasse instintivamente para afastar a confusão de sua mente.