— Kara —

Eu nunca havia me imaginado com uma mulher, não era exatamente um problema em Krypton como é para os terráqueos, no entanto isso não era algo que eu me imaginava vivendo. Sentir o corpo de Lena junto ao meu, nossas bocas se tocando. Aquilo era uma sensação que nem o poema mais bonito poderia descrever. Abruptamente a senti me empurrar.

— O que foi? Tem alguma coisa errada? — Olhei para ela, Lena estava com o mesmo tom de olhos escuros que tinha quando matou o demônio.

— Kate... — Ela falou enquanto recolhia sua blusa. Permaneci confusa. As mãos dela ganharam um brilho verde semelhante aos de esmeraldas, era um verde que chegava a ofuscar. — Chame Kate, diga que Ares está... — Lena levo as mãos à cabeça, ela estava sob uma dor tremenda.

— Eu vou chama-la. — Tentei tocar Lena, mas seu corpo estava quente como mil sóis em combustão, toca-la era impossível até para mim.

— Não... — Ela afastou-se. — Você vai se machucar, fique longe. — Ela tentava controlar-se, era como se algo tentasse invadir seu corpo ou sair dele.

— Eu não me importo, nós precisamos te levar para dentro. — A segurei em meus braços. Senti minha pele arder, a dor era imensa. Não conseguia lembrar de sentir algo parecido. A coloquei no sofá em seu escritório. Meus braços estavam repletos de queimaduras, aquilo me assustou, eu nunca havia sido machucada daquela forma.

Fiquei o tempo todo ao lado de Lena, acompanhei toda a sua agonia sem pode fazer nada a respeito, sentir-se impotente daquela forma me trazia uma dor imensa.

— O que aconteceu? — Kate entrou pela porta apressada, ela segurava uma maleta preta.

— Eu não sei. — Sussurrei sem jeito. Ela correu em direção a Lena. — Ei, eu estou aqui. — A intimidade com que ela falava ainda me incomodava. A situação não era para sentir ciúmes, porém eu não podia evitar. Ela levantou a coberta que estava sobre Lena.

— Ares está tentando libertar Nix. — Lena proferiu as palavras com dificuldade. Os olhos verdes de Kate se arregalaram, sua pele fantasmagórica ficou mais pálida ainda, algo que não achei que fosse possível.

— Querida, isso vai doer mais em mim do que em você. — A ruiva andou em direção a maleta que carregava. A vi tirar de dentro uma seringa com um liquido de tom roxo, o material me parecia vivo. Ele era orgânico, mas nada já catalogado. Kate enfiou a seringa do meio do peito de Lena e de imediato seus olhos voltaram a cor natural. Em questão de segundos ela desmaiou.

Kate e eu ficamos de pé no escritório de Lena, andávamos de um lado para o outro. Eu evitava a todo custo olha-la, estava com um sentimento muito infantil dentro de mim e não queria dizer algo que fosse me fazer parecer uma idiota.

— Nós não temos nada, tudo bem? — Kate preferiu as primeiras palavras que dizíamos em algumas horas, olhei para o relógio duas da manhã.

— Mesmo assim, você é o primeiro nome que ela chama em uma situação como essa. — Quase resmunguei feito uma criança mimada.

— Porque eu sou a única que sabe lidar com isso. E acredite, pode ser um fardo. — Kate olhou para o chão, como se aquilo um dia fosse leva-la a tomar uma decisão horrível.

— O que é isso? — Perguntei de imediato.

— Assim como todo Deus ou semideus, Lena tem um estado de poder absoluto. Ele a faz perder toda a consciência e esquecer sua contraparte humana, Ares estava tentando acessa-lo. Caso o fizesse, nós estaríamos todos mortos. — A parcela de poder que vi de Lena me deixou fraca por horas seu estado absoluto me mataria, certamente.

Kate andou em direção a mim, ela puxou-me e fez com que eu sentasse em uma cadeira. Meus dois braços machucados foram colocados lado a lado, ela começou a fazer curativos neles.

— O que vocês realmente tiveram no passado? — Perguntei. Ela se concentrava nas feridas.

— Não cabe a mim contar, ela irá falar para você no momento certo. — Assenti. Após terminar meus curativos a ruiva levantou-se e andou em direção a porta. — Ela vai acorda com muita fome é melhor providenciar um farto café da manhã. — Não tive tempo de resposta, ela apenas fechou a porta atrás de si.

— Lena —

Abri meus olhos e encontrei Kara aflita me olhando. Quando a olhei ela pareceu tranquilizar-se. Sentei-me no sofá, ela apenas sentou-se ao meu lado sem dizer uma única palavra.

— Você me assustou. — A ouvi proferir as palavras com carinho.

— Eu sei, sinto muito por estragar a noite. — Procurei suas mãos, mas encontrei ataduras enroladas em seus dois braços, me senti imediatamente culpada. — Kara, eu sinto muito. — Segurei seu rosto.

— Tudo bem, está quase curado. — Ela proferiu as palavras como se não fosse nada. Porém, na sua expressão eu podia ver que algo a incomodava.

— O que foi? — Toquei sua mão de leve, ela correspondeu ao gesto.

— Katherine... porque ela? Porque você a chamou? Qual a relação de vocês? — Ela tentou disfarçar, mas pude sentir uma ponta de ciúmes.

— É uma longa história. — Tentei desconversar.

— Nós temos algum tempo. — Kara olhou para o relógio, realmente nós tínhamos.

— Nós tivemos um longo relacionamento. — Foi uma resposta vaga, mas era a que eu tinha.

— Longo? — Kara insistiu.

— Nós fomos casadas e tivemos um filho. Um belo garoto chamado Jacob. No entanto, nosso filho foi tirado de nós e com ele nosso casamento veio a desmoronar. — Conclui.

— Eu sinto muito, eu não queria te trazer más lembranças. — Ela aproximou-se para envolver-me em um abraço.

— Tudo bem. — Retribui ao gesto.

— Kara —

Partiríamos para a Grécia naquela tarde enquanto tudo era preparado, eu apenas esperava. Não sabia o que me aguardava, mas tinha a certeza de que seria um desafio como nunca antes enfrentei.

— Você está pronta? — Alex tocou meu ombro.

— Para enfrentar um Deus homicida que quer destruir os humanos? Sempre. — Eu não estava nenhum pouco preparada.

— Você está borrando as calças de medo. — Alex falou entre um sorriso.

— Eu estou. — Respondi sorrindo.

— Ao menos estamos em boa companhia. — Ela olhou para frente e avistei Maggie e Lena conversando. Sorri ao ver que Lena me olhava discretamente.

— Nós partiremos em cinco minutos todo mundo para o avião. Repito, todos para o avião. — Winn adentrou no local gritando.

Fomos todos ao avião, não existia espaço para conversa, apenas a tensão nos assolava naquele momento. Eu tinha medo pelo que podia ver pela frente, amava todos ali e não os queria perder. Não suportaria adentrar de volta naquele avião com um membro a menos. Quando finalmente pousamos na Ilha de Creta, não parei nem ao menos para admirar a noite. Apenas fui para o meu quarto eu queria descasar, pois pela manhã ao tentarmos ir a Ilha das Amazonas não sabíamos o que nos aguardava. Ouvi batidas na porta do meu quarto nem ao menos perguntei quem era apenas a abri. Eu ainda estava a bordo da minha roupa de viagem nem ao menos havia me instalado. Era Lena aquilo me fez sentir melhor. Ela ergueu uma garrafa de vinho e trazia uma bandeja com doces locais.

— Com fome? — Assenti que sim. Ela entrou e nos sentamos. Peguei um docinho, era diferente de tudo que eu já tinha provado.

— Você sente falta da sua casa? A Grécia? — Indaguei. Lena sorriu e fez uma careta negativa.

— Você está brincando? De viver em uma Ilha repleta de mulheres, comer apenas peixe e ter que apanhar diariamente em treinamentos exaustivos? Eu sinto muitas saudades. — Ela completou em tom de ironia, não consegui não rir, apenas da situação não ser cômica. Lena de um último gole e aproximou-se de mim, ela iria me beijar, mas não pude evitar virar meu rosto.

— Qual o problema? — Ela perguntou.

— Eu... — Comecei a gaguejar feito uma adolescente insegura. — Eu não consigo parar de pensar que você já foi casada com a Kate, quero dizer olha a aquela mulher... — Gesticulei com minhas mãos, Lena sorriu. — Eu nunca estive com uma mulher, não como e nem seu vou estar aos pés dela. — Lena aproximou-se mais um pouco.

— Você nunca vai ter que tentar superar ninguém estando comigo, eu só consigo pensar e ter olhos para você. — Sua boca tocou a minha devagar, não pude esperar e a beijei.

A cada vez que a beijava era uma experiencia nova, cada beijo se tornava melhor que o outro. Lena cortou o beijo e ficou de pé e em seguida puxou-me para junto dela. Meu casaco começou a ser removido lentamente, suas mãos logo estavam passeando pelos meus braços. Ela jogou a peça no sofá, olhei em direção a cama, Lena sorriu. Fomos até ela entre beijos e tropeços nos móveis. Caímos na cama, ela beijava-me com paixão e tudo que eu conseguia fazer era corresponder. Nossas roupas aos poucos foram sendo tiradas, Lena era apenas perfeita. A noite ficou para trás entre nossas caricias e beijos. Acordei nos braços de Lena, queria pode fazer aquele momento durar para sempre, mas ele foi interrompido antes do que eu esperava.

— Agente Danvers? — Jonn bateu a porta. Levantei assustado, nós havíamos assinado um documento em que jurávamos não nos envolver com os colegas de missão, e na noite seguinte eu fui para cama com Lena, bela jogada Danvers. Levantei apressada deixando Lena ainda dormindo.

— Sim? — Abri a porta ainda enrolada nos lençóis.

— Você poderia me dizer onde está a senhorita Luthor? — Olhei melhor e os olhos atentos de Winn, Kate, Maggie e Alex me acompanhavam.

— Você está com fome? — A fome de Lena veio de quarto não me dando tempo para pensar em algo.

— Aparentemente as irmãs Danvers não conseguem cumprir regras. — Jonn falou bravo. Maggie e Alex olhavam para o chão envergonhadas.

— Eu fui o único que passou a noite jogando vídeo game? — Winn indagou.

— Você é o único nerd então é resposta é sim. — Kate respondeu.

— Era uma pergunta retorica sua morcega sinistra sugadora de sangue.

— Você são que morcegos são vegetarianos, não é? — Winn fez careta para Kate que apenas revidou da mesma forma juvenil.

— Vocês vão se preparar para irmos a Ilha das Amazonas e vocês nós iremos conversar sobre isso. — Jonn apontou de mim para Alex.

Partimos para a Ilha das Amazonas, enquanto eu permanecia envergonhada pelo acontecido pela manhã. Winn e Kate continuavam a se comportar como adolescentes, agora em partidas ultracompetitivas de baralho. Finalmente chegamos a Ilha e o que vi me deixou maravilhava, era um lugar intocado pela modernidade. Logo a frente uma comitiva com três mulheres se aproximada, elas usaram armaduras lindas.

— Lena. — A mulher loira e de belos olhos azuis parou diante nós.

— Tia Hipólita. — As duas se abraçaram, eu apenas estava surpresa. A rainha das amazonas era mãe da Mulher Maravilha, isso tornava Lena prima da maior heroína da terra.

— UAU! — Winn tocou a ponta de uma das lanças que a mulher ruiva portava, ela como que por reflexo a empurrou em direção a Winn com a intenção de machuca-lo. Lena colocou sua mão frente a arma e a parou a tempo.

— O que esses homens fazem aqui? Você sabe muito bem que eles não são permitidos, isso é um solo sagrado. — A mulher ruiva e alta usava um elmo espartano e os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo. Ela andou em direção a Winn que se afastava lentamente.

— Ele está sob minha proteção, Ártemis. Se você toca-lo eu reduzo-a a pó. — A mulher deu de ombro.

— É, eu estou sob a proteção dela. Você não pode me tocar. — Winn falou em um misto de medo e ousadia.

— Os homens são bem-vindos aqui, desde que não perturbem a harmonia do lugar. — A rainha proferiu as palavras e a mulher com calma.

— No momento nós temos outros assuntos a trata, majestade. — Jonn tomou a frente por nós.

— Sim, estou ciente. Nos acompanhem, por favor.

Seguimos as mulheres pela praia. Winn permanecia embasbacado com o local. Lena parecia reviver lembranças, ela não parecia à vontade ali. Eu não sabia bem o que me aguardava naquela Ilha, mas estava com péssimo pressentimento.