Estou correndo pela floresta. Meu coração está a mil por hora. Ouço os uivos, que agora parecem está mais próximos. Corro sem direção, pois tudo parece igual para mim. As árvores com seus galhos retorcidos e as corujas que dormem tranquilamente, e a neblina que ofusca um pouco minha visão.Mas paro subitamente, com os lábios entreabertos tentando sugar o máximo de ar que consigo. E pelo brilho tênue da lua avisto sangue. Sangue que cobre todo aquele pequeno e frágil corpo. E não preciso me aproximar por que conheço cada detalhe de longe. Seu cabelo castanho, e sua pele branca e suave.É Benjamim. E todo ar que tinha em meus pulmões é expulsado bruscamente de meu corpo.

Acordo gritando. Com meu coração acelerado. É uma noite fria de outono, e as folhas farfalham ao lado de fora. E podia-se ouvir o assobio do vento sobre a janela, e os galhos das árvores que produziam sons cruciantes sobre a mesma.Mas não é isso que me incomoda, não é nada disso.É o uivo que escuto todas as noites, tão nítido quanto o barulho do vento sobre a janela.No começo, quando eu era pequena, minha mãe dizia que eles uivavam para mim, mas agora eu sei bem do que se trata. Eu sou especial. Só eu posso ouvi-los.

Levanto cambaleando da cama, com o coração ainda saltitando descompassadamente no peito. Não posso dormir, não há mais como dormir. Tenho medo dos possíveis pesadelos que terei. Apanho a capa preta feita de lã e tingida de vermelho na parte de dentro,que ganhei de meu pai . Calço minhas botas de caça e pego a lamparina que fica na pequena mesa ao lado de minha cama.Cubro-a com um véu para evitar que a luz amarela se espalhe pela casa. Abro discretamente a porta de cedro de meu quarto,e escuto-a ranger.Saiu pelo corredor da esquerda,pela porta dos fundos, evitando a entrada principal.Olho de soslaio para o corredor e saiu.

Agarro-me a capa para amenizar o frio. De alguma forma penso em meu pai.De seus braços quentes e calorosos. Mas nada disso sobrou dele. Apenas a capa.Lembro-me dele segurando minha mãozinha,dele sorrindo para mim,e de sua voz que poderia acalmar o vento se ele quisesse.E talvez essa seja a parte mais dolorosa da minha infância.Por que agora eu não o tenho mais.Por que tudo o que me reta são essas lembranças amargas e dolorosas... Ando devagar para não ser notada, com meu vestido vermelho acobreado roçando na terra. Não iria ser bom ter a minha mãe me seguindo na floresta. Logo porque ela é traumatizada com aquele lugar.De alguma forma tenho convicção que esses uivos estão de alguma forma ligados a morte de meu pai. E hoje estou determinada a descobrir. Custe o que custar. Mesmo que o preço seja a minha vida.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.