A Coisa

Capítulo Único


De todas as tarefas que poderiam ter aceitado, aquela era a mais inusitada ─ isso se sua mente não estivesse lhe pregando uma peça e aquilo tudo não passasse de um grande sonho lúcido bizarro. Para ser justa com ele, não tiveram tempo suficiente para assimilar o que lhes foi dito e, com uma arma laser apontada para suas cabeças, não poderia culpá-lo de maneira alguma pela resposta que o homem grisalho deu ─ por sorte, foi essa resposta que possibilitou que voltassem vivos para a TARDIS.

Ainda assim, era estranho imaginá-los nessa situação. A morena ria com a falta de jeito do Senhor do Tempo para lidar com seu pequeno problema; por outro lado, as expressões do homem variavam com enorme rapidez ─ um misto de apreensão e surpresa com um brilho curioso no olhar, uma visão que a jovem gostava bastante de observar.

Tudo estava indo tão bem, que Clara poderia tirar a tarde para descansar e relaxar ─ coisa que ela não fazia há bastante tempo. Poderia, claro, mas quando se tratava do Doutor era impossível fechar os olhos e não se preocupar com o que quer que ele estivesse explodindo ao redor. Caminhando até uma sala mais afastada e sossegada, estava decidida a tirar ao menos um cochilo enquanto não ouvia seu nome ser chamado aos berros pelo homem.

Todavia, não demorou muito para que ouvisse passos apressados pelo corredor, seguido por diversos “Clara!” gritados a plenos pulmões.

─ Eu perdi! ─ Queixava-se ele, antes mesmo de entrar na sala; o desespero em sua voz era evidente.

─ Perdeu o quê? ─ Perguntou calma e pausadamente, pois, conhecendo-o como conhecia, sabia o quanto ele era distraído e costumava não enxergar as coisas, mesmo aquelas que estavam a um palmo de seu rosto.

─ A coisa, Clara! ─ Era possível ouvir o som de suas mãos batendo de encontro ao rosto com força. ─ Eu perdi a coisa!

Seja lá o que fosse essa “coisa”, deveria ser algo sério ─ afinal, não lembrava de tê-lo visto angustiado dessa forma antes. Foi só então que virou para encará-lo de onde ele estava apoiado na porta ─ os olhos dele brilhando ao encontrar o pequeno embrulho em seus braços.

─ Graças aos céus! ─ E um longo e pesado suspiro foi ouvido. ─ Estava com você.

─ Espere aí, ─ seu tom de voz estava mais agudo do que o normal. ─ Doutor, você estava falando do bebê?

─ Sim, o que você achou que seria?

Por um momento ─ um breve momento ─, teve vontade de socá-lo até que ele regenerasse. Porém levou poucos segundos para que sua raiva se dissipasse ─ era só encarar aquele olhar confuso de quem estava genuinamente preocupado que toda e qualquer irritação desaparecia. Ele era um idiota? Claro que era, porém era o seu idiota ─ e isso fazia toda a diferença.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.