Dentro do seu quarto branco e limpinho, Porcelana pensava em como iria atrás do pai. Não poderia simplesmente sair correndo, ou pegar o primeiro trem. Não tinha ideia de onde era Wittgen, e não sabia o que iria fazer quando chegasse lá. Seria perda de tempo.

Para fazer algum progresso, a menina percebeu que precisaria de uma informação melhor, mais concreta do que queria. Decidiu que era hora de ir atrás de informações da sua mãe.

Não iria ser fácil. Nazaré escondera o paradeiro e até mesmo o nome do ex-marido por vários anos. Era uma lembrança dolorosa, mesmo para uma mulher daquelas. Apesar de Nazaré mal fazer alguma coisa digna de aplauso, ela também tinha suas dores.

Porcelana saiu do quarto e encontrou a mãe em frente da televisão, passando canais e procurando alguma coisa interessante. Seria aquela uma boa oportunidade? Não saberia sem tentar.

— Mãe...

— Hum. – Nazaré continuava com os olhos vidrados na TV.

—... – “por que tem tantos jornais sobre Wittgen no porão?” “quem era meu pai?” “você sente falta do meu pai?” (essa resposta era óbvia) “e agora, o que vai fazer?” “por que não me bateu quando voltamos?” — Eu me pareço com meu pai?

— Tem os olhos dele. – falava com um tom sonolento e entediado. Era o efeito da tv.

—... – Porcelana se orgulhava muito de seus olhos azuis. – Ele era uma pessoa legal?

— Era gentil e gostava de trabalhar. Não tinha nada do que reclamar...

— Por isso a senhora foi atrás dele?

— Você fala dos jornais do porão? – finalmente virou os olhos pra menina.

— Sim.

— Já gastei muito tempo tentando encontrar alguma notícia dele. Mas agora não adianta mais, né. – bufou uma risada conformada, como se estivesse rindo de si mesma. – ... – voltou a olhar pra TV. – Por que se interessou tanto nele, de repente?

— Eu comecei a me lembrar das coisas, depois de um sonho estranho que eu tive... – desviou os olhos para o chão. – Mas não consigo me lembrar dele. Não lembro o nome, como era a aparência...

— Faça um favor a você mesma e deixe isso pra lá. Homens que abandonam mulheres e filhas porque querem não merecem ser lembrados... – e suspirou.

Porcelana se sentou do lado dela. E ambas começaram a assistir a TV. Se havia algo melhor pra fazer, as duas não sabiam o que era...