— Oi, Inocência.

A menina olhou pra Caramelo com uma expressão mista de surpresa e descaso.

— E aí, Caramelo. – ela continuou pegando folhas do chão com um ciscador.

— É legal ficar aí... cuidando do jardim?

— Mais ou menos. É bem entediante, pra falar a verdade. – suspirou. – Talvez mais do que Belarus.

Silêncio. O vento soprou, trazendo uma brisa gelada. Ia chover.

— Por que você saiu de Belarus? – perguntou o rapaz, que apesar de ser amigo de longa data, mal conhecia a jovem.

— Porque minha mãe me mandou pra fora de casa. Não te contei? – ela mesma se fascinou com a falta de conversa deles. – Disse que o namorado dela ia lá, e que me queria longe de casa, porque eu sou bonita. Acredita?

Teodoro olhou pra amiga com uma espécie de pena. A vida familiar dela era tão complicada que talvez tenha sido por isso que se aproximou dela. Porque tinha pena.

— Pare de me olhar com essa cara. – disse Bianca, irritada. – Parece até que eu sou uma pobre coitada.

— Vou te olhar com que cara, então? – revoltou-se. – Tu foi excluída da sua família por causa da sua aparência, e quando foi pra outro lugar, ficou como jardineira, excluída do resto da sociedade. Não é isso que você quer, né?!

— Eu queria poder encher a cara e esquecer esse tanto de problemas que eu tenho, igual meu pai fazia! – falou com firmeza.

Teodoro ficou chocado.

— Vê? – Bianca olhou nos olhos do suposto amigo. – Eu não quero algo bom pra mim. Não tem nada bom pra mim neste mundo. – quis chorar, e muito, mas segurou as lágrimas. Mas o nó na garganta ficou.

As nuvens tiveram pena de Bianca e choraram por ela.