Querido andava na frente, procurando a árvore. Bendito ia logo atrás, fazendo a mesma coisa. A sua jornada de subir e descer árvores não demorou a se mostrar repetitiva e um pouco chata. Era só: andar, subir na árvore de sol, cortar um pouco do caminho, descer, voltar para o primeiro passo. A floresta parecia quieta demais. Não havia monstros, e bichos, somente insetos, e olhe lá! Até os mosquitos fugiram da umidade da floresta para ir atrás das lâmpadas dos postes das grandes cidades.

Bendito começara a olhar a floresta com outros olhos, já que os de Querido procuravam a árvore.

Viu colônias de formigas nos galhos altos das árvores. Viu também pequenas e grandes entradas nos troncos das árvores, onde, pelo pouco que era possível ver com a escuridão de lá dentro, vivam pequenos e grandes pássaros, todos juntinhos, dormindo.

A atmosfera sonolenta e solitária foi tomando conta do coração do meio monstro. Ele andava sozinho por aquelas terras dormentes, onde algum dia já se tinha visto vida alegre e animada. Lembrou das pessoas de Belarus, e como elas eram tão quietas e inquietas. Quietas porque não falavam. Inquietas porque pareciam silenciosamente desesperadas pela volta do sol.

Bendito também queria que o sol voltasse. Que brilhasse de novo e que mostrasse as coisas como elas realmente são. Estava enjoado daquele mundo tristonho e descolorido.

— Querido. – perguntou ele.

— Diga. – virou o rosto para ele.

— Você também se sente cansado desse mundo sem o sol?

— Que pergunta.

— Diga!

— Não posso dizer. Nunca vi o sol. Então não tenho como opinar.

— Mas e o sol da árvore...

— Aquilo é só um desenho que imita o que o sol é. – interrompeu. – Não muda nada. Quero saber é do sol de verdade.

E Bendito achou aquela resposta genial.