A Cidade do Sol

Compreensão.


— O senhor não parece bem. – comentou Querido.

— Um dos meus sobrinhos me disse que meus súditos não entendem porque eu adoto vocês. Fiquei triste com isso. – Bernardo estava sentado em uma cadeira, próximo de Querido.

— É normal.

— Eu sei. Mas é triste... – ele olhou para o corcunda. Suspirou de novo.

Querido estava deitado em uma maca, num laboratório que se mesclava com uma sala de cirurgia.

— Como está o seu olho? – perguntou o rei.

— Bom.

— Ainda vê bem de longe?

— Sim... Consigo ver a distância entre o portão e a cidade.

— Então a lente continua intacta. Isso é bom.

— Foi o único experimento que deu certo.

— Verdade... – o rei acariciou o braço de Querido, com um sorriso melancólico. – Desculpa fazer você ter passado por isso tudo, rapaz.

— Não se preocupe.

Os dois ficaram em silêncio.

— O senhor se preocupa com seus súditos.

— Você não deve entender, não é?

— Não muito.

— É compreensível. – suspirou – Seus pais estão em algum desses quartos e nem lembram mais que você existe, ninguém entende porque uso de bondade para alguém que não é totalmente humano... “Por que proteger gente tão egoísta?” às vezes eu me pergunto.

— Achou resposta?

— Sim. Percebi que não posso culpá-los... Eles vivem presos. Tiveram sua liberdade tirada por causa do incidente de anos atrás. Além do mais, não há mais a pura luz do sol. O que vemos é um reflexo embaçado dela, uma sombra do que ela é.

— O senhor já viu a luz do sol?

— Já. Há muito tempo atrás. – sorriu com a lembrança. – E sei que ela é magnificamente transformadora. Quando ela voltar, muitos monstros incompletos e completos voltarão a ser humanos. Não todos, mas alguns sim. Disso eu tenho certeza.

— Licença... – Bendito abriu a porta. Ouviu a conversa do corredor e achou conveniente entrar na sala.