A Cidade do Sol
Apelo.
— Mas eu vou ver o rei quando? – já tinha sido a quarta vez que Porcelana perguntava.
— Quando ele vier aqui. – essa tinha sido a quarta resposta diferente.
— Ah, sim. – quis dizer “ah vá? É mesmo?” mas teve medo.
— Ele deve ir te levar de volta pra Belarus.
— Ah, mas eu não quero voltar pra lá! – entrou em um leve desespero – Minha mãe vai me matar!
— Como ela vai te matar se ela é sua mãe?! – Querido não conhecia Nazaré.
— Você não sabe nada sobre mães, né. Não é a toa que só fala do seu pai.
— Eu nunca tive mãe.
—Então como você nasceu? A cegonha te trouxe? – ela riu.
— Olha aqui, você pare de me zoar, se não eu bato na tua cabeça com a pá de novo! – ameaçou.
Porcelana se assustou, e ficou quieta. Por pouco tempo, claro.
— Cadê Caramelo?
— No quarto do lado.
—Posso ir lá falar com ele?
— Falar o que? – Querido não era bobo nem nada.
— Ah, perguntar se tá tudo bem, e tal...
— Você vai ter tempo pra falar com ele quando estiver voltando pra Belarus.
— Ele vai voltar comigo? – essa notícia animou Porcelana de repente.
— Vai, claro. Ele que te trouxe até aqui. Vai ter que dar explicações à polícia.
— Explicações do que? Eu estou muito bem!
— Sim, bem longe da sua casa.
Porcelana bufou com o trocadilho, emburrada. O rei abriu a porta. Querido se levantou, em reverência.
— Querido? – o rei parecia preocupado.
— Diga.
— Como ela está?
— Bem. Falando que só.
— Menina, não se preocupe, vamos te levar pra casa. – ele tocou no ombro dela.
— Mas eu justamente fugi de casa porque não queria voltar! – ela protestou.
— Sua casa é muito melhor do que aqui. Do que qualquer lugar.
— Você diz isso porque não conhece a minha casa.
— E como é a sua casa?
— Minha casa é um porre! Tudo lá é tão seguro! Minha mãe passa o dia todo conversando com as pessoas da rua e eu na escola! Eu quero é sair de casa! Pelo amor, me deixem ficar longe dali!
O rei puxou Querido pra um canto, e comentou:
— Ela é igualzinha a Caramelo, não acha?
— Acho.
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