Apesar do medo consegui subir as escadas, chegando ao meu quarto, joguei minha bolsa sobre a cama e liguei o computador, teria que reenviar o e-mail para minha antiga escola.

Desci novamente, olhei pela janela, não havia nada na floresta, tudo parecia deserto na minha rua, já começava a escurecer.

Peguei meu iPod e desci para preparar o jantar.

Coloquei o macarrão para cozinhar enquanto preparava o molho. Na minha cabeça eu pensava no dialogo estranho que eu havia tido com Kaory, não tinha entendido o motivo do convite, apesar da própria Kaory ter dito.

Papai chegou bem na hora em que eu colocava a mesa, é claro que ele pareceu surpreso ao ver tudo em ordem, nada queimado.

__ Oi Jo! Tudo bem? Como foi na escola hoje? Foram bonzinhos com você? – ele parecia abatido, mas ainda sim queria conversar.

__ Foi legal, conheci umas pessoas legais hoje, Megan Walsh, ela é realmente simpática. – disse rápido. – Papai o que te preocupa?

__ Jo, não quero falar nisso. – disse ele. – Mas eu ficarei bem.

__ Olha pai, não sou mais criança, tenho 17 anos, sou vacinada, posso aguentar, e além do mais, isso pode ser bom, pode aliviá-lo.

__ Sempre a mesma Joan. – disse com um sorriso de lado. – Bem, aconteceu que há pessoas desaparecidas nas cidades vizinhas, sem falar nas mortes. Tudo começou por volta de um mês, várias pessoas desaparecidas e muitas sendo encontradas mortas, o Cherry Hill Daily tem interesse nesses casos, isso tem alavancado as vendas do nosso jornal, mas colocando a economia de lado, tem sido um banho de sangue, muitos desaparecidos.

“As mortes têm sido atribuídas a uma doença contagiosa, já que todas as vítimas apresentavam pouco sangue no corpo, acredita-se que é uma doença onde a pessoa tem hemorragias por isso a falta de sangue, mas o que a policia que nos, a imprensa, não publique é o fato de que todas as vítimas apresentam perfurações nas veias dos braços, como se o sangue fosse drenado do corpo delas.”

__ Então, vocês, repórteres, estão fazendo pesquisa de campo? – perguntei meio chateada.

__ Sim, a polícia tem nos liberado. – disse ele com simplicidade dando a última garfada no macarrão.

__ Papai, e se por acaso contrair a doença? – perguntei.

__ Bom, trataremos se for o caso. – disse ele severo.

__ Mas pai?

__ Sem “mas”, Joan, é o meu trabalho, eu tenho que realizá-lo e você não me causará problemas. – disse ele meio irritado. – Aliás, quando foi que você aprendeu a cozinhar isso tá muito bom. – disse aliviando a tensão da conversa.

Não adiantaria eu discutir, então resolvi não falar sobre a pessoa ou sei lá quê, me vigiava.

Terminado o jantar, papai disse que ele lavaria a louça, então eu subi para o quarto, passei no banheiro e escovei os dentes, decidi que não sairia mais do quarto.

Sentei ao computador para começar a longa pesquisa de física, e o tempo se foi, quando terminei o trabalho era dez e meia, decidi me deitar, afinal acordaria amanhã bem cedo.

Era frequente eu ter sonhos bons e agradáveis, mas desde que me mudei para essa cidade, tenho pesadelos, e são frequentes quase toda noite.

Levantei assustada e toda suada, o sonho dessa noite tinha sido pior, mais real. No sonho, eu corria de alguma coisa, de alguém, essa coisa ou alguém tinha os olhos vermelhos que parecia que eu conhecia, aquele pesadelo parecia mais um memória, mas não me lembro de ter corrido de alguma coisa em uma floresta. Olhei no relógio no criado, eram três e meia, encostei sobre o travesseiro, o sono não demorou novamente e eu adormeci, sem sonhos desta vez.

Desci rápido as escadas, meus cabelos ainda balançavam molhados atrás de mim, não teria tempo nem para o café da manhã, corri até a geladeira e peguei um iorgute de morango, meu preferido, corri até meu quarto novamente, peguei meu casaco, chaves e bolsa e fui para o carro.

No caminho até a escola, pensei em como eu podia ter perdido a hora, isso nunca acontecera em nenhum lugar, mesmo que eu dormisse tarde, eu sempre conseguia acordar no horário certo.

Cheguei ao estacionamento da escola, não desci, terminei de me arrumar primeiro, penteei meus cabelos e os prendi em um rabo-de-cavalo.

Hoje eu estava extremamente comum comparado ao dia anterior, usa um jeans velho, uma blusa de manga longa rosa e meus confortáveis tênis.

As aulas da manhã foram tranquilas, a Sr. Harbor passou um estudo avançado sobre formas microscópicas de vida, o Sr. Liu novamente explicou matéria desatento, e o Sr. Mason nos passou um trabalho enorme onde deveríamos descobrir a origem de nossas famílias, isso porque ele era professor de geografia e não de história.

No almoço, Maggie, eu, Julia e Carter, riamos e conversávamos de assuntos sem nexo, como a foto do anuário, as dietas mirabolantes de Julia e sobre o último show da banda favorita de Carter, Papa Roach. Tudo ia bem ao almoço até que Sebastian, Marc e Kaory se sentaram na nossa mesa.

__ E então? Quais são as últimas? – perguntou Sebastian, com certa ironia. – Espero que tenham... novidades. – completou.

__ Estamos sem novidades Sebastian, só as antigas que vocês já sabem, desaparecimentos. – disse Carter amargurado.

__ Olha aqui, Campbell sem gracinhas ou... – disse Marc, sendo interrompido quando Sebastian levantou a mão.

__ Vejo que alguém acordou dos avessos, foi só uma pergunta, idiota. – disse Sebastian com uma risada forçada.

__ Seu, seu, estúpido, você acha que me engana não é? – disse Carter entre os dentes, levantando-se enquanto Julia o segurava. – Eu vou acabar com você, seu desgraçado, volte para o buraco de onde você saiu.

Foi nesse momento que Kaory entrou no meio da discussão.

__ Olha como você fala com ele, Campbell seu lixo. – disse com desprezo.

__ Não se meta nisso Kaory, eu te peço, pense no seu pai, meu tio. - disse Maggie assustada com a possível briga, o que certamente daria suspensão a todos os envolvidos, o que não deixaria o pai de Kaory, tio de Maggie muito mais decepcionado com a filha.

__ Cale-se sua virgem, cuide de você, aliás, vocês não nos entendem, nunca entenderam. – disse Kaory com rancor na voz. – Agora é a nossa vez, não ficaremos mais calados, CHEGA.

__ Vamos embora daqui. – eu disse baixo ao ouvido de Maggie, que lançou um olhar significativo para Julia, que entendeu.

__ Vamos, Carter, eu disse “Vamos”. – disse ela puxando Carter pela parte de trás da camisa.

__ O que foi aquilo na cantina? – perguntei a Julia na aula de economia doméstica.

__ É só que, o Carter, acha que “os excluídos” tem alguma coisa a ver com os desaparecimentos. – disse ela sombria. – O que eu acho loucura, nada a ver isso, eles nem saem da cidade.

__ Eles não saem? Ou é vocês que não os vê saindo? – perguntei.

__ Bom, a gente é que não vê, mas mesmo assim, é muita loucura, só porque eles são esquisitos, não quer dizer que são assassinos.

Dei uma risada sem graça e virei para a explicação de como calcular os gastos mensais.

As outras aulas passaram rápido. Cheguei em casa era três e meia, estava feliz que meu pai hoje, pediria pizza e não teria que fazer o jantar, assim poderia pesquisar mais sobre a origem da minha família, o que, eu tinha certeza que seria muito sem graça.