Passaram alguns dias desde sua última visita ao clube noturno. Michael não frequentava esses lugares diariamente, tinha uma rotina cansativa ao gerir uma máfia tão extensa, mas, quando queria esquecer tudo isso, era o primeiro lugar para onde ia.

Aquela noite foi escolhida para ser o seu momento de descanso. Não queria sair com amigos, não queria ficar em casa, queria ver pessoas novas e depois, dependendo de como corresse as coisas, ficar sozinho.

Seguiu e, ao chegar, falou com o patrão e foi se acomodar em uma das mesas. Queria cantar naquele dia, mas ainda estava decidindo qual seria a música. Annie se aproximou e limpou a mesa em que estava. Entre todos aqueles clientes, ela havia escolhido justamente sua mesa, parecia proposital.

— Boa noite.

Disse ela. Michael a encarou.

— Traga-me…

— … uma margarita com pouco álcool?

Ele deixou um riso curto escapar.

— … uma lagoa azul em uma taça pequena.

A mulher sorriu e aquiesceu.

— Vou decorar isso.

Ela brincou, em seguida se retirou para passar o pedido ao barman. Não demorou muito, logo retornou com sua bebida. Assim que o serviu, Michael a chamou novamente.

— Venha cá…

A mulher quase abraçou a bandeja que estava segurando, mas conteve-se e foi em sua direção.

— Sim?

— Você irá cantar hoje?

Ela o encarou com curiosidade ao ouvir a pergunta. Lentamente negou com a cabeça.

— Você… cantaria comigo?

Ao ouvir o pedido, ela piscou os olhos algumas vezes, um pouco confusa.

— Eu...?

— Eu compus um dueto. Eu preciso de um par. Se estiver interessada, apareça daqui à meia hora nos bastidores, podemos ensaiar rapidamente antes da apresentação.

Annie ainda parecia um pouco perdida, foi um pedido bem inusitado, mas ela aquiesceu sem questionar.

— Sim, senhor.

Após aquela conversa, se afastou para continuar o seu serviço. Annie refletiu sobre aquelas palavras e não foi pouco. Estava nervosa, nunca havia cantado em um dueto, temia estragar a performance de seu parceiro, porém o problema não era apenas esse… novamente estava sendo chamada para um palco, por um homem dos meios ilícitos… temia estar repetindo a mesma história.

Passaram-se alguns instantes e estava perto da hora marcada pelo homem. Annie suspirou, seu nervosismo ainda não havia passado, mas as suas paranoias já estavam mais enfraquecidas. Retirou seu avental e avisou ao seu patrão, em seguida foi até os bastidores.

Ele já estava lá.

— Olá…

Annie murmurou e lentamente se aproximou. Michael logo lhe mostrou um papel com a letra e a chamou para sentar-se ao seu lado. Ela até tentou, mas, quando tomou a folha em mãos e foi se acomodar, percebeu que não havia espaço. O rapaz se levantou, mas Annie o impediu.

— N-não, tudo bem… eu fico em pé.

Michael lentamente negou com um movimento de cabeça. Ele olhou para os cantos, pensando em alguma solução, realmente os bastidores daquele clube não eram lá aquelas coisas.

— Eu preciso que leia comigo, isso é um trabalho em equipe.

Disse-lhe. Havia apenas uma solução e ele não se importava em fazer. Segurou sua mão, o que fez a loira encará-lo com curiosidade. A puxou para seu colo e permitiu que ela ficasse entre suas pernas. Annie enrubesceu. Michael entrelaçou os braços em sua cintura, mas não a abraçou, do contrário, apenas segurou o papel em mãos e permitiu que lessem juntos.

Logo, começou a guiá-la naquele universo que havia criado.

“Each time the wind blows, I hear your voice so...” Esse trecho é meu. Esse aqui é seu.

Annie ouvia tudo atentamente. Ouvir aquele homem cantar tão perto de seu ouvido, quase sussurrante, a fazia sentir alguns arrepios estranhos. Ele era tão misterioso, sua voz era doce e suave, diferentemente da personalidade fria que queria lhe vender. Ele muito lhe intrigava.

“I hear your voice now. You are my choice now...” Estou no tom certo?

Michael sorriu.

— Deixe o medo de lado e você verá o que é capaz de fazer.

Disse. Annie suspirou e tomou aquelas palavras para si, estava se sentindo mais confiante. Sorriu, continuaram a treinar por um tempo, não demorou muito para serem chamados. A melodia não era difícil de entender, mas era uma canção extensa e ela precisaria se concentrar mais do que o necessário.

Se levantaram e seguiram em frente. Annie segurou seu microfone com as duas mãos, enquanto Michael apoiava o seu com apenas uma, estava mais familiarizado.

Iniciaram a música. Michael foi o primeiro a entrar com sua voz, seguiu em frente com uma suavidade e confiança invejáveis, quase misturando-se à doce melodia de fundo. Em breve seria Annie. Quando estava perto de finalizar sua parte, a encarou para passar-lhe a vez.

Ela estava nervosa, sorriu e mordeu os lábios, Michael notou aquele gesto novamente. Sem pensar muito, ele se aproximou e segurou sua mão. Já ela, notou o próprio tórax arfar, tinha receio, mas sentir o acolhimento daquele homem a fez se sentir mais segura.

Logo em seguida Annie entrou com sua voz, que também seguia um ritmo suave e sutil, pelo visto Michael havia feito a escolha perfeita para a garota. Não sabia se foi proposital ou inconsciente, mas, quando escreveu a canção, imaginava alguém como ela para ser o seu par. Duas vozes brandas, com muito a contar, guiadas pela música.

“And if I stop, then tell me just what will I do…

'Cause I just can't stop loving you.”

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“Minha vida nunca mais será a mesma, porque, garota, você veio e mudou…

… o jeito que eu ando... o jeito que eu falo…

Na hora, eu soube que aquele amor traria essa felicidade para mim. Tentei manter minha sanidade. Esperei pacientemente.

Você abalou meu mundo, você sabe disso... e tudo que tenho, eu dou.

O mais raro amor... quem iria pensar que eu acharia? Alguém como você para chamar de minha.”

E tudo aconteceu naturalmente.

Após a apresentação, Michael esperou o expediente da garota terminar. Saíram às 03 da manhã, ele a levou até seu apartamento. Pela primeira vez, Annie se sentiu segura em perambular pelas ruas desertas de Santa Barbara.

Na noite seguinte, ele a levou para casa. E também nas noites seguintes e seguintes. Annie perguntou se ele podia levá-la ao trabalho também, pelo menos teriam mais tempo juntos já que seu expediente começava mais cedo. Michael concordou.

— Ah, podemos passar na floricultura antes? Eu queria comprar algumas rosas pra enfeitar a minha mesa.

Indagou a garota, sorridente. Eram 19 horas e a maioria dos comércios ainda não haviam fechado. Ela segurou sua mão, sem medo, sem timidez, e começou a puxá-lo consigo para as ruas movimentadas. Michael estava vestido de forma mais casual, não queria atrair problemas quando estivesse perto dela, não conseguiria se perdoar se a colocasse em perigo.

Sorriu ao ver a animação da mulher, que foi rapidamente até uma loja repleta de flores e escolheu as mais rosadas que encontrou. Segurou o buquê com felicidade, sentiu seu perfume, e Michael percebeu toda a sua feminilidade e doçura. Aquilo o fez suspirar, ele estava sentindo aquele sentimento novamente…

— Essas são bonitas, não são?

Ele lentamente assentiu, admirando os traços alegres do seu lindo rosto, admirando seus lábios rosados e em como aquela cor a valorizava. Ela era o oposto de sua antiga paixão. Não esbanjava volúpia, mas ainda sim lhe atraía de todas as formas, não lhe provocava com ações, mas conseguia lhe chamar a atenção apenas com suas doces palavras.

— Combinam com o seu batom novo.

Ela o encarou, com espanto.

— Como sabe que é novo?

Ele mordeu os lábios, não sabia muito o que responder.

— Bom, eu… eu nunca te vi usando esse, eu me lembraria se visse. Você já repetiu outras cores, então imaginei que essa cor não estava na sua lista de opções antes.

Ela parecia um pouco perplexa.

— Sim…

Michael suspirou. Ele era observador, até um tanto demais, Calíope também já havia percebido isso. Pigarreou, a fim de cortar aquela conversa, e puxou a carteira para pagar as flores da mulher.

— N-não, tá tudo bem, eu…

— Melhor não brigar comigo.

Ele brincou, em seguida sorriu. Pagou suas flores.

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Às 03 horas da madrugada do dia seguinte, Michael estava lá, novamente, aguardando sua amada sair do trabalho. Ela cobriu-se com um casaco bem grosso e foi em sua direção, estava morrendo de frio.

— Demorei muito?

Michael sorriu discretamente e negou com um movimento de cabeça. Levou uma das mãos ao queixo dela e levantou o seu rosto, viu como o frio deixava as suas bochechas rosadas. Ele achou aquele pequeno detalhe a coisa mais linda do mundo.

— Você está tão linda…

Annie ficou o encarando por um tempo, seu coração bateu forte. Ela podia encolher-se em timidez, mas resolveu o empurrar de leve, brincando.

— Você quer me deixar mais acanhada do que eu já sou??

Ela brincou, rindo em seguida. Michael a acompanhou, fazia tempo que não ria de forma tão genuína.

— Me desculpe, me desculpe, senhorita Bittencourt!

— Ah, assim está bem melhor, senhor Jackson.

Ela gargalhou e o puxou consigo, tornaram a caminhar pelas ruas, porém andaram por pouco tempo, um pouco mais à frente Michael havia estacionado o seu Bugatti preto EB 110, um carro de modelo raríssimo e muito prestigiado. Aos poucos, o homem sentia-se mais confiante em lhe mostrar o seu mundo, as suas conquistas. Ele era muito inacessível e tomar essa atitude significava que realmente estava depositando, pouco a pouco, sua confiança em Annie.

Ela, por outro lado, ficou estarrecida ao ver aquele automóvel.

— É seu??

Ele riu e a puxou consigo.

— Vamos!

Adentraram e ele a levou rapidamente até o seu apartamento. Annie observava todo o design interior daquele veículo, encantada com cada detalhe brilhante, como uma criança indo ao parque de diversões. Michael adorava vê-la tão radiante, agarrou-se a essa visão enquanto dirigia.

— Você pode estacionar na garagem do prédio hoje?

— Por quê?

— Ah, porque… você podia passar a noite lá… se quiser…

Michael a encarou por alguns instantes antes de retornar rapidamente a observar a estrada.

— Então vamos.

Ela sorriu e seguiram em frente. Michael estacionou na garagem do prédio, embora pouco confiasse na segurança daquele local. Não estava tão preocupado, Annie, agora, era sua prioridade.

Saíram e foram até o quarto da mulher, já o resto, aconteceu muito rapidamente.

Michael estava para tirar o casaco, quando Annie o puxou carinhosamente pela camisa e o beijou. Há tempos não sentia seu coração bater tão forte com o tocar dos lábios de uma mulher, todo o seu corpo reagiu com um arrepio generalizado, sentia desejo por mais, queria aquela garota em seus braços.

Agarrou-a pelas pernas e a fez entrelaçá-las em sua cintura. Michael não conhecia o apartamento, não sabia onde estava sua cama, então a levou para o sofá mais próximo e, ali mesmo, eles trocaram todo seu amor.

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Michael acordou com os primeiros raios de sol que invadiram a sala de estar. Estava nu, tinha um cobertor envolta de seu corpo, não se lembrava daquilo estar ali e supôs que Annie havia o colocado. Passou a mão nos cabelos e virou-se para contemplar a sala, quando percebeu a garota, vestida com uma camisola curta e bordada, sentada à beira do mesmo sofá em que estava. Ele notou que Annie segurava alguma coisa, notou que era a sua braçadeira azul.

— Annie…

Ela rapidamente se virou, em seguida sorriu.

— Bom dia, amor…

Era a primeira vez que o chamava assim. Ele sorriu, havia gostado.

— Bom dia. O que está fazendo…?

— Oh, isso...

Ela suspirou, passou mais uma vez os polegares pelo tecido brilhante da braçadeira, em seguida o devolveu.

— Eu queria te perguntar uma coisa… você… gostou de dormir comigo?

Ele lentamente aquiesceu.

— Foi a melhor noite da minha vida, em anos.

Ela sorriu com a resposta.

— Vamos ter mais noites como aquela?

— Sempre que você quiser, Annie.

Ela mordeu os lábios, até então estava enrolando, estava um pouco receosa, mas, enfim, resolveu fazer a pergunta.

— Você vai dormir só comigo…?

Ele a observou por alguns instantes, analisando aquela pergunta.

— Quer que eu seja seu?

Annie aquiesceu timidamente.

— Quero ser sua também…

Michael sorriu. Lentamente se aproximou, levou uma das mãos ao queixo dela e a puxou para mais perto, em seguida beijou carinhosamente o canto de sua boca.

— Se é o que você quer, é o que eu quero também.

Ouvir aquelas palavras fez Annie se sentir verdadeiramente amada pela primeira vez. Michael não hesitou em nenhum momento, não pensou duas vezes, não a questionou, não a negou. Ela sorriu, sentia estar finalmente virando aquela página amarga de sua vida, logo o beijou para selar simbolicamente aquelas palavras. Michael retribuiu o seu carinho com ternura, ele também estava dando adeus a um passado amargo quando resolveu criar uma nova fase com sua amada.

Porém, havia um empecilho que Michael desconhecia e que Annie sabia muito bem qual era. Ela estava feliz, mas estava preocupada. Ele era um gangster Azul, ele era o seu fruto proibido. Love Symbol não iria gostar disso.