A Blue Box, An Time Lord and a Broke Heart Human.

Quatro Batidas. A Frequência Cardíaca de um Senhor do Tempo.


Eu seria o rei do mundo

Se você estivesse ao meu lado

'quando você me deu o seu amor

Eu era o homem mais rico vivo

Agora estou quebrado, com esperança que você vai voltar na minha vida

Eu seria o rei do mundo

Se você estivesse aqui hoje à noite!

King of the World – Blue.

P.O.V Doutor.

–O que?! O que diabos você quer dizer com essa ser sua esposa?! – Perguntou Fernanda parecendo extremamente indignada, e não eu podia culpa-la por se sentir assim.

–Oh querida, veja bem, o Doutor em seu.... Sentimentalismo, me confundiu com sua esposinha sem graça, mas é compreensível, olhe só o que eu estou vestindo – Disse apontando para suas próprias roupas. – Sinceramente. Com esses trajes nojentos pareço uma garotinha de quinta qualquer.

–Não fale assim dela! – Grunhi entre os dentes.

–Esposa ou não, é uma boa chance de te matar. E eu não vou perde-la. – Falou Marry.

–Não! Você não pode fazer isso! – Gritou Karyn finalmente pronunciando.

–Karyn Wolf! Eu não tinha te visto aí, na verdade não tenho te visto há muito tempo. – Os olhos dela brilharam mais, se é que isso é possível. – Onde está aquele seu namoradinho? Qual era mesmo o nome dele? Algo com D. David, Dravos, Dinho... Da.... Dan.... Não, não me digam, vou lembrar. Ah claro, É Daniel, Daniel Black. Lembre-se de agradecer a ele por mim. Aquela essência de Senhor do Tempo foi bastante.... Lucrativa. – É difícil fazer um cérebro como o meu parar, normalmente ele funciona muito bem, mas nesse momento algo não foi processado da maneira que devia, eu perdi algo, entre os murmúrios das pessoas abaixo do palco, entre os a tensão do momento, entre o olhar desesperado de Karyn contra os prepotentes olhos amarelos que haviam tomado o lugar dos de minha doce Rose, entre tudo isso algo se perdeu em minha cabeça, e aquela informação final dela foi demais para minha mente.

Tudo ao redor pareceu ficar escuro, todos os meus pensamentos começaram a voltar-se para a torrencial de sentimentos recém bloqueados, as vozes ao redor foram ficando cada vez mais altas, assustadoras e deformadas até o ponto em que tornaram-se insuportáveis, todos gritavam horrendamente, meu corpo tremeu, segurei minha cabeça com as mãos e apertei-a, é a primeira vez em anos na qual me sinto tão fraco. Mas nada era mais alto que minhas lembranças, elas sim queimavam como ácido.

‘’Doutor venha até aqui’’

‘’Doutor, está queimando, está queimando meu corpo. Isso doí! ’’

‘’. Mas não perdeu, você estava lá para me salvar, você sempre está...’’

‘’Doutor, eu te amo. ’’

Senti meu estomago revirar, tive uma súbita vontade de pôr todo o conteúdo de meu presente em meu sistema digestório para fora, um grito de terror ficou preso em minha garganta, meu cérebro começou a bombardear todo meu corpo com a vergonha por uma reação tão humana, mas o que mais poderia fazer? As vozes ficavam cada vez mais e mais altas, mais e mais furiosas. Olhei para o lado e vi Ro.... A rainha, revirar os olhos. Ela bateu palmas chamando a atenção dos presentes.

–Todos calados. Agora! – Ela grunhiu entre os dentes e em um segundo a sala foi tomada por um completo silêncio. –Muito bem, a próxima pessoa que der um pio vai ter o prazer de se tornar meu próximo par de sapatos. – Sua voz soava sombria, tentei falar para me opor a tirania megalomaníaca daquela mulher, tentei abrir minha boca, mas não consegui, como se meus lábios houvessem sido colados, depois senti minhas cordas vocais sendo presas, levei a mão ao pescoço desesperadamente, mesmo sabendo que aquilo não ajudaria em nada.

–Ah, Doutor, em alguns momentos meu poder é um fardo como pode ver. Você pode falar querido. – Não disse nada temendo sua próxima reação. – Vamos docinho, não queremos poupar todas essas espécies inferiores de suas sábias palavras, não é? – Permaneci calado, ela bufou impaciente. –Fale! Fale o que está passando por sua cabeça! – Ela ordenou.

–Como você fez isso?

–É só comigo ou aqui está muito cheio? Vamos para algum outro lugar? – Olhei ao redor, vi todas aquelas pessoas desesperadas sem suas vozes, com o medo estampado em suas faces, eles eram os súditos daquela mulher que ocupou o corpo de Rose, e ela fez isso com eles, não quero imaginar o que ela fará depois de um outro ‘’não’’ meu, engoli seco.

–Onde?

–Bom garoto. – Ela disse com uma expressão vitoriosa no rosto. Vi Amy balançar sua cabeça em negação.

–Vocês, garotinhas insignificantes, não tentem nada, do contrário eu vou esfolar seu irmãozinho pessoalmente. – Todas elas pareceram extremamente assustadas, mas a ruiva que recentemente eu reencontrara ainda estava pronta para atacar. –E para a pequena Amélia Pond, temos algo especial essa noite. Vamos, venha, não seja tímido. – Ela bateu palmas e logo apareceu um garoto loiro vestido em roupas hospitalares que ficou à frente de todos com um olhar vazio e assustado. Os olhos de Amy arregalaram-se. –Pode falar Srta. Pond.

–Não o machuque! Por favor eu...

–Chato, previsível. Cale a boca. Então Doutor, podemos ir? – Sussurrei um ‘’Vai ficar tudo bem’’ para as garotas, Fernanda desviou o olhar, Marry suspirou, Ana fechou os olhos, Karyn bateu uma continência com um sorriso amarelo, e Amy com lágrimas nos olhos balançou sua cabeça positivamente. A mulher tomou minha mão e estalou os dedos. Em um segundo o ambiente havia mudado completamente, de um teatro quase destruído fomos parar numa sala com paredes pintadas em tons escuros de azul com detalhes amarelos, e cheia de quadros com cenas que retratavam a Roma antiga, havia uma lareira dourada sinuosa, uma mesa de mogno escuro com alguns livros sobre ela, e duas poltronas de couro.

–Quem é você? – Perguntei depois de uma rápida análise do local.

–Você já disse, eu sou sua doce e adorada esposa. –Ela respondeu imitando ao máximo a forma de Rose de falar.

–Não, você não é Rose Tyler, está apenas vestindo o rosto dela. – Ela revirou os olhos novamente.

–Pelo amor de Deus.... Opa, acho que adquiri alguns dos costumes humanos, permanecendo tanto tempo naquele inferno que eles chamam de lar.

–O que você quer? – A mulher riu.

–Oh querido, não seja tão previsível. – Ela disse andando em direção a poltrona que ficava atrás da mesa, jogando suas pernas sobre um dos braços e apoiando suas costas na outra. –Por que eu iria querer alguma coisa?

–De outra forma para que você faria tudo isso? Quer dizer, a guerra, a Terra, os rumores sobre você, minha mulher. Por que faria tudo isso sem uma razão?

–Isso foi tudo por você Doutor, eu queria atrair você. –Ela disse levantando-se e pondo as mãos na madeira escura da mesa.

–Eu estou aqui agora, o que quer?

–Tenho planos para você. Eu e Rose temos planos para você.

–Não se atreva, não se atreva a dizer isso.

–-Entediante.

–O que você quer? O universo?

–O universo? Você está brincando certo? Eu não preciso do universo, porque precisaria? – Sua gargalhada de desdém chegava a me assustar.

–É isso o que a maioria dos egoístas megalomaníacos querem.

–Eu não preciso do universo Doutor. Eu sou o universo.

–O que? Você é algum tipo de Deus?

–Não ‘’algum tipo de Deus’’ sou Bad Wolf, Surrexit, a Deusa mãe, Gaia ou qualquer outra coisa da qual queira me chamar, eu criei a mim mesma e ao universo porque estava entediada, e agora meus filhos viraram-se contra mim.

–Oh, deixe-me adivinhar, quer vingança contra seus filhos malvados tornando-os em escravos, não?

–Claro que não, por que eu faria isso a minhas próprias crianças? Só quero o que é meu por direito.

–O que seria isso? O corpo da minha mulher? – Perguntei não controlando a ironia em minha voz.

–Não, isso é meu por natureza. Quero meus planetas de volta, quero a adoração de meus filhos de volta, quero seu amor de volta, quero minha vida de volta.

–Você tem um sério problema em confundir medo com amor, não tem?

–Eles reaprenderão a me amar. Todos eles. Incluindo você, o último dos Senhores do Tempo me amará a final, contra todos os costumes de seu povo você me amará.

–Não vai acontecer.

–Você Doutor me lembra muito Nescio, mas é claro, ele o pai de seu povo, mesmo assim. – A rainha aproximou-se até estarmos frente a frente. – Nunca havia visto nenhum de vocês que fosse tão parecido com ele. – Ela tocou meu rosto com sua mão esquerda e percorreu seus dedos num caminho da minha bochecha até a base de meu pescoço, agarrei seu pulso quando seus dedos tocaram o local onde por baixo do terno estava minha clavícula.

–Não se atreva. – Disse numa voz que soou mais como um rosnado entre meus dentes, e então soltei seu braço. Um sorriso descarado formou-se no rosto que ela vestia, um sorriso que jamais havia presenciado, pelo menos não naquela face, não da face de minha Rose, porque aquele não era seu sorriso, o que avivava tudo ao redor, como o sol que ilumina até a tempestade eminente. Esse não, esse é sombrio, e cruel, ela não está sorrindo para mim, está rindo de mim com seus olhos âmbar cada vez mais brilhantes.

–Interessante. Sente-se. – A rainha proferiu numa voz profunda.

–Não.

–Que fofo, realmente acha que tem uma opção? Sente-se, agora, Doutor. – Disse a mulher sombriamente, e de repente já não estava mais no controle do meu próprio corpo, sentei na poltrona odiando-me internamente por não conseguir controlar aquele impulso quase animalesco que gritava em minha cabeça para obedecer suas ordens. – Olhe esses lábios, exatamente como os de Nescio, mas claro, não é tão inteligente quanto ele. – Ela tocou a parte inferior de minha boca, virei meu rosto parando o contato, mas fêmea segurou-me pelo maxilar forçando-me a encara-la novamente. –Fique parado. – Ela murmurou para então sentar-se em meu colo colocando uma perna de cada lado do meu corpo. –Tão fraco, nenhum senhor do tempo conseguiu ser controlado tão rápido, mas acho que a determinação de sua raça morreu com Gallifrey

–Não sabe do que está falando. Pare! – Grunhi.

–Me beije, Doutor. – Ela sussurrou em meu ouvido. Arregalei meus olhos, no mesmo instante cravei minhas unhas nos baraços da cadeira, usei cada gota de energia em meu corpo, cada bloqueio mental aprendido durante minhas regenerações, trinquei meu maxilar, não podia obedecer, eu não queria obedecer. –Oh, então aí está seu espírito de luta, só precisa de um pouco de incentivo para se mostrar, não é? Vamos ver quanto tempo consegue aguentar. Me beije Doutor. –Minhas unhas perfuraram o tecido da poltrona, os nós em meus dedos estavam mais brancos do que nunca, minhas pálpebras caíram sobre meus orbes, deixando tudo ao redor escuro, repeti mentalmente o nome de todos planetas que já visitara, o nome de todas as crianças que já conheci, todos os erros da Tardis a serem reparados, de trás para frente, trocando letras de lugar. –Agora Doutor. – Ouvi, e então todos os meus esforços foram em vão, eu sucumbi e a beijei.

...

Tudo ao redor estava escuro como o breu, não conseguia enxergar alguns centímetros a frente de meu nariz, estava tão silencioso que era possível ouvir o sangue quente pulsando em minhas veias vindo diretamente do sistema cardiovascular binário até as mais ínfimas partes de meu corpo.

Quatro batidas, a frequência cardíaca de um senhor do tempo.

Dei um passo para frente sentindo um frio incomodo percorrer minha espinha.

Quatro batidas.

–Mas o q.... Assustei-me ao ouvir um ruído, quem mais poderia estar naquele lugar? –Tem alguém ai? – Puxei uma lanterna do bolso de meu terno, mas mesmo ligando-a tudo o que havia ao redor era escuridão. – Olá?

Quatro batidas rápidas.

–N-Não, não é você. Vá embora, me deixe em paz!! – Meus dois corações pararam, a voz estava fraca e vazia, mas eu a conhecia.

Quatro batidas desesperadas.

–Sou eu. Onde você está?

Quatro batidas que me matavam por dentro.

–Vá embora! – Agucei minha audição o máximo possível. O som vinha da direita, lancei os feixes luminosos da lanterna naquela direção. Senti algo queimar em meu nariz e meu peito apertar, meus olhos encheram-se de lágrimas quase que imediatamente, engoli seco.

Nenhuma batida, meus corações pararam.

–R-Rose. –Sussurrei incapaz de dizer qualquer outra coisa.