Estou acordando em cinzas e pó
Limpo minha testa e transpiro minha ferrugem
Estou respirando as substâncias químicas
Estou invadindo, tomando forma

É isso, o apocalipse.

Estou acordando

Eu sinto isso em meus ossos

O suficiente para fazer meu sistema explodir

Ergo a minha bandeira, tinjo minhas roupas

É uma revolução, eu suponho.

Bem-vindo à nova era!

Radioactive – Imagine Dragons

–Me leve para onde eu preciso ir... Ele sussurrou para sua mais antiga companheira. –Você é boa nisso não é? Ele deu uma risadinha.

–Doutor eu...

–Não. Eu entendo, só... Me leve aonde mais precisam de mim sim?

Ele forçou um sorriso. A Tardis não respondeu em sua cabeça, apenas começou a fazer seu típico barulho, aquele barulho brilhante que era conhecido por trazer esperança e luz aonde quer que fosse, por um segundo, por um mísero segundo ele imaginou que ao abrir as portas de madeira de sua grande caixa de polícia azul ele encontraria Rose, com aquele sorriso que sempre aquecia cada ínfimo pedacinho dele, que eles poderiam dar as mãos e sair por ai viajando para sempre, que finalmente poderia lhe retribuir aquelas três palavras que ela dissera a ele naquele dia fatídico naquele momento, ele tinha esperança.

Ter esperança é algo engraçado, ter esperança é pegar um punhado de areia na praia, onde cada grãozinho é uma pequena fração desse sentimento que pulsa no sangue dos que lutam pela igualdade e acalenta a noite dos desafortunados, mas separados os grãos são tão pequenos que a não ser que você tenha algo muito poderoso para prendê-los a você, as brisas da realidade obscura os arrastarão para longe, enquanto tu poderás apenas observa tuas mãos esvaziarem-se e contemplar o imenso oceano do desconhecido que se apresenta a sua frente que o desafiando a toca-lo, a navega-lo e a vencê-lo.

Ele lentamente abriu as portas da Tardis para contemplar que lá não havia ninguém, sentiu seus corações falharem por um segundo com a decepção, quase como se a garota que havia se tornado sua esposa pouco antes de sumir houvesse sido arrancada bruscamente de seus braços por uma segunda vez, a dor que ele sentiu naquele dia foi bem semelhante a que brotava em seus corações naquele momento, mas aquela durou infinitamente mais, e o levou a um estado mental inimaginavelmente pior. Fazia não muito tempo que o Doutor havia decidido não se sentir mais assim, mas falar é mais fácil que agir, quando as sombras da solidão o rodeavam (como o que estava acontecendo naquele exato momento) ele tinha de lutar com todas as forças para não sucumbir novamente ás trevas de sua alma.

’Está tudo bem?’’ perguntou a Tardis na sua cabeça, ele queria gritar que não, gritar que nunca nada ficaria bem se ela não voltasse para ele, se esconder debaixo do console, na verdade qualquer lugar serviria, contanto que ninguém nunca mais o visse e o deixasse sofrer sozinho, em silêncio e na escuridão para todo o sempre, porque sem ela ele sentia que aquilo, aquela dor descomunal, aquele frio exorbitante, e acima de tudo aquela solidão eram sua realidade, que ali poderia fazer seu lar para todo o sempre, que ninguém nunca o procuraria, e se o fizesse nunca o encontraria, e essa possibilidade meus caros amigos, era bem mais tentadora para ele do que pode parecer a você, mas aquela pobre alma resistiu, por sentir que não podia fazer isso, porque era um homem de palavra, que cumpria suas promessas, ele suspirou dando fim a mais uma de suas muitas batalhas internas.

–Sim. Ele mentiu, e olhou ao redor, estava escuro, e era difícil ver ao redor.

Parecia apenas um quintal comum de uma casa comum... Não, talvez a casa lhe fosse ligeiramente familiar, e aquela aura... Aquela casa emanava uma aura estranha, o Doutor sentiu um frio na barriga ao apertar os olhos para enxergar mais adiante na escuridão da noite de lua nova, ali havia algo estranho, indescritível, mas... Não. Deveria ser impressão, tinha de ser impressão, ele deu um passo para fora da Tardis, olhou ao redor, e a seguir para cima ‘’O que?’’ O rosto dele franziu numa carranca ao olhar para as estrelas. Ele tirou o par de óculos do bolso e os pós.

–Aquela é a constelação de Sirin, e aquela outra a Calis... Isso não é a Terra. Tardis... Onde estamos?

–Na mais nova colônia de imigração terráquea. Mephis.

–Que ano é este?

–2030.

–O que!? Os humanos não conseguiram tecnologia para... Ele não chegou a terminar a frase.

–Ei! Quem é você? Você veio me ajudar? Uma pequena garotinha ruiva com uma camisola que ia até quase os pés, possuía alguns botões decorativos na parte da frente, ela estava usando galochas azuis e segurava uma lanterna havia acabado de sair do que ele imaginava ser a porta dos fundos da casa, o Doutor apertou mais os olhos para acostuma-los com a luz que vinha da lanterna da garotinha, e quando eles o fizeram ele finalmente descobriu o que era aquela aura, era ela, não era atoa que aquele lugar lhe parecia familiar, ele já havia estado lá, mas não neste universo, em outro, há não muito tempo atrás, mas era ela?... Não podia ser.

–Olá...? Ela perguntou com uma voz um pouco desconfiada. -Quem é você? Ela disse quando o avistou.

–Eu... Eu Sou o Doutor. E você? Ele perguntou aquela não podia ser...

–Amélia Pond. Ela respondeu ‘’Droga!’’, xingar mentalmente não é a coisa mais educada a se fazer, mas nesse momento era completamente aceitável diante da situação estranha que ele estava vivendo, como no universo ele encontraria aquela garotinha duas vezes em dois universos diferentes? Qual eram as chances? Ele não havia percebido que enquanto vasculhava sua cabeça em busca de probabilidades ela havia se aproximado o bastante para estar á cerca de meio metro dele.

–Se você é um Doutor porque na sua cabine diz polícia? Ela disse com uma vozinha curiosa e um pouco pertinente, enquanto esticava o pescoço para ver melhor o rosto do homem misterioso.

–É-É uma história engraçada... Eu estava na sala de controles e...

–Tem uma sala de controles ai dentro? Ela disse inclinando-se para o lado para tentar ver.

–É mais complicado do que...

–Legal! Ela disse sorrindo.

–É... É sim. O Doutor deu um sorriso distante de repente algo passou pela sua mente, ele havia pedido a Tardis que o levasse aonde mais precisassem dele, ela havia o levado até Amélia Pond, será que algo havia acontecido? Ela estava em perigo novamente? Aquela ideia lhe causou um mal instantâneo, ele tinha de perguntar, se ela dissesse que estava tudo bem ele simplesmente iria voltar para dentro da Tardis e ir a outro lugar, nada de mais... Certo?

–Então... Você está bem? Não tem nada errado com você não é? Tudo completamente e absolutamente bem, certo? Nada de sonhos estranhos ou coisas do tipo, certo? Ele disse falando um pouco rápido e eventualmente a examinando com os olhos.

–Na verdade...

–O que? O que tem de errado? O que aconteceu? Ele se aproximou dela, parecia tão pequena de perto, indefesa, ele precisava protegê-la, e estava decidido a fazê-lo.

–T-Tem uma rachadura na minha parede. Ela olhava para baixo e brincava com os botões de sua roupa, aparentemente estava com vergonha de sua resposta. –A-As vezes eu o-ouço vozes vindas dela.

–Eu posso entrar e dar uma olhada? O Doutor perguntou dando um sorriso terno.

–Você vai me ajudar?

–Sim.

–Pode. Ela disse sorridente.

Talvez algum dia você se encontre na praia da qual falamos, talvez você veja os grãos de esperança serem soprados de suas mãos, um a um, e depois que estiver feito fique sozinho, contemplando o oceano, talvez fique desolado e com frio, se sentindo derrotado e miserável, talvez suas pernas percam aos poucos a resistência contra ventos que sopram incessantes contra você, fazendo-o cair de joelhos na areia de olhos fechados, vencido, e com vontade de desaparecer, e em algum momento você sentirá as lágrimas correrem por seu rosto, elas serão tão quentes comparada á friagem que emana de seu ser que você terá a impressão de que estão queimando sua pele, te derretendo, como fogo líquido que escorre aos poucos de seus olhos e destrói lentamente cada centímetro de seu corpo, mas talvez e só talvez apareça alguém em meio a solidão, no começo ela parecerá uma miragem, algo irreal, inventado por seu cérebro para aplacar sua dor e talvez seja de fato apenas uma fantasia, mas se você for sortudo, se você for muito muito sortudo pode ser que aquele vulto se aproxime cada vez mais e se revele como uma garotinha ruiva, com um rachadura na parede, que irá mudar sua vida para sempre.