Eu encarava a linda garota a minha frente.

Sua pele branca que há poucos dias atrás estava marcada por culpa das cicatrizes que herdará do incêndio por salvar sua irmã, agora estava totalmente lisa, parecia ate a pele de uma boneca de porcelana. Seus olhos estavam contornados por uma fina camada de lápis de olho, destacando totalmente o verde de seus olhos. Era impossível encontrar qualquer espinha da adolescência em seu rosto, para uma garota de dezessete anos, ela acabará de ganhar vinte. Seus cabelos que sempre foram um monte de cachos bagunçados, agora estavam muito lisos, chegavam a tampar boa parte de suas costas.

Sem falar no vestido maravilhoso que ela estava usando. Ele era preto, de mangas compridas. Começava em seus ombros e o tecido terminava na metade da coxa. Em seu lindo tecido preto, uma imagem de uma única rosa quase transparente se estendia ao longo do vestido, contornando cada parte vazia, formando um circulo sem seus ombros, ate que a rosa se abria na parte de trás das costas. Para completar ainda mais a perfeição, cada parte da rosa continha o que me lembrava pequenos cacos de espelho, que cada vez que alguma luz batia nos pequenos vidrinhos, fazia a dona do vestido brilhar, dando a certeza que poderia chamar a atenção de qualquer um.

Eu estava me olhando no espelho e a imagem a minha frente era inacreditável.

– Eu sei, pode me elogiar mais tarde – Alice murmurou toda feliz, se colocando ao meu lado – Nunca mais fique reclamando por passar a tarde inteira em um salão de beleza, valeu a pena!

Alice realmente tinha feito um tipo de milagre comigo. Tudo bem que não quis me desgrudar de Nessie quando ela finalmente acordou pela manhã, quem dirá a deixei ir para a escola sozinha. Mas depois de tanto ouvir a baixinha dos cabelos espantados reclamando comigo que eu jamais poderia aparecer em uma festa dessas vestida com qualquer coisa eu finalmente cedi e a deixei que me levasse a um salão. E sim, isso incluía compras ao shopping depois do salão e escolha de sapatos, tem coisa mais chata no mundo inteiro?

Só que aquele vestido não estava na lista de compras. Ele era especialmente feito por Alice, minha nova amiga. Quero dizer, empregada, como Edward havia me dito. Só que me sentia meia que com pena de chamar alguém assim, afinal sempre fui alguém de baixo nível social. Não é só porque me tornei noiva do cara mais rico da cidade, é que poderia me dar ao luxo de tratar alguém daquele jeito. Pelo menos não Alice, que tinha sido tão legal comigo, até quando estava desacordada.

Olhei para a baixinha dos olhos dourados a minha frente e jurei que ela poderia ser comparada a uma daquelas fadas de historinhas de crianças. Seus cabelos não eram compridos e sempre estavam espetados, dando um ar incrivelmente lindo nela. Ela era baixinha e seu corpo estava emoldurado por um lindo vestido vermelho, que se estendia pelo chão. Era lindo, mas não se comparava nem um pouco ao meu. Sério, porque raios de motivo alguém usava um vestido daqueles se podia desenhar a coisa mais linda do mundo? Edward deveria ser podre de rico mesmo, para ela me dar tantas vantagens assim.

– A idéia é que todos olhem para você e lembrem-se das rosas negras que Edward cultiva. Afinal as rosas são a maior característica da cidade inteira. E quando olharem para você, eu quero que vejam o quanto você pode ser mais Bela que todas aquelas rosas.

– O vestido é lindo, mas duvido que eu possa chegar ao nível delas. – Tentei acalmar meus próprios nervos, percebendo que era a nova modelo de Alice.

– Isso é o que veremos! Ninguém pode achar você linda e sim fabulosa! Não é pra qualquer mulher passar o dia inteiro em um salão de beleza.

Ignorei o comentário de Alice e tentei andar sem cair, me concentrando em meus próprios passos. Nunca na vida tinha usado um calçado com o salto tão alto. Ah, sem falar que ele também era enfeitado por aqueles pedacinhos de vidro.

Eu sabia que lá em baixo, na sala de visitas que agora estava enfeitada para o publico e incrivelmente espaçosa, havia milhares de pessoas (metade da cidade, pelo menos) que estavam a minha espera. Todos estavam curiosos para saber como a garota do campo estava depois de perder o seu pai e ter que se casar com o cara mais rico da cidade. Sim, a sala de estar e o pátio foram decorados especialmente por Alice, e acredite, quando cheguei mais cedo e vi tudo decorado, me perguntei se ela havia dormido durante a noite. O lugar estava incrível; ela disse que recebeu ajuda de Jasper, seu namorado e também empregado de Edward.

– Não quero cair e pagar um mico na frente de todo mundo – Confessei, dando de ombros. Afinal, eu teria que descer as escadas sozinha.

– Você vai ser a mulher mais linda do recinto, fique quieta. E Nessie já esta lá embaixo, junto com Edward. Vamos? – Alice perguntou, dando o ombro para que eu pudesse me apoiar nela.

Sentindo-me aliviada que minha irmã já estava na festa junto com Edward, assenti. Sim, eles haviam se tornados amigos muito, mas muito rápido. Depois de mim, Edward foi a segunda pessoa que minha irmã abraçou pela manhã, tirando a parte que ela o chamou de ‘’Tio Ed’’, da para acreditar?

– Tudo bem, eu vou ir na sua frente, desço as escadas e peço para pararem a musica. É ai que você desce as escadas, tentei ficar o mais reta possível do lustre, entendeu?

Foi ai que entendi a idéia dos pedaçinhos de vidro no vestido. É claro que assim que a luz do lustre atingisse meu vestido, o tecido iria brilhar, assim iria atrair a atenção de todo mundo.

Quando finalmente me dei conta disso, Alice já havia sumido da minha frente, deixando a porta do quarto aberta enquanto os murmúrios das pessoas atingiam o cômodo.

Perfeito. Será que dava tempo de me atirar pela janela?

Tentando controlar o nervosismo, fui em direção da janela e olhei para fora. Todas as pessoas estavam entrando na casa e mesmo de longe, dava para ouvir Alice discursando algo do qual não pude distinguir. O pátio estava principalmente iluminado pelo brilho da lua, como isso era possível?

O som da musica continuava, só que estava mais baixo. Ate o murmúrio das pessoas haviam parado. Ok, eu precisa tomar um ar.

Antes que eu pudesse abrir a janela e deixar que o vento atingisse meu rosto, algo do lado de fora me chamou a atenção. Um homem me olhava. Seus olhos negros se fundiam com a noite, assim como seus cabelos. Sua pele estava branca e marcada por grossas cicatrizes. Apertando meus olhos para consegui ver melhor, percebi que reconhecia o homem do lado de fora de minha janela.

Era meu pai.

Deixei que o choque tomasse conta de meu corpo e depois de um longe tempo encarando os olhos confusos de meu pai, não suportei e pisquei meus olhos, só que quando os abri novamente, não encontrei ninguém do lado de fora de minha janela. Minhas mãos tremiam violentamente e contei ate dez, tentando controlar minha respiração. Era isso? Eu tinha visto mesmo o meu pai? Não, eu só podia estar vendo coisas.

O som da musica finalmente parou e o silencio quase que mortal se estendeu pela mansão inteira.

Tomando conta de meus sentidos, obriguei minhas pernas a trabalharem e fui em direção da porta, me sentindo meio zonza.

Era só caminhar e manter a calma, caminhar e manter a calma ...

Assim que cheguei ao topo da escada, a luz que vinha do lustre de cristal invadiu todo o tecido do meu vestido, fazendo todos os pedaçinhos de vidros refletirem a luz de volta.

Assim que olhei para os rostos das pessoas, notei que elas me olhavam maravilhadas. No meio da multidão, encontrei Edward. Juro que seu rosto expressava a mais pura surpresa, sua boca aberta confirmava isso. A única que sorria por ali era Alice.

Tomando toda a coragem possível, comecei a descer os degraus da escada.

Não sei por que, mas tive o pressentimento que muita coisa iria acontecer naquela noite.