Edward estava me segurando em seus braços fortemente, como se a qualquer instante eu fosse sair correndo ou, por uma patética e impossível preocupação, ele fosse me deixar cair.

Ele corria comigo em seus braços e de tão rápido que era, senti que estávamos flutuando na neve.

Não ousei abrir meus olhos. Muito pelo contrário. Eu os deixei fechados, enquanto me encolhia em seus braços, afundando meu rosto em seu peito. Estava difícil respirar, já que meus pulmões pareciam estar cercados de chumbo.

Havia uma luta interna dentro de mim.

Uma parte de meu corpo estava muito desgastada para continuar a agir. Senti minhas células morrendo dentro de mim. Essa era a parte fraca, a parte que estava cansada de lutar. Outra parte estava determinada o bastante para continuar lutando, para que cada lufada de ar que eu inspirava para dentro de meu pulmão, valesse à pena.

Quando percebi, Edward já havia chegado ao castelo e com um único chute, abriu a porta. Não quis abrir meus olhos. Não quis desviar minha atenção da batalha interna que estava acontecendo dentro de mim.

Permanecer acordada. Permanecer com Edward. Permanecer com Nessie.

Senti uma fincada na cabeça e arfei.

Imediatamente, agarrei a camisa de Edward e puxei o tecido. Eu precisava de algo para me agarrar, afinal.

– Um médico, um médico agora! – Ele gritava desesperado.

– Já providenciamos. – Era a voz de Alice. Soava preocupada. –Leve-a para o quarto.

– Nessie. – É tudo que consegui dizer. Surpreendi-me com o quão minha voz soou fraca.

– Está com Jasper, no quarto, lá em cima. – Alice respondeu. Ela soluçou e presumi, com uma pontada de dor no coração, que estava chorando. – Edward, leve Bella lá para cima. Agora.

Edward imediatamente agiu. Presumi mais uma vez, que ele foi até o elevador. Eu estava fraca demais para pensar em onde estávamos e como fui parar ali.

Seria tão mais fácil se eu desistisse...

– Bella. – Edward chamou e me sacudiu em seus braços.

Escutei o barulho de algo se chocando. Presumi que já estávamos dentro do elevador. Imediatamente, tive a certeza que o elevador estava nos levando para cima. Já que mesmo que imperceptível, eu me sentia sendo conduzida para o alto.

– Ed... – Tentei dizer seu nome inteiro, só que somente as duas primeiras palavras de seu nome saíram de minha boca.

– Não durma. Permaneça aqui, certo?

Lentamente, balancei minha cabeça para cima e para baixo, em movimentos lentos e cuidadosos.

Bem, aquilo foi tudo que precisei para a inconsciência tomar conta de meus sentidos.

Quase que imediatamente, fui guiada direto para um pesadelo.

Lá, Jacob estava em meus braços, chorando, enquanto seu corpo estava quase transparente em meus braços. Eu chorava tanto. Cada vez que eu tentava falar qualquer coisa, um nó em minha garganta me impedia e concluí que as tentativas seriam inúteis.

De repente, Jacob sumiu completamente e em seu lugar, era meu pai que estava em meus braços. Só que ele não estava ficando transparente.

Ele estava morto.

No meio da completa escuridão que eu me encontrava, a única coisa iluminada era o rosto morto do meu pai. Seus olhos não demonstravam vida alguma e antes mesmo que eu pudesse evitar, meus olhos imediatamente arderam, formando uma poça d’água.

Mais uma crise de choro.

Um vulto negro sorrateiramente saiu do meio da nebulosa escuridão que me cercava. Assim que meus olhos focalizaram no vulto, encontrei o assassino.

Apertei o corpo morto de meu pai em meus braços.

O assassino estava com as mãos na toca e lentamente, foi abaixando-a de seu rosto.

Foi nesse exato momento que acordei.

Senti meu corpo aquecido. Minha bochecha estava afundada em algo muito macio, que sem dúvida alguma eram um travesseiro. O ar ao meu redor era acolhedor.

Assim que abri meus olhos, mesmo com a visão embaraçada, pude distinguir o rosto preocupado de Alice. Percebi que ela estava sentada ao meu lado.

– Bella? – Ela perguntou, uma série de emoções momentaneamente foram sendo expressas pelo seu rosto.

– Nessie. – A única coisa que consegui dizer era o nome de minha irmã.

– Ela está com Edward. – Ela foi falando rapidamente.

Suspirei ao sentir a sensação de alívio. Ela estava com Edward. Estava protegida.

Instantaneamente, o rosto de Jasper apareceu por de trás dos ombros de Alice.

– Bella, o que está sentindo? – Ele perguntou rapidamente, me olhando mais preocupado do que nunca.

Tentei decifrar o que eu estava sentindo.

Enviei um comando de meu cérebro diretamente para minha mão, obrigando meus dedos a se movimentaram. Demorado certo tempo, meus dedos corresponderam e mal senti o movimento.

Entorpecimento.

– Não vou agüentar esperar e vê-la morrer. – Jasper falou indiferente. Um pouco raivoso. – Alice, vá até a porta e me avise se alguém vier.

Alice me hesitou por um segundo.

– Não podemos praticar mágica. – Ela alertou.

Mágica?

– Ela está morrendo. Se o conselho quiser me castigar, que seja. Já os respeitei por tempo o suficiente. – Um brilho estranho surgiu dos olhos de Jasper. Nunca o vi tão determinado. – Não vou deixá-la morrer. Nessie precisa dela. Edward também.

Dessa vez, ao ouvir as palavras de Jasper, Alice não hesitou nem por um minuto.

Depois de passar as mãos gentilmente por minha testa, ela se levantou e foi a passos largos em direção da porta. Jasper se aproximou sorrateiramente.

Senti minha respiração lenta. Minhas células entorpecidas.

– Vou te curar com magia. Permite-me, minha dama? – Jasper perguntou, sua educação nunca falhando.

Foi quando que entendi. Jasper era tipo uma fada madrinha, por mais cômico que podia ser. Ele certamente era um ser com mágica. Óbvio.

– Sim. – Respondi, fazendo o máximo de esforço possível para não esgotar todas minhas forças com uma única resposta.

Meus olhos não foram rápidos o suficiente para acompanhar os gestos a seguir. Quando vi, as mãos de Jasper estavam por cima do centro de meu peito, quase no coração. Fiquei tonta assim que um brilho muito estranho começou a surgir dos poros da mão dele, iluminando todos os dedos.

Sua mão ficou iluminada. Fiquei maravilhada com aquilo.

Um calor estranho começou a emanar da mão dele para meu coração. Minhas células vibraram.

Foi quando tudo aconteceu rápido demais.

Instantaneamente, Jasper imediatamente foi impulsionado grotescamente para longe de mim.

Eu gritei de dor assim que senti um choque estranho percorrer por todo meu corpo, como se tivessem puxado algo de dentro de mim. Do nada, minha visão foi preenchida pela imagem de uma rosa vermelha, há muito tempo familiar. Minhas mãos agarram o lençol da cama. Escutei um barulho estrondoso e irreconhecível, que fez meus ouvidos zunirem.

Arfei assim que a sensação torturante passou.

Meu coração estava a mil. Varri com os olhos todo o cômodo ao meu redor e encontrei Jasper caído no chão, um pouco longe de mim. Alice, a passos largos, correu para o lado do parceiro e passou as mãos pelas costas dele. Conclui que seu corpo foi impulsionado diretamente em direção da parede.

Como?

A última coisa que vi antes da escuridão tomar conta de meus olhos, foi o olhar apavorado de Alice e Jasper. Encarando-me como se estivessem de frente para um monstro.

Novamente, assim que caí em total estado de inconsciência, fui guiada diretamente para o mundo de meus sonhos. Melhor dizendo, pesadelos.

Eu estava no meio das rosas negras. Tudo estava escuro. A única coisa visível no meio de tudo aquilo, era uma única rosa vermelha. Tentei correr, não consegui.

Tentei gritar, não pude.

Venha. Venha para nós. Eu escutava um amontoado de sussurros diferentes ecoarem por todo o local.

A rosa vermelha brilhava mais do que todas as negras. Meus olhos encontraram suas pétalas e por incrível que pareça, eu imediatamente recordei do primeiro dia que fui à mansão dos Cullen e espetei meu dedo no espinho.

A rosa negra tinha ficado vermelha por culpa de meu sangue.

Fui me aproximando vagarosamente da rosa. Meus dedos loucos para tocar nas pétalas.

Foi quando acordei.

Assim que retomei consciência, senti meu corpo todo aquecido. Um cheiro familiar e reconfortante adentrou por minhas narinas e inspirei mais ainda o ar ao meu redor.

Senti um formigamento familiar preencher todo meu corpo.

Notei que minhas mãos estavam envolvidas em algo.

Percebi que eu estava envolvida.

Percebi que minha cabeça estava por cima de algo mais macio do que antes. Escutei barulhos cardíacos lentos.

Esperançosa, olhei para cima e encontrei os olhos de Edward. Quis mergulhar naquele mar dourado na hora em que o vi. Analisei mais sua expressão e jurei que ele não dormia há dias.

Ele pareceu surpreso assim que pisquei.

– Bella. – Ele sussurrou baixo. Notei um tom estranho familiar em sua voz. Também senti que seu hálito estava cheirando a álcool.

– Oi. – Respondi. Meu coração praticamente pulou dentro do peito e me senti uma estúpida por estar tão fraca a ponto de não conseguir levar meus lábios até os seus.

O barulho de um ronco baixo fez minha atenção ser desviado dele para algo quente que senti em minhas costas. Mexi-me delicadamente na cama. Eu estava realmente aquecida.

Olhei um pouco para baixo e não só encontrei os braços de Edward me envolvendo, como também os já reconhecíveis de minha irmã.

– Nessie está dormindo aqui também?

– Sim, estamos dormindo todos juntos. Quase todos os dias. – Ele respondeu. Sua voz estava rouca.

– Por quanto tempo estou desacordada? – Perguntei novamente. Dessa vez, eu já não estava me sentindo tão fraca. Senti certo ânimo ao saber que Nessie estava ali, dormindo todos os dias comigo e com Edward.

Como uma família.

– Há exatamente quatro dias deste o incidente. – Edward respondeu. – Sabe que terá que me contar o que aconteceu... Eu realmente não sei mais o que fazer. Você anda tão mal, os médicos afirmam que é uma virose.

O que é que estivesse acontecendo comigo, certamente não era uma virose.

Esqueci-me de tudo isso assim que encontrei os olhos de Edward semi-abertos, muito cansados. Não quis encontrar solução alguma para o que estava acontecendo comigo.

Edward está preocupado comigo. Edward está preocupado comigo.

– Por quanto tempo você não dorme?

– Deste o incidente.

Aquilo me fez sentir uma pontada agonizante no coração.

– Então durma. Eu estou melhorando. – Para tentar provar isso, levei minha mão até seu peito e apertei o tecido de sua camisa. – Agora durma. Quero descansar mais um pouco.

– Não. – Insistiu.

– Eu vou continuar aqui com você, Edward. Lembra de minha promessa? – Praticamente implorei para ele.

Edward não relutou mais comigo.

Quando percebi, seus olhos finalmente se fecharam e ele soltou um longo suspiro, pousando uma das mãos em meu cabelo.

Com certa dificuldade, aproximei meu rosto do dele e adorei sentir o calor que sua pele emanava para a minha.

Nessie se aproximou mais ainda de mim, praticamente me caçando na cama como sempre fazia, até que me encontrou e passou os braços novamente ao redor de mim.

Pela primeira vez em muito tempo, eu finalmente me senti completa.

Feliz.

***

Quando finalmente acordei, os raios de sol estavam iluminando todo o quarto ao meu redor.

Nessie e Edward estavam assistindo televisão, deitados bem perto de mim.

A atenção de ambos foi direcionada diretamente para o meu rosto assim que suspirei.

Edward pousou os lábios nos meus e soltou uma de suas típicas piadinhas: Que Alice iria me dar banho, mas ele queria fazer. Nessie me envolveu com um longo abraço e não me soltou tão cedo.

Depois disso, todos nós decidimos assistir à televisão que haviam colocado no quarto. A cama com dossel era enorme, então poderíamos ficar espalhados se quiséssemos. Só que optamos por ficar perto um do outro.

Não prestei atenção no desenho animado que estava passando na televisão.

A alegria durou pouco já que Alice entrou no quarto e disse que estava na hora do meu banho.

Edward tentou insistir para ficar durante o banho, só que Alice praticamente o chutou para fora do quarto. Nessie foi tomar café da manhã com Jasper.

Evitei ao máximo falar com Alice sobre o que havia acontecido quando Jasper tentou me curar.

Eu já estava em baixo do chuveiro, a água quente banhando todo meu corpo, quando tossi e uma jorrada de sangue saiu de minha garganta. O líquido vermelho se fundiu com a água e desceu ralo a baixo.

– Bella! – Ela gritou apavorada.

Alice foi rápida o suficiente e me pegou antes que eu caísse no chão.

Eu estava sentindo muita dificuldade de respirar. A sensação foi a mesma que tive na primeira vez que tinha acontecido, quando eu estava indo de volta para a casa de Edward.

Alice rapidamente envolveu uma toalha ao redor de meu corpo. Só que no meio do gesto, ela soltou um grito apavorado e deixou a mesma deslizar por seus dedos, agora caindo no chão.

– Alice? – Perguntei, evitando tossir novamente. Meu corpo todo começou a tremer compulsivamente.

Sem me dizer absolutamente nada e com movimentos rápidos, Alice me levou de frente para um espelho que havia no quarto e me virou de costas.

Eu estava muito preocupada e literalmente confusa.

Quer dizer, eu estava vomitando os pulmões para fora e ela queria que eu me visse em um espelho?

– Olhe para suas costas. – Ela murmurou, me olhando de olhos arregalados.

Assim que olhei para o espelho e encarei minhas costas nuas, arfei de tanta surpresa e terror.

Emoldurado em minhas costas, estava uma tatuagem que parecia ser feita a sangue.

A figura mostrava o caule de uma rosa que se estendia até a sépala.

A sépala estava fechada, assim evitando o surgimento de pétalas.

Tirei toda a nebulosidade medo de minha cabeça e me permiti pensar.

Foi aí que tudo fez sentido para mim.

O sonho da rosa me chamando. A vez em que meu sangue caiu em suas pétalas negras. A força que eu ganhava toda vez que pensava nelas. A imagem delas lutando para sair da mansão e sendo impedidas. A resposta do porque elas estavam me ajudando tanto estava há tanto tempo ali, o problema era que fui tola o suficiente para não notar.

A primeira vez que passei mal desse jeito, foi quando me afastei da mansão dos Cullen, depois do meu sangue ter caído nas pétalas. Quando minha casa pegou fogo.

– Como você me recuperou da última vez que passei mal? – Perguntei para Alice, tremendo.

– Você simplesmente começou a se recuperar assim que você entrou no seu quarto, na mansão. Não precisou de remédio ou médico algum. Porque está perguntando isso? – Ela perguntou curiosa.

O sonho das rosas me chamando de volta.

As rosas me ajudando.

Tudo fazia sentido.

– Eu criei uma conexão com elas, Alice! – Gritei, aflita – Uma vez que meu sangue caiu nas pétalas, eu não posso ficar longe da mansão sem adoecer! Eu estou adoecendo!

Quando percebi, lágrimas começaram a cair de meus olhos.

Alice demorou certo tempo para ligar todos os pontos, assim como eu.

– Você precisa voltar para a mansão agora mesmo. – Foi tudo o que Alice disse, antes de sair correndo.

Tossi mais uma vez e o sangue foi diretamente no espelho, inundando toda minha imagem refletida ali.

Foi quando tossi e senti que iria desmaiar.

Só que dessa vez, algo me dizia que seria tarde demais para retomar a consciência.

Não me restava mais tempo. Seria tarde até chegarmos lá.

O preço por conseguir ajuda das rosas era a minha morte, afinal.

O jogo estava acabado.

E eu estava morrendo.

Finalmente, tudo escureceu.