A Bella E A Fera

2ª Fase: Capítulo 6


A remota possibilidade de encontrar Nessie fez com que qualquer vestígio de pensamento racional e moral sumissem do meu consciente. Minha irmã estava correndo risco de vida. E Jasper, de alguma forma, sabia que eu estava presente na festa.

Maldição.

Porém, ele não sabia das novidades. E muito menos conhecia a nova Bella, fazendo com que seus joguinhos parecessem brincadeiras monótonas, criados para assustar garotinhas. E eu já não era mais assim.

Então, o que você é? Meu subconsciente praticamente gritou e a pergunta vagou pelo meu cérebro, como uma folha seca flutuando no ar em pleno outono.

Dayse estava parada na minha frente, e meu braço segurava seu pulso caso ela tivesse a intenção de correr. As pessoas passavam por mim com um olhar questionador, e fiz meu papel de ignorar completamente. Mesmo no lugar mais afastado da pista de dança, os garçons passavam onde eu estava posicionada com um olhar sonhador e um sorriso no rosto de cabo a rabo. Fui obrigada a sair da entrada do local, uma vez que todo mundo passava por lá. Afinal, a missão era sigilosa.

– Bella, o que pensa que está fazendo? – Alice perguntou, posicionando-se ao lado de Dayse.

Lancei um olhar de reprovação para Alice quase que imediatamente.

– Ela sabe de alguma coisa. – Justifiquei meus eventuais gestos de grosseria. Como se eu fosse obrigada a dar-lhe satisfação.

– Olha... Eu não sei do que você está falando! Jasper apenas me mandou te entregar o bilhete, só isso. – Dayse jogou os braços para cima, demonstrando impaciência. Bem, pelo menos um deles, já que o outro estava envolto por meus dedos.

– E onde está Jasper? – Questionei.

E era naquele exato momento que Dayse balançava a cabeça para os lados e sua expressão tornava-se confusa. Suas bochechas rosadas davam-lhe o ar de inocência e os lábios finos formavam uma linha reta.

– Eu não sei... – Seu olhar era vago. - Espera! Eu nem sei por que fiz esse favor a Jasper. Eu nem conheço ele. Eu só lembro que ele... Estava segurando uma pá. É tudo.

Realmente acreditei nos relatos feitos por Dayse. Jasper provavelmente havia usado mágica para enfeitiçar a pobre garota. Ele era muito, muito poderoso. Mas todo vilão deixava algo escapar, nenhum plano poderia ser tão perfeito a ponto de não ter nenhuma brecha. Entretanto, qual seria a falha de Jasper? Existia algo a meu favor: poder. E eu teria que saber usar na hora certa. Ele sabia da existência de meu elo com as rosas. E também tinha conhecimento de que toda vez que eu saía da mansão, eu enfraquecia ao ponto de falecer.

Só que de alguma forma, desde que... Revivi? Seria essa a palavra certa? (Afinal, qual seria a palavra certa para definir minha vida diante de toda loucura que se encontrava?) Me era permitido carregar o poder das rosas, graças a uma inesperada tatuagem desenhada em minhas costas. Como se tivesse sido feita com meu próprio sangue, resultando em meu fardo de ter que lidar com todo aquele poder por conta própria.

Além do bilhete, havia outra questão perambulando sem nenhuma resposta: por que Jasper estaria segurando uma pá?

E foi naquele exato momento que tive uma ideia.

– Olhe para mim. – Ordenei e puxei o corpo de Dayse para mais perto do meu, apertando meus dedos ao redor de seu pulso.

Foi tão fácil como respirar: a ardência, se manifestando por todo o meu corpo. O campo magnético se formou ao redor de meu corpo, e o joguei para cima dela imediatamente. Quando senti a força do elo estabelecendo a conexão e os olhos de Dayse arregalados de choque, entrei em sua mente.

As imagens estavam um tanto nebulosas e pouco nítidas. Foi como se eu estivesse presa no corpo de uma rosa novamente, enquanto o caule deslizava pelo o que me parecia um terrível túnel escuro e sem fim, guiando-me. Rapidamente, fui recebida com um clarão que praticamente me cegou, obrigando-me a ver tudo embaraçado quando foi possível observar o momento que estava preso na cabeçinha de Dayse.

Ah, lá estava.

As feições de Jasper eram facilmente reconhecíveis, assim como seu sorriso cruel que eu bem me lembrava escondido por debaixo do capuz. Não consegui entender o que ele dizia, mas sei que eu estava vendo por de trás dos olhos de Dayse. Era impossível tentar pegar qualquer referência do lugar em que o momento estava acontecendo, já que toda a atenção estava focada no maldito. Seus cabelos continuavam caídos até o pescoço, e ele trajava um terno caríssimo, muito parecido com os demais. Seus lábios emitiam um som estranho, como se estivessem pronunciando o som de uma música. Não consegui mover músculo algum. Meu corpo estava hipnotizado. Ou melhor, o corpo de Dayse.

Foi quando Dayse abaixou o olhar e minha visão foi preenchida pelas mãos de Jasper. Enquanto uma segurava uma pá, a outra se encontrava ao redor do pequeno corpo de... Ah! Nessie. Ela estava exatamente como eu me lembrava: Os cabelos compridos encaracolados e as feições perfeitamente esculpidas, como de um anjo. Só que seus olhos estavam arregalados, como a lua quando estava cheia.

Eu amo você. Foram as minhas últimas palavras para ela, enquanto sua mão encontrava-se pousada em minha bochecha.

Fui puxada para fora da mente de Dayse, e a música calma invadiu meus tímpanos junto com o barulho das conversas paralelas. Percebi que uma lágrima havia escapado de meus olhos, e encarreguei de secá-la rapidamente.

– Jasper está com Nessie. – Avisei rapidamente.

Dayse olhava atordoada para os lados, provavelmente confusa. Passei as mãos pelos meus fios de cabelo recentemente cacheados e senti certo incômodo pelo fato do vestido estar delineando totalmente minhas curvas, fazendo-me a sentir praticamente nua.

– Só suma daqui o mais rápido possível. – Joguei meus fios de cabelos para um lado quando minha nuca começou a suar. – Saia dessa festa e não deixe Jasper achar você. – Ela continuou parada em pleno estado de estupor. – Vá! – Gritei, atraindo alguns olhares curiosos.

Dayse saiu correndo na mesma hora. Meus batimentos cardíacos desenfreados apertavam meus pulmões, salientando a dor no meu peito.

Eu não conseguia raciocinar direito, e todos os meus sentidos pareciam aguçados. Meu corpo parecia disposto a destruir um paredão se possível. E minhas mãos estavam famintas pelo pescoço de Jasper.

Minha obrigação era achar Nessie. Minha irmã. Ela finalmente estava tão perto, tão perto... Eu não poderia ceder ao luxo de perdê-la novamente.

Alice apareceu em meu campo de visão, e Emmett permanecia o ao meu lado. Seus olhos percorriam por todo o salão em uma tentativa inútil de achar o maldito, ou até mesmo Edward.

Edward. Que estava noivando. Com outra. Quem seria?

Era tanta confusão. Meus instintos pareciam divididos em agir como uma garotinha, que só queria correr e se jogar nos braços da mãe. No entanto, em meu caso, minha figura materna estava desaparecida, tirando-a de minha lista de pessoas mortas. E a outra parte queria agir como uma verdadeira mulher e pensar racionalmente.

Não escolhi nenhumas das duas opções. Optei por uma terceira: Agir de acordo com a tempestade que se agitava dentro do meu peito.

– Vamos matar Jasper. – Concluí, engolindo em seco.

Alice me fuzilou com o olhar mais gélido do universo através da mascara dourada.

– Não vamos matar ninguém. Bella, você precisa entender que não podemos agir de cabeça cheia. Vamos pensar.

– Não, nós não vamos mais pensar. – A palavra saiu cheia de repugnância de meus lábios. – É hora de agir. Alice, eu sei que ele é importante para você, mas para mim chega. – Minhas costas ardiam como nunca, meu coração estava prestes a explodir. – Ele arruinou minha vida. Ele quer matar minha irmã e tirou todas as chances de eu ser feliz com o homem da minha vida.

Não notei o tom de voz que eu estava emitindo. Tudo que importava naquele momento era a vida de minha irmã, nada mais. Alice amava Jasper. Eu amava minha família. Droga, nós nunca chegaríamos a um acordo.

Alice permaneceu em silêncio por longos segundos. Seu cabelo curto estava delicadamente espetado, e ela tinha emagrecido desde que havíamos deixado Dark Roses. Talvez eu pudesse sentir remorso, ou culpa, ou até mesmo compreensão. Alice merecia. Mas não Jasper. E nenhum sentimento de solidariedade me ajudaria naquele momento.

– E se fosse Edward, Bella? - As palavras de Alice pareciam afiadas como lâminas. – Você seria capaz de matá-lo?

Dei um passo para trás. Não pela atitude em si, mas sim pelas palavras que me atingiram como uma onda, ensopando-me de dúvidas. Minha língua pareceu travada dentro da boca.

– Garotas, a hora do barraco acabou. – Emmett anunciou. – Acho que precisamos trabalhar.

Instantaneamente, segui a direção que sua atenção estava focada e Alice fez o mesmo. No meio das pessoas, estavam de pé duas figuras encapuzadas, ambas de preto. As memórias de Jasper trajando a mesma roupa me atingiram como uma avalanche. Por que ninguém parecia notar duas pessoas que aparentavam ser assaltantes no meio de um evento tão importante? Minha vontade era de gritar de pura frustração.

– Vamos pegá-los. – Alice ordenou e seguiu rapidamente com Emmett ao seu lado.

Eu estava pronta para fazer a mesma coisa, até que uma voz surgiu por de trás de meus ombros.

– Você daria a extraordinária honra de me conceder uma dança?

Parei instantaneamente. Os arrepios percorrem por todo o meu corpo e não precisei de muito para saber quem era.

– Edward. – Foi tudo o que consegui dizer.

As palavras saíram remotamente de meus lábios, praticamente rasgando minha garganta.

Lentamente, fiquei de frente para ele enquanto seu rosto invadia meu campo de visão.