A Bella E A Fera

2ª Fase: Capítulo 30


Melanie, 2058.

— Você está fora de juízo. – Mason responde.

Ao invés de argumentar, respirei fundo e fechei os olhos, torcendo para que a tontura terminasse. Talvez Anthony tivesse razão. Quem sabe, após ter acordado no cemitério sem memória, eu definitivamente havia perdido a razão. Inclusive, esse poderia ser o objetivo do canalha que estava se escondendo por de trás do capuz: Fazer com que os outros me vissem como uma completa maluca.

“Escute o seu coração.” Foi o que a menininha em meu sonho havia dito. Por isso, afastei o amontoado de pensamentos para um canto obscuro de minha mente e voltei a minha atenção nas batidas do meu coração, torcendo para que alguma resposta simplesmente surgisse. Não foi isso que aconteceu. Em vez disso, tudo tinha vontade de fazer era encontrar Dark Roses, se é que essa cidade existia.

Bem, eu definitivamente não tinha nada a perder.

Decidida, apoiei o peso do meu corpo nos ombros e comecei a levantar-me, tentando ao máximo ignorar as dores que se manifestavam em minha coluna. Ao abrir os olhos, rapidamente me acostumei com a claridade do escritório. Quando finalmente coloquei os pés no chão, o mundo quis girar ao meu redor.

Anthony rapidamente se levantou do sofá e veio em minha direção. Não fui rápida o suficiente para me afastar. Quando me dei por conta, suas mãos seguravam os meus braços, apoiando o peso do meu corpo no dele. Levantei a cabeça e dei de cara com os seus olhos praticamente dourados.

Caramba. Eu podia jurar que emanava um calor absurdamente insuportável do corpo dele. Eu me arrepiei da cabeça aos pés. Permaneci fitando-o, sendo que ele fez o mesmo. Engoli em seco, tentando ignorar a tremedeira que se instalou pelas minhas pernas. Estava difícil até mesmo de respirar.

Lentamente, uma das suas mãos deslizou pelos meus braços até a lateral da minha barriga, praticamente queimando a minha pele por onde passava, até que finalmente pousou na parte exposta de minha coxa. Ele apertou a região. Mas não foi dolorido. Eu gostei.

Eu não estava racionalizando. Antes que eu percebesse, encurtei a distância entre nós, colocando o meu busto em seu peito. Deixei minha atenção cair em sua boca, encontrando os seus lábios molhados. Meu coração batia desenfreado e eu sentia que ia enfartar ali mesmo.

Lentamente, ele abaixou um pouco a cabeça, roçando o seu nariz no meu. Enquanto uma das suas mãos ainda apertava a minha coxa, colando o meu corpo no dele, a outra traçava um caminho pela minha coluna, onde não havia mais dor, mas uma sensação de queimação intensa, gostosa.

Ah, caramba. Aquilo estava muito errado. De repente, uma voz em minha mente gritou para eu me afastar. E então, indaguei mentalmente por quantas vezes ele havia feito aquilo com outras garotas, ali em seu escritório. Além do mais, ele me fez assinar um contato ridículo e estava me tratando feito uma escrava desde que nós conhecemos.

E então eu voltei a ter controle sobre o meu corpo.

Imediatamente, afastei o meu rosto do seu. Anthony imediatamente uniu as sobrancelhas, em puro sinal de confusão.

— Se afaste. – Eu disse. Por pouco que a minha voz não saiu falhada.

— O quê? – Ele perguntou, encarando-me. – Você só pode estar brincando.

— Eu mandei você tirar as suas mãos do meu corpo, Anthony. – Eu o fuzilei com o olhar.

Eu pensei que Anthony fosse agir como um crápula nojento, obrigando-me a beijá-lo ou algo do tipo. Ao invés disso, ele simplesmente se afastou, com um sorriso presunçoso nos lábios.

— O corpo é seu, Melanie. Eu não faria nada que você não me permitisse. – Ele afirmou o óbvio. – Mas eu te prometo uma coisa. Você ainda vai implorar para eu te tocar. Inteira.

Arrepiei-me com as suas palavras, tentando não demonstrar fragilidade, esbocei um sorriso debochado, jogando os meus cabelos para trás.

— Vai sonhando, seu pervertido.

Desse modo, lhe dei as costas e sai em disparada do elevador. Notei que eu não calçava mais os meus sapatos de salto alto. Ainda bem. Desse modo, não demorou muito para que saísse do prédio e pegasse um táxi. Por sorte, algo em minha memória se lembrava das coordenadas corretas, tendo em vista que Tylar havia me levado pela primeira vez, então não foi difícil explicar para o motorista. Durante todo o caminho, pensei em como encontraria Dark Roses, caso não contasse com a ajuda do Mason. Pelo jeito, me restaria a Nora. Afinal, eu teria que encontrar uma solução antes de trezes dias, pois esse foi o prazo que o encapuzado havia me dado para matar o Mason. Eu, uma assassina. Isso não iria acontecer.

O motorista me deixou em frente da casa, e como não levei a carteira junto, ele teve que esperar para que eu fosse até em casa e pegasse dinheiro. Por sorte, atravessei o jardim e assim que abri a porta da frente, encontrei Regina, que fez questão de me dar um cartão. Acabei descobrindo que a forma de pagamento era passar aquele cartão em um tipo de maquininha a laser que estava acoplada ao lado do volante de motorista do táxi.

Regina me olhou de cima a baixo quando ficamos sozinhas na sala. Ela estava trajando a farda da policia, sendo que as algemas e a arma estavam presas em uma cinta envolta de sua cintura.

— O que aconteceu com você? – Ela perguntou.

— Primeiro dia de trabalho. – Respondi. Controlei o sarcasmo na voz.

— Nem me fala. - Ela parecia atordoada. – Ainda estou investigando a morte da menina em sua escola.

Engoli em seco. Imediatamente, veio em minha memória o corpo caído da menina no banheiro da escola, completamente ensanguentado.

— Você descobriu algo? – Perguntei, tentando soar despretensiosa.

— Não. Mas estamos tentando entender o significado do símbolo.

Mordi o lábio. Lembrei-me do símbolo. Era o mesmo que estava rabiscado em meus cadernos e também nas paredes do meu quarto em batom, que eu tinha apagado.

— Bom, eu vou dormir. – Regina anunciou, levantando-se. Em seguida, passou por mim e beijou o alto da minha cabeça. – Amo você, minha filha.

— Eu também. – Respondi, o meu coração se encheu de conforto e segurança com o gesto.

Regina subiu as escadas e eu fiquei sentada no sofá, tentando controlar o amontoado de pensamentos que flutuavam em minha cabeça. Eu precisava descobrir qual era o significado do símbolo para poder encaixá-lo nos últimos acontecimentos. Também era necessário encontrar Dark Roses.

Moleza.

Além do mais, também tinha o fato da menininha que apareceu em meu sonho. Quem quer que fosse, eu sentia que era alguém muito importante.

Lentamente, encarei a lareira e o fogo que crepitava na madeira lá dentro, aquecendo a sala. Por esguelha, notei uma silhueta visível na janela, logo ao lado de uma estante cheia de livros.

Do lado de fora, eu o encontrei, encarando-me. Meu estomago se embrulhou. Determinada, sustei o seu olhar, o qual eu sabia que estava fixo em minha pessoa. Se ele realmente era tão corajoso, deveria se revelar, certo?

— Eu não vou desistir. – Eu afirmei. No fundo, eu sabia que não era uma ameaça para ele, pois não tinha nada ao meu favor que pudesse assustá-lo. E eu odiava me sentir tão exposta e fraca. – Eu não vou matar Anthony. – Falei baixo, mas o suficiente para que ele escutasse.

Ele simplesmente me deu as costas e desapareceu de meu campo de visão. Mesmo assim, eu sabia que estava sendo vigiada.