A Bella E A Fera

2ª Fase: Capítulo 28


Melanie, 2058

1º DIA

No dia seguinte, logo pela manhã, eu estava na escola.

Nora sentou ao meu lado no laboratório de química, haja vista que a mesa possuía extensão para duas pessoas. A professora explicava o conteúdo, enquanto suas palavras apareciam em tempo real em uma tela azul, a qual se projetava por toda a extensão da parede na frente dos estudantes.

Durante a aula, fiz questão de ler o contrato que Mason havia me entregado no restaurante. Não foi nada fácil diante de tantos absurdos que encontrei. Basicamente, eu não seria uma funcionária da Empresa Mason, mas sim de Mason.

— Anthony pode fazer isso? – Sussurrei para Nora.

Ela me retribuiu com um olhar de pena, desviando o foco de suas anotações.

— Bem, ele é rico.

Diante de sua afirmação, revirei os olhos. Aquele maldito provavelmente me trataria feito uma escrava. Eu estava ficando realmente cansada de ser controlada pelas pessoas. Por um instante, me permiti sentir toda a raiva que borbulhava dentro do meu peito, principalmente por Anthony. Será que eu seria capaz de matá-lo?

De repente, uma sensação estranha invadiu o meu corpo. Notei que as minhas mãos tremiam, sendo que diversas ondas de calafrios invadiram toda a extensão de minha pele. Inspirei o ar com toda força quando o mundo pareceu girar ao meu redor.

Em um gesto impulsivo, levantei-me da cadeira e sai da sala o mais rápido possível. Ignorei os olhares acusatórios ao meu redor, bem como a voz da professora, a qual chamava pelo meu nome.

Atravessei o corredor e passei diante dos armários. Devido ao dia ensolarado, os raios de sol atravessavam as pequenas janelas posicionadas perto do teto, iluminando, assim, boa parte do meu caminho. Minha visão embaraçada não me permitia ver o trajeto com clareza. Eu precisava ir até o banheiro... Talvez lavar o rosto iria ajudar.

Assim que dobrei a direita, esbarrei em alguém. Fui para trás imediatamente, quase caindo no chão. Por sorte, me segurei a tempo na parede.

— Porra! – Eu xinguei.

— Se você quiser, podemos providenciar.

Imediatamente, reconheci a voz rouca e grossa. Por isso, joguei os meus cabelos para trás e deixei minha coluna ereta. Minha visão continuava um tanto embaraçada, mas não o suficiente para me deixar quase cega e assim, ter o desprazer de ver aquele rosto que parecia esculpido.

Malditos olhos cor de âmbar que me fitavam cheios de diversão. Anthony estava trajando um terno preto e uma gravata azul marinho. Mais um pouco e eu podia jurar que aquele tecido iria rasgar diante da musculatura dele.

— O que você está fazendo aqui? – Perguntei, cruzando os braços.

— Bem, eu sou o dono do colégio e preciso resolver pendências de vez em quando – Ele respondeu com a maior simplicidade. – E eu não devo satisfação para uma bactéria como você.

Mas que maravilha! Não bastava Anthony ser o dono de uma empresa podre de rica, mas também era do meu colégio. Imaginei diversas formas das quais ele poderia controlar a minha vida. Senti uma vontade imensa de socá-lo ali mesmo. Em questão de segundos, ele já havia me menosprezado.

Maldito. Escroto. Rico desgraçado.

Lancei um sorriso forçado para ele. Notei que sua expressão passou de divertida para... Preocupada, talvez?

— Você está se sentindo bem? – Ele perguntou, aproximando-se alguns passos.

Diante de sua aproximação, meu corpo recebeu uma onda de calafrios ainda mais intensa. Por essa razão, afastei-me alguns passos.

— Já estive melhor. – Respondi. – Na verdade, senti um cheiro de podre na sala de aula e não passei bem. Mas, haja vista a sua presença no local.... – Olhei para ele de cima a baixo. - Consigo concluir a origem do odor.

Não esperei para ver a reação de Anthony. Ao invés disso, lhe dei as costas e caminhei a passos apressados de volta para a sala, uma vez que me senti revigorada em revidar aquele cretino.

Ele não iria fazer nenhuma ceninha ali, disso eu tinha certeza.

Bom, eu seria obrigada a trabalhar com ele de toda a forma, e ainda por cima, contra a minha vontade. Então, eu iria expor meu desprezo da pior forma possível.

Assim que cheguei ao laboratório de química, sentei-me ao lado de Nora e peguei a caneta que estava caída em nossa mesa. Rapidamente, folhei o contrato até o fim. Após, assinei o meu nome na última linha.

— O que você está fazendo? – Nora perguntou em tom baixo. Percebi sua irritação por conta de minha interrupção em suas anotações.

— Estou entrando no jogo. – Respondi. – Ah, eu vou precisar da sua ajuda depois da aula. Tenho que me vestir.

Eu estava cansada de ser controlada.

***

Encarei minha imagem diante do espelho.

Meus olhos verdes pareciam destacados por conta do delineador. Minha pele branca estava perfeita até demais, haja vista a maquiagem bem feita, assim como as bochechas rosadas. Lancei um sorriso forçado para meu reflexo e estranhei minha boca com o batom vermelho. Meu cabelo avermelhado estava preso no topo da cabeça, acentuando ainda mais o contorno do rosto.

O vestido básico praticamente colava em minha pele, sendo que o tecido verde destacava minhas curvas e o busto. Por sorte, boa parte de minhas coxas estavam cobertas. Mas nem tanto.

Segurei firmemente o envelope amarelo que continha o contrato dentro. Encarei, por breves segundos, as unhas postiças vermelhas. Nora me convenceu a colocá-las.

Eu não me reconheci por alguns instantes.

Assim que o elevador chegou ao seu destino, as portas de metal deslizaram para os lados. Sai e imediatamente senti o desconforto dos saltos altos. Entretanto, mantive a postura, conforme Nora havia me ensinado.

— Olá! Você precisa de ajuda? – A secretária me recebeu com um sorriso no rosto, sentada atrás do balcão.

Ao invés de respondê-la, eu apenas a ignorei, passando por ela. Após, dobrei a direita, seguindo por um vasto corredor. Ignorei os chamados da secretária que ecoavam em minhas costas. Não demorou muito tempo para que eu abrisse as portas do escritório de Mason.

Ele estava sentado em sua mesa, com o telefone posicionado no ouvido. Provavelmente estava em uma ligação.

Assim que ele me viu, parou imediatamente de falar e seus olhos fitaram-me de cima a baixo.

Continuei andando, os barulhos do salto ecoavam no local. Por esguelha, notei que as janelas haviam sido recolocadas. Empinei o nariz e não fraquejei em nenhum momento, mesmo que Anthony continuasse me olhando. Não consegui distinguir a sua expressão, mas era bastante engraçada. Foi como se ele estivesse vendo um fantasma. O cretino não parava de olhar para as minhas pernas.

Sustentei o seu olhar e ao me aproximar da sua mesa, joguei o envelope no centro da mesma e me sentei na cadeira a sua frente, cruzando as pernas.

Sorri, expondo os dentes. Anthony, por sua vez, estava com o queixo caído.

— Então, qual é a minha primeira tarefa? – Perguntei.