A Bella E A Fera

2ª Fase: Capítulo 1


Os dois homens me cercaram.

Minha cabeça estava caída e os fios de cabelo cobriam meu rosto. Lentamente, mexi minhas mãos e instantaneamente senti as algemas apertarem meus pulsos, arranhando-me a pele. O piso frio estava incrivelmente gélido e havia uma goteira próxima a mim. Durante os minutos de silêncio, o único som presente era o da água caindo no chão. Plic, Plic, Plic.

– Então, Isabella. - Meu nome saiu de seus lábios como um sibilo de cobra. Ele aproximou-se. - Eu soube que está tentando chegar ao outro lado.

Sorrateiramente, abri meus olhos e a primeira coisa que vi foram os sapatos surrados do homem.

– Isso não é da sua conta. - Soltei. Levantei minha cabeça e fitei a touca preta que cobria todo seu rosto, deixando a vista apenas seus olhos escuros e a boca. Ele era de estatura alta, seus músculos estavam visíveis pelo conjunto preto. Em compensação, seu companheiro era baixo, e bastante magro.

Esbocei um sorriso irônico, encontrando seu olhos.

Só tive tempo de notar o movimento bruto no ar e logo recebi uma pancada no estômago. Repentinamente, meu corpo caiu no chão e gemi de dor. O homem recolheu o seu pé, enquanto seu capanga soltava uma risada de pura satisfação. Filho da mãe. Contorci-me no piso, enquanto a dor se espalhava por todo meu corpo, dificultando o trabalho de meus pulmões.

Eu sabia que aquilo não me machucaria. Primeiramente, eu já havia sentido dores muito piores. E segundo, eu me recuperaria logo. Depois de minutos, a dor cessou quando finalmente senti a queimação nas minhas costas.

Tive que engolir a seco, controlado o sentimento de raiva.

– Princesinha. - Pela primeira vez, o outro cara falou. - Facilita. Temos um trabalho a fazer e quanto mais rápido você abrir a boca, mais fácil será para todos.

Permaneci imóvel no chão, sem olhar para cima. Observando apenas por esguelha suas sombras no chão.

– Quem mandou vocês? - Perguntei.

– Isso não importa. - O homem que havia me chutado se agachou, ficando na mesma altura que eu. Então, levou suas mãos até meu queixo e levantou meu rosto grosseiramente, me deixando cara a cara com ele. Mesmo com nojo, não me afastei do maldito. - Tem que parar com essa sua busca. Irão te impedir antes mesmo que chegue ao outro lado. Aceite que perdeu seu príncipe, querida.

Príncipe. Ao ouvir tal palavra, minha mente formou a imagem de Edward diante de meus olhos, com seu sorriso cativante e seus olhos dourados reluzindo. Meu coração se apertou dentro do peito.

Ignorei o nó que se formou em minha garganta.

– Então tem alguém tentando me impedir de chegar ao outro lado. – Concluí, louca por esclarecimentos. Devolvi seu olhar ameaçador.

Em resposta, ele aproximou ainda mais seu rosto do meu, enquanto seu cheiro repugnante pairava no ar. Cogitei em cuspir na sua cara, mas logo desisti de tal ideia. Eu não poderia perder a chance que finalmente consegui.

– Apenas desista.

– É, desista. - O outro concordou.

Bem, com toda certeza os dois patetas não iriam abrir a boca de jeito nenhum. Pelo menos, enquanto estivessem juntos. Eu teria que dar um jeito nisso.

– Vocês dois são inúteis. - Sussurrei, revirando os olhos.

Então, deixei que toda a raiva que eu estava reprimindo saísse de dentro da prisão que criei emocionalmente para afugentar meus sentimentos. A queimação de minhas costas foi instantânea, se espalhando por todo meu corpo e deixando o poder fluir.

Levantei-me do chão com apenas um pulo. Olhei para baixo e por uma fração de segundos, observei os olhos arregalados do homem que ainda se encontrava agachado no chão. Ah, eu me senti tão poderosa e satisfeita. E antes que ele pudesse ter qualquer reação, dei-lhe uma joelhada no queixo, amando ouvir o estalar de seus ossos. Seu corpo caiu com um baque no chão.

Olhei para o segundo homem, que estava tão surpreso quanto o que acabara de desmaiar. Estávamos a certa distância um do outro. Jurei que eu poderia ser ainda mais alta que ele, e que, sem dúvidas, ele estava com medo de mim.

– Como foi você que me prendeu? – Ergui o pulso analisando minhas algemas. – Ora... Nada melhor do que retribuir o favor, certo?

E então avancei para cima dele.