Em meio a raízes furiosas de plantas de Everdeen, três dos cinco soldados em forma de esqueleto atacaram a bruxa branca, que tentava revidar mas sentia-se inútil.

Os outros dois estavam se aproximando da Rainha, que gritava enquanto Aurora apenas sorria. As duas caveiras logo enterraram as espadas na mulher, que em segundos parou de gritar perdendo o brilho vívido que tinha nos olhos.

Aurora estava mais que satisfeita já que aquele era um feitiço quase impossível de ser realizado, e estava satisfeita também de ter visto a mulher que tanto odiou morrer. Ela não passava de uma mulher falsa, que dizia amar quando na verdade temia. Que tipo de amor era esse ? Que tipo de mãe enviava sua filha para a última torre do castelo e fazia com que ela fosse interrogada por guardas da inquisição.
Aurora nunca se esqueceu dos guardas que invadiam seu quarto a qualquer hora do dia ou da noite, acusando-a de algum assassinato que havia ocorrido na cidade.

Ela perdeu as costas de quantas vezes foi chicoteada, agredida, torturada, sem poder fazer nada. Eles descobriram que os dela eram o problema, e decidiram então tapa-los em período integral. Ela sequer lembrava-se da luz do sol antes de sair daquele.

Por seis anos de vida, ela sofreu muito, ela sofreu o que ninguém jamais iria entender. Ninguém seria capaz de compreender o ódio que ela levava dentro de si, a vontade de trucidar todos aqueles que passaram anos se divertindo as custas de seu sofrimento, de suas lágrimas.
Para ela, tirar a própria vida era impossível. Ela cortava os pulsos, os ligamentos, as artérias, e simplesmente os machucados se fechavam como se nunca tivessem existido, como se não fossem reais. Ela até passou a duvidar do que seria ou não real no tempo em que ficou trancada, e quando viu Hiei pela primeira vez foi como se uma nova esperança se acendesse dentro de seu coração já ferido e despedaçado.

Everdeen tinha que usar suas forças guardadas ou não teria a mínima chance contra os esqueletos da garota, que parecia mais fraca a cada segundo.

Uma luz branca emanou do castelo, estourando todas as janelas que ainda estavam inteiras.
Foi como um explosão, que afetou a todos principalmente os que estavam do lado de fora. Lá, a batalha já tinha acabado e o decreto disso foi a morte das duas últimas bruxas e a surpresa de Lígia, Ágata e Mona com a explosão.
O dragão gigantesco se transformou novamente em uma pelúcia e todos os usuários de bruxaria negra caíram, aquela era a verdadeira força de uma bruxa branca, que emanava derrubando qualquer ser que já tinha sujado as mãos com sangue inocente, e para bruxos negros sangue de inocentes era como água.

Aurora...” - Hiei tentava se levantar, mas era em vão.
Se ele, que estava do lado de fora um tanto distante do palácio tinha sofrido aquelas consequências, o que teria acontecido com Aurora ? Que estava muito próxima de Everdeen e sua explosão de poderes extremamente mortíferos para bruxos como eles.

Ele pensava e repensava no que teria acontecido com a garota, ela não poderia ter morrido. Ele estava preocupado, queria correr mas não podia, era uma sensação que aos poucos ia destruindo-o por dentro. Pela segunda vez em sua vida, ele estava tendo a sensação de estar perdendo uma pessoa amada, e pela segunda vez, ele não poderia fazer absolutamente nada para ajudar, estava sentindo-se um nada.

- Você tem um único defeito... – Everdeen andou entre tropeços até Aurora, que se mantinha caída no chão, olhando para ela. – Você não sabe quando parar.

- Eu... E-Eu só irei parar, quando eu encontrar todos vocês mortos, no inferno. – A garota passou a fitar o teto e pensar em sua vida desprezível, que estava chegando ao fim.

A única coisa realmente boa que lhe tinha acontecido, era ter conhecido Hiei, o garoto que havia roubado seu coração.

Eu te amo...”

Para ele foi como um alerta, um alerta que o fez querer levantar. Ele pode ouvir a fala da garota dentro de seus pensamentos, dentro de seu coração, isso claro, antes de ouvir o grito que acabou de destruir as casas e lojas aos arredores, o grito com certeza pertencia a Aurora.

Era como um flash passando em sua mente, sua vida passava como um lento filme. Ela via desde o momento em que nasceu até agora, via o quanto sofreu nas mãos de pessoas que haviam feito as escolhas erradas e que a julgavam por isso, e viu que talvez seu senso de “justiça” pudesse estar errado.

Claro que não, eles não mereciam nada mais do que uma morte lenta e dolorosa, um último olhar de escárnio amaldiçoando suas almas podres e corrompidas por sentimentos mundanos negativos, corrompidas pelos mais desprezíveis desejos e objetivos.

Ela se via como uma assassina, uma imprestável que não sabia nada além de matar, apenas mais uma de tantas bruxas que acabaram morrendo se embriagando com seu próprio poder e esquecendo sua humanidade.

Uma de tantas bruxas que iria ter um fim patético, mas que iria arrastar todas as almas daqueles que a fizeram sofrer, iria leva-las para onde fosse, não iria perdoar a existência de uma só pessoa que destruiu a sua e demais vidas.