Os anos se passaram e a cada dia, a cada noite,
Aurora sofria trancada naquele quarto.

Aurora tinha se tornado uma bela garota, uma garota linda.
Seus cabelos eram longos e dourados, os olhos em um tom raro de azul, pele pálida como a neve, corpo escultural. era naquele dia, que Aurora completava seus 15 anos.

Ela estava sentada no meio do quarto, com um vestido azul um pouco curto, e com a barra um pouco rasgada devido as tentativas inúteis de se soltar. Os cabelos estavam caídos na frente dos lindos olhos azuis, enquanto ela retalhava os pulsos com a adaga.

“Hoje seria o tal dia em que as coisas iriam mudar...Em que a tal maldição do tal fuzo iria ter efeito sobre mim. Nada vai acontecer nessa droga de aniversário."

Aurora não podia se soltar das correntes, o máximo que podia fazer era se movimentar pelo quarto mas ainda presa. Dormia presa, acordava presa, andava presa, pois se a soltassem seria uma verdadeira chacina. Todos os dias ela tinha um pingo de esperança para um dos guardas ter um pequeno descuido para que ela pudesse sair e matar todos ao seu redor.

A garota se deitou na cama, era simplesmente um dia desprezivel. Mais um de tantos dias desprezíveis que ela passava no quarto. Os machucados em seu pulso eram os piores, eram todas as tentativas frustadas de morrer que não haviam dado certo. Ela não entendia, passava o dia todo se mutilando e nunca sequer havia desmaiado. O sangue escorria dos pulsos, do pescoço, na perna, e nada de morrer. Ela ouviu um barulho na janela, e colocou a faca ao lado de sua cama, sentando-se.

– Feliz aniversário Bela adormecida...

– Hiei ? – Ela olhou para o garoto sentado em sua janela, estava mais alto, mais forte, com os cabelos um pouco cumpridos na frente, formando um topete desgrenhado que o deixava ainda mais bonito, os olhos eram verdes como duas esmeraldas, e Aurora sorriu ao vê-lo. – O que faz aqui...?

– Isso lá são modos, garota ? - Perguntou divertido, colocando os pés no chão do quarto.

–Faz 5 anos que você parou de vir aqui e ainda quer que eu tenha modos ? - Estava irritada, o garoto havia desaparecido nos últimos cinco anos.

– Você não muda não é mesmo ? Sempre reclamando... - lamentou-se.

– Mudanças não fazem o meu tipo. - Se justificou, colocando os braços cortados para trás. - O que andou fazendo enquanto esteve fora ?

– Trabalhando como assassino de aluguel, graças a esse trabalho eu sou procurado pelos 5 reinos do país e temido como o assassino mais perigoso da Inglaterra.

– Isso porque eu ainda não sai daqui...- Ela riu.

- Exatamente.Você tem que aguentar mais um tempo nesse quarto Bela.. - Falou compreendendo a expressão frustada que surgia no rosto da garota.– Não há fuzos em todo o país, há um único na casa de Malévola. Temos apenas uma chance, não podemos arriscar. A Maldição diz, que se a data do seu aniversário passar e você não espetar o dedo no fuzo, você continuará sendo uma garotinha doce e sensível.. - Ele riu com tamanha ironia nas palavras que havia acabado de pronunciar.

– Então... - ela indagou sem saber exatamente onde Hiei queria chegar.

– Malévola despertou a psicose em você antes, porque sabia que não seria fácil completar o feitiço. Seus pais ainda acreditam que você pode ser a mesma, e eu acho bom você fingir que pode. Hoje, a meia noite eles irão te libertar e você poderá viver como uma garota normal Bela...Só que por pouco tempo.

– Eu sei...

– Parece que ficou mais calma... - Ele disse olhando para ela, que tornou a esconder os braços.

– Ter apenas as paredes para conversar durante 6 anos não é nada cômodo...Você acaba ficando um pouco doente.

- O que é isso ? - Ele se levantou, e andou até a garota que relutou em mostrar os braços, mas Hiei era muito mais forte que ela. - Ainda anda querendo se matar ?

- Não adianta, por mais que eu queira eu não morro. - Ela indagou. Hiei parecia bem decepcionado ao ver os braços mutilados da garota, ele apenas revirou os olhos e se reaproximou da janela.

– Quando irá voltar ? – Ela perguntou ao perceber que ele ia embora.

– Não sei. Acabei de chegar na cidade, a primeira coisa que fiz foi vir até aqui...Sabe que não posso ficar passeando a toa pela cidade.

– Eu compreendo... - ela baixou o olhar.

– Pois bem, até qualquer dia Bela.

– Até... - Ela escondeu os braços, estava pressentindo que o garoto não tinha ficado nem um pouco contente ao ver as tentativas falhas de suicídio.

O garoto se transformou em coruja e saiu rasgando o céu do reino.
Por incrível que pareça, Aurora havia se simpatizado com o garoto, que diferente de todas as outras pessoas não tinha medo dela, não tinha medo de ninguém, era autoritário, seguro e completamente decidido do que queria.