Hiei havia ido embora há algumas horas, ele só tinha ido até lá para ver se estava tudo bem com Aurora, pois tinha tido um pressentimento ruim sobre a garota. O relógio do castelo soou alto, denunciando três horas da madrugada.

A garota sorriu e se levantou da cama vagarosamente.
Ela estava com seus costumeiros vestidos de um tecido leve e formoso, que moldava seu perfeito corpo. Ela andou dentre as tantas portas que haviam no castelo até chegar ao fim do corredor, onde se encontrava uma enorme porta de madeira. Aurora não teria problemas, já que "seus pais" dormiam separados devido ao casamento ser apenas uma faixada, algo que foi imposto pelos pais de ambos.

A garota abriu a porta, e adentrou silenciosamente o quarto.
Algust, o rei, estava deitado na cama e parecia dormindo tranquilamente, dormindo como um anjo.

Seu sono era leve, e ele parecia sentir a presença de alguém no quarto, a sensação de estar sendo observado de perto, muito de perto.
Ele ouviu uma respiração compassada e acordou exaltado, abrindo os olhos com violência e sentando-se na cama.

Ele olhou ao redor e viu que era apenas sua mente pregando lhe peças, apenas um sonho ruim no qual ele tinha acordado, agora ele estava seguro, nada de ruim poderia lhe acontecer. O rei não sabia o porquê essas palavras não estavam parecendo convincentes para sua mente, ele com certeza não iria dormir tranquilo enquanto Everdeen não fosse ter certeza de que Aurora não estava enfeitiçada.

Ele fechou os olhos novamente, nada iria acontecer.
Novamente, para o seu desespero, a sensação de estar sendo observado retornou. Ele abriu os olhos e dessa vez se deparou com Aurora, em pé, nos pés da cama. Não era mesma Aurora que ele costumava ver no almoço e no jantar, era uma criatura diferente. A garota estava com os olhos brilhantes, como se fossem diamantes azuis. Sua pele era pálida como neve e sua maquiagem estava totalmente borrada. Seu vestido estava rasgado nas barras, como se ela tivesse passado por um campo incendiado, e seus pés estavam descalços, revelando as unhas negras.


A garota riu, e colocou o dedo sobre os lábios indicando silêncio. Ela tirou um punhal de seu avental e começou a rodá-lo entre os dedos, assim como Hiei fazia.

– Então...papai. - Ela começou, sorrindo divertida ao ver o homem tentando se afastar e batendo contra a cabeceira da cama - Achou que chamando Milene Everdeen iria resolver a sua situação ?

– Demônio! – Exclamou, seus olhos estavam denunciando o medo que estava sentindo daquele ser a sua frente.

– Chame do que quiser... - rolou os olhos e se apoiou na madeira da cama - Você quis que eu existisse não é ? Pediu para que Malévola fizesse um feitiço para eu nascer, e depois, simplesmente me odiou, pelo fato de eu não ser o que você desejou. É uma pena não é ? Ter colocado alguém como eu nesse mundo, ter colocado alguém como eu tão perto de uma instituição rica que comanda uma cidade...Uma Pena...

Ela desapareceu em meio ao som de seu riso estridente, e o rei estava cada vez mais aterrorizado. Ele levantou-se da cama e nem sequer calçou os chinelos, só queria sair daquele ambiente que estava cada vez mais horrível.

O lustre despencou do teto, e as correntes que o prendiam lá foram direto para os braços do homem, segurando-no.

- Acha que vai ser assim tão fácil se livrar de mim, papai ? - A garota levantou uma de suas mãos e arrastou o homem de volta para cama, onde ele permaneceu deitado e acorrentado. - Vamos ver como poderei me divertir.

– Se afaste de mim criatura das trevas !

– Já disse que pode chamar como quiser. -Ela sorriu - Hoje será o dia em que você vai deixar tudo que almejou para trás, seu reino, seus súditos, seu poder. Uma pessoa hipócrita como você merece apenas a morte.
Não reclame do modo que irá morrer, e quando achar que a situação está ruim, saiba que ela pode e vai ficar pior...

Aurora pressionou a faca contra o peito do homem, e foi escorregando a lâmina por seu tórax. Ele tentava gritar, mas nenhuma voz saía da sua garganta. O rei estava com os olhos saltados, estava suando e tremendo, estava com medo. Era como se cada corte que Aurora fizesse queimasse causando uma dor infinitamente pior a que ele já estava sentindo.

Ela olhou para homem, e seus olhos tomaram o brilho azulado. Ele se vu em um cenário de destruição, seu reino sendo queimado, as pessoas mais influentes sendo mortas. A cidade estava em ruínas, pessoas saqueavam o cofre do palácio enquanto pulavam sob os corpos mortos dos criados e dos demais camponeses que tentavam invadir, o castelo estava ruindo em cinzas.

O rei se via amarrado em frente a cede do reino, na praça pública onde ele costumava queimar as bruxas. Ele estava amarrado no tronco com algumas correntes, que deixavam seus braços e pernas abertos, em forma de um X.

- Está vendo isso ? - Aurora surgiu ao lado do homem, parecia realizada ao enxergar o medo estampado nos olhos dele. – A vida não é feita apenas de dinheiro, de alegrias, de poder. A vida também é feita de decepções, de traumas, de sofrimento. Sorte sua que alguém como eu apareceu para te mostrar esse lado da vida.

O homem começou a sentir o fogo queimando seu corpo, mas ele não podia vê-lo. Era como se ele sentisse a dor de ser queimado vivo, quando na verdade não estava em chamas. Aurora estava fazendo ele sofrer a dor de cada bruxa queimada naquela praça, cada vida destruída por pura ganância.

Ela pegou um machado, e arrastou-o ficando parada em frente ao homem. Ela pegou o corpo de uma mulher, uma mulher que o rei amou em sua juventude, mas foi obrigado a esquecer graças ao casamente arranjado.

Aurora foi dando golpes no corpo da mulher, arrancando os braços, as pernas, os pés, enquanto ela agonizava de dor. Ela mantinha um olhar desesperado, gritava por socorro, e dor que ela estava sentindo também estava sendo sentida por Algust, amarrado naquele tronco.

Aurora sorriu, ela estava muito satisfeita. Deferiu o golpe final na garganta da mulher, e o rei acordou.

Ele estava amarrado em sua cama, como antes, mas...

Gritou, gritou alto e forte como se aquela fosse sua última esperança.

- À vontade, ninguém irá te ouvir. Vamos ao ato final, já que você gosta de dizer aos outros o que fazer. - Aurora tirou um carretel de linha branca do avental, seguido por uma enorme agulha de prata.

Ela passou a linha pelo buraco da agulha, e sentou-se ao lado do homem.

Aurora começou a perfurar o lábio inferior do rei com a agulha, passando pelo superior e logo em seguida puxando com muita força, fazendo o homem gritar

- O SOFRIMENTO É BOM, NÃO É ? - Ela indagou enquanto perfurava novamente os lábios do homem, puxando a linha com ainda mais força. Cada costura era um grito, e cada grito era mais um motivo para deixar a garota com raiva. Assim que costurou toda a boca do homem á sangue frio, com a linha e agulha de metal, ela o encarou. - Não vou te matar. Quero que você agonize tendo consciência de sua própria situação.

Aurora lhe sorriu alegre, e saiu saltitando quarto a fora, deixando-o sozinho. Como em um estalo, ele sentiu uma enorme dor, uma dor nunca sentida antes. Ele olhou para si próprio e gritou ainda mais, o desespero estava tomando conta de sua mente, ele pedia para morrer.

Ele percebeu que a mulher que amava não havia morrido, ela estava inteira depois de tudo. Ele era quem estava esquartejado, ele era quem estava com a cabeça e os membros fora do corpo, ele era o morto.