A Bastarda Sakamaki

Capítulo 1 - O Nascimento


“O amor aparece com a primavera e congela no Inverno. Será que assim sobrevive para sempre?”

A neve já começava a derreter nos campos que rodeavam a casa quando ela, a minha mãe, Suzuki Yumi, saiu de casa para passear calmamente pelo bosque solitário. Era o seu sítio favorito desde de criança e tornara a sê-lo depois do aparecimento daquele homem misterioso e galante.

Suzuki entrou no bosque e ficou esperando o aparecimento dele, ela sabia que ele não a iria desapontar, nem mesmo naquele momento, em que ela tinha uma notícia importante. Uma notícia que ele nem sequer tinha contado aos pais ainda.

E então, das sombras, a silhueta de um homem esbelto, com um manto sobre as costas e o cabelo comprido, emergiu.

— Yumi. Estou aqui, como me pediste. – O seu cabelo albino brilhava com os raios de sol e iluminava-lhe o rosto pálido de porcelana. – O que aconteceu?

— Karl! – Yumi, apesar de trazer a sua yukata e os seus sapatos tradicionais, correu para os braços dele. – Tenho uma grande notícia para ti. Eu…

— Estás grávida. – Os seus lábios sorriam mas os seus olhos estavam estranhos, o brilho deles era de orgulho e não de alegria. – Sabia que não me irias desiludir.

Yumi olhou para ele, confusa e expectante. Ela esperava algo mais do homem que amava e de quem esperava uma criança nesse momento. Em vez disso, a reação houvera sido um tanto fria da parte dele.

— Vamos, Yumi. Tens de ter cuidado com a tua saúde agora. – Karl afagou-lhe os ombros e beijou-a com ternura para depois começar a marcha vagarosamente ao lado dela. – Quero que essa criança nasça bonita e saudável como tu. – E, novamente, sorriu.

Yumi não pode conter também um sorriso. Aquele sim, ele parecia mais o homem que ela conhecera. Aquele o qual ela conhecia o segredo e não tinha medo, porque o amava.

— Sim. – Ela começou a sua caminhada ao lado dele, com a alegria no corpo por sentir a mão dele no seu ombro. Naquele momento, eram só eles os dois e a aquele bebé que ela carregava no ventre com orgulho.

Sete meses se passaram. Yumi houvera sido obrigada a contar sobre a gravidez, afinal a barriga tinha-lhe crescido imenso, mas não comentara sobre a identidade do pai desta. Isso era só um segredo dela. Os pais não o aprovavam mas nada conseguiam fazer para que ela desabafasse alguma coisa.

Ao fim desse tempo, a barriga de Yumi encontrava-se enorme. Ela até tinha perdido as forças nas pernas e nos braços e não sentia nenhuma vivacidade no corpo. Era como se o bebé se estivesse a alimentar dela mais do que aquilo que ela podia suportar mas, mesmo assim, Yumi não se queria afastar dele.

Karl havia deixado de a visitar assim que ela ficara de cama e isso desanimara-a um pouco mas compreendeu os seus motivos para isso. Ele não se podia arriscar a aparecer para ela.

Yumi preparava-se para falar com os pais, sentia-se bastante mais desconfortável do que o normal, quando sentiu algo a ensopar-lhe as pernas. Apesar do medo, Yumi olhou por debaixo dos lençóis e o que viu, chocou-a. O que deveria ser apenas a bolsa de água, encontrava-se misturado com doses de sangue num só. O desespero começo a assusta-la e, ignorando as dores no ventre, gritou:

— Mamã! Papá! – As dores eram alucinantes. Sentia algo a movimentar-se desesperadamente dentro dela. Queria sair mas para isso estava a dilacera-la ao meio. – Aghh!

Um senhor, com já sinais da sua idade, apareceu a correr com uma mulher ao lado. Os pais de Yumi. Ao ver os lençóis tingidos de sangue e a filha a contorcer-se de dores, ele correu para ela:

— Yumi! Yumi! – As palavras do pai ficaram misturadas com o choro da mulher e os gritos aterrorizantes da filha, que cerrou os dentes de dor, entretanto. – Está na hora?

— Sim! – Gritou ela, recebendo de seguida mais contrações. Já nem conseguia abrir os olhos. – Não aguento mais! Agh!

Os minutos tornaram-se horas, os pais já não sabiam que mais poderiam fazer para ajudar no parto. Por muito que tentassem, o bebé não conseguia nascer.

— O que fazemos? Elas vão morrer se isto continuar! – Chorava a mãe, sendo acompanhada pelos gritos da filha.

— Talvez eu possa ajudar. – Quando os mais velhos olharam para a entrada do quarto, encontraram a silhueta de um homem misterioso, com o cabelo atado num rabo-de-cavalo e com uma gabardina branca vestida. Parecia um médico. Os pais resfolegaram, não conheciam o homem e não confiavam nele.

E então, do nada, toda a sua vontade de protestar esfumou-se e eles saíram do quarto, em silêncio, deixando a minha mãe acompanhada por aquele homem estranho.

— Agora somos só nós, Yumi. – O homem aproximou-se dela, fez-lhe uma caricia nas fontes suadas, onde o cabelo se empapava e depois, com suavidade, mordeu-lhe o pescoço.

Yumi sentiu a adrenalina no local da mordida enquanto o seu sangue era sugado pelo homem, homem esse que ela reconhecera como sendo Karl, e depois uma calma a tomar-lhe o corpo e a entorpece-lo.

Depois de lhe beber o suficiente, Karl levantou-se e, com os lábios carnudos manchados com o sangue dele e de Yumi, beijo-a, deixando-a saborear o sal do sangue de ambos. Yumi já não sentia dor nenhuma.

Ao ver isso, Karl aproveitou para se rasgar o ventre e de lá retirou uma bebé pálida, suja de sangue, e que chorava. Ao abrir os olhos, o vampiro pode ver que ela tinha os olhos azuis como as da mãe. Eram bastante parecidas.

Com um sorriso orgulhoso, Karl deitou a filha em cima do peito de Yumi e esperou até o ferimento no ventre começar a curar. Assim que os primeiros tecidos musculares começaram a juntar-se de novo, Karl beijou a testa de Yumi, que havia adormecido e desaparece como o vento que rugia lá fora, uma brisa de Outono.

Os pais de Yumi chegaram logo a seguir e admiraram a bebe e o estado da sua filha, que entretanto ficara mais pálida e com os lábios mais vermelhos que o normal. A ferida na barriga já estava quase sarada.

Esse foi o dia em que nasci e, também, quando a transformação da minha mãe ocorreu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.