A Arma De Esther

Capítulo 58 - Esther


Capítulo 58 – Esther

Teresa tinha acabado de sair da Faculdade e estava a telefonar a Klaus.

–Oi, sweetheart.

–Hey, já estou a sair da Faculdade. Em meia hora estou aí. O nosso jantar romântico mantém-se?

–Podes crer que sim! – falou Klaus, do outro lado da linha. – Até já.

–Até já – desligou o telemóvel e colocou-o na sua mala. Um arrepio percorreu a sua espinha e automaticamente parou de andar.

–Olá, Teresa.

Aquela voz congelou-lhe o sangue. Teresa virou-se calmamente. Uma mulher loira, alta, cheia de curvas e com olhos claros estava bem vestida e parecia que tinha estado à sua espera.

–Esther – sem sequer pensar duas vezes, soube logo de quem se tratava.

–Está na hora de termos uma conversa, não achas?

–Não tenho nada para falar consigo. A não ser, claro, dizer-lhe algumas verdades na cara.

Esther sorriu dissimuladamente.

–Acredito que sim. Afinal, tenho acesso à tua mente.

Teresa fez um esgar e virou-lhe as costas. Esther começou a acompanhar-lhe o passo. Discretamente, Teresa colocou a sua mão na mala e tirou o seu telemóvel, guardando-o no bolso da sua gabardine. Felizmente, conhecia demasiado bem o seu telemóvel, então foi fácil desbloqueá-lo e discar o número de Klaus enquanto ele estava no bolso.

–Está a ler a minha mente agora?

Se assim fosse, ela teria que começar a pensar em outras coisas.

–Talvez sim. Talvez não.

Aquilo não era uma resposta, então Teresa tratou de pensar noutras coisas, como o facto de que estava assustada por Esther estar ali.

–Presumo que saiba que estou cheia de guarda-costas o tempo todo.

–Oh, estás a referir-te aos híbridos do Klaus? Coitados, ficaram com um aneurisma súbito.

O arrepio intensificou-se, mas Teresa forçou-se a continuar a andar. Enquanto se mantivesse em ruas movimentadas, nada lhe poderia acontecer, Esther não iria arriscar. O apartamento ficava a cerca de vinte minutos de caminhada da Faculdade, mas Teresa optou por fazer um caminho mais longo para todos terem tempo de sair do apartamento.

–O que pretende de mim? – indagou Teresa. – Uma pergunta melhor: não era suposto estar morta? Já que os seus filhos têm mil anos e só estão vivos porque são vampiros?

Esther sorriu.

–Foi por causa disso que eu te escolhi: pensas sempre tanto que pensei que irias ver o verdadeiro monstro que Niklaus é. Afinal, enganei-me: és tão tonta como qualquer rapariga do século XXI.

–Vou considerar isso como um elogio – comentou Teresa.

O Starbucks onde tinha trabalhado era mesmo no final daquela rua, teria que passar por lá. Teria que ser uma paragem obrigatória.

–Eu realmente pensei que serias tu a destruir Niklaus. Ou o contrário. Aliás, Niklaus ia matando-te algumas vezes. Mas, claro, lá estavas tu para o trazer de volta ou o Kol – Esther sorriu. – Quem diria que algum dia Kol e Niklaus se iriam juntar para proteger uma propriedade?

–Eu não sou nenhuma propriedade – Teresa fez um esgar.

–Mas é precisamente isso que és para eles. Apenas uma humana, que está a ser usada pela Mãe deles. E por eles. Não passas de um mero peão para nós.

–Se assim fosse, já me teria dispensado há muito tempo e até agora isso não aconteceu.

Esther suspirou teatralmente. Faltam só mais quinze passos para Teresa entrar naquele Starbucks, onde David estaria a trabalhar, já que ele adora trabalhar às segundas e todos os outros colegas odeiam porque, na maioria das vezes, estão de ressaca.

–Talvez tenha chegado a hora de parares de ser um peão.

–Como assim? – dez passos. Era tudo o que necessitava. Aguentar a conversa por mais dez passos.

–Estive a ver como te comportas com ele e percebi que estás demasiado próxima dele para teres clareza de pensamento. Para além disso, o colar que a bruxa Bennett lhe deu impediu-me de aceder a ti durante muito tempo. E quando consegui, tu não te lembravas dele, o que foi uma tragédia para mim – Esther fingiu estar triste. – Contudo, agora aqui estás tu, mais apaixonada por ele do que nunca.

Cinco passos.

–O que posso dizer? Eu amo o Klaus.

Quatro passos.

–Ele está demasiado infiltrado em ti.

Três passos.

–É por isso que está na hora de saíres do jogo.

Dois passos.

Esther colocou a mão no antebraço de Teresa, fazendo-a parar. A jovem arregalou os olhos. Estava tão perto de chegar à porta e pedir por ajuda.

–Agora.

–Não posso – continuou Teresa, procurando com o olhar uma face conhecida que a pudesse ajudar. – Ele está demasiado infiltrado em mim, como disse. Não será assim tão fácil tirar-me do jogo.

–Isso é o que veremos – Esther sorriu abertamente e os seus olhos brilharam perigosamente. A Bruxa Original tinha algo diabólico planeado.

–Quer um café?

Esther piscou os olhos.

–O quê?

–Um café. Está frio aqui fora – Teresa revirou os olhos. – Eu tenho frio. Podemos entrar aqui? – apontou para o Starbucks.

–Claro. Acho que podemos aproveitar um pouco de privacidade na casa de banho para te tirar do jogo.

Teresa e Esther entraram no estabelecimento e Teresa colocou-se automaticamente na fila para pedir um café. Esther enrugou a testa.

–Já que vou morrer, deixe-me ao menos aproveitar o meu último café.

Assim que Teresa avistou o cabelo loiro de David na máquina registadora, o seu coração bateu mais desenfreadamente, devido à adrenalina. Estava a salvo, mas não totalmente a salvo.

Estavam apenas duas pessoas à sua frente, felizmente. Esther rondava com o olhar o local, à procura de algo suspeito. A paragem de Teresa por ali não tinha sido aleatória, sabia disso.

–Olá – David sorriu para Teresa familiarmente, mas assim que a viu acompanhada, desfez o seu sorriso. Esther olhou para ele, inquisidoramente, tentando aceder aos pensamentos dele, mas as tentativas foram infrutíferas. – Boa tarde. O que vão desejar?

–Caffe Latte, copo médio e uma cookie de chocolate – respondeu Teresa. – Esther? Deseja alguma coisa?

–Não, obrigada – respondeu a Bruxa Original. – Vou à casa de banho. Quanto estiveres pronta…

–Certo – acenou Teresa e Esther foi até aos lavabos.

–O que se passa? – inquiriu David, num murmúrio.

–Esther. É ela! – falou Teresa, em pânico, também num sussurro, enquanto David fazia a conta a Teresa. – Tenho que fugir, David, não há outra hipótese.

–Bernard! – exclamou David e o loiro de olhos verdes apareceu logo ao lado do Caçador. – Preciso de uma pausa de meia-hora. Cobres o meu turno por estes minutos?

–Claro que sim – acenou ele e David tirou o seu avental do Starbucks, passou a portinhola do balcão e pegou na mão de Teresa com firmeza, trazendo-a consigo.

–Onde está o Klaus?

–Em linha – lembrou-se subitamente que lhe tinha telefonado e o telemóvel permanecia no bolso da sua gabardine.

–Na verdade, estou bem aqui – disse Klaus, que vinha do seu lado esquerdo. Kol e Elijah estavam a ladeá-lo. Os três pareciam invencíveis, saídos de um filme de ação, em que eles tanto podiam ser os heróis, como os vilões.

–Esther está lá dentro – informou David.

–Onde está o Simon? – indagou Teresa para Klaus, pegando-lhe no braço com extrema força. Klaus também lhe pegou no braço, com igual força. O medo corria pelos dois, ambos sentiam o mesmo e sabiam que o outro sentia o mesmo.

–Rebekah e Liliana estão com ele. Kol – chamou Klaus, com voz baixa e gentilmente empurrou Teresa para o corpo do irmão. – Toma conta delas.

–O quê? – questionou Teresa, em pânico.

–David. Tu vais ajudar-nos nisto.

–Vamos matar a bruxa – David sorriu de lado, assim como Klaus e até Elijah se mostrava entusiasmado com a ideia.

–O quê? Não, Klaus – Kol pegou em Teresa e ela começou a resistir aos seus braços. – Klaus, não faças isso, tu vais morrer! Klaus!

Klaus olhou para ela e todo o amor e devoção que tinha por Teresa transbordaram pelos seus olhos. Por momentos, não havia mundo para além deles os dois. Teresa começou a chorar.

–Klaus…

O híbrido, o Original e o Caçador entraram no estabelecimento.

©AnaTheresaC