A Arma De Esther

Capítulo 52 - Tu chamaste-me vadia!


Capítulo 52 – Tu chamaste-me vadia!

Klaus entrou no quarto e Teresa estava a dormir, ligada a vários instrumentos médicos, um deles era para registar o seu batimento cardíaco. Estava normal.

-Está tudo bem com ela e com o bebé – informou Elijah, levantando-se da cadeira de baloiço. – Teresa teve apenas um surto nervoso.

O híbrido acenou, não desviando o olhar da sua amada.

-Foi culpa minha?

-Tu já sabes a resposta a isso, Niklaus. Mas não te martirizes – Elijah colocou uma mão no ombro do irmão. – Agora podes compensar.

-Como?

Klaus estava absolutamente perdido. Lembrou-se daquela noite em que tinha amado Teresa pela primeira vez. Elijah foi o primeiro a saber e avisou-o sobre o perigo que aquilo simbolizava para todos. E mais uma vez, lá estavam eles, a conversar num sussurro para não a acordar, a tentar definir o próximo passo.

-Amando-a – a resposta foi tão simples, que Klaus desviou o olhar para o irmão, alarmado. – Ama-a como sempre a amaste. E ama aquele bebé. Sabemos que é impossível ser teu filho, mas ama-o como tal. Por vezes, família não se define apenas pelos laços de sangue.

-Estou perdido, irmão – o nó na garganta de Klaus era demasiado grande, a sua humanidade estava a acabar com ele e aquele botão dentro de si pedia para desligar, para voltar ao mundo em que os sentimentos não existiam.

-Eu sei. Estamos todos um pouco, mas… é bom ter-te de volta – Elijah abraçou o irmão com força e Klaus soluçou baixo.

-Estou perdido, irmão – voltou a dizer Klaus, com grossas lágrimas a escorrerem pelo seu rosto.

-Vamos sair daqui – sugeriu Elijah. – Não vamos querer acordá-la.

-Não. Eu quero ficar – Klaus desfez o abraço desajeitadamente, limpando as lágrimas do seu rosto com certa agressividade. – Quero estar aqui quando ela acordar.

-Está bem – anuiu o irmão mais velho. – Mas primeiro precisas de um duche e de mudar de roupa.

-Eu não…

-Nem precisas de sair do quarto. Eu trago-te as roupas. Agora enfia-te no chuveiro – mandou Elijah e Klaus seguiu para a casa de banho do quarto.

Ligou o chuveiro, nem se importando com a água gelada, já que vampiros não sentiam frio. Depois saiu da banheira e vestiu as roupas que Elijah tinha colocado em cima da sanita. Estavam-lhe largas e percebeu que a perda de sangue o tinha tornado pálido, magro e desajeitado. Foram seis meses privado de qualquer sangue, era um milagre não ter dissecado.

Deitou-se ao lado de Teresa e ficou a observá-la silenciosamente, não se atrevendo a interromper o seu sono. Contudo, não deixou de reparar na barriga dela. Era perturbador, saber que ela estava a carregar um ser que não lhe pertencia. Eu não era o pai, pensou, e a sua humanidade estilhaçou-o por dentro, como sempre fazia quando pensava nas coisas humanas que já não podia fazer.

-Eu vou proteger-te – sussurrou ele, fazendo um pequeno carinho nos cabelos negros dela. – Sempre e para sempre.

As horas foram-se passando e Klaus recusava-se adormecer, apesar do cansaço. Quando a sol veio atingir o seu ápice, Teresa acordou, sonolenta. Klaus sorriu fraco para ela.

-Bom dia.

Teresa remexeu-se na cama, querendo fugir dele. Tentou tirar o tubo de soro que estava ligado a ela, assim como os vários tubos que a ligavam às máquinas. Elas começaram a apitar assim que o seu batimento cardíaco acelerou brutalmente devido ao medo.

-Relaxa – pediu ele, colocando uma mão em cima das dela, impedindo-a de tirar os tubos. – Eu estou bem.

-Como assim, “tu estás bem”? Tu chamaste-me vadia seu filho de uma…

Klaus beijou-a, calando-a. Teresa tentou afastá-lo, empurrando-o pelos ombros, mas ele resistiu. Estava fraco, mas ainda conseguia ser mais forte que uma humana.

-Larga-me! – gritou ela. – Rebekah! Liliana! Elijah! Kol!

-Não… - murmurou Klaus, mas no segundo a seguir, os quatro já estavam à sua porta.

-O que aconteceu? – indagou Elijah, vendo as máquinas a apitarem todas. – Teresa, tens que te acalmar.

-Tirem-no daqui! – gritou ela, colocando uma mão no seu ventre. – Eu não quero vê-lo!

-Klaus, faz o favor de saíres – falou Elijah, mas Klaus não se moveu do seu lugar.

-Não – rosnou ele. – Já estive afastado dela demasiado tempo, não vou…

-Agora! – exclamou o irmão mais velho e Kol pegou no ombro dele, mas ele desviou-se do toque do irmão e saiu do quarto, furioso e triste. A sua humanidade estava a feri-lo mais do que ele desejava, era sempre assim nos primeiros dias. Ele precisava de canalizar aquela dor para algum lado, mas tudo o que prendia a sua humanidade estava a magoá-lo: Teresa.

-Ela odeia-me – murmurou ele, com lágrimas nos olhos.

-Não, irmão, ela não te odeia – garantiu Kol, saindo também do quarto para ajudar o irmão a acalmar-se. – Ela está apenas magoada com o que disseste.

-Isso não ajuda em nada, Kol – afirmou. – Mais uma vez, magoei-a. E magoando-a, magoo-me a mim mesmo.

-Verdade – interveio Liliana. – Por isso, vais entrar por aquela porta daqui a umas horas e pedir-lhe profundas desculpas.

Os Originais olharam para ela, surpreendidos pelos conselhos da loira.

-E tu tens a certeza de que ela me vai perdoar?

-Eu conheço a Teresa desde que andávamos de fralda. Ninguém a conhece melhor do que eu.

-Ela mudou. As prioridades dela mudaram – argumentou Kol. – Ela tem um ser que precisa de proteger. E Klaus é um vampiro que já desligou a humanidade e a mordeu.

-Entre outras coisas – completou Liliana. – Mas se ele lhe fizer um pedido de desculpas digno de alguém que merece ter a confiança dela de novo, não vejo o porquê de ela não o perdoar. Aliás, aquela conversa lá na cave foi muito esclarecedora. Tu lembras-te, não te lembras, Klaus?

O híbrido acenou.

-Ela perdoou-me por a ter mordido – os olhos deles foram de brilhantes a baços. – Mas como Kol disse, as prioridades dela mudaram.

-Não arranjes desculpas para te martirizares mais. Sê prático e objetivo – Liliana fez um esgar e um gesto com a mão, como se estivesse a afastar uma mosca. – Tu ainda a amas e ela ainda te ama. Não duvides do poder do amor – enrugou a testa e fechou os olhos. – Argh, estúpida dor de cabeça. Vou deitar-me. Acordei de repente com os gritos da Teresa.

Virou-lhes as costas e entrou no quarto de Kol, que era quase ao fundo do corredor.

-Então ainda não lhe contaste, pois não? – indagou Klaus. – Sobre o Carlos.

-Não. Estava a pensar em quando isto tudo acabar, voltar a restaurar-lhe as memórias. Mas não tenho a certeza.

©AnaTheresaC