A 73 Edição Dos Jogos Vorazes
Capítulo 11 - As alianças
Pego uma das facas na minha mala e Faith pegou a que usou para caçar e nós corremos na mesma direção que Spes foi. Encontrei meu machado ensanguentado no meio do caminho e então o corpo moribundo de Kesh, o garoto do Distrito 2 que tentou me matar.
-Bu – disse Spes, saindo de trás de trás de uma árvore – Eu já não aguentava mais ele. - E o canhão de Keith soou.
-Mas ele é tão grande! - disse Faith, animada, mirando o corpo – Como você conseguiu? - e afastou o sangue do nariz com o ante-braço
-É só ter força de vontade, pequena. - respondeu.
O hino de Panem começou a tocar e a insígnia começou à flutuar no ar.
-Vamos ver aqui mesmo? - pergunto
-Acho que sim – disse Spes, me levantando pela cintura para que eu subisse em um Salgueiro alto. Escalei a árvore e ajudei Faith. Spes subiu e nós começamos à assistir o plantão. Primeiro, Keith.
-Olha só! Eu ainda estou vivo! - brincou Spes. Eu e Faith demos um riso abafado e o plantão de mortos diários continuou. A garota do 3. O garoto do 5. E Serena. Insígnia de Panem.
-Bom, suas magrelas, o que acham de acender uma fogueira? - disse Spes, pulando da árvore e caindo deitado em cima de um monte de folhas. Faith pulou em cima dele e disse :
-Pode ser. - ele soltou um grunhido junto com uma risada quando Faith pulou nele – Vem, pula nele também, Meriva!
-Coitado, Faith! - e pulei, rindo. - Posso ir procurar Ery agora?
-Eu acho que não. - disse uma voz atrás de mim. Engoli em seco. Nina.
-Corre. - disse Spes, puxando Faith que me puxou. Me soltei de Faith e comecei à correr ao máximo que eu conseguia
-Pântano! - gritei. Nina estava me alcançando
-O que? - Spes gritou de volta
-Vou para o pântano! - corri em direção ao solo barrento. Dou tapas nos meus bolsos procurando minha faca, mas não acho nada. Ótimo, desarmada, desajeitada e ferida contra uma carreirista gigante, com todo tipo de arma e sedenta pelo meu sangue.
Pego uma pedra – sei que não vai adiantar nada, mas é muito melhor do que ficar de mãos vazias contra “Nina” - e corro o máximo que consigo em meio a lama e a água. Estou na parte da água funda e vejo Nina sendo puxada para a água.
-Bestantes – sussurro para o vazio, olhando as bolhas na água e o sangue começando à surgir – Fuja, Meriva! - grito para mim mesma.
Mergulho na água e nado o mais rápido que consigo. Logo já estou na lama que logo daria no lago.
-Meriva! - ouvi alguém gritar. Ainda não ouvi o tiro de canhão da Nina, se ela morreu. - Cadê você? - Faith, seu nariz sangrento e Spes, carregando nossas coisas.
-Tá tudo bem? - perguntou Spes – E cadê a Ni... - e escorregou de cara no barro.
Não contive a risada e junto com Faith, caí numa gargalhada ritmada. Dava para ver que o nariz dela estava doendo, então levantei a cabecinha dela pelo queixo e olhei.
-Tá feio, hein? - eu disse
-E doendo. - acrescentou.
A luz da lua não iluminava muito, então precisei forçar o olhar para pegar o pouco de faixa que restava.
-Ei, precisa de alguma coisa? - Perguntou Spes
-Preciso, sim. Voltar pro Distrito 7.
-Entendo, Meriva. - suspirou Spes
-Meu nariz está doendo! - resmungou Faith, cutucando a faixa em volta o seu rosto.
Peguei alguns comprimidos para dor e dei um para ela. Ela é pequena, então dois fariam um efeito muito forte, talvez deixando-a com mais dor ou doente. Minhas pálpebras caíam pesadamente enquanto Spes lavava o rosto cheio de lama.
-Meriva, você precisa dormir. - disse Faith, se segurando no meu ombro para não cair no lodo.
-Não, eu to bem. - menti – Vamos para os pinheiros. - E pulei na água – Vem, Faith, eu te ajudo.
Ela entra na água com o rosto levantado para não molhar seu machucado no nariz. Ajudo ela e Spes nos alcança e diz :
-Faith, melhor você vir aqui comigo, daqui a pouco a Meriva acaba te soltando.
Ri ironicamente e só ouvi o grito dele, então o sangue colorindo a água
-O que foi?!? - eu disse, desesperada, apertando Faith, que ficava fitando o céu, para ela não cair
-Eu não sei! - respondeu Spes
-Peixes guiados. - respondeu Faith, olhando para a água sem molhar o nariz.
Mais bestantes. Ótimo. Peixes guiados foram criados pela Capital durante a rebelião para gravarem em baixo da água e atacar com dentes afiados como lâminas.
-Tá, o plano é o seguinte : A gente nada o mais rápido possível e saímos daqui logo. - Disse Spes, fazendo esforço para boiar com a perna perfurada – Meriva, toma a dianteira.
-Ok – concordei e nadei em frente a ele e Faith, que nadava sem molhar o rosto
Cheguei na floresta de pinheiros e puxei meus aliados.
-Tirando a perna ferrada, vocês estão bem?
-Sim – respondeu Faith, se chacoalhando para afastar a água
-Tirando a perna... - respondeu Spes, com a água pingando e se unindo ao sangue que escorria em sua panturrilha.
-Tá, senta aí. - eu disse. Ele obedeceu e eu levantei a barra da sua calça. Faith foi até o lago e encheu uma garrafa com água e trouxe-a para mim. Rasguei um pedaço da minha blusa e molhei para limpar o sangue.
-Você tá bem? - disse Spes, olhando fixamente para mim, enquanto eu não tirava os olhos do machucado. Eu estava suando frio e forçando o olhar para conseguir enxergar com as pálpebras pesadas e a parca luz da noite – Você está toda branca.
-Sim, eu estou bem sim. - joguei uma corrente de água gelada nos buracos causados pelos bestantes, o que fez ele grunhir um pouco. Faith ficou observando em silêncio enquanto eu passava a pomada para cortes e infecções que Mekenzie me mandou. - Não tem mais faixa. - eu disse, retirando a faixa do meu machucado no ombro. Ele estava preto e fundo no meio e começando à cicatrizar nas bordas.
-Argh! Coloca isso de volta, Meriva! - reclamou Spes – Tá horrivel e... Espera... - parou – Foi a minha faca, não foi?
-Pouco importa – dei de ombros.
-Opa, opa, espera aí. - disse Faith – Você atacou a Meriva? - se dirigiu à Spes
-Não! - ele respondeu – Bom, não propositalmente... Eu taquei uma faca no Kesh, mas ele usou a Meriva como escudo.
-Tá tudo bem – eu disse – Vamos dar um jeito na sua perna. - desenrolei a faixa em meu braço onde Serena me atacou e enrolei na perna dele
-Pronto, agora dorme um pouco.
-Não, valeu. Eu to bem. - me sentei e abracei os joelhos
-Não tá não, Meriva. Você não pode ficar acordada para sempre. - disse Faith.
-E dai? - reclamei
-Qual é, para com isso. - disse Spes, tirando um saco de dormir da sua mochila – Deita aí e dorme.
Então desisti e caí num sono que ninguém desejaria cair. Pesadelos. Todos – todos mesmo, até Faith – me encurralando. Eu não tinha nada. A pele de todos estava perfeita e lisa como pele de bebês, enquanto eu estava cheia de machucados. E todos me tacavam facas. “Você falhou, Meriva”. Ecoava na minha cabeça. Eu tentava, mas não conseguia acordar.
E abri os olhos num supetão.
Faith e Spes estavam encostados em uma árvore, jogando conversa fora
-Algo errado? - perguntou Faith, enquanto me olhava preocupada.
-Não. Só... só um pesadelo – coloco uma mão na testa enquanto uso a outra para usar de apoio ao sentar – Preciso andar um pouco.
-Você precisa comer – diz Spes, me estendendo um potinho com, acho eu, ser filé de esquilo. Pequeno e fininho. Mas cheio de nutrientes
Tiro a mão da testa e pouso-a sobre a minha barriga, fazendo uma cara feia e rejeito o esquilo. Tomo um gole de água.
-Não, obrigada. Preciso mesmo andar.
Me levantei e fui em direção ao norte. Estou sem armas, mas estou bem. Se alguém me atacasse agora, eu o atacaria corpo a corpo. E um paraquedas preteado pousa à minha frente.
Abro ele e pego o facão que há dentro. Havia uma mensagem escrita na arma. “Se você sair desarmada de novo, eu te faço engolir veneno. Assinado, Seu mentor que você tanto adora, Mekenzie.” A mensagem me faz rir um pouco, principalmente a parte que diz “seu mentor que você tanto adora”
Continuo andando e não encontro ninguém. Tiro a jaqueta e amarro-a na cintura. Pelo visto, os Idealizadores nos oferecerão um dia bem quente.
Imagino o que terá acontecido com Nina. Ela deveria ter morrido, mas seu rosto não foi projetado e não ouvi seu tiro de canhão. A ideia de que ela pode estar viva me vem à mente. Não. É impossível. Os bestantes atacaram ela, e por mais que seja forte, nunca conseguiria sobreviver a um ataque de bestantes. Ninguém consegue. Me lembro da garota do Distrito 3 sendo estraçalhada.
Tiro o pensamento e continuo andando. Gosto de pinheiros. Me lembram meu Distrito 7. Passo a tarde toda caminhando, sem perceber o tempo.
Nenhum tiro de canhão até agora.
-Meriva? - escuto uma voz de criança chamar, Faith, é claro.
-Estou aqui, Faith.
Ela saiu do meio das árvores e disse, aliviada :
-Finalmente te encontrei. Estou te procurando há uma hora.
-Me desculpe. - sorri – Vamos para o acampamento. Temos mais um facão.
-Quem te mandou?
-Mekenzie. Disse que se eu sair desarmada de novo, ele vai me fazer engolir veneno.
-Você deve ter muitos patrocinadores. - suspirou, decepcionada consigo mesma.
-Você também. - digo, sem mudar o olhar.
-Se eu tenho, quero que provem. - disse, objetiva – Me mandem um fio elétrico se vocês existem, patrocinadores!
E um paraquedas prateado caiu à sua frente. Ela abriu, e lá estava o fio
-Eu tenho patrocinadores – suspirou, animada, encarando o fio com um sorriso.
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