A 73 Edição Dos Jogos Vorazes

Capítulo 1 - A Escolha Dos Tributos


O distrito 7 estava completamente parado, nenhum sorriso. Não é à toa. Hoje é a Colheita, quando um menino e uma menina serão escolhidos para irem à uma arena e lutarem como animais. Tenho 14 anos, e esta será minha terceira colheita. Meu nome estaria lá 4 vezes, mas como peguei tésseras – uma quantidade de grãos e óleos – para ajudar à sustentar minha família, meu nome aparecerá 36 vezes. 36 tiras de papel com o nome Meriva McCord.

Acho que esse ano serei escolhida. Ano passado, fui sorteada, mas uma ruiva se ofereceu para ir no meu lugar. Ela perdeu.

Ás 3 da tarde, iremos à praça. A hora está chegando, então fui para o banho. Eu soube que grande parte do distrito 12 não tem água quente, muito menos chuveiros.

Faltando 10 minutos, minha família estava indo para a praça.

-Já vou, encontro vocês lá. - Eu disse, pegando a toalha ao lado da banheira.

-Posso ir com você, Meriva? - Aquela voz eu reconhecia de longe, era meu irmão gêmeo, Nadik. - Não terminei de me arrumar.

-Claro.

Então coloquei o vestido vermelho da minha falecida mãe, e esperei Nadik. Eu não sou bonita, mas me sentia diferente naquele vestido. Prendi meus cabelos castanhos com uma fita branca, quando meu irmão chegou.

-Vamos. - Disse Nadik, arrumando o cabelo em frente à um espelho.

-Sim, vamos. - Levantei, e arrumei o vestido.

Chegando na praça, Nadik e eu fomos direcionados à área de jovens com 14 anos. Tuksen Jettar, a oradora do distrito 7, subiu ao palco e disse:

-Muito bem, muito bem, hoje serão escolhidos os tributos representantes do distrito 7! Começando pelas damas.

Ela marchou até a bola de vidro com os nomes femininos, e puxou uma tira de papel. Ela foi lentamente até o microfone, me dando tempo de ouvir Nadik sussurrar no meu ouvido “boa sorte”.

-Meriva McCord! - Tuksen disse numa voz clara e limpa, que me ecoou um pouco.

Cerrei os punhos, e uma lágrima correu no meu rosto, até que comecei à andar na direção do palco. Tentei sessar as lágrimas, mas não consegui. Eu tentei, tentei mesmo, mas não consegui. Eu era um alvo fraco. Todos iam pensar isso.

-Qual sua idade, meu bem? - Tuksen perguntou, com uma cara de “essa edição será incrível”

-Catorze. - Eu disse, com uma voz quase inaudível, afastando as lágrimas com o antebraço.

-Esplêndido! Vamos ao tributo masculino – ela disse, indo em direção à urna masculina. Ela limpou a garganta. - Ery Donsen!

Era um rapaz alto, com pele clara, cabelos castanhos quase loiros e olhos azuis.

-Qual sua idade? - a mesma pergunta que fez para mim.

-Catorze. - Ele respondeu, numa voz muito mais clara do que a minha.

-Tributos, apertem as mãos! - Jettar disse, ajeitando sua peruca laranja.

O tal Ery apertou minha mão esquerda com firmeza. Ele era muito bonito, e posso estar maluca, mas ouvi ele sussurras “você é linda” durante o aperto de mãos.

Fomos direcionados ao Prédio da Justiça, para recebermos nossas últimas visitas antes de irmos para a Capitol. Fui levada à uma sala com vários móveis com capas de seda e um carpete de pelo de cabras. Vi meu pai e meus irmãos chorando do lado de fora e Nadik consolando-os, até que ele entrou na sala. Nós éramos muito parecidos fisicamente, mas ele era muito diferente emocionalmente de mim. Ele sempre estava de bom humor, nunca fechava a cara e fazia brincadeiras toda a hora. Ele ainda não tinha dito nada quando me abraçou, finalmente disse:

-Seja fria, dura, não perdoe! - ele me segurava, me fazendo olhar nos seus olhos verdes, idênticos aos meus. - Mate sem medo e volte. Você é muito forte e sabe usar um machado, tem uma boa mira… Vai arranjar aliados facilmente!

-Tá bem! - eu respondi às suas “dicas” e as lágrimas voltaram.

-Não chore, você não pode fraquejar!

-Você me promete que vai convencer o papai à te ajudar e vai ensinar Bea e Porty a caçar? - eu perguntei, secando as novas lágrimas.

Bea é minha irmã mais nova, e tem 7 anos. Mamãe morreu durante seu parto. Porty, meu irmão do meio já tem 10 e já pode caçar com Nadik.

-Prometo. Você promete que vai ganhar?

-Não posso prometer, mas vou tentar voltar viva e não num caixão de madeira. - eu disse, quando os pacificadores disseram que acabou o tempo dele, enquanto gritou “nós te amamos, meu bem!” meu bem… o mesmo modo que Tuksen me chamou.

Minha melhor amiga, Any, entrou, e disse:

-Volte, volte, por favor! Meus pais e eu vamos ajudar à alimentar seus irmãos enquanto estiver fora, certo? - certo, o pai de Any é o açougueiro do distrito.

Any então colocou no meu pescoço, um colar com um pingente de machado, que dei para ela no nosso aniversário de 3 anos de amizade.

-Use, por favor?

-Claro – eu disse, ainda no seu abraço.

Any era muito bonita. Tinha uma pele muito clara, olhos de uma estranha cor mel, lábios cheios e vermelhos e cabelos loiros, muito loiros mesmo, que pareciam até brancos de tão claros, lisos, e ondulados nas pontas.

Fomos retiradas do prédio da justiça. Any foi para sua casa, e eu para a estação de trem. Essa foi a segunda vez que fui na estação, mas a primeira que andei de trem.

Meu mentor, Mekenzie, apareceu e colocou o braço em meu ombro, enquanto as câmeras que me aguardavam focalizavam meu rosto. Eu dava meus típicos sorrisos amarelos, pensando em como eu queria sair correndo dali e pular na minha cama, me cobrir até a cabeça e chorar, até que Bea, com sua inocência e doçura, viesse me abraçar e dizer que não importa o que seja, vai ficar tudo bem.

Finalmente, pararam de me gravar e Mekenzie e eu entramos no trem. A viagem à Capitol não seria tão longa, mas duraria mais de um dia.

Fui levada à um dormitório branco, com móveis brancos e vermelhos. Não era grande como as casas da Capitol – pelo que ouvi falar –, mas era perfeito para eu dispensar todas as raivas e lágrimas que não pude dispensar em frente às câmeras. Raiva da Capitol. Lágrimas por culpa da Capitol. Maldita Capitol.

-Então vai usar a estratégia Johanna Mason? - disse Mekenzie, que entrou no dormitório enquanto eu estava com a cara enterrada no travesseiro. Mesmo eu só estando lá haviam 3 minutos, minha cara já estava toda amassada e cheia de lágrimas. Johanna Mason é uma garota do meu distrito que quando foi para os Jogos Vorazes, se fingiu de fracota e quando restavam poucas pessoas, ela matou sem remorso, até que venceu. Limpei as lágrimas do rosto e falei num tom irônico:

-Ha há, muito engraçado. - e sentei na cama, enquanto Mekenzie sentava na borda da mesma.

-E qual vai ser sua estratégia então? - Ele disse, mexendo numa bolinha de madeira do seu colar.

-Eu sei lá, você que é o mentor. - dei de ombros – Podemos resolver isso na Capitol?

-Claro, amorzinho. - e saiu do meu vagão-dormitório, fechando a porta com cuidado. - Boa noite.