8 segundos

O mundo (não) é o bastante


Supostamente, naquela noite, Emma teria seus oito segundos e partiria para a próxima temporada. Mas, ao invés disso, quatro anos depois os comprimidos para dor eram seus melhores amigos e ela não teria qualquer outra temporada em sua vida.

Não era segredo algum que aquele era o fim da carreira da maioria dos peões de rodeio. Quase todos acabavam com lesões que finalizavam seus dias de montaria ou pior, a chance de qualquer passo. Os médicos diziam que Emma tivera sorte, um ano e meio de fisioterapia e conseguia caminhar outra vez. Mas todos eram bem claros ao dizer que sua coluna não resistiria a mais pancadaria, o que incluía montar touros ou cavalos chucros.

As dores estavam sempre lá e era seguro dizer que após quatro anos, os remédios foram além da ajuda e se tornaram o verdadeiro problema. Naquele ponto, Emma não diferenciava em que ponto a dor era física e em que ponto, era apenas seu vício falando. Parecia haver duas dela, a primeira estava sóbria e constantemente brutal e irritadiça. Já a segunda, dopada e alta o suficiente para apenas sorrir e acenar.

Ruby, sua amiga, foi a primeira a ter coragem o suficiente para confrontá-la sobre isso e Emma envergonhou-se o suficiente para apenas organizar alguns pertences pessoais antes de ser colocada no carro e levada diretamente para uma clínica. Dois meses de internamento que quase a deixaram louca. Ao fim deles, Ruby estava parada na portaria, esperando por ela com um novo destino já configurado no mapa do gps.

O rancho Storybrooke ficava distante até mesmo da pequena cidade da qual herdara o nome. Embora fosse um local destinado para reabilitação química, psicológica e emocional, era chamada apenas de casa de repouso, já que de acordo com Granny – a senhora simpática que dirigia o lugar – todos que chegavam até ali, precisavam apenas repousar suas mentes e almas do peso que o mundo trazia.

Emma teria achado o discurso um pouco hippie demais, caso alguém tivesse perguntado. A questão era justamente essa, ninguém lhe perguntava mais nada, naqueles dias.

Cada morador – como Granny os chamava – possuía seu próprio espaço. Um chalé de três cômodos que contava com uma sala de estar sem eletrônicos, um quarto com cama e armário e um banheiro sem espelhos ou qualquer outro objeto que pudesse ser usado para cortes e semelhantes. As refeições eram feitas no chalé principal e quaisquer atividades que envolvessem lâminas, deviam ser realizadas com o consentimento e vigilância de um dos membros da equipe. Nesse ponto, Emma decidiu que seria uma cena no mínimo grotesca ter que raspar as pernas com alguém assistindo.

As atividades em grupo, apesar de fortemente encorajadas, não eram obrigatórias. Mas como Emma logo descobriu, as coisas se tornavam entediantes bem rápido e não demorava até que todos se vissem envolvidos em alguma das ocupações oferecidas.

Ela passou direto pela classe de pintura, recusou qualquer atividade que envolvesse sentar-se com agulhas na mão e produzir alguma vestimenta feita de fios, acenou negativamente para o bordado e evitou os jogos como xadrez e cartas. Como era esperado que acontecesse, os cavalos chamaram sua atenção.

Animais dóceis e bem treinados, eles eram responsáveis por levar as pessoas em trilhas ou simplesmente serviam de apoio emocional, parecendo contentes com as carícias, escovações ou abraços daqueles que necessitavam do carinho. Emma pensou que estaria ansiosa para montar, mas ao se aproximar do curral, suas mãos tremiam.

Mas isso provavelmente era apenas porque tivera uma noite ruim. Como todas as outras.

Os dias passavam com relativa rapidez, sempre havia algo que a ajudava a se distrair e quando pensava estar chegando em algum limite, Granny estava por perto para sentar-se ao seu lado e contar qualquer história antiga sobre si mesma. Emma agradecia por elas, eram entediantes e misteriosas o bastante para distraí-la daqueles pensamentos. Mas as noites chegavam, inevitavelmente a escuridão caia, as atividades eram encerradas e Emma se via obrigada a caminhar para o próprio chalé após o jantar, onde não havia nada além do silêncio, seus próprios pensamentos e as dores, que voltavam.

Ela caiu em uma rotina fácil de dias tranquilos e noites infernais.

— Você já viu a moradora nova? – Bella questionou, em determinada manhã.

­— Não, ela chegou quando?

Emma perguntou, apesar de não ter certeza de que receberia uma resposta.

Belle não era exatamente o tipo de paciente que o rancho recebia. Um acidente há muitos anos a deixou daquela maneira, uma criança presa em um corpo de mulher, que andava para cima e para baixo com seu boneco de pelúcia, perdida no próprio mundo de fantasia.

— Hoje – Bella sorriu, travessa – Está no chalé ao lado do seu. É muito bonita, eu quero ser como ela quando crescer.

Bastou uma rápida caminhada na direção do próprio chalé e Emma a viu. Os cabelos escuros emolduravam a pele clara do rosto e ressaltavam os lábios bonitos, pintados de um vermelho vivo. Era uma mulher de postura que conseguia exalar classe mesmo ali, descalça e sentada na varanda de uma casa de reabilitação, com um cigarro pendurado entre os dedos e um livro no colo.

— Novata.... – Emma comentou, conforme se aproximava e os olhos de mel que a mulher levantou brilhavam em tédio e fúria.

— Ótimo, outra maluca para interromper minha leitura.

Emma quase deu um passo para trás, chocada pela grosseira. Mas sendo como era, rapidamente se recuperou e sorriu, com deboche.

— Em minha defesa, eu me chamo Emma e não sou louca, só viciada – Emma encostou-se na viga que sustentava a varanda e a encarou, com o queixo levantado – E você? Qual é o seu nome e seu problema?

— Viciada, heim? – A mulher sorriu então, revelando uma linha de dentes alinhados e brancos – Viciada em que, exatamente? Bebida? Drogas? Sexo? Seja específica, por favor.

— Remédios, mas eu colocaria sexo como segundo, nessa lista – Emma suspirou – Você ainda não me disse seu nome.

— Meu nome é Regina Mills e eu estou entediada – A morena descruzou as pernas – Pode me ajudar com isso?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.