60 Minutos de Paixão

Encontros Inesperados


CAPÍTULO XXIII – ENCONTROS INESPERADOS

...{♕}...

Batuco o dedo freneticamente sobre o banco do ginásio da escola, tentando organizar meus pensamentos. Minha mente parecia funcionar em uma velocidade ainda mais torturante, relembrando minha conversa com Rachel e todas as informações indiretas que ela havia me passado.

Desde minha conversa com Dan sobre Alexia no dia da partida de basquete, que eu tentava identificar os motivos que levaram a garota a mentir sobre não nos conhecer. Ao mesmo tempo, era estranho o fato de não a reconhecermos, afinal, Alexia é uma garota bonita e inteligente. Não passaria tão despercebidamente.

E então Rachel nos revelou que Alexia está completamente diferente desde a época em que estudamos e ainda contou sobre a confissão que ela supostamente fez a mim. Por que eu não me lembro disso? Ela era tão diferente assim ao ponto de não ser capaz de me lembrar dela?

Um suspiro escapa de meus lábios, enquanto bagunço meu cabelo, frustrado por não conseguir nenhum resposta as minhas perguntas. E ainda havia um novo nome que havia sido inserido nesse caso.

Anastasia. Esse nome também não me lembrava ninguém, ainda assim, a forma como Rachel havia reagido ao revelar o nome dessa garota deixava claro que ela era quem eu deveria temer. O verdadeiro perigo da história e, pelo visto, a pessoa que deseja me prejudicar.

Mas o que eu deveria fazer quando não tenho nada além de um nome? Rachel havia deixado claro que não daria mais informações. Minha única alternativa era conseguir alguma resposta de Alexia. Mas se ela é alguém próxima a provável assassina e tem escondido sua identidade, dificilmente eu vou conseguir alguma resposta e ainda correria o risco de minhas suspeitas serem reveladas a tal Anastasia.

O que eu deveria fazer? Como lidar com essa situação? O quão próxima de mim a assassina se encontra? O quanto minha família e amigos estão seguros? O quanto... Jenny se encontra em perigo? Eu seria capaz de cumprir minha promessa que fiz a mim mesmo de protegê-la?

- Você parece desesperado.

O comentário repentino faz com que eu sobressaltasse e encarasse a visita misteriosa. Surpreendo-me ao reconhecer Alexia com o seu típico sorriso gentil e olhos verdes curiosos, aproximando-se com suavidade. Observo-a atentamente, sem saber como reagir.

— Max? – Alexia me chama mais uma vez, parecendo confusa quanto a minha falta de reação.

— Você não deveria estar na aula? – Pergunto e ela dá uma risada anasalada, enquanto se senta ao meu lado, encarando a quadra de basquete.

— Eu não deveria fazer essa mesma pergunta?

— Eu...

Interrompo minha fala com um suspiro cansado. O que eu deveria dizer para ela? Sinceramente, eu não sabia que tipo de ameaça Alexia poderia representar. E sendo sincero, minha mente ainda estava atordoada demais tentando encontrar as respostas de todos os problemas com que tenho lidado desde a morte de Nathan.

— Você está bem, Max? – Insiste Alexia, encarando-me com um olhar de preocupação. Ela se aproxima mais de mim e coloca sua mão sobre a minha. – Sei que não somos tão próximos assim, mas estou verdadeiramente preocupada com você.

— Eu estou bem. Apenas um pouco cansado por ter que lidar com o meu passado. – Respondo, forçando o sorriso. No fim, decido agir com naturalidade e observar Alexia por mais um tempo. Talvez, eu consiga alguma informação através de suas reações.

— Passado?

Alexia parecia curiosa e um pouco preocupada. Penso no que deveria dizer. Eu tinha que aproveitar a simpatia de Alexia para descobrir mais informações sobre o seu passado e essa talvez pudesse ser a oportunidade perfeita para isso.

— Rachel Sherman. – Confesso, suspirando. Aproximo-me da ruiva, que parece ter ficado tensa ao ouvir o nome da garota.

— O que tem a Rachel? – Pergunta Alexia e eu tinha que dar parabéns a ela pela expressão inocente que ela conseguiu fazer, ainda que soubesse que o fato de nos conhecermos no passado, ainda que ela tivesse garantido que não nos conhecíamos, está prestes a ser exposto.

— Nós nunca nos demos bem. – Começo e a encaro com intensidade. – Mas acho que você já sabe disso, afinal, pelo que eu fiquei sabendo, nós já estudamos juntos.

A expressão doce e inocente no mesmo instante é substituída por uma surpresa, mas isso não dura muito tempo. Ela retira a mão de cima da minha e se afasta. No mesmo instante, ela assume uma postura indecifrável. Observo a tudo com curiosidade.

— Por que você mentiu? – Insisto, mantendo o tom de voz suave. Eu precisava ser cauteloso se quisesse descobrir alguma informação sobre a tal Anastasia.

Alexia dá um sorriso resignado, enquanto encara a quadra de basquete. Por alguns minutos, ela permanece em silêncio, como se estivesse cansada da situação. Eu não fazia ideia do que se passava em sua mente.

Por fim, a ruiva suspira e se vira para mim. Seus olhos verdes trazia um brilho perigoso que faz os meus instintos gritarem para ficar em alerta. Alexia se aproxima mais de mim e uma de suas mãos acaricia meu rosto, obrigando-me a encará-la.

— Eu era ignorada por todos daquela escola, sofri todo tipo de humilhação, fui rejeitada por você e cheguei ao ponto mais fundo do poço. Quando sai de Star City, eu estava determinada a enterrar o meu passado e renascer como uma nova Alexia. Uma garota muito mais divertida, bonita e sociável. É por isso que eu menti. Se eu falasse a verdade a vocês, teria que lidar com todo aquele passado doloroso que eu resolvi deixar para trás. – Responde Alexia, aproximando o rosto do meu. – Mas mesmo odiando o meu passado, eu nunca fui capaz de superar meus sentimentos por você. Na verdade, desde que voltamos a nos encontrar, eu sinto que eles estão ainda mais intensos.

— Por que eu não me lembro de você? – Pergunto, observando-a com atenção. Por algum motivo, suas palavras mais se assemelhavam ao silvo de uma víbora.

— Essa parte me deixa um pouco frustrada, mas eu não o culpo. Eu era bem diferente do que sou hoje em dia. – Comenta Alexia, enquanto seus olhos exibiam um brilho intenso de sentimentos que eu não conseguia identificar. – Eu não usava roupas da moda, estava sempre escondida na biblioteca, tinha uma péssima postura e meu nariz era horrível. Além disso, havia os óculos de grau fundo de garrafa e o aparelho. As pessoas me chamavam de Quasimodo, em homenagem ao Corcunda de Notre-Dame.

Arregalo os olhos diante da informação. As memórias de um pouco mais de três anos atrás retornam a minha mente. E ao ver minha reação, Alexia sorri mais, ainda acariciando meu rosto.

Quasimodo era o apelido dado pelas crianças a garota que vivia isolada em nossa escola. Ela era chamada assim mesmo antes de Dan e eu entrarmos na Verdant High School. Até mesmo os professores a chamavam assim, então eu não havia gravado seu nome verdadeiro.

Eu não tive muito contato com ela, porque enquanto eu me sentava no fundo da sala com os meus amigos, Quasimodo vivia na primeira cadeira de frente para os professores. O máximo contato que eu tive com ela foram nas vezes em que eu repreendia meus amigos por implicarem com ela.

Quasimodo nunca abria a boca e vivia com a cabeça baixa, além de andar encurvada. Não foram poucas as vezes em que eu a vi ser vítima de algum aluno babaca na escola e tentava ajudar, mas ela parecia ter medo de mim e logo depois que eu espantava a pessoa que a importunava, ela fugia.

Assim, eu nunca troquei muitas palavras com ela e nunca fui atrás em insistir em uma amizade. Até que um dia, ela resolveu se declarar com uma carta para mim. Acontece que antes da carta chegar nas minhas mãos, Nathan a encontrou e leu para todos da sala.

Isso ocasionou em muitas risadas. Eu ainda tentei controlar a situação, mas como um adolescente é capaz de conter mais de trinta adolescentes entre catorze e quinze anos que encontraram a oportunidade perfeita de acabar com a autoestima das pessoas?

Eu me lembro dela ter fugido da sala e de ter ido atrás dela. Ela chorou bastante e eu ainda tentei consolá-la, mas no fim, eu tive que rejeitá-la, porque não podia corresponder a seus sentimentos. Quasimodo ainda havia me implorado para ao menos beijá-la, mas como eu poderia dar falsas esperanças a ela?

O grande problema é que o babaca do Nathan fez questão de gravar tudo e colocar na internet, o que piorou ainda mais a imagem dela na escola. Uma semana depois ela foi transferida de escola e nunca mais eu a encontrei.

— Você... mudou bastante. – Comento, ainda embasbacado.

— Você era o único que me tratava como um ser humano naquela escola. Como um cavalheiro, você sempre brigava com aqueles que implicavam comigo e por causa disso, eu me apaixonei por você. – Revela Alexia, parando de mexer em meu rosto. Ela suspira e se afasta. Sua expressão era sombria. – Eu demorei muito para criar coragem para me declarar para você. Obviamente, você não foi capaz de corresponder aos meus sentimentos. Depois daquele episódio de humilhação por parte de Nathan, eu mudei de escola e resolvi me tornar uma pessoa diferente. Aprendi a me vestir, passei a usar lentes de contato, arrumei a minha postura, tirei os aparelhos odontológico e fiz uma cirurgia para arrumar o meu nariz, que era horrível. O nome Quasimodo ficou para trás e eu finalmente me tornei alguém que não poderia mais ser humilhada por ser feia, nerd e antissocial. Eu vou me tornar uma grande modelo e mostrar que todos estavam errados quando criticavam a minha aparência.

— Alexia...

— E eu também irei conquistar o seu coração, Max. Ainda que não goste de mim agora, eu não vou desistir de você como no passado. Eu tenho confiança em mim mesma agora e eu sei que em algum momento, meus sentimentos irão tocar o seu coração. E quando esse momento chegar, estarei de braços abertos para te receber e finalmente serei capaz de dar a você todo o amor que eu tenho guardado desde aquela época. – Alexia me interrompe, sorrindo com determinação.

— Eu... eu sinto muito pelo que aconteceu com você, Alexia. Mas... eu acho que você deve seguir em frente quanto ao que sente por mim. Você merece alguém melhor e que te ame intensamente. – Digo com sinceridade e ela dá uma risada amarga. Ela de repente coloca a mão no bolso da calça e por alguns instantes, vejo o ódio presente em seus olhos. – Alexia...?

De repente, o barulho da porta do ginásio batendo chama a nossa atenção. Por não esperarmos visita, pulamos assustados e vemos o zelador da escola entrando com o seu carrinho de materiais de limpeza.

— Ei! O que vocês estão fazendo aqui? Deveriam estar em aula! – Grita o zelador de maneira mal-humorada. – Saiam daqui!

— É melhor a gente ir. – Comenta Alexia, levantando-se do banco do ginásio.

— Alexia. – Chamo, pegando em seu pulso antes que ela saísse. A ruiva me encara em dúvida. – Você está bem?

Ela abre um pequeno sorriso, que eu não sabia identificar o que queria dizer e posso ver seus olhos me analisarem com atenção. Por fim, a garota assente, concordando.

— Não se preocupe. Eu vou ficar bem. Eu garanto. – Responde, puxando o braço de leve para que eu a soltasse.

A garota então dá as costas e segue seu caminho sem olhar para trás. O zelador ainda grita alguns xingamentos, mas eu estava atordoado demais pela minha estranha conversa com Alexia para dar ouvidos ao homem.

Ela então deixa o ginásio com passos firmes e postura ereta, completamente diferente da garota de anos atrás. Respiro fundo e tento organizar meus pensamentos. Eu ainda tinha muito o que investigar e algo me diz que esse passado que compartilhamos é muito mais sombrio do que eu imagino.

[...]

Após a conversa com Alexia na escola, ela continuou a agir na sala como se nada tivesse acontecido. Eu, por outro lado, me mantive alheio ao que acontecia ao meu redor pelo restante das aulas.

Eu não conseguia evitar me sentir inquieto com a situação frustrante em que me encontrava. Era como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre a minha cabeça e mais uma vez eu tivesse voltado à estaca zero dessa investigação que por alguns dias, eu realmente pensei que estivesse chegando ao fim.

Ao término das aulas, meu primo finalmente teve a chance de questionar meu comportamento. Eu não estava realmente surpreso. Dan me conhecia bem o bastante para saber que havia algo de errado comigo.

Assim, aproveitando que precisávamos nos encontrar com minha mãe para fazer compras – algo que prometemos a ela no café da manhã -, nós nos despedimos de nossos amigos de maneira breve e não demorou muito para que Dan me arrastasse para o carro para que tivéssemos privacidade para conversar.

— Você está falando sério? A Alexia é a Quasimodo? – Indaga Dan em estado de choque, assim que termino de contar toda a conversa que eu tive com Alexia no ginásio da escola.

— Sim. Eu quase não acreditei. – Comento, suspirando cansado.

— Bem, de certa forma, faz algum sentido o fato de não ter a reconhecido, mesmo sentindo que seu rosto me era familiar. – Comenta Dan, ajeitando os óculos. – Mas eu ainda não consigo confiar nela. Algo me diz que ela ainda está escondendo algo de importante.

— Eu também sinto isso, mas ao mesmo tempo, preciso ter cuidado. Alexia é a nossa melhor chance de encontrar Anastasia, já que pela reação de Rachel, ela provavelmente não vai falar mais nada. E nós não podemos chamar muita atenção. Não sabemos se Anastasia tem algum comparsa que está por perto. Enquanto não pegarmos a assassina, as vidas de todos que são importantes para mim estarão em perigo novamente. – Respondo e posso sentir o olhar preocupado de Dan sobre mim.

— Não me diga que você vai começar a afastar as pessoas novamente com a desculpa esfarrapada de proteção.

A fala melancólica de Dan faz com que eu desviasse o olhar da pista para o encarar. Seus olhos exibiam tanta frustração que eu acabo me sentido culpado por ter o deixado no escuro quando ocorreu a morte de Nathan. Eu o afastei e tentei lidar com tudo sozinho, ainda que no fim, eu tenha o envolvido de forma inconsciente.

— Por favor, não faça isso. Eu entendo que esteja com medo de que algo aconteça com a gente, mas você não tem que carregar tudo sozinho, Max. É frustrante e agonizante te ver lutando para lidar com toda a merda que está sendo colocada sobre você e não poder fazer nada. – Dan continua a falar, suspirando cansado. – Eu sei que não sou tão forte e corajoso como você, mas... poderia confiar um pouco mais em mim?

— Eu confio em você. – Garanto, sem qualquer hesitação. – E não diga idiotices como não ser forte ou corajoso como eu. Você é incrível, Dan, e não vou deixar que se menospreze dessa forma.

— Mas...

— Sem “mas”. Minhas atitudes nunca tiveram nada a ver com falta de confiança ou pensamentos ridículos como te achar fraco. – Interrompo o outro com firmeza. – Eu estava com medo. Na verdade, eu ainda estou com medo. Naquele momento, pareceu muito mais fácil me afastar e aguentar tudo sozinho do que ter que lidar com a possibilidade de você se machucar por minha causa ou se decepcionar comigo.

— Isso jamais aconteceria. – Afirma Dan com a mesma determinação que a minha. Sorrio e aquiesço, mostrando que eu entendia.

— De qualquer forma, agora as coisas estão diferentes. – Respondo, entrando no estacionamento do shopping que havíamos marcado de encontrar minha mãe. A imagem de Jenny vem a minha mente e eu sinto meu coração se agitar. – E eu sinto que ainda que eu quisesse me afastar, eu jamais conseguiria.

— Entendo. – Sussurra Dan, encarando-me daquela forma sugestiva, indicando que sabia exatamente o que se passava em minha mente.

— Nós precisamos mesmo ir às compras com a minha mãe? Não podemos dar uma desculpa qualquer para só almoçar e ir para casa? – Pergunto, mudando de assunto, enquanto estaciono o carro.

— Está querendo despertar a ira de tia Felicity? – Questiona meu primo, cruzando os braços. – Nós prometemos que iriamos as compras com ela. Não podemos mais voltar atrás de nossa palavra. Além disso, se você disser que não vai, tia Felicity vai querer saber o motivo. Vai contar para ela o que aconteceu hoje na escola?

Suspiro e coço minha nuca, sentindo uma incômoda dor de cabeça começar a se fazer presente. Se eu soubesse que o dia seria tão desgastante, jamais teria concordado no café da manhã em acompanhar minha mãe as compras depois da escola.

— Não. Ainda não. – Respondo, imaginando o caos que minha mãe faria para arrancar informações de Rachel e Alexia. – Eu quero investigar sozinho primeiro. Agora que o vídeo das câmeras de segurança com o rosto da verdadeira assassina, eu não acho que a tal Anastasia se arriscaria tanto em aparecer. Além disso, eu também preciso investigar com cuidado a Alexia. Ela não parece que faria algum mal a mim, já que parece determinada a me conquistar, mas o melhor a fazer é ficar de olhos abertos.

— E você vai contar a Jenny sobre esse interesse da Alexia em você? – Indaga meu primo, encarando-me com aquele sorrisinho repleto de significados. Bufo e saio do carro. Ele ri e desce do veículo. – O quê? Imagina o quanto vai ser divertido vê-la com ciúmes.

— Você sabe que ela é a sua namorada, certo? Para de falar merda. – Resmungo, travando o carro. Passamos a andar em direção a entrada do shopping. – Além disso, a Jenny não gosta de mim dessa forma.

— Eu... estava pensando em terminar esse namoro de mentira. – Revela Dan, surpreendendo-me. Paro de andar e o encaro, sem acreditar em suas palavras. Ele parecia estar determinado. – Não é justo atrapalhar o amor de vocês por causa dos meus motivos egoístas. Eu sei o que vocês não acham que é um incômodo e sei que vocês têm o acordo idiota de não se envolverem, mas seja sincero, Max. Você está apaixonado por ela. Todos sabem. Rachel mesmo declarou isso para todos. Jenny também não é exatamente a pessoa mais discreta do mundo quanto aos seus sentimentos por você.

— Você... vai assumir? – Pergunto com preocupação.

— Bom, em algum momento eu terei que fazer isso, mas confesso ainda não estar seguro quanto ao momento em que contarei a verdade para nossa família. – Confessa o rapaz, suspirando. – Mas o fato é que eu acho que ninguém realmente acredita no meu namoro com a Jenny. Então apenas podemos dizer que vimos que combinamos melhor como amigos.

— Mas e se a megera decidir obrigar você a se casar? – Pergunto, entrando no shopping com meu primo.

— Quando esse momento chegar, eu pensarei nisso. Por hora, eu quero focar na saúde do meu pai, em encontrar a assassina do Nathan e garantir que você finalmente tenha a sua liberdade. – Responde o outro, dando de ombros. – Então, eu ainda vou conversar com a Jenny, mas pretendo terminar esse namoro falso antes da viagem escolar.

— Você tem certeza disso? – Indago e ele ri, puxando-me para acelerar os passos.

— Sim. Eu tenho certeza disso. Agora vamos nos encontrar com tia Felicity, que ela já deve estar para enlouquecer com a nossa demora. – Responde Dan, sorrindo animado. – E eu estou morrendo de fome.

Suspiro, dando-me por vencido, mas faço o que é sugerido pelo meu primo. Felizmente, não demoramos a encontrar minha mãe. Após muita reclamação da mulher pelo nosso atraso, nós almoçamos e seguimos para as tão esperadas compras.

Confesso que no início não estava muito animado em ficar andando de loja em loja, procurando roupas para nossa família, mas era sempre divertido passar um tempo com minha mãe e meu primo, então logo estou envolvido em risadas e brincadeiras com os dois, sem nem mesmo me lembrar das dores de cabeça de mais cedo.

— Eu vou experimentar esse vestido. – Avisa minha mãe, levantando um vestido azul. – Esperem aqui, que eu quero a opinião de vocês.

— Tudo bem. – Concorda Dan, enquanto a gente olhava a arara com algumas camisas, em busca de algo que agradasse meu primo.

— O que acha dessa? – Pergunto, erguendo uma camiseta cinza com uma águia estampada. – Ela é bem bonita.

— Vai ficar melhor em você do que em mim. – Afirma meu primo, pegando a camiseta para ver melhor. – Deveria experimentar.

— Você sabe que eu detesto experimentar roupa. – Faço careta diante da sugestão de Dan, que ri e assente.

- Eu estava querendo algumas camisas mais claras. Minha mãe está reclamando que eu só uso roupa escura...

— Dan? Max? – Uma voz feminina conhecida por nós, interrompe meu primo. Assustados com a coincidência, meu primo e eu arregalamos os olhos e viramos para trás. – Que coincidência encontrar vocês por aqui.

— Sra. Dawson? – Cumprimento, sorrindo nervoso. – Que surpresa a ver por aqui. Também resolveu fazer compras hoje?

— Sim! Eu estou aproveitando meu dia de folga para fazer algumas compras para as crianças. – Responde Ally, sorrindo simpática, enquanto ajeita as três sacolas de compras que estavam em suas mãos. – E vocês?

— Ah, nós...

— Mãe, eu encontrei... Max? Dan? O que fazem aqui?

Jenny aparece de repente com uma blusa em mãos, impedindo que Dan respondesse a sua sogra de mentira. Ela arregala os olhos e nos encara, em desespero.

— Ah, Jenny. Eu já ia agora mesmo te chamar. – Comenta Ally, passando o braço livre por cima dos ombros da filha. – Parece que Max e Dan tiveram a mesma ideia de que a gente de vir fazer compras.

— Mesmo? – Jenny dá um riso nervoso, provavelmente preocupada com o que poderia acontecer, já que ela sabia que sairíamos com minha mãe. – Que coincidência.

— Bem... – Começo, coçando a nuca em busca de uma forma de afastar Ally e minha mãe o mais rápido possível. – De qualquer forma, por que não vamos para a praça de alimentação para comer alguma coisa?

— Excelente ideia! – Concorda Dan, devolvendo a camiseta para a arara de roupas da loja. – Eu conheço uma cafeteria ótima aqui no shopping. Por não vamos lá?

— Ótimo. Eu estava pensando em tomar chocolate quente. Vamos, mãe. – Jenny coloca a blusa que tinha em mãos sobre uma arara qualquer próxima de nós e passa a puxar o braço da mãe.

— O que vocês estão aprontando? – Indaga Ally de maneira desconfiada.

— Nada! – Afirma Jenny, fingindo-se de ofendida. – A gente não pode querer tomar café com você?

Ally nos encara em análise. Apesar de tentarmos agir de forma natural, o fato de minha mãe estar a uma distância de apenas alguns metros e com a possibilidade de aparecer a qualquer momento era o suficiente para que o desespero estivesse estampado em nossos rostos.

— Certo. – Felizmente, Ally parece concordar com a nossa ideia, ainda que bastante desconfiada de nossas atitudes suspeitas. – Já que insistem tanto. Vamos então nessa cafeteria.

No entanto, antes que tivéssemos a chance de sair da loja, a porta do provador em que minha mãe estava se abre e a voz de minha mãe chamando nossos nomes torna a nossa fuga impossível.

— Dan, Max. O que vocês acham? – A mulher aparece usando o vestido azul de manga longa, que ia até um pouco acima do joelho. E como era de se esperar, não demora muito para que ela reconheça Jenny. – Fernanda? Ally? O que fazem aqui?

— Felicity? Ah, você estava aqui? – Ally sorri ao ver minha mãe. – Quanto tempo! Como você está?

— Eu estou bem e como você está? – Pergunta minha mãe, aproximando-se compartilhando um sorriso animado com a mulher. – Veio fazer compras com a Fernanda?

— Fernanda? – Ally questiona confusa e eu sinto o gelo subir a minha espinha. – Você não quis dizer Jenny?

Encaro meu primo e Jenny com o coração em mãos. Minha mãe parecia tão confusa quanto Ally e eu não fazia ideia de como contornar aquela situação. E quando um sorriso perigoso surge nos lábios de minha mãe, eu tive a certeza de que era tarde demais para voltar atrás. Nós teríamos que contar a verdade.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.