60 Minutos de Paixão

A Família Queen


CAPITULO VI - A FAMÍLIA QUEEN

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A família Queen estava longe de ser uma família comum e fácil de lidar. Quanto mais tempo eu passava na presença de Moira Queen, mais eu entendia o que Max quis dizer com a avó não ser exatamente o tipo de senhora gentil e superprotetora como, inocentemente, eu havia estereotipado.

Enquanto o almoço era servido pelas empregadas da família, eu sentia o olhar perigoso da mulher sobre mim. O clima era desconfortável. Eu me sentia em uma espécie de campo minado, podendo pisar em uma bomba a qualquer momento. Era nítido como todos se sentiam ansiosos e incomodados, ao mesmo tempo em que pareciam temer dizer alguma coisa e acabar piorando a situação.

No entanto, com os poucos minutos de contato com a família de Daniel e Max, eu havia notado as diferenças gritantes de suas personalidades. Diferente de minha família e dos meus tios de consideração, que possuíam a gentileza, carinho e a alegria presente em seus lares, os Queen pareciam viver em uma realidade quase que paralela.

Moira Queen poderia ser representada facilmente por uma ditadora. A postura aristocrática, o sorriso ferino e o olhar presunçoso, como se soubesse exatamente o que fazer para destruir a vida de uma pessoa, fazia com que qualquer um a sua volta se sentisse intimidado. Era como se ela fosse uma vilã que está sempre a um passo à sua frente, pronta para te fazer implorar por salvação, enquanto ri de seu desespero.

Por outro lado, havia também Felicity Queen, que diferente do restante da família, não se deixa ser intimidada pela sogra. Assim como Max, ela possui uma personalidade forte e parecer ser tão mãe coruja quanto a minha. Eu havia me simpatizado e muito com a loira. Os olhos azuis parecem carregar uma gentileza e determinação genuína. Felicity é exatamente a pessoa que eu gostaria de ser se pudesse escolher.

Os pais de Daniel eram gentis também, mas pareciam não saber exatamente como se comportar na frente de Moira. Assim como meu namorado de mentira, é evidente o quanto eles temem a matriarca da família. Eles provavelmente apenas se acostumaram a abaixar suas cabeças diante das decisões da mulher e agora estavam tendo dificuldade para lidar com essa “rebeldia” de ir contra as vontades dela.

E por fim, observo Oliver Queen. Max havia puxado sua aparência do pai, além de ter algumas manias semelhantes. Eu não consigo identificar com clareza a personalidade do tio de Daniel, mas o pouco que ele havia demonstrado era o bastante para saber o quanto ele preza por Felicity e Max. Apesar de parecer receoso em desafiar a mãe, ele não hesita de fazer, se for para defender a esposa e o filho. Ele me lembra um pouco da personalidade de minha mãe. Discreto e observador, ele parece saber exatamente quando agir. Mas o sorriso bonito e o olhar atraente do homem me levam a crer que antes de se casar, ele deveria ser tão mulherengo quanto o filho.

— Daniel, você viu como Michelle é bonita? – Pergunta Moira, interrompendo o silêncio que se fazia no momento.

Daniel para de cortar a carne em seu prato e levanta o olhar para encarar a avó, como se tentasse entender aonde ela queria chegar com aquela pergunta. Ele desvia o olhar para Max, quase como se buscasse algum apoio. O mais velho revira os olhos, provavelmente acostumado com a personalidade ácida de Moira Queen.

— Sim, vó. A Michelle é muito bonita. – Concorda Daniel, cauteloso.

— Se a acha bonita, por que não se casa com ela? – Pergunta a mulher, tomando um pouco de suco em seguida, como se estivesse apenas perguntado sobre o clima. – Eu tenho certeza de que em termo de beleza e riquezas, ela seria capaz de lhe satisfazer. Além disso, ela seria capaz de te dar herdeiros fortes e inteligentes.

Eu não conseguia acreditar no comentário de Moira. Meus pais já haviam contado muitas histórias sobre as pessoas egocêntricas e excêntricas que apareciam em seus trabalhos, mas nenhuma delas chegavam perto da matriarca da família Queen. Daniel encara a avó, perplexo com a fala da mulher, que claramente não se importava nenhum pouco de fazer comentários absurdos como esse na frente da provável namorada do neto.

— Mãe! – Repreende Thea, parecendo envergonhada pela mãe.

— Eu realmente espero que eu tenha apenas esquecido que bebi álcool de manhã e estou ouvindo demais e não que você está falando absurdos como esses, Moira. – Afirma Felicity, encarando a sogra com desprezo.

— Será que é assim que se descobre que está na hora de colocar os idosos no asilo? Porque eu tenho quase certeza de que minha avó perdeu completamente o juízo e está caducando. – Alfineta Max, com uma fúria que jamais imaginei que veria do rapaz que sempre aparentava estar de bem com a vida e não se importar com nada além de seu primo e as garotas que se jogam sobre ele.

— Abaixe seu tom de voz comigo, Maximus! Eu não sou uma das vagabundas com que você dorme. Eu exijo respeito! – Responde Moira, furiosa.

— Para se exigir algo, é preciso que tenha moral para isso, vovó. – Retruca Max, ironizando. – A namorada de Dan veio conhecer nossa família e você simplesmente resolve falar de outra garota para ele? E o pior de tudo, você não tem respeito nenhum por ela. Como tem coragem de dizer absurdos como esse? Fernanda não tem obrigação alguma de ouvir essas merdas que você acabou de falar. E é por conhecer tão bem garotas como as “vagabundas com quem eu durmo”, como você mesma disse, que eu posso garantir que essa garota é muito mais linda, gentil, amável, humana e inteligente que essa tal Miranda!

— Michelle, Max. – Sussurra Daniel, revirando os olhos, mas ele parecia bastante satisfeito com as colocações do primo. – E ele está certo, vó. Não vou aceitar que ofenda a Fernanda dessa forma. Ela é a minha namorada. Eu não vou trocá-la pela Michelle. Ainda que Michelle seja uma mulher linda e tenha inúmeras qualidades, eu gosto da Fernanda.

Apesar de me surpreender com a defesa de Daniel e estar bastante agradecida por ele ser capaz de enfrentar a própria avó para me defender mesmo temendo tanto decepcionar a família, são as palavras de Max que se fixam em minha mente e em meu coração. Engulo em seco e aperto meus punhos, sentindo que meu coração poderia sair de meu peito a qualquer momento.

— Eu não sei nem como eu ainda me surpreendo com sua falta de noção, Moira. – Repreende Roy, encarando a mulher com rancor. Ele se vira para mim e parece extremamente envergonhado. – Eu sinto muito por isso, Fernanda.

— Não... Tudo bem. – Respondo, ainda atordoada.

— Se for para falar bobagens como essas, mãe, eu peço que permaneça calada. – Pede Oliver com seriedade.

— Essa casa é minha, Oliver. Eu não vou me calar, apenas porque vocês querem. Se estiverem incomodados, então vocês que se mudem daqui, mas estejam preparados para lidar com as consequências, principalmente, você e sua esposa. – O tom chantagista e ferino de Moira parece ser o bastante para deixar Oliver e Felicity desconfortáveis.

Max encara os pais e, surpreendentemente, eu vejo culpa em seus olhos. Desvio o olhar para Daniel, esperando que ele pudesse me explicar o motivo dos três mais corajosos da família ficarem tão intimidados assim com uma frase tão insignificante, no entanto, assim como eu, o garoto parecia confuso.

— Tudo bem, pessoal. Já chega de brigas e discussões desnecessárias. Por favor, poderíamos apenas almoçar tranquilamente e evitar assuntos que possam assustar a Fernanda? - Pede Thea, dando um sorriso preocupado.

— Gina. – Chama Moira, ignorando o pedido da filha. A governanta da casa não demora a aparecer. – Prepare a minha refeição. Eu irei almoçar no meu escritório. Não há mais nada que eu queira ver aqui.

— Sim, senhora. – Responde a mulher, retirando-se da sala de jantar.

Moira se levanta e segue para o que supus ser seu escritório, sem se despedir ou dar qualquer outra explicação. A família parece suspirar aliviada, mas mesmo sem a presença da mulher, todos ainda estavam tensos, em especial, Max, Oliver e Felicity. Provavelmente, a matriarca Queen havia os feito lembrar de algo que evitavam pensar.

— Eu realmente sinto muito pelo que minha mãe disse, Fernanda. Espero que não fique magoada pelas palavras duras dela. – Lamenta Thea, suspirando em seguida.

— Não se preocupe, senho... Digo, Thea. – Corrijo-me ao ver a careta se formar em seu rosto, quando começo a chamar de senhora. – Eu não me ofendi, apesar deter ficado bastante surpresa. Mas estou feliz por finalmente os conhecer. Dan falou bastante de vocês, inclusive de sua saúde, senhor Harper. Eu realmente espero que se recupere o mais breve possível.

— Eu já me sinto muito melhor com a sua presença, Fernanda. Saber que meu filho está namorando uma garota tão educada e bonita, me deixa muito feliz. Estou muito orgulhoso de você, filho. – Responde Roy Harper, sorrindo com sinceridade para o filho.

Daniel sorri surpreso, mas é possível ver um brilho de culpa em seus olhos. Max o encara com preocupação. E de certa forma, eu o entendia. O pai dele estava orgulhoso por algo que não era verdadeiro. Orgulhoso por uma parte que não pertence ao garoto. Era nítido a felicidade dos pais de Daniel pelo filho estar apresentando a namorada a família. Toco na mão de meu namorado de mentira e sorrio, tentando transmitir alguma confiança a ele.

Surpreso, Daniel me encara e suspira, sorrindo mais levemente. Ele corresponde ao aperto de mão e seus olhos azuis brilham em agradecimento. Ainda que eu não concordasse com a sua decisão de mentir para a família e esconder a verdade de todos, eu entendia que ele não tinha muitas opções. Ninguém deveria ser obrigado a esconder quem realmente é ou ter que se casar com alguém que jamais conseguirá conquistar seu coração. Por esse motivo, por mais culpada que me sinta por estar mentindo para pessoas tão amáveis como os pais de Max e Daniel, eu faria o meu melhor para ser a namorada perfeita.

[...]

O almoço finalmente havia chegado ao fim e, de alguma maneira, tudo havia acabado bem. Depois que a mãe de Daniel começou a contar algumas histórias divertidas sobre a infância do filho, o clima amenizou um pouco. Felicity logo se empolgou e decidiu que deveria me mostrar as fotos de seus meninos – como ela mesmo havia dito – de quando eles eram crianças. Claro que isso gerou protestos dos rapazes e me divertiu bastante ver suas expressões envergonhadas a cada comentário feito pelas mães sobre as fotos pelados ou sobre as histórias de cada foto que consideravam importante.

Oliver e Roy permaneceram quietos, observando a família com sorrisos gentis em seus rostos. Sem a presença de Moira, eles pareciam muito mais à vontade e nem mesmo parecia que havíamos presenciado algumas discussões calorosas mais cedo. Isso me fez imaginar que cenas como aquela era bastante comum na rotina da família Queen.

Quando, para o alívio dos rapazes, todos as fotos já haviam sido mostradas, rapidamente, Max e Daniel me arrastaram para o andar superior da casa, onde ficavam os quartos da família. Eu ainda ria bastante dos comentários divertidos de Felicity, quando entramos no quarto de Daniel.

— Vocês eram bebês tão adoráveis. – Comento, provocando um revirar de olhos de Max.

— Eu não sei porquê me mãe resolveu mostrar aquelas fotos. Isso foi tão vergonhoso. – Responde Daniel com o rosto avermelhado.

— Pelo menos tia Thea não ficou comentando sobre o seu pênis ser a minhoquinha mais fofa quando você nasceu. Tenho certeza de que minha mãe fez isso apenas para me deixar envergonhado. – Resmunga Max, o que me faz ri ainda mais ao lembrar do rosto de Max ficando vermelho e como ele tentou de todas as formas pegar seu álbum de fotos e jogar pela janela no mesmo instante.

— Ah, não foi tão ruim assim. Vocês eram realmente bebezinhos muito fofos. – Afirmo, dando de ombros, o que faz os dois garotos suspirarem frustrados. Desvio meu olhar dos primos e observo o quarto de Daniel. – Uau, Dan. Seu quarto é incrível!

— Obrigado. – Agradece o rapaz, sorrindo gentil.

Havia diversos quadros na parede de cores e formas variadas, colorindo as paredes acinzentadas. A grandiosa varanda que havia no quarto tinha vista para a piscina quase olímpica da mansão. O quarto tinha também uma estante com diversos livros sobre arte e publicidade. A parede de sua cama era preta e uma frase escrita na cor branca com uma bela grafia.

— O inesquecível nunca surge de uma fórmula. – Leio a frase em voz alta.

— Bill Bernbach. Ele foi o autor dessa frase. – Explica Daniel, quando eu o encaro confusa. – Ele foi um gênio da publicidade. Como a maioria dos grandes homens da história, Bill era um homem visionário, dono de argumentos poderosos e que não se conformava com a mediocridade. Alguns diziam que ele era presunçoso, mas ele com certeza estava a frente de seu tempo. Ele simplesmente foi responsável por criar a melhor campanha publicitária do século XX. – Comenta entusiasmado. Continuo a encarar o rapaz, surpresa como ele parecia fascinado por esse assunto. - Ah, me desculpe, eu devo estar te deixando entediada.

— Não. De forma alguma! Eu apenas estou surpresa que saiba tanto sobre publicidade. Eu não sabia que se interessava tanto por isso. – Digo com sinceridade.

— Dan ama tudo que envolva arte e principalmente a publicidade. Ele sonha em um dia trabalhar na Havas Life em Paris, que é uma agência de publicidade e comunicação. – Conta Max, sorrindo levemente. – Eu não conheço ninguém que saiba mais sobre arte e publicidade, que ele, ao ponto de conseguir passar horas conversando sobre isso. E ele também é um ótimo artista. Arrisco dizer que é um dos melhores pintores da atualidade. Foi ele mesmo que fez essas pinturas que estão espalhadas pelo quarto dele.

— Max! – Repreende Daniel, envergonhado pelos elogios do primo.

— O quê? Eu estou apenas dizendo a verdade. – Afirma Max, sem esconder o orgulho que sente ao falar do primo.

— Max tem razão, Dan. Você realmente é muito talentoso. Esses quadros são lindos. – Concordo, aproximando-me do que havia me chamado mais atenção. O quadro possuía traços nas cores rosa, vermelho e amarelo que se misturavam e formavam flores quase abstratas. Havia uma família brincando ao fundo. O céu estava dividido entre o pôr-do-sol e as estrelas invadindo o cenário. – São realmente intrigantes e curiosos. Eu não sei muito sobre pinturas, mas posso dizer que a gente se sente instigado a entender o que você quis passar com essas imagens. É surpreendente.

— Obrigado, Jenny.

Daniel agradece, parecendo surpreso e ao mesmo tempo, tocado pela minha sinceridade. Volto a encarar o quadro, encantada com as cores e as formas. A sensibilidade que ele possui para transmitir calmaria e felicidade em seu quadro é única. Eu tenho certeza de que tia Trish compraria inúmeros quadros desses para sua galeria, se tivesse a chance de conhecer o trabalho de Daniel.

Batidas na porta chamam nossa atenção. Thea abre a porta e nos lança um sorriso amável. Ela se aproxima e, assim como fazíamos antes, observa os quadros que o filho havia pintado. Quanto mais eu a observava mais eu encontrava semelhanças entre ela e Daniel. Thea então se vira para o filho mais uma vez e sorri.

— Fernanda, você se importaria que eu roubasse Dan de você por alguns minutos. O pai dele e eu queríamos conversar um pouquinho com ele.

— De forma alguma, Thea. – Afirmo, sorrindo. – Por que não me mostra o restante da casa, Max?

— Claro. – Concorda Max, observando a tia e o primo. – Quando terminar, nós estaremos no jardim.

— Tudo bem. – Responde Daniel, sorrindo.

Max e eu saímos do quarto junto com Daniel e Thea, que seguiram para o local onde Roy deveria estar. Observo discretamente a tia e o primo de Max indo na direção oposta à nossa, tentando entender um pouco da relação deles, que apesar de se darem bem, parecem um pouco distantes para mãe e filho.

— Aonde você quer ir primeiro? – Pergunta Max, despertando-me de meus devaneios.

— Que tal o seu quarto? Imagino que seja perto daqui. – Sugiro, dando de ombros. Eu realmente não me importava por onde a gente deveria começar.

— Eu não sabia que você era tão apressada assim, Fernanda. Ao menos me pague um jantar primeiro. – Ironiza o outro, fazendo com que eu revirasse os olhos. – Eu não sei que tipo de homem pensa que eu sou, mas jamais trairia meu primo assim.

— Cala a boca. – Resmungo, fazendo ele ri. Por algum motivo, seu riso descontraído faz meu coração bater mais forte. Desvio o olhar do rapaz e encaro o piso do corredor. – Eu apenas estou curiosa para saber como é o quarto de um cara como você.

— Um cara como eu? – Repete Max com um sorriso cínico em seus lábios. – Você quer dizer, como é o quarto de um cara bonito, inteligente, charmoso e completamente irresistível?

— Eu quis dizer, o quarto de um cara convencido, cínico e mulherengo. – Retruco, mesmo sabendo que ele não estava completamente errado em sua própria descrição.

— Desse jeito você machuca meu coração, Fêzinha. – Encena Max, colocando a mão no coração, como se realmente estivesse magoado. Reviro os olhos diante de seu falso drama e ele ri mais uma vez, antes de abrir a porta do quarto ao lado do de Daniel. – Mas, para a sua infelicidade, o meu quarto é normal. Eu não sou bom em artes como Dan e não tenho paciência para decoração. Então, minha mãe acabou sendo a responsável pela decoração dele.

Observo o quarto, surpresa pela beleza e organização. Aquele quarto, definitivamente, estava longe de ser normal. A primeira coisa que noto é a grandiosa estante de livros de madeira escura, que diferente da que eu havia visto no quarto de Daniel, possui diversos livros, de diversos gêneros, organizados por ordem de cores. Havia tantos livros, que a estante tomava uma parede inteira e ainda havia uma escada de correr. Próxima deles, há uma poltrona confortável da cor preta com um abajur simples da mesma cor para leitura.

O computador moderno contrastava logo ao lado com a escrivaninha também de madeira escuro e uma cadeira igual a que Josh queria para usar para jogar no computador. As paredes eram todas cinzas claro, com exceção da que estava a cama, que era decorada com um papel de parede com estampa de tijolos brancos acinzentados. A cabeceira da cama era preta com listras finas na cor branca.

Na única parede livre, vejo um painel preto, onde havia diversas fotos que eram seguradas por ímãs. Aproximo-me dele e vejo que a maior parte das fotos era compostas por Daniel, Felicity, Oliver e Max. Quando não possuía a família, havia algumas onde estão Max, Daniel e outros garotos, parecendo ter no máximo dez anos.

Havia fotos de Max com os tios também e outras dos dois garotos com uma mulher muito parecida com Felicity, o que supus ser ou irmã ou mãe dela. Era interessante ver como ele valorizava a família ao ponto de ter fotos reveladas deles, inclusive da avó Moira com um homem, que provavelmente era seu avô.

— Você e Daniel estão sempre juntos, não é mesmo? – Digo, pegando uma foto dos dois quando eles pareciam ter entre seis e sete anos. Max estava com a boca melada de chocolate e segurava uma casquinha de sorvete, apertando um ursinho de pelúcia contra o corpo, enquanto abraçava Daniel com força. Ambos sorriam largamente.

— Ele é o meu melhor amigo. Acho que o único que me entende completamente e me suporta. – Responde o outro, rindo, enquanto se aproxima de mim. – Mas ele é um cara bem legal. Desde que éramos crianças, ele sempre tentava me animar. Nesse dia, o meu cachorro havia morrido atropelado. Ele fugiu de casa e foi para a rua na mesma hora em que um carro passava. Minha mãe disse que eu chorei como nunca. Dan deu a ideia de fazermos um velório para o Zeus, para que ele pudesse ir para o céu dos cachorros. Depois do velório improvisado, ele percebeu que eu ainda estava triste.

“Ele então pegou todas as economias dele e saiu de casa escondido. Ele sempre foi uma criança certinha, então foi surpreendente que ele tenha desobedecido as regras dessa forma. Dan comprou um sorvete de chocolate com pedaços de chocolate, o meu favorito, e voltou para casa. Ele me deu o soverte e o ursinho de pelúcia dele que ele nunca desgrudava. E sabe o que ele me disse?”

— O quê? – Pergunto, interessada.

— Que ele me daria o Michelangelo para substituir o Zeus. O ursinho de pelúcia dele nunca fugia e era tão fofo quanto o meu cachorro. Pediu que eu não ficasse triste, porque ele nunca me deixaria sozinho. – Conta Max, rindo nostálgico. – E ele cumpriu essa promessa. Na única vez em que eu decidi sair sem ele, tudo deu errado.

— O que quer dizer com isso? – Pergunto, curiosa pela expressão dolorosa que assumiu seu rosto no momento em que parece se lembrar do dia em que saiu sem o primo.

— Nada. – Responde, afastando-se de mim. Ele se joga em sua cama e suspira, cansado. – Você se saiu muito bem hoje. Não imaginei que teria coragem de enfrentar a megera da minha avó.

— Confesso que senti medo, mas resolvi seguir a sua dica. – Digo, colocando a foto no painel.

— Eu realmente fiquei surpreso. – Confessa, sorrindo. – Obrigado pela ajuda, loirinha. Se não fosse por você, Dan acabaria se casando de qualquer forma com a patricinha que nossa avó escolheu.

— Eu não sei se serei capaz de impedir que isso aconteça, mas farei tudo que estiver ao meu alcance. – Afirmo, encarando Max com determinação. – E obrigada por ter me defendido de sua avó naquela hora.

— Eu apenas disse a verdade. – Responde o outro com sinceridade, dando de ombros. Ele então se levanta, sem se importar com a minha expressão surpresa. – Agora vamos. Eu tenho que te mostrar o restante da casa.

Sem avisar, Max pega em minha mão e me guia para fora do quarto. Meu corpo inteiro se arrepia, sentindo o toque quente e forte da mão do rapaz. Prendo minha respiração, tentando controlar o embrulho nervoso em meu estômago. Por que eu estava agindo de forma tão estranha apenas por ter a mão de Max sobre a minha? Por que minha pele formigava tanto e estava tão quente onde ele tocava? Engulo em seco e respiro fundo.

Atração física. Essa é a única explicação. Apesar de não fazer o meu tipo, Max é muito bonito. Não é como se eu fosse cega também. Ele tem um corpo interessante, olhos provocantes e a aparência de um dos artistas com quem minha mãe costuma contracenar em seus clipes.

Balanço a cabeça, tentando reorganizar as minhas ideias. Eu tenho que aprender a me controlar. Eu não posso me deixar ser intimidada pelo charme de Max. Não agora que nós teríamos que conviver com frequência. Eu havia deixado bem claro para ele que seremos somente amigos, então não é justo que meu coração esteja tão mexido apenas por um toque inocente quanto o de me puxar pela mão para me guiar pela grandiosa mansão.

E assim como havia acontecido quando nossos olhos se encontraram a primeira vez, eu sinto que preciso ser cuidadosa com Max. Assim como o fogo, há algo por detrás de seus olhos azuis brilhantes que me queimam por dentro e que pode me machucar como qualquer outra pessoa jamais foi capaz.

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