"Eu não desistirei de você desta vez, mas querida, me beije devagar, seu coração é tudo o que eu tenho e em seus olhos, você guarda o meu."

*****

Ana abriu os olhos para a penumbra da noite, ela estava virada de frente para a janela com as cortinas abertas e podia ver muito claramente a lua no topo do céu.

Era madrugada com certeza.

Uma olhada no relógio digital no criado mudo denunciou às 02h16min.

Um movimento atrás de si a fez se virar, e entender o que a fez acordar.

— Não! Por favor, mamãe!

A morena mordeu o lábio inferior, sentindo o peito apertar, se apoiou com o cotovelo no colchão e se inclinou sobre Christian, tocando em seu peito com a outra mão e encostando os lábios em sua testa, sua bochecha, deslizando até sua orelha.

— Acorda, amor... acorda! Está tudo bem - falou baixinho, mas firme, a mão subindo e descendo por seu peito, sentindo o coração dele batendo muito rápido e seu corpo já começando a suar.

Não foi alguns segundos até sentir o braço dele em sua cintura, a segurando forte contra si e abraçando seu corpo em seguida, respirando forte e ofegante contra si.

Ele havia acordado.

Ana fechou os olhos em alívio, sentindo a respiração pesada contra seu pescoço, os braços fortes se afrouxando um pouco após perceber que a estava esmagando, mas ela ao menos se importava.

Foi algumas semanas depois de Ana ter voltado. Eles haviam combinado de ir devagar, mas de repente Ana ao menos havia conseguido ficar num apartamento e ela nunca que moraria sozinha na mansão dos Lincoln, ela apenas dormia dia após dia no apartamento de Christian, até entrar num acordo: sim, eles estavam morando juntos, então.

Ela teve medo da reação de Teddy, e Christian também estava preocupado, porém, o menino mais parecia nas nuvens tendo "mais alguém para brincar com ele".

E então logo aquilo havia começado, talvez quando a mente de Christian percebeu que seria uma rotina ter Ana sempre ali, e acabou relaxando sobre a novidade, os pesadelos noturnos e rotineiros haviam voltado.

A primeira vez havia assustado Ana de uma forma que ela chegou a chorar, e em vez de acalmar Christian, foi o contrário.

— Eu estou aqui - ela sussurrou contra ele, por que aquilo parecia ser sempre o que ele precisava ouvir, precisava constatar para estar tudo bem e voltar a dormir tranquilo em vez de apenas levantar da cama às 3h da madrugada e esperar o dia amanhecer.

E Ana nem sabia o que pensar ou sequer fazer quando as cartas foram postas na mesa. O assunto sobre "mãe" ser delicado teve um nível ainda maior quando Christian contou sobre a sua biológica, sobre como seu trabalho era pouco convencional ao que a mulher era uma prostituta e morava com um cafetão, ela era viciada em cocaína e teve uma overdose fatal quando ele tinha cinco anos.

Ele era seu pai? – ela questionou sobre o cafetão.

Não, Carrick me garantiu que ele não era – ele respondeu.

Ele viu tudo, sentiu tudo. E nunca que seria justificativa para as atitudes babacas, mas era o que era.

Ana cresceu com os Grey, tendo-os ao seu redor desde que se entendia por gente, e era engraçado como todas as suas lembranças de infância tinha Mia e seus irmãos junto dela. E crescendo com eles, ela imaginava que os conhecia completamente. É o curso certo das coisas, não é? Quanto mais você convive com alguém, mais você o conhece.

Não.

Não era assim.

Ana nunca havia conhecido Elena ou Linc de verdade, seus pais para todos os efeitos, e sinceramente ela não acha que vá conhecê-los um dia. Estava bom a superfície que ela conhecia. Ela não queria saber mais a fundo sobre como Linc deixou que Elena a levasse para Inglaterra apenas para que ela não espalhasse as provas que tinha sobre as fraudes em sua empresa, o que o teria feito perder alguns sócios e dinheiro; também nunca iria querer saber sobre como Elena também havia prometido o dinheiro da faculdade de Carla em troca da própria Ana ainda em sua barriga.

E ela também não perguntava sobre como havia sido o relacionamento de Christian com Elena, mesmo que ele tenha lhe oferecido para contar tudo o que ela quisesse saber. Não, ela não quis saber sobre eles, sobre como eles eram, ela quis saber sobre ele, sobre como Christian era. Ela queria saber sobre as cicatrizes por baixo da tatuagem em seu peito, queria saber por que muitas vezes ele se retraía quando ela o tocava ali, mesmo que deixando que ela o tocasse... e ela quis saber sobre os pesadelos noturnos.

Quando Ana tinha 13 anos, ela se viu apaixonada por Christian, em seu íntimo ela acreditava que o amava mais que qualquer pessoa no mundo poderia amar alguém.

Baboseira de adolescente, é claro.

Porque com 13 anos, se dissessem a Ana para que escolhesse entre ter Christian ou então conhecer os Jonas Brothers pessoalmente, ela teria escolhido a segunda opção.

Claro que com o tempo ela entendeu o que era amar Christian de verdade. Ela havia se apaixonado por um estereotipo perfeito de garoto bonito e inteligente, que ela cresceu junto e ela sabia que a protegeria. E ela odiou o mesmo estereotipo de garoto quando descobriu sobre ele e Elena. Mas foi apenas isso: o estereotipo clichê que Ana havia conhecido.

Ela nunca havia o conhecido de verdade, ela não sabia nada sobre Christian até realmente saber sobre ele.

E você não ama uma pessoa que você não conhece, não é?

Então o que Ana sentia antes? Ela se perguntava o tempo inteiro quando era pega por aquele sentimento intenso e arrebatador do nada.

A verdade era que quanto mais você conhece alguém, mais você odeia ou você ama essa pessoa.

E Ana amava Christian. Ela sabia que amava.

Mas como era possível aquilo aumentar o tempo inteiro?

O sentimento mudava, mas era para melhor.

— Desculpa ter te acordado – a voz dele não foi mais que um sussurro no meio daquela noite silenciosa.

Ana se apoiou novamente no colchão e encarou Christian.

— Não precisa se desculpar, sabe disso – respondeu no mesmo tom.

Ele suspirou e acariciou seu cabelo, forçando sua cabeça em seu peito novamente para fazê-la voltar a dormir.

Mas Ana conseguia ouvir o coração dele, batendo rápido e acordado demais.

Ele não iria dormir.

— Durma – ela pediu.

Seria a segunda noite seguida que ele estaria sem dormir a noite se não o fizesse naquele momento.

Christian não respondeu, e então a morena se levantou novamente.

— Talvez devesse ver Flynn amanhã – ela comentou.

O Grey havia admitido que apenas depois de Teddy nasceu ele decidiu que era hora de ter uma ajuda profissional naquela situação, e então ele tinha Ryan Flynn, o psiquiatra que ele via três vezes por semana e sabia mais sobre Ana do que ela gostaria que ele soubesse.

Mas era difícil.

Uma terapia atrás de outra que às vezes era mais difícil que a última.

— Você é a minha terapia de verdade – ele falou num suspiro.

Ana sorriu de lado e então semicerrou os olhos.

— E você acha que eu estou fazendo um bom trabalho? – questionou, deixando a boca muito perto da dele.

Christian sorriu de volta.

— Com certeza. Você é incrível, maravilhosa, perfeita... e porra, casa comigo!?

Ana levantou a cabeça rapidamente, desgrudando a boca da dele para encará-lo com os olhos arregalados.

— Benditos olhos perfeitos – ele sussurrou encarando os mesmos.

— O quê!?

— Eu disse que seus olhos são...

— Não, antes – Ana revirou os olhos.

— Ah, eu pedi para você casar comigo.

Okay, oi, coração!

— Ah – ela respirou o ar profundamente.

— Então...? – Christian questionou.

Ana levantou uma sobrancelha e então se sentou na cama.

— Então o que?

Christian riu baixinho.

— Você aceita?

— Christian, hã...

Ele a pegou desprevenida ao jogá-la de costas no colchão, deixando o próprio corpo pairando em cima do dela, uma das mãos acariciando seu rosto, tirando uma mecha de cabelo de seus olhos.

— Casa comigo – ele repetiu, dessa vez o tom mais ameno e hipnotizante, um pedido como uma súplica bonita. – Eu vou comprar um anel, é claro. Mas eu queria muito uma resposta.

— Eu preciso...

— Precisa do que? – ele deixou os lábios esbarrando nos dela e então os levou até seu pescoço. – Eu te amo, você me ama, nós moramos juntos.

— E esses são seus critérios para casamento? – ela perguntou, mas o tom foi vergonhoso pelo fato de Christian estar beijando seu pescoço e ela ter se impedido de gemer com aquilo.

— Não, meu critério para casamento é você, essas são apenas algumas características que temos – ele se voltou para ela, deixando os olhos admirando as límpidas íris azuis. – Casa. Comigo.

Ana riu.

— Amanha você ao menos vai se lembrar disso – ela comentou.

Christian bufou baixinho, se ajeitando em cima de dela, mudando o peso para o outro braço.

— Eu me lembro de cada momento meu com você, de todos eles, até os de madrugada, e todos eles são importantes, ainda mais esse. Como eu poderia esquecer?

Ana balançou a cabeça e então passou os braços por ele, tocando em suas costas e o fazendo deixar o corpo pesar em cima de si.

— Você é tão... manipulador. Parece que sabe exatamente o que dizer para me fazer ficar caidinha por você - declarou.

Christian riu baixo, aproximando os lábios de sua bochecha, e então arrastando por seu queixo, logo em seus lábios, deixando um beijo delicado enquanto subia a mão por seu corpo.

Foi devagar, lento. Como se ele precisasse saborear cada centímetro dela. Um dos braços ao lado de sua cabeça, apoiando o corpo para não machucá-la com o peso, enquanto a outra mão percorria sua coxa, sua cintura, sua barriga, tocava em seu seio, em seu queixo... cada detalhe, gravando e provando cada coisinha que Christian achava simplesmente perfeita em Ana. Ela deixou que ele retirasse a blusa que usava e então teve os lábios dele percorrendo o mesmo caminho que suas mãos até retirar seu short e sua calcinha.

A morena beijou seu ombro, seu pescoço, arrastando os lábios, cravando os dentes de levinho, sem deixar marca, apenas sentindo.

Sentindo.

Era como se eles apenas estivessem sentindo o tempo todo ultimamente. Sentindo um ao outro, sentindo todo o tipo de sensação que aquele tipo de coisa trás.

E era incrível.

Ana nunca havia se permitido sentir daquela forma, na verdade nunca houveram sentimentos para ela querer sentir. Sempre foi tão ofegante, cheio de suor e gemidos altos, arranhões e marcas, como uma necessidade, querendo aplacar tudo. Mas não depois de tudo, com Christian havia uma bagagem enorme em seu coração e sua vida, seu corpo refletia aquilo.

Ele respirava acelerado em seu ouvido, apertando de leve sua cintura, empurrando mais forte, fazendo Ana gemer baixinho, morder o lábio inferior, fincar as unhas com cuidado na pele de suas costas.

Era tudo incrível.

Puro êxtase até ao ápice, no limite.

Ele não teve resposta e ela não teve outra pergunta, as respirações ofegantes se tornaram leves e silenciosas com os minutos enquanto Ana acariciava o cabelo de Christian quem mantinha a cabeça em seu peito. Ela não sabe quem dormiu primeiro, ela imagina que deve ter sido ela, pois Christian estava calmo demais quando ela finalmente caiu no sono, mas talvez ele também apenas não queria se mexer e acabar com aquela bolha de paz e tranqüilidade que eles estavam envoltos.

O dia amanheceu rápido demais na concepção de Ana, era como se ela apenas tivesse fechado os olhos e então os abertos. Christian ainda dormia quando ela se levantou às 8h daquele sábado, logo se dirigindo ao banheiro e tomando um banho rápido lembrando-se da promessa que fez à Teddy sobre ir ao parque para desejar bom fim de semana às árvores.

É, ele fazia aquele tipo de coisa por um segundo e então ia brincar no playground.

De qualquer forma Ana gostava, era um momento legal que eles tinham e geralmente ela gostava de desenhar ou ler enquanto o observava brincar.

Ela tinha sua própria Editora agora, que fazia até sucesso demais para uma iniciante, como Linc dizia: ela tinha o dom para comandar. Mas mesmo que Ana fosse a chefe, o que ela mais gostava era de desenhar, geralmente ela fazia as capas dos livros que lia e iriam lançar, o que poupava mais trabalho e ainda a fazia ficar satisfeita com o seu próprio trabalho. As coisas fluíam fácil, e ela percebeu que não percebeu que nem sempre era necessário ser difícil para ser bom.

Ela e Teddy não demoraram tanto no parque, logo tendo de voltar porque era sábado e o menino ainda precisaria fazer algumas coisas antes de ir para a casa de Leila.

Leila era uma coisa aconvencional para Ana. Elas claramente não se gostavam, mas também não ficavam tentando se suportarem. Como Christian havia dito: era um acordo útil e que funcionava. Nada precisava ser mudado, era a vida.

— Amor, chegamos! - Ana declarou assim que adentrou o apartamento pelo elevador de serviço.

Ela fazia aquilo o tempo inteiro, o que irritava um pouco Christian, mas seu motivo era porque a porta dos fundos do prédio era mais perto da rua de trás que era onde ficava o parque.

E sinceramente, qual era o problema dela entrar pela porta dos fundos?

Nenhum, claro.

Ela ouviu os passos do Grey logo em seguida, ele andava pelo corredor lateral enquanto Ana passava pela ala de de Taylor e Gail, e Teddy se agitou, soltando a mão de Ana rapidamente para ir atrás do som.

— Espera, coisinha, ele precisa ser preparado - a morena falou, colocando a caixa que segurava no chão da cozinha assim que chegou nela.

Teddy sorriu, colocando uma mãozinha na boca, balançando a cabeça antes de ser interrompido por mais um espirro.

Ana mordeu o lábio inferior.

Aquele estava sendo o problema, com certeza iria dificultar as coisas um pouquinho. Mas os olhos de Teddy eram tão cinzentos e claros, tão perfeitos, e a forma como eles se encheram d'água de repente enquanto estavam na pracinha.

Ela não resistiu! Ela era apenas uma humana.

— Hey - Christian cumprimentou assim que chegou a cozinha, sorrindo para Teddy que logo esticou os braços para ele, o garoto era manhoso com o pai, sempre querendo seu colo e seus abraços até quando o mesmo estava bravo. - Vocês demoraram. O que estavam fazendo? Você vigiou a Ana, não foi? Ela não fez nada de errado? - ele brincou com o menino que apenas riu mais ainda enquanto concordava com a cabeça.

Ana franziu o cenho.

Ela não fazia nada errado. Foi apenas uma vez. Uma vez! Ela não entendia muito sobre tamanho e pesos, e Teddy tinha acabado de fazer quatro anos, para ela o menino podia muito bem ir mais alto no balanço.

Bem, um corte na testa e um ralado no joelho alguns segundos depois por causa de uma queda um pouco dramática foi o que provaram à Ana que não deveria empurrar seu enteado tão alto.

Não ainda pelo menos.

— Tudo certo - o pequeno Grey respondeu tímido e do seu jeito.

Ele era sempre tímido, mesmo que bastante argiloso, mas muito inteligente e observador, parecido com Christian em tantos aspectos que fazia Ana não perceber praticamente nenhuma participação de outra pessoa no DNA do pequeno. Não que fosse lhe importar. Sinceramente, Ana ficou tão apaixonada por Teddy que mesmo se ele fosse completamente diferente de Christian, ela ainda assim o amaria e o acharia a criança mais linda do mundo.

Christian lhe fazia cócegas no pescoço quando mais um espirro saiu de Teddy, fazendo o Grey franzir o cenho.

O pequeno usava um conjunto de moletom quentinho, sapatos e uma touca fofa na cabeça, mal havia sentido o vento do outono. Então Christian encarou Ana, que desviou o olhar ao redor da cozinha procurando por algo que nem sabia o que era.

— Ah, é. Temos novidades. Uma notícia ruim e uma notícia boa - ela falou, sorrindo amarelo e em seguida dando um selinho em seus lábios.

Christian levantou uma das sobrancelhas, esperando.

Teddy espirrou mais uma vez.

— Okay, isso é a notícia ruim - ela declarou, fazendo um gesto para o espirro de menino. - Teddy está espirrando assim por causa do Tyler.

— Quê? Quem é Tyler? - Christian questionou, abraçando mais o menino contra si, que apenas adorou aquilo, passando os bracinhos por seu pescoço e lhe cheirando sem hesitação, amava o cheiro de seu pai.

Foi como uma deixa, porque de dentro da caixa um latido fino e choramingante fora ouvido.

— A notícia boa - Ana contou, se ajoelhando até a caixa e retirando o pequeno cachorrinho de lá. - Nós o encontramos no parque, e bem... Teddy gostou dele.

Christian arregalou os olhos ao ver o cachorro peludo e muito pequeno, parecendo assustado, mas estranhamente confortável com o carinho que Ana lhe fazia.

— E daí que o Teddy gostou dele? Ele está espirrando! - Christian reclamou, e como um veredicto o menino o fez novamente, ainda que tentasse descer do colo do pai para poder tocar no bichinho.

— É só dar um antialérgico. Ele também teve alergia ao Penn, lembra? E agora está tudo bem. Logo ele se acostuma.

— Esse troço deve estar cheio de pulgas, carrapatos... doença. Ana! Você o deixou tocar nele?

Ana revirou os olhos e para o espanto de Christian, simplesmente pegou o animalzinho nos braços e o colocou contra si, sem se importar com a blusa cara que usava e a jaqueta automaticamente sendo arranhada pelos dentinhos do cachorrinho.

— Não é "toço", é "Tyler" - Teddy comentou enquanto passava a mãozinha pelo nariz vermelho.

— Exatamente. Não seja chato, eu vou dar banho nele lá na lavanderia, depois dar banho no Teddy, comprar o antialérgico dele e então vamos todos ao petshopping comprar várias coisas de cachorro.

— Ele pode ser de alguém, e se perdeu - Christian insistiu, não dando o braço a torcer e ainda não permitindo que Teddy saísse de seu colo para poder tocar no bendito animal.

Ele entendia que o filho era uma criança e qualquer animal que ele ver na rua, vai querer levar para casa. Mas Ana não era criança! E ela precisava ter pulso firme quando Teddy quisesse algo que claramente não era uma boa ideia.

— Não é, não tem coleira nem nada, e nós ficamos bastante tempo lá e ninguém apareceu procurando. Então, agora é nosso. E achado não é roubado.

O problema era ela não achar que não era boa ideia!

— É - Teddy concordou e Christian olhou feio para ele.

— Não repita isso - falou para o menino e então se virou para a Ana, levantando uma das sobrancelhas.

Ana sorriu de lado e desviou os olhos.

Às vezes ela esquecia que não podia dizer tudo o que vinha a cabeça quando Teddy estava perto, ele tinha a tendência em repetir tudo o que a garota fazia ou falava.

Na última semana, Leila havia ligado para Christian, a mulher falando histérica sobre como Teddy estava se recusando a comer cenouras e brócolis, e quando perguntado o motivo ele disse que Ana havia dito que não gostava.

Ana – e muito menos Christian - não achou um motivo para tanto alarde, mas Leila ainda era a mulher que ligava para ele apenas porque havia espirrado enquanto estava grávida, então.

O negócio era que Teddy havia de repente se espelhado em Ana, e a garota fazia tudo com ele e por ele. Aquilo com certeza mexia com o menino, e com os pais do menino. Para Christian era incrível, mas para Leila...

— Tudo bem, quer saber? Você vai cuidar disso, vai cuidar de tudo isso. Mas eu vou dar banho no Teddy para sermos mais rápidos, Leila vai chegar em duas horas para buscá-lo.

— Não! - Teddy resmungou, cruzando os bracinhos e fazendo bico.

— Não é agora, é só depois, agora vai, está na hora do Sr. Pato - Ana foi rápida em dizer.

Era uma luta para Teddy ir embora, e só a menção de falar que a mãe viria buscá-lo era uma tormenta. Uma vez o menino chegou a se esconder no armário, e Christian estava prestes a chamar a polícia se não fosse por ter escutado Teddy se mexer lá dentro.

— Quero ajudar - ele falou, os olhos pidonhos.

— Não, você não toca nessa coisa até Ana desinfetar ele - Christian foi firme.

Ana fez bico.

Como ele conseguia resistir àqueles olhos? Anos de experiência, claro.

— Amor - a morena resmungou.

— Sim? - Christian questionou.

— Eu - Teddy respondeu, fazendo os adultos rirem. - Sou o "amor", papai. Você é Chris.

— Eu sou também - o Grey rebateu, e o pequeno cruzou os braços com a expressão seria.

— É sério? Vai competir com uma criança de quatro anos? - Ana falou, já sabendo aonde aquilo iria dar.

Christian gostava de provocar o menino sobre ela, porque Teddy era muito ciumento e ele achava aquilo engraçado, quanto mais o garoto se irritava, mais ele se tornava um gatinho bravo. Às vezes o Grey era mais criança que a própria criança.

O acordo foi quebrado no mesmo minuto, e acabou que Teddy "ajudou a desinfetar" Tyler, e depois de o menino deixar o cachorrinho numa almofada no quarto do pequeno, ela foi até Christian para chamá-lo para a "Hora do Sr. Pato", os banhos de Teddy eram sagrados porque sempre eram regados a brincadeiras e muitas espumas e ele precisava dos dois naquela aventura.

O Grey estava no escritório ao lado da suíte principal, e Ana apenas entrou no recinto.

— Hora do banho – declarou enquanto se aproximava da cadeira que Christian estava sentado.

— Já estou indo – ele falou, mas logo teve Ana sentada em seu colo.

— O que está fazendo? Hoje é sábado – ela falou em tom de reclamação. – Ah – sussurrou ao olhar a tela no computador.

Era um site de imóveis.

— O que acha? – Christian questionou num gesto para o computador.

— O que? A casa? – ela perguntou ao mexer no mouse.

Era um site bastante moderno e era possível ver bastante os interiores e os exteriores das diversas casas e mansões que havia pelo estuário, que era onde Christian parecia ter preferência.

— Eu sempre quis morar no litoral, longe dessa bagunça barulhenta e urbana – ele comentou, beijando seu ombro desnudo pela regata ainda um pouco molhada que ela usava.

A morena se virou em seu colo e o encarou.

— Quer se mudar? Morar numa casa com cerca branca e tudo mais?

— Cerca branca? Não acho que vamos precisar de cerca, eu quero um terreno particular, o Teddy gosta de explorar, seria legal ter um bosque para ele. E também precisamos de bastante espaço por causa de Tyler, ou você acha que eu não vi o que é aquela coisinha? Aquele cachorro vai ficar enorme – ele respondeu.

Ana não sabia o que dizer, apenas concordou com cabeça, ainda um pouco confusa.

— Por que quer se mudar? Por que agora?

Christian suspirou e passou os dois braços por sua cintura, a puxando contra si, e então deslizou uma mão por seu rosto até sua nuca, mantendo seus olhos um no outro.

— Porque não podemos ter cachorro no prédio, meu anjo. Porque Teddy precisa de mais espaço, porque você precisa de inspiração... porque...

— Porque precisamos de mais quartos para nossos futuros filhos – ela disparou, de repente ela tinha aquela necessidade, tinha toda a cena pronta em sua vida.

Christian engoliu em seco, mas sorriu.

Ele também queria aquela vida.

— Com certeza por isso também – respondeu antes de selar os lábios com os dela uma vez.

— Podemos vê-las mais tarde? – ela questionou. – Podemos ir às que você mais gostou, confio totalmente no seu gosto.

Christian concordou com a cabeça e foi Ana quem tocou os lábios nos seus dessa vez.

Eles foram interrompidos por Teddy aparecendo na porta.

Ana e Christian riram alto ao perceber que o garoto estava totalmente sem roupa, a carinha de bravo e as mãos na cintura.

— O Sr. Pato está nos esperando um tempão – ele reclamou.

— Claro, amor, estamos indo, só um minuto – Ana respondeu quando conseguiu parar de rir e Teddy saiu correndo de voltar para o quarto.

Christian ainda ria, mas a levantou de seu colo e a guiou para fora do escritório, a puxando pela mão, mas a mantendo em sua frente e grudada em si, indo na mesma direção do menino.

— Hey – ela chamou, parando os passos do outro e se virando nos braços dele.

— O que houve, baby?

Ana passou a mão por seu cabelo e deixou o rosto bem perto do seu, as testas se tocando, seus pés nas pontas, o coração batendo forte e rápido junto ao de Christian, e os braços dele ao redor de sua cintura.

Ela nem sabia o nome do que sentia por ele quando pensava no futuro, aquela ansiedade de viver mais e começar logo, e também não se importava com o que queria realmente dizer aquilo, aquela chama toda inexplicável e tão sentida. Podia ser um amor verdadeiro, o seu ápice, ou o seu precipício, e tudo bem também. E ela nem sabia se iria dar certo mesmo, não deu antes, afinal. Não sabia se teria força e paciência para cultivar aquilo e tornar maior por semanas, anos ou décadas inteiras. Só sabia, que até ali estavam indo bem, e naquele momento, que era o que ela queria, aquela cena exata era o que ela queria viver, e mesmo não sabendo se conseguiria aguentar e superar as situações ruins que sempre acontecem, ela sabia que queria o próximo passo.

— Eu aceito.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.