O momento foi interrompido, claro, pelo celular de Christian vibrando no banco ao lado deles.

Ana olhou para o aparelho já sabendo o que ia encontrar.

A palavra LEILA parecia ser só o que aparecia naquele celular.

— São quase meia noite - ela pontuou quando Christian mais uma vez apenas encerrou a ligação e então desligou o aparelho.

— Uhum - ele respondeu.

Ela levantou uma das sobrancelhas.

— Acho que agora eu tenho o direito de saber sobre - ela falou.

Ele riu e então a abraçou.

— Você tem todos os direitos que quiser e não é porque acabamos de transar, Ana - declarou ele. - Mas eu não quero falar sobre isso agora, podemos só curtir o momento e então amanhã conversamos. Okay?

Ela não gostou muito daquilo, mas acatou. Pelo menos ele falaria. E sinceramente Ana não tinha direito nenhum, na verdade, de exigir ou perguntar sobre a vida de Christian.

Eles ainda permaneceram ali por alguns minutos, se beijando e provocando.

— Podemos ir para o seu apartamento? Você pode pedir para Taylor vir buscar Mia e Ethan com outro carro - a morena comentou.

Christian concordou com a cabeça.

— Claro. Vamos - ele respondeu, deixando um beijo no canto de seus lábios.

Ajudaram um ao outro a se vestir e então Ana seguiu para o banco do motorista enquanto Christian entrou de volta no bar para pegar sua bolsa e avisar que estavam indo embora.

A morena recostou a cabeça no estofado e encarou o teto.

Ela havia acabado de transar com Christian Grey.

Nossa.

Em que mundo, sonho ou qualquer coisa ela teria imaginado aquilo? Mesmo com eles se envolvendo daquela forma, o sexo ainda era uma coisa distante porque Ana não conseguia se ver daquele jeito. Tudo estava sempre rondando sua mente, o passado era uma droga, e então ela travava, até em pensamentos.

Mas naquele momento, enquanto Christian voltava do bar e entrava no carro, tudo o que Ana pensava era em tirar a roupa dele.

— Cuidado com meu carro - ele falou em tom de brincadeira ao dar as chaves para ela.

A morena balançou a cabeça para dispersar os pensamentos impuros e então ligou o motor.

— Ele é importante, né? - ela respondeu e o Grey riu baixinho.

Eles foram direto para o quarto quando chegaram, Ana precisava desesperadamente de um banho e ela já estava mais do que familiarizada por ali.

— Eu adoro essa banheira - ela falou enquanto retirava as roupas e a banheira enchia.

Christian sorriu para ela.

— Fique a vontade... mesmo que já esteja - ele provocou.

Ana piscou para ele e se aproximou, logo tendo seus braços em volta de si e ela só não havia retirado a calça jeans. Christian deslizou a mão por suas costas nuas, arranhando de leve a pele com as unhas curtas, deixando Ana arrepiada.

— Você é muito linda - ele falou a olhando nos olhos. - Acho que nunca vou conseguir parar de te admirar desse jeito.

Ela sentiu um descompasso. Um descompasso em seu coração.

— Chris - sussurrou, sentindo o rosto corar, e então levou a mão até sua nuca, puxando seu rosto para si e tocando os lábios nos dele.

Eles se encontraram num beijo lento e profundo, as línguas se enrolando, explorando a boca um do outro até precisarem de ar.

— Comer. Você precisa comer - ele falou ao terminar o beijo com vários selinhos.

Ana suspirou.

— Que tal você se servir primeiro? - ela sugeriu, pressionando o próprio corpo no dele.

Christian riu ao entender o sentido sujo da frase e a beijou novamente.

— Logo depois de você, meu anjo - ele respondeu, lhe dando uma piscadinha, mas realmente saiu do banheiro.

Ana fez um muxoxo, mas terminou de retirar a roupa e entrou na banheira já cheia com água quente.

Christian não demorou, além de alguns minutos, e ele voltou com frutas cortadas numa tigela.

— Você tem frutas agora? - ela questionou antes dele colocar um pedaço de manga em sua boca.

— Percebi que é o que você mais come. E isso é muita coisa, não dá para arriscar não ter - ele respondeu, se sentando ao lado da banheira.

Ana sentiu um dejavu, mas nem sabe de onde, porém, era como se aquela cena realmente já tivesse acontecido, bem ali, na banheira, com Christian ao seu lado lhe fazendo comer. A morena encarou o outro, que lhe oferecia agora morango.

— As vezes você sente como se já estivesse feito algo que você não fez? - ela questionou, abrindo a boca em seguida.

Christian franziu o cenho.

— Tipo, fazer algo pela primeira vez e sentir que já fez antes?

— Sim!

— Não - ele falou e Ana revirou os olhos. - Mas eu já senti como se estivesse acostumado com algo sendo que eu nunca fiz antes.

— Tipo? - ela perguntou enquanto mastigava kiwi.

Christian deu de ombros.

— Quando você dormiu aqui pela primeira vez, eu senti como se fizesse isso o tempo todo, não foi estranho - ele confessou.

— Hum, bom saber que sou exatamente igual as outras mulheres que dormiram na sua cama - ela resmungou.

Christian segurou seu queixo gentilmente.

— Ana, nunca houve outra mulher na minha cama - ele declarou.

Ana engoliu em seco, não sabendo o que pensar sobre aquilo.

— Até parece - desdenhou.

Christian mordeu o lábio inferior, e acariciou seu rosto.

— Nunca houve... na cama, no quarto, nessa banheira. É o meu lugar, nunca deixei nenhuma mulher entrar na minha vida a esse ponto.

Ele parecia sincero.

— Nem Elena?

Christian suspirou, se afastando dela e se virando ao lado da banheira.

— Nós sempre vamos voltar nisso? - ele resmungou.

Ana deu de ombros.

— Ela foi importante para você, não adianta negar, e... droga, ela é, para todos os efeitos, a minha mãe. Você entende? Nós sempre vamos voltar nisso, não acho que seja algo que se supere tão rápido.

Christian balançou a cabeça.

— Ela foi — confessou. - Realmente houve um momento na minha vida que eu achei que a amava, mas, na verdade... - ele suspirou alto. - Não. Eu nunca amei a Elena, porém, ela foi uma parte importante em minhas escolhas. Só que... nunca teve nada a ver com meus sentimentos por você ou qualquer escolha referente a você, assim como eu tive nenhum envolvimento ou influência com ela - ele desviou o olhar. - É como se você fosse um... país proibido, nunca falamos sobre você, nunca envolvemos você. Eu entendo que não é algo que se supere rápido, mas também preciso que entenda isso, que nunca teve a ver com você. Nós dois somos algo completamente diferente, e eu nunca esperei por isso, fico tão surpreso e perdido quanto você.

Ana mordeu o lábio inferior.

— Também não queria que acontecesse, não queria sentir essas coisas? - ela perguntou baixinho.

— Confesso que seria muito mais fácil se não fosse você - ele admitiu. - Mas não. Eu nunca pensei sobre não me sentir assim, eu gosto de você e gosto de gostar de você e me sinto muito, muito sortudo por estarmos aqui.

Ana levantou uma das sobrancelhas e sorriu irônica.

— Gosta de mim, é?

Christian revirou os olhos e lhe deu mais morangos.

— Só coma logo - ele mandou e então aproximou os lábios dos dela - porque eu estou morrendo de fome.

Uma coisa sobre acordar no apartamento de Christian era o sol, as cortinas estavam sempre abertas e as janelas iam do chão ao teto, o que deixava tudo claro e a luminosidade a acordava sempre.

Ana abriu os olhos já suspirando.

Estava exausta, mas seu corpo parecia tão relaxado.

Havia tido uma noite e tanto.

Esticou o braço para o lado e sentiu o colchão frio.

Era sábado, fala sério. Como Christian já tinha acordado?

Ela bufou e então se levantou, logo seguindo para o banheiro e tomou um banho rápido, colocou suas roupas de ontem e desceu as escadas o primeiro andar.

Christian estava recostado no balcão que dividia a cozinha da sala de estar, e ela se aproximou para abraça-lo ao sentir de longe o cheiro bom do perfume dele, mas seu corpo estacou no momento que o ouviu.

— Eu não quero saber, Leila, já falei que meu advogado vai resolver tudo, eu vou dar o que você precisa, mas eu não vou estar aí - ele escutou algo e então bufou alto. - Foda-se! Eu te falei desde o começo como seria, eu tenho uma relação com o bebe e não com você, e isso só vai acontecer quando essa criança nascer, antes disso, eu não quero nem que você me ligue, entendeu? Que porra! Eu já estou cansado de você.

Ana permaneceu paralisada, tentando entender porque Christian estava com tanta raiva, tentando ignorar sua mente criando soluções naquela conversa, ligando os pontos.

— Entao você liga para o advogado, eu não pago ele uma fortuna para voce ficar me ligando, ele vai fornecer tudo o que voce precisar, eu já falei. Você está grávida, não doente. Agora para de me ligar para porra nenhuma porque eu estou pouco me lixando para como voce se sente!

Ele encerrou a ligação e jogou o aparelho com força sobre o balcão, o fazendo cair no chão com um baque alto.

— Grávida? - foi só o que Ana conseguiu processar.

Christian se virou no mesmo instante, os olhos arregalados e a respiração entrecortada.

— Ana.

— Você... você é o pai?

Ele passou uma das mãos pelo rosto até o cabelo, bagunçando os fios e encarou o teto.

— Christian - Ana insistiu, dando alguns passos para frente até ficar bem próxima dele.

Seu coração batia rápido e sua cabeça doeu de repente. Ela queria ouvir a negação, só queria que fosse não.

Por favor.

— Sim.

Ana tirou o cabelo dos olhos e encarou o chão.

Não era possível.

Não podia.

Qual é?

A vida não era tão fodida assim!

— Você está brincando, não está? - ela falou baixinho, voltando a encarar Christian.

— Eu queria...

Ana balançou a cabeça.

— Como você pôde? - disparou irritada, sentindo a droga dos olhos arderem com lágrimas. - Qual o seu problema?

— O que? Não - Christian se aproximou dela totalmente, pegando em seu rosto, desesperando em ver as lágrimas ali, a clara mágoa direcionada a si - Eu não te traí, meu anjo.

Ela semicerrou os olhos.

— Não me chame assim - vociferou. - Voce perdeu todos os direitos de me chamar de qualquer coisa sua depois disso - ela suspirou, se afastando com brutalidade, e então respirou fundo, não querendo chorar, mas sentindo o nó em sua garganta já se formando, os ardiam. - Para que ficar insistindo em ficar comigo se...?

— Não, não foi assim, eu juro.

Ana levantou uma das sobrancelhas, cruzando os braços.

— E como foi então? - questionou.

Christian suspirou, seguindo até o sofá, sentando-se lá.

— Foi só uma noite - confessou. - Uma noite que eu me arrependo, eu estava irritado com algumas coisas, acabei não pensando direito e aconteceu. Nós já havíamos terminado há um tempo, ela ficava me enchendo, aparecia no apartamento... mas eu sempre mandava ela embora, realmente nao quero mais nada com ela. Nós nem tínhamos nada de verdade antes. Eu tinha bebido, e ela estava lá, insistindo.

— Ela fica te ligando o tempo todo. Era por isso, não era? - questionou, só um pouquinho aliviada.

Christian balançou a cabeça em concordância.

— Ela fez de propósito, provavelmente achando que teria algo comigo, ou sei lá, querendo dinheiro. Eu só tenho raiva dela, não consigo nem ouvir sua voz.

— Por que você não me contou?

— Os médicos diziam que você não podia se estressar.

— Os médicos? Mas eu estou bem. E o que isso implicaria, Christian. Está arrumando desculpas, isso sim.

Christian desviou o olhar.

Ana se aproximou, franzindo o cenho.

— Há quanto tempo ela está gravida? - questionou.

Christian não respondeu.

Ana se ajoelhou a sua frente, colocando as mãos em seu rosto, o forçando a encara-la.

— Há quanto tempo você sabe? - perguntou.

Christian mordeu o lábio inferior.

— Ela me contou dois dias antes antes do acidente - confessou. - Eu não sabia como... Eu não sabia como lidar com isso, ainda não sei, como eu ia saber como te contar? Você finalmente me deixa chegar perto de você, eu não queria acabar com tudo assim.

— Então você mentiu - ela concluiu num tom magoado.

— Eu não menti, Ana.

— Você mentiu — ela insistiu, levantando-se. - Mentiu durante todo esse tempo. Mentiu falando que eu era importante, que precisava de mim... que queria tentar, que nunca quis isso com outra pessoa, que não houve outra pessoa - ela riu sem humor. - Você só mentiu para mim, Christian.

O Grey passou a mão pelo cabelo e mirou o chão.

Ana cruzou os braços, fincando as unhas na pele, sentindo a raiva crescer.

— Não acredito que está fazendo isso... está fazendo isso comigo — ela murmurou entredentes, batendo o pé no chão numa mania nervosa.

Ela estava com tanta raiva.

Christian continuava sem olhar para ela, evitando ao máximo os olhos azuis que ele sabia que estavam vermelhos a essa altura pelas lagrimas que já escorriam pelo rosto da menina, somente o tom de voz meio quebrado já o fez vacilar.

Ana inspirou o ar profundamente, odiando a onda que batia em seu peito, fazendo seu coração apertar forte e sua garganta fechar, a raiva sucumbiu seu corpo por inteiro automaticamente.

Raiva por Christian. Raiva por tudo o que ele sempre fazia com ela. Raiva por sentir tanto. Raiva por estar chorando. Raiva por estar com raiva. Por ao menos conseguir não se importar, não se envolver e por ter se deixado levar. Ela foi tão fácil, mas tão fácil que deveria se sentir envergonhada.

E ela meio que se sentia.

— Você não vai nem olhar para mim, não é? - ela questionou, difícil de falar pelo nó na garganta.

Christian não a olhou.

— Eu não sabia como contar, e de repente o tempo já estava passando. Eu ia te contar hoje... eu ia...

— Não, voce não iria. Ia enrolar, dar desculpas, falar sobre outra coisa, mas não ia me contar - ela concluiu. - Porque voce é assim, só pensa em si mesmo.

Christian a encarou finalmente.

Ele pensava nela. Aquele era o problema: ele só pensava nela. Nas ultimas semanas, meses, tudo o que se passava por sua cabeça era Ana.

— Eu sinto...

— Não! Não diga que sente muito porque você não sente.

— Ana... - ele se levantou.

Ela não estava mais exatamente chorando, mas seus olhos estavam totalmente cheios com as bolotas d'água, apenas esperando ela transbordar o suficiente.

Era raiva, o brilho ao menos era pelas lágrimas. Era pura raiva.

A morena balançou a cabeça quando ele tentou se aproximar.

— A Mia? Era isso, não era? - ela questionou.

Christian inspirou o ar profundamente e então balançou a cabeça.

— Ela viu a Leila na empresa essa semana, me questionou e eu falei que era uma ex, ela começou a te defender como se eu tivesse feito algo errado, e eu perdi o controle, não estava num bom momento. A Leila tem essa capacidade de me fazer ficar irritado só por ela respirar no mesmo país que eu.

Ana revirou os olhos.

— Voce contou para ela?

— Não. Eu nao contei para ninguem, quer dizer...

Ana arregalou os olhos.

— Só para o Taylor e o meu advogado.

Ana engoliu em seco, e Christian suspirou.

— Achou que eu tinha contado para Elena, não é? - ele falou. - Voce nao consegue pensar em outra coi...

— Não, voce nao vai isso para cima de mim - ela falou numa oitava mais alta, fazendo Christian se calar. - Mentiu para mim. Você só... preferiu mentir para mim. Tem noção de como eu odeio mentiras? A minha vida inteira eu fui totalmente afogada por mentiras. E - ela respirou fundo, tomando ar nos pulmões, sentindo eles doerem. - por um momento eu achei que... que estava tudo bem confiar em você, que você podia ser um cara legal e não o idiota que dormia com a minha mãe, você só tinha dezoito anos e era muito novo. E, ah! Droga, eu fiquei horas e dias pensando em um monte de desculpas, de justificativas... Eu criei inúmeros motivos para confiar em você. Para você só mentir tão fácil para mim? Como você consegue?

— Eu não queria te magoar, eu...

— Você diz isso o tempo inteiro, Christian. Mas é só o que você faz... O tempo inteiro. Eu te perguntei tanto, perguntei o que estava acontecendo, porque ela te ligava tanto, e você só dizia que não era importante.

— E não era.

— Como não!? Christian, é uma criança. Não pode existir nada mais importante agora do que essa criança.

Ele não entendia. Ele apenas não entendia o quanto aquilo era... fodido. Não era sobre Ana, não era sobre eles, ou sobre uma ex namorada. Era sobre alguem, sobre uma criança. Alguém que precisaria de amor e estabilidade, alguem que precisava ser primeira escolha em tudo.

— Eu não sabia como te contar- Christian insistiu. - Eu fiquei com medo. Eu não queria isso. Mas ela insistiu, eu só... nem temos nada, e uma criança vai nascer no meio disso, eu nem sei o que pensar.

— Mas você precisa - ela sentenciou.

Ana passou a mãos pelos cabelos, amarrando-os num coque logo em seguida, sentindo o coração bater rápido e o peito apertar de uma forma insuportável.

Ela precisava de espaço.

Precisava de um tempo.

Precisava de ar.

Podia sentia seu corpo explodindo aos poucos, ela era uma bomba relógio que se destruía devagar. Aquilo doía como o inferno.

— Eu vou embora - ela declarou, e Christian entendeu o que ela quis dizer.

— Vamos conversar.

— Eu não quero, não dá.

— Ana, nós podemos resolver isso - ele tentou pegar em sua mão, mas ela apenas se afastou mais.

— Nós? Resolver? - Ana bufou baixinho. - Não. Eu não quero fazer parte disso, eu não posso. Eu passei a minha vida inteira fazendo isso, resolvendo o problema dos outros, estando no meio dessas coisas que não são culpa minha, mas a consequência sempre cai sobre mim. Eu mereço muito mais do que isso, Christian. E se você gosta de mim de verdade, não deve insistir, deveria saber.

O Grey balançou a cabeça, ele não tinha argumentos para aquilo. E Ana estava certa, ela merecia muito mais, muito mais do que estar envolvida numa história em que só ela sairia perdendo, em que ela seria a segunda opção sempre. Christian não sabia lidar com a informação de que seria pai dali alguns meses, ele ainda estava tentando lidar com a raiva de Leila ter conseguido o que tanto queria, a porra do famoso "golpe do baú". Mas ele também não era um babaca, seus pais haviam lhe criado bem demais para ele sequer conseguir pensar na possibilidade de nao ser "um pai".

— Eu vou embora, e eu espero que você respeite isso - Ana concluiu, e ele assentiu. - Eu nunca nem deveria ter voltado.

E ela sabia que havia magoado ele com aquela frase. Não deveria ter voltado. Não deveria ter se aproximado dele. Não deveria ter estado com ele.

Ela havia o machucado, do mesmo jeito que ele havia machucado ela. E Ana se odiou porque por alguns segundos, alguns poucos segundos, ela se sentiu bem em perceber que outra pessoa estava mal tambem, que não era só ela.

E entao odiou Christian naquele momento por aquele sentimento.

— Espera, preciso te dar uma coisa - ele falou, indo até o balcão e pegando uma cartela de remédios.

Ana encarou a cartela e estendeu a mão para pegar, confusa.

— Pílula do dia seguinte - ele esclareceu.

Ana mordeu o lábio inferior, sentindo o baque que não esperava naquele momento.

Nossa, ela iria desabar, e de uma forma que não achou que poderia.

Precisava sair.

Precisava estar bem longe quando sua mente processasse tudo.

— Você tem um estoque dessas coisas? - não conseguiu se segurar, ignorando a própria mente fazendo suas ligações.

Christian bufou.

— Claro que não, eu pedi para o Taylor comprar depois de ter levado Ethan e Mia para casa. Por que eu teria...?

— Esquece! Eu tenho que ir - ela disparou, se virando em seguida para as escadas para pegar sua bolsa no quarto.

Quando desceu, não encarou Christian no sofá e nem disse 'tchau', apenas seguiu para o elavador.

Sua mente estava pronta, e ela sentia as lagrimas voltarem a escorrer por seu rosto.

Ela precisava tomar a pílula urgentemente, havia sido muito irresponsável ontem. Ela não podia correr o risco de engravidar pelo menos pelos próximos seis meses, e pior, nunca, nunca poderia ser de Christian. Depois do transplante, os médicos foram muito claros, eles tinham praticamente o mesmo DNA agora, tudo era compatível demais. Um filho era uma hipótese nula, tinha tantos porcentos de o bebe ter uma má formação quanto até mesmo a gravidez não ir adiante, seu corpo expulsar o feto.

Ela nunca poderia arriscar ter um filho com Christian.

Ana sabia que o Grey estava com raiva, mas assim que aquela criança nascesse seria o mundo dele, ela sabia. Grace e Carrick havia o criado bem demais para Christian não entender o amor de um filho. Ele seria ótimo. Iria querer mais. E ela nunca poderia dar mais.

Ana nunca pensou naquilo, claro que não. Eles haviam transado ontem (e a madrugada inteira), nada que sequer começasse uma conversa sobre futuro ou filho. Ela nao pensou sobre as possibilidades e impossibilidades que eles teriam. Não era importante até aquele momento.

Ana sentiu, era como se tudo estivesse fadado para o fim, para um desastre.

Droga, ela estava indo tão bem. Os dois estavam, na verdade. Tudo estava se encaixando, ela se sentia feliz, animada.

Mas aí agora ela se sentia como se nada nunca fosse certo, não para ela pelo menos. Para ela era sempre difícil e apenas difícil, como se ela não merecesse. Aquilo era horrível. Todos aqueles sentimentos ruins sobre si mesma.

Ao chegar do lado de fora do prédio, Ana havia conseguido secar o rosto e impedir mais lagrimas de descerem, e Taylor estava bem ali, a porta do carro aberta, a esperando.

A morena revirou os olhos e o encarou.

— Ele pensa em tudo? Que droga! - reclamou, mas entrou no carro, ouvindo uma risadinha do segurança.