Eu quero seu toque mágico
Sim, porque talvez então
Você me queira tanto quanto eu te quero

— Girl Crush

•••

Ana deixou que Christian enrolasse a toalha em seu corpo e a guiasse para fora do boxer, silêncio em todo lugar, era claro que nenhum médico ou enfermeiro havia entrado.

Ele pegou outra toalha e secou o cabelo dela enquanto a mesma apenas se concentrava em encarar o chão, evitando a todo custo o espelho a sua frente.

— Você tem alguma roupa ou...? - Christian questionou, o tom gentil demais fazendo Ana quase que quebrar novamente.

A morena balançou a cabeça em concordância.

Ela sempre levava um muda de roupa em sua bolsa quando ia a clínica, aprendeu aquilo depois de ter vomitado em sua calça jeans todo o remédio que foi lhe injetado na primeira semana.

— Eu já volto.

A morena permaneceu no mesmo lugar, nem mesmo uma respiração diferente e logo Chrsitian estava de volta, sua bolsa em mãos, colocando em cima da pia e pegando o que precisava.

Short.

Blusa.

Calcinha.

Sutiã.

Escova de dente.

Ana bufou baixinho quando percebeu que ele não encontraria o próximo item que com certeza estava procurando.

Escova de cabelo.

Ela não havia colocado uma em sua bolsa.

— Eu não tenho. Não importa - ela murmurou, fungando em seguida porque já estava sentindo frio.

Christian se apressou em ajudá-la a secar o próprio corpo, ajudou com a roupa e então amarrou seu cabelo molhado mesmo depois que a garota insistiu que não precisava que ele secasse mais com a toalha.

Ele a guiou para fora do banheiro, e os dois paralisaram ao que perceberam Elena no quarto. Ao menos haviam escutado a porta, e sinceramente, a loira platinada não fazia muito barulho com sua presença.

Naqueles três meses que se passaram, havia um acordo silencioso entre os Linconl, naquelas semanas não houveram qualquer tipo de discussão ou desentendimento. Fosse ela com Elena, ou Elena com seu pai.

Para falar a verdade, Ana ao menos conseguiria manter uma conversa direito, imagina discutir.

Eles estavam no meio da primeira semana de abril, Ana estava ali para tomar sua última medicação na veia, algo como hormônio ou soro. A morena não entendia nada daquelas coisas. Mas enfim, seu corpo estava produzindo sangue e nutrientes, seus anticorpos estavam trabalhando e toda aquela palhaçada que era necessária.

Elena a tratava com gentileza e até - algumas vezes estranhamente e que dava muito medo em Ana - com carinho. A morena ao menos sabia como reagir aquilo, nunca havia recebido afeto da loira, imagina algo como carinho.

Uma vez a morena estava dormindo depois passar horas vomitando e ainda depois de uma hemorragia, bem nas primeiras semanas, e ela acordou com Elena acariciando seu cabelo, segurando uma de suas mãos. Ela apenas fingiu ainda estar dormindo e virou para o outro lado, obrigando a mulher a parar de toca-la.

— Christian, Ana, tudo bem? O que houve? - a loira questionou.

Ana não queria nem imaginar como deveria estar seu rosto depois de ter chorado e vomitado, sem contar no banho quente e agora estar com frio. Toda inchada e vermelha, isso sim que ela estava.

A morena deu de ombros, ainda sentindo uma das mãos de Christian em sua cintura.

Também havia aquele momentos nos últimos meses.

Christian estava ali com ela de uma forma ou de outra. As vezes eles ao menos passavam do "oi, como você está?" e ficavam em silêncio pelas próximas horas. Ele se recuperou bem do acidente, mas ainda precisava de umas idas ao médico, então ele sempre passava na clínica com esses tempos livres, ou então na mansão do Grey. Ana passava muito tempo lá com Mia e Kate. E ele não se afastava. Ele nunca se afastava. As vezes eles se aproximavam de repente, quase chegaram a se beijar centenas de vezes naquelas semanas, e não importava quem chegava, Christian não se afastava, quando aquele era sempre o primeiro ato de Ana.

Nem mesmo Elena ali.

A platinada passou rápido os olhos pela mão dele em sua cintura, sem nenhuma expresso diferente, quando como se apenas chamou sua atenção, voltando o olhar para o de Ana logo em seguida, ainda esperando uma resposta.

— Está tudo bem - a morena respondeu enfim, caminhando em seguida em direção a cama, pegando uma garrafinha de água no criado mudo.

Seu estômago ainda doía, e sua garganta nem se falava, mas ela estava mortalmente com sede.

Elena suspirou, deixando a bolsa numa das poltronas, indo até Ana em seguida, que se concentrou em sua garrafinha antes que a mulher resolvesse tocar em qualquer parte de seu corpo.

— Ela está bem, não foi nada demais - Christian murmurou, tendo a atenção de Elena.

Ana se sentou na cama, colocando uma perna em cima do colchão.

— Já tomou o remédio? - a loira questionou.

Na maioria das vezes que Ana vomitava era por causa dos remédios que eram muito fortes.

A morena balançou a cabeça.

— Não - respondeu ela antes de levar a garrafinha a boca.

Foi uma sentença mossilabica, uma palavra que queria dizer muita coisa. Não. Nao, ela nao havia tomado os remedios ainda. Sim, ela forçou o vômito.

Todos os três ali sabiam exatamente o que havia acontecido, e nenhum deles tinha mais coragem para falar sobre.

Elena apenas balançou a cabeça, descansando uma das mãos no pé descalço da garota.

A loira tinha a mania de tocar nela o tempo inteiro. Aquilo era um porre, claro.

— Bom, eu tenho que ir - Christian se aproximou de Ana, tendo sua atenção total com as palavras.

Ela meio que não queria que ele fosse. Mas jamais pediria que ele ficasse.

— Eu te ligo depois, okay? Ou você pode me ligar também... Quando quiser - ele falou, agora bem perto.

Ana balançou a cabeça, encarando seus olhos cinzentos e tão claros.

Christian era tão bonito que Ana se perdia as vezes.

O outro sorriu de leve, ficando sem graça com o olhar penetrando da garota, em seguida deixando um beijinho em sua testa.

— Tudo bem? - ele questionou a ela, que ainda o encarava.

Elena se afastou, sensatamente, indo até a janela para observar o pátio lá embaixo, dando privacidade aos dois.

— Sim, está tudo bem - Ana respondeu em voz baixa.

— Eu posso ficar se você quiser.

Poder ele não podia, mas dava seu jeito.

— Não, sério. Eu sei que tem um monte de coisas importantes para fazer.

Ele inclinou a cabeça.

— Nada tão importante quanto você - respondeu e o coração de Ana deu uma volta completa e parou do lado avesso, com certeza, porque não estava batendo normalmente.

— Eu estou bem. Mesmo. Obrigada... por tudo.

Christian bufou, num gesto de que não havia feito nada.

Mas ele havia. Ele havia feito tudo. De repente havia sido tudo para Ana.

Sem pensar, a morena passou uma das mãos por seu pescoço e o puxou pela nuca, tocando os lábios nos dele por dois segundos, apenas para sentir aquela sensação incrível que sempre sentia: a paz que seu corpo recebia, o mundo se apagando, o silêncio de todo o barulho que repercutia.

Christian não se importou, apenas tocou a testa na dela inspirou profundamente o ar.

— Se cuida, tá? Eu preciso mesmo de você - ele sussurrou para ela.

Ana sorriu levemente, acariciando seu cabelo, a mão ainda em sua nuca, mantendo o rosto dele perto do seu, ignorando totalmente Elena na janela e seus batimentos desenfreados.

— Eu vou tentar - respondeu.

Christian balançou a cabeça e então se afastou, pegando as mãos dela entre as suas.

— Já é o suficiente para mim - garantiu ele, apertando suas mãos por um segundo antes de repousa-las em seu colo.

Ana sorriu novamente, ele beijou sua testa novamente.

— A gente se vê depois - falou ele, quebra do a bolha que entraram sem perceber e então se afastando por completo. - Tchau, Elena.

— Tchau, Christian - a loira respondeu, e Ana teve certeza que ela viu e ouviu cada pequeno detalhe.

A porta do quarto logo se fechou, e as duas ficaram sozinhas por três segundos antes de uma enfermeira entrar.

Era a hora do remédio.

— Eu sei que é estranho e provavelmente você não vai acreditar em mim - Elena falou, próxima a morena novamente enquanto a enfermeira preparava tudo para Ana. - Mas eu fico feliz com isso, com você e Christian. Vocês parecem se gostar, você parece feliz quando ele está por perto.

Ana a encarou, sem expressões.

— É provavelmente a coisa mais estranha que você já me ouviu dizer devido a situação e ao passado, mas é a verdade. Eu nunca senti algo assim antes, estar feliz por algo que nem tem a ver comigo, mas estou, sinto isso, quero que sorria e quero estar presente vendo seu sorriso - ela declarou baixinho para Ana.

A morena desviou o olhar, encarando agora o jelco que a enfermeira abria.

— Acho que é mais estranho eu acreditar em você, com certeza - respondeu, e o tom declarava que não queria mais falar e nem ouvir nada.

•••

Três dias depois e Ana tinha suas unhas das mãos pintadas de vermelho assim como a dos pés.

Três dias e ela havia comido dois potinhos de gelatina no café da manhã, pulado o almoço e comigo alguma colheradas de salada de fruta antes de ir até o Esclava porque precisava cortar o cabelo.

Três dias e tudo ainda estava no corpo de Ana. Os remédios e a comida.

Ela não havia vomitado.

Ela não havia forçado e nem mesmo sem querer.

Seu dia estava tão feliz que ela numa imaginou que poderia mesmo ser um motivo para felicidade. Com o cabelo macio e cheiroso, as unhas limpas e sem cutículas, depilação em dia e sobrancelhas perfeitas, Ana deixou um novo foto no insta ao mesmo tempo que seu celular tocava.

O nome de Christian brilhava na tela.

— O que você quer? - ela questionou, logo sorrindo porque sabia que o irritava quando atendia a ligação daquela forma.

— Que você seja mais gentil com as pessoas, grossa. Quer saber? Nem sei para que te liguei, tchau.

Ele havia desligado na sua cara!?

— Você tem fetiche em fazer ele desligar o celular na sua cara, só pode - Kate comentou.

Ela também estava com o cabelo bem macio e cheiroso, por sinal.

Ana ficou encarando a tela do celular, a ligação encerrada, longos segundos e ele não voltou a ligar. A morena revirou os olhos, e enquanto sentava no banco de trás do carro, com o motorista logo dando partida.

— Liga logo - Kate resmungou.

Ana bufou, ligando para o bendito.

O Grey realmente demorou cinco chamadas para atendê-la. Ana revirou os olhos.

— Olá, querido, tudo bem? Como passou o dia? Tudo certo? - o tom sarcástico fez Kate rir alto e Christian xingar baixo do outro lado.

— Você está aonde? - ele questionou.

— Hum, um relacionamento abusivo temos aqui - a morena respondeu.

— Você não faz ideia.

Ana riu.

— Eu estou saindo do Esclava, indo para casa, pensando no meu chuveiro - ela respondeu. - Meu cabelo está tão cheiroso que se eu fosse você viria até mim só para sentir, iria querer me agarrar, com certeza.

Kate riu alto novamente.

A loira ainda não era a fã número um de Christian, mas o outro havia literalmente salvado a vida de sua melhor amiga, era irmão de seu "namorado" e nos últimas apenas fazia Ana sorrir. Eles não tinham realmente um relacionamento, mas de alguma forma aquelas ligações se tornaram íntimas de repente. E Kate meio que estava feliz com aquilo.

— Tentador - Christian murmurou para a fala sugestiva de Ana.

— É tão legal ter acesso vip num salão de beleza, melhor investimento da vida que Elena podia ter feito, eu faço tudo e fico linda em um só lugar sem precisar pagar nada, e ainda sou super paparicada só porque eu sou eu.

— Faz tudo?

— Tudo. Tudo mesmo.

— Eu estou imaginando esse tudo, e, olha eu estou pensando em tudo mesmo.

O rosto de Ana esquentou e suas maos suaram.

— Bom, é tudo, então... - ela sussurrou.

— Cruzes, Ana. Podia pelo menos esperar eu estar longe - Kate comentou.

— E minhas unhas, claro, estão lindas - a morena continuou, admirando a mão, cortando o clima que se instalou.

Nãoera a hora.

— Que cor?

Ana mordeu o lábio inferior.

— Vermelho - respondeu baixinho, já fechando os olhos porque sabia o que iria ouvir.

Christian riu do outro lado.

— Acho que você está muito caidinha por mim, sério, já estou ficando com medo de todo esse amor - ele brincou.

Ana resmungou o xingamento.

Na última ligação, que fora ontem a noite, Ana comentou que precisava urgente fazer as unhas porque suas cutículas já estava gritando, e então Christian falou sobre gostar de esmalte vermelho, a morena até brincou dizendo que ele ficaria ótimo com aquela cor nas unhas.

Não foi intencional realmente. Ela só gostava de vermelho também. Apenas.

Eles não se viram pessoalmente desde o dia na clínica, Christian esteve ocupado e Ana também estava se recuperando em sua casa, e lá não era o lugar onde o outro ia, então...

Era estranho, mas ela admitia que estava com saudades dele.

Onde ela havia chegado, hein?

Há alguns meses nem conseguia falar sobre ele ou ouvir seu nome.

— Te busco em uma hora - ele falou, trazendo Ana de volta a realidade.

A morena recostou a cabeça no encosto do banco enquanto sentia o coração bater mais rápido e sua barriga formar aquele friozinho com a ansiedade.

— Para a sua felicidade, eu posso sim deixar você me buscar em uma hora - ela respondeu.

Christian era pontual.

Ana não era.

Em uma hora ela estava de toalha, escolhendo uma calcinha e um sutiã depois de ter passado hidratante pelo corpo e feito uma leve maquiagem. Christian havia mandado uma mensagem dizendo que estava esperando em frente os portões. Ana pediu para que ele entrasse, pois ela ainda não estava de roupa.

Mensagem Christian::

Mesmo q seja tentador vc sem roupa, eu prefiroesperaraqui fora

A garota jogou o celular dentro da bolsa junto da carteira, colocou uma lingerie branca, short alto de couro, regata vermelho e all star. Era quase cinco horas da tarde, ela nem conseguia imaginar onde poderia ir aquele horário.

Ela tentou não pensar muito sobre aquilo enquanto descia as escadas da mansão, era a primeira vez que ela saía com Christian e sozinha. Saía de verdade. Estando sóbria, lúcida, sem qualquer dificuldade ou problema no momento.

O audi preto e infilmado estava parado lado dos portões, e Ana seguiu para a porta do carona e a abriu sem qualquer cerimônia.

Christian mexia no celular, sentado no banco do motorista, usava um terno cinza e o cabelo estava meio bagunçado.

Perfeito.

Ana sentou no banco e fechou a porta, logo colocando o cinto de segurança.

— Oi - murmurou para ele, sorrindo em seguida.

Ele lhe devolveu o sorriso, beijando a lateral de sua cabeça antes de ligar o carro e sair das dependências Lincoln.

— Eu nem sei onde vamos, minha roupa está boa? - ela questionou, mirando o terno chique e caro de Christian.

O outro sorriu de lado.

— Você está linda - respondeu. - E está cheirando tão bem que eu estou mesmo com vontade de te agarrar.

Ana riu.

E Christian inspirou o ar profundamente porque sua respiração sempre ingatava quando Ana ria. O som era tão perfeito.

— Eu nem passei perfume - a morena bateu com a mão na própria coxa, chamando a atenção do Grey para ali.

— Que bom, seu cheiro é incrível, não precisa de perfume - ele respondeu.

Ana mordeu o lábio inferior.

Ele era tão direto as vezes que Ana se perdia totalmente nas próprias palavras.

— Então, para onde vamos? - ela questionou.

— Primeiro, preciso ir ao Grey House, tenho que assinar uns papéis que minha secretaria pediu, e depois nós vamos ao meu apartamento para que eu possa tomar banho, e então nós fazemos alguma coisa.

Ana franziu o cenho.

— Ue, se você está ocupado agora, por que não disse que me buscava mais tarde? - ela perguntou.

Christian balançou a cabeça.

— Por que eu queria te ver e não queria esperar. Se importa de irmos até lá antes?

Ana balançou a cabeça dessa vez.

— Claro que não - respondeu, olhando pela janela, sentindo seu coração dar alguns compassos desenfreados. - Eu também queria ver você logo.

Não demorou mais que vinte minutos para Ana estava de pé ao lado de Christian, os braços cruzados e os olhos admirando tudo ao redor.

— Por que esse prédio é tão alto? Você precisa mesmo de tanto espaço para resolver fusões e aquisições? - Ana questionou.

Christian era tão burguês e metido.

Eles estavam no Grey House, o prédio enorme e espelhado ficava bem no meio do centro agitado de Seattle, reinando entre os outros prédios não tão bonitos nem tão chiques.

O Grey riu baixo.

— Você entende bem de fusões e aquisições, não é? - o outro provocou.

Ana deu de ombros e então mordeu o lábio inferior.

— Acho que a única vantagem são esses elevadores, eles demoram bastante tempo nos andares, ne? Eu acho que dá para um funcionário fazer um discurso de desculpa até chegar a sua sala numa boa.

— Também da para transar numa boa - ele rebateu.

Ana abriu a boca e então a fechou.

— Você já fez isso aqui? Na sua própria empresa?

— No elevador não, mas na empresa sim. O que? O que poderia acontecer? Eu ser demitido?

Ana revirou os olhos, e não teve oportunidade de retrucar antes do elevador abrir as portas.

Era a hora do rush, a maioria dos funcionários já haviam ido embora ou então estavam aos arredores já com suas últimas pendências, o prédio estava mais do que silencioso, então não surpresa o elevador estar totalmente vazio naquele momento.

Christian apertou o número de seu andar, o último, claro.

— Droga, agora não consigo para de pensar nisso - resmungou enquanto via as portas se fecharem lentamente.

Christian riu. Ele estava atrás de seu corpo, as mãos de repente em sua cintura e os lábios arrastando pela pele de seu pescoço, pegando Ana de surpresa, fazendo seu coração bater muito rápido.

— Eu não consigo parar de pensar em você - ele sussurrou, os lábios agora bem perto de seu ouvido, logo dando uma mordidinha no lóbulo de sua orelha, fazendo Ana se arrepiar por completo.

— Christian - ela sussurrou de volta num tom sugestivo se reprimenda, mas saiu quase como um gemido, o que fez o Grey apenas apertar sua cintura um pouco forte, trazendo seu corpo para colar ao dela.

Ana mirou o painel do elevador, estavam indo passar pelo quinto andar ainda, e não havia nenhum número aceso a não ser o da cobertura.

— Eu adoro meu nome na sua boca - ele falou, virando-a para si e logo empurrando seu corpo contra a parede.

Ana engoliu em seco antes que ele descesse a boca para a sua. Ela sempre ficava naquele estado, não importava o quanto haviam se beijado, ela sempre sentia aquela sensação nervosa, o coração parando, as mãos suando, o friozinho na barriga, a real expectativa de beijar Christian.

Ele foi gentil ao tocar os lábios nos seus pela primeira vez naquele dia, movendo a boca sobre a sua de forma lenta e suave, pedindo permissão e adentrando a língua, entrelaçando com a dela, para só então levar as mãos para seu pescoço, sua nuca, puxando seu rosto para o próprio, mudando a natureza do beijo para algo totalmente sensual.

Eles nunca haviam se beijado daquela forma, nunca haviam passado daquela linha. O mais perto que Ana chegava era achar sexy Christian sem camisa ou então perder o ar quando ele encostava o corpo no dela enquanto se beijavam. Mas aquilo ali era outra coisa. Era surreal.

Ela sentia tudo até a pontinha do dedo mindinho.

Christian tocou seu cabelo, segurando e puxando para baixo, expondo totalmente seu pescoço para então mover os lábios de sua boca para um local específico, chupando devagar e com força, com certeza deixando uma marca, fazendo Ana fechar os olhos e pressionar os lábios, um gemido contido.

Só em beijar, Ana percebia aquilo: Christian era bruto. Não ao abraçar, ou fazer carinho, mas ele era bruto quando estava excitado. A forma que ele segurava sua cintura as vezes, o jeito que ele respirava em seu pescoço quando terminavam de se beijar e estava claro que nenhum dos dois iria seguir dali. Ele era bruto. E seria mentira dizer que Ana não ficava imaginando como ele era, não ficava ansiando por aquilo, pela brutalidade, pelas marcas que ela sabia que ele com certeza deixaria por todo seu corpo...

Ele desceu a mão que estava em sua cintura direto para sua bunda, apertando por cima do short de couro, com força, fazendo Ana gemer contra o peito dele ao que ele a pressionava contra seu corpo, fazendo-a sentir que ele estava excitado.

A morena moveu a cabeça, ficando na ponta dos pés para tocar os lábios nos dele, que a beijou de bom grado, tocando em seu rosto, trazendo para si, a outra mão agora seguindo o caminho para o botão do short alto.

Aberto.

Descendo o zíper.

Tocando a barra rendada da calcinha branca.

Mordendo seu queixo, respirando contra sua boca.

Adentrando a mão.

Tocando por cima tecido fino da calcinha, Ana gemendo, mordendo seu ombro.

Ele pressionou o dedo do meio exatamente em seu clitóris, massageando, fazendo Ana revirar os olhos e xingar mentalmente.

Por que, PORRA, aquilo era muito bom!

E então ele não se contentou, adentrou a calcinha também, sentindo como ela estava molhada.

Ana abriu os olhos, encarando o painel do elevador, o peito subindo e descendo de forma rápido, o lábio sendo castigado pelos dentes agora enquanto Christian deixava mais marcas em seu pescoço.

Décimo primeiro.

Nenhum botão aceso a não ser o da cobertura.

Ela podia aproveitar aquilo.

— Não finja que você não queria que alguém entrasse - Christian sussurrou contra seu ouvido, agora o polegar brincando. - Que alguém soubesse o que esta acontecendo aqui, e bem comigo, com o chefe deles.

Ana não respondeu.

Ela meio que não conseguia pronunciar ou raciocinar com dois dedos de Christian entrando dentro dela de uma forma tão lenta.

Como ele conseguia falar? Como ele conseguia raciocinar?

Ela sentia ele em sua coxa, estava totalmente duro contra ela.

O controle dele...

Droga, tudo era tão excitante que mesmo se alguém realmente entrasse ela nem ligaria.

Indo e vindo.

Indo e vindo.

Entrando e saindo.

Hora rápido hora lento.

Tão molhado.

Massageando com o polegar o tempo inteiro.

Ana sentia que suas pernas haviam virado gelatina, seu coração batia tão rápido que ela tinha a suspeita que ele fosse sair do lugar, o suor acumulava em sua testa e entre seus seios, seu pescoço... Ela tinha que se lembrar de respirar.

A sensação se acumulou bem no pé da barriga, se formando e formando, sendo impossível de aguentar, aumentando cada vez mais.

Christian a beijou com vontade, sugando seus gemidos inevitáveis quando ela gozou, sentindo a umidade quente e prazerosa, sentindo Ana grudar as unhas pintadas de vermelho em seus ombros, só não machucando por causa do paletó e da camisa.

Tudo tão intenso.

E incrível.

Eles ainda permaneceram se beijando por mais longos segundos até que o elevador fez seu "plim" indicando que as portas seriam abertas. Christian subiu o zíper do short de Ana e fechou o botão, com relutância se afastando da garota.

Haviam chegado na cobertura, o andar de sua sala, o corredor vazio indicava que Andrea - sua secretária - já ido embora - e Ross - sua braço direito - provavelmente estava ocupada em algum outro andar.

Christian pegou a mão de Ana e guiou a morena para a própria sala.

A primeira coisa que ela reparou foram as janelas, mas elas eram vistas até do lado de fora, lá embaixo, elas iam do chão ao teto e eram totalmente claras, podendo ver toda Seattle dali, era incrível; mas então ela se virou, percebendo Christian recostando a porta atrás de si, e a morena não conseguiu desviar os olhos da parede.

Ajeitou a alça da bolsa pequena pendurada em seus ombros, mordendo o lábio inferior, o olhar na fotografia na parede.

Christian com toda certeza não parecia ser o tipo de pessoa que pendura fotos na parede do escritório de sua empresa, o que fazia Ana imaginar que provavelmente fora Mia ou Grace quem havia colocado aquela foto ali.

E era tão aleatória. Eles estavam na casa do lago, no meio da piscina, Ana podia ver a parte de cima de seu biquíni na cor azul e o de Mia, ela estava nas costas de Elliot, abraçando-o totalmente e sorrindo largo para a câmera que ela lembrava bem que era Grace quem segurava e tirava a foto, Mia estava agarrada a Christian, o sorriso torto e um pouco nervoso porque ela não sabia nadar e eles estavam fundo demais. Era engraçado como Ana lembrava dos momentos de uma forma diferente, ela podia olhar para as fotos mas o que lembrava era algo totalmente diferente, ela podia estar naquela piscina, mas se lembrava apenas de Mia com medo de se afogar, lembrava apenas de Elena a proibindo de comer mais que dos pedaços de pizza na noite anterior... o dia anterior...

Agosto, 2008

— Droga, Mia, acho que não é assim que deveria ficar - Ana resmungou, o tom manhoso ao encarar a massa misturada que deveria ser um bolo.

Era o aniversário de casamento do Sr. e da Sra. Grey, Mia e Ana tiveram a ideia de fazer um bolo.

Nada mal, claro.

A não ser o fato de que tinham dez anos e nunca haviam feito nada mais que esquentar água no microondas. Mas Ana tinha um celular com internet e YouTube e Mia tinha permissão para usar a cozinha, então...

O que resultou foi uma massa socada e branca demais depois de cinquenta minutos no forno.

— Tá bem diferente do vídeo mesmo - Mia comentou, analisando.

Bom, no vídeo havia um lindo bolo rosa de dois andares, na realidade havia muita farinha e uma aparência de que havia sido comigo e vomitado.

— Somos péssimas - Ana suspirou, triste. - Melhor juntarmos nossas mesadas e compramos alguma coisa. O que acha de um vale para a Rancoks?

A Rancoks era uma padaria no outro lado do bairro, onde vendia os melhores donuts do mundo.

— Mas isso não é pouco? E os vales são apenas para um donuts - Mia falou.

— Nós podemos dar dois vales - Ana rebateu, como se fosse a ideia mais brilhante.

Mia balançou a cabeça, não gostando.

Elas recebiam "mesadas" toda semana (Ana não entendia porque se chamava mesada se elas não ganhavam por mês, mas vida que segue) e podiam fazer o que queriam com o dinheiro. Na maioria das vezes elas apenas juntavam suas mesadas e compravam uma única coisa para as duas. Claro que elas podiam comprar algo bem maior, mas não queria ter que falar para os pais, e dizendo para eles era o único jeito de conseguirem mais dinheiro.

A porta da cozinha foi aberta, e dois garotos entraram por ela.

Elliot e Christian.

Eles haviam voltado do acampamento de verão uma semana antes das férias acabarem porque as família iriam para a casa do lago pelos últimos quatro dias das crianças em casa. Christian parecia feliz com aquilo, já Elliot só reclamava porque aparentemente ele estava quase namorando lá.

A fase em que os quatro estavam era engraçada. Houve um tempo em que todos brincavam juntos, realmente, das diversas brincadeiras, até mesmo cabaninhas debaixo das escadas, ficavam a madrugada inteira acordados. Mas agora, Ana tinha dez anos, Mia onze, Elliot quase dezessete e Christian havia acabado de fazer quinze. Mia e Ana eram as "criancinhas", e Christian e Elliot se achavam adultos que deveriam mandar nelas.

Haviam discussões lendárias e os quatro quebravam o pau, Mia nunca abaixaria a cabeça e Ana estava atrás dela, sempre concordando seja brigando ou gritando, muitas vezes nem sabendo o direito que ela estava tentando ter, mas estava lá, lutando junto. Era tão estranha a forma como o tempo passava de pressa e ao mesmo parecia que parava para algumas pessoas, Ana e Mia ainda brincavam de cabaninha debaixo da escada enquanto Christian e Elliot pulavam a janela para saírem escondidos de madrugada.

— O que as pirralhas estão fazendo? - Elliot questionou abrindo a geladeira com as mãos sujas sem importar.

Na verdade, os dois estavam sujos. Estavam jogando futebol no gramado, e Ana franziu o nariz ao ver toda aquela sujeira e suor quando eles chegaram.

— Mamãe vai brigar com você quando ver essas mãos podres na geladeira - Mia ralhou irritada. - E pirralhas são suas amiguinhas.

— Mamãe vai brigar com você - Elliot a imitou, o que fez Mia jogar um pedaço do bolo em cima dele.

— O que é isso? Argamassa? - ele questionou.

Ana gemeu em desgosto.

— Bolo - resmungou em resposta.

— Ele sabe que deveria ser um bolo? - Christian questionou, tocando a massa branca, o que fez Mia rosnar por causa das mãos sujas do outro.

Sim, rosnar.

— Parem de zoar o nosso bolo, ele pode escutar e... ficar pior - Ana murmurou.

— Impossível - Elliot rebateu, também chegando perto.

— O que vocês vão dar ao papai e a mamãe? - Mia questionou em desdém, provavelmente querendo roubar a ideia.

Era uma competição, claro. Os dois sempre se juntavam, assim como Ana e Mia.

Elliot e Christian se encararam, um acordo silencioso de que não falariam.

Mia revirou os olhos.

Ana bufou.

— Não é justo, nós não temos dinheiro, vocês tem - Ana reclamou.

Mia balançou a cabeça e cruzou os braços.

Christian estava trabalhando na casa dos Linconl, a mansão estava em obra e ele sempre ajudava, o que o fazia ganhar num dia mais do que Ana e Mia juntas durante um mês; e Elliot era um verdadeiro arruaceiro, ele vendia tudo na escola, até mesmo as figurinhas que vinham (de graça) nos pacotes de salgadinhos.

— Que pena - Elliot ironizou.

— Eu vou subir, nem eu estou me aguentando - Christian falou, logo seguindo para fora da cozinha.

— Eu idem, não coloquem fogo na casa, pirralhas, eu vou sair a noite e não quero ficar com cheiro de fumaça - Elliot murmurou e claro que Mia jogou mais "bolo" nele.

Depois de jogar a massa esquisita e provavelmente assassina (vulgo bolo) fora, Mia e Ana foram para o quarto da mais velha pensar sobre o que iriam dar ao casal Grey e decididamente (por questão de honra feminina) teria que ser um presente melhor que o que Christian e Elliot daria.

— Meus pais já chegaram - Ana falou, ouvindo os carros lá embaixo.

— Junto dos meus - Mia disse, olhando pela janela. - Oba, trouxeram pizza. Muita pizza. Chama os idiotas, vou correndo para arrumar a mesa, assim vamos ser os exemplos na frente deles e papai e mamãe vão jogar na cara deles isso - Mia foi falando enquanto saía do quarto, fazendo Ana rir alto.

A morena também logo saiu do quarto, o de Elliot já estava aberto, o que queria dizer que ele já havia descido e provavelmente teve a mesma ideia de Mia (Elliot era mais que criança que elas as vezes)

Então Ana apenas seguiu para o quarto de Christian. Bateu uma única vez, porém não fora atendida, abriu a porta devagar, colocando a cabeça do lado de dentro para espiar.

Nada.

Escutando o barulho de dentro do closet, Ana percebeu que Christian provavelmente estava trocando de roupa, então ela apenas entrou no quarto e o chamou.

— Christian! Nossos pais chegaram - falou.

— Já estou indo - ele respondeu.

Ana balançou a cabeça mesmo sabendo que ele não podia ver, ela apenas estava concentrada no pequeno aparelho brilhando e vibrando na mochila clara em cima da mesa.

— Seu celular está tocando - ela falou num tom baixo, seguindo para o aparelho.

O bolso estava aberto, e Ana apenas puxou o aparelho, porém, algo estava em baixo e acabou saindo da mochila.

A garrafinha preta e metálica brilhou para os olhos azuis de Ana, fazendo a garota franzir o cenho para o objeto.

Ela sabia o que era, e só pela forma fácil que escapulira da mochila, Ana percebeu que estava vazia.

— O que está fazendo? - Christian questionou, e Ana nem havia percebido a porta do closet se abrindo até que ele já estava bem perto dela.

Ele demorou alguns segundos analisando a cena, até seus olhos brilharam de raiva e a expressão totalmente irritada.

— Você estava mexendo nas minhas coisas! - ele gritou com ela.

Ana arregalou os olhos, sentindo seu coração bater muito rápido, tropeçando os pés para trás com o susto, o corpo logo batendo na parede.

Christian nunca havia sido mais do que gentil com ela. Tudo bem que nos últimos meses ele estava sendo bem distante, as vezes ao menos falava com ela mesmo passando ao seu lado, mas sempre que a palavra era dirigida a si, era carregada de gentileza e até carinho. Ana tinha os Grey como seus irmãos mais velhos, eles a protegiam do mesmo jeito que protegiam Mia.

— Droga, desculpa! Eu não queria ter gritado com você, eu só... Me desculpa, Ana - ele se corrigiu automaticamente ao perceber os olhos da garota se enchendo d'água. - Não chora, foi sem querer, eu não queria ter gritado, eu só fiquei nervoso com você mexendo na minha mochila...

— O seu celular estava to-tocando, desculpe...

— Não peça desculpas, eu sei que só queria ajudar. Droga, não chora, para de chorar - ele se aproximou, o que fez Ana limpar as lágrimas com as costas das mãos.

Ela não era acostumada com aquilo, seus pais não gritavam com ela. Podiam ser um pouco diferentes dos pais de Mia, mas com ela eles não gritavam.

— Eu sinto muito - ele sussurrou, tocando seu cabelo, acariciando sua cabeça, como se aquilo fosse fazê-la parar de chorar. - Está tudo bem, para de chorar, okay? Já passou.

Ana respirou fundo, puxando bastante ar, tentando parar de chorar, o que demorou alguns minutos, mas logo seu rosto estava apenas vermelho, longe lágrimas.

— Okay, tudo bem agora? Me desculpe, de novo, eu nunca mais vou fazer algo assim, ta?

A morena balançou a cabeça, engolindo em seco.

Christian pegou suas duas mãos, segurando as entre as suas e ficou bem a sua frente, fazendo Ana encará-lo.

— Preciso que me prometa que não vai contar nada disso para ninguém, nada sobre a garrafa e muito sobre eu ter gritado com você. Afinal, não foi nada demais, mas você como nossos pais são, vão fazer um tremendo auê por nada - ele murmurou.

Ana mirou o chão.

Ela sabia que era algo importante, ela tinha sim que contar para Grace, pelo menos.

— Não posso - respondeu.

Christian suspirou.

— Isso não vai mais acontecer - ele insistiu.

Ana voltou a encará-lo, levantando uma das sobrancelhas.

— Eu sei o que tem na garrafa, meu pai tem uma, ele coloca álcool, e eu tenho certeza que você também - ela falou. - Isso não é legal, você nem tem idade para isso.

Christian revirou os olhos, soltando suas mãos.

— Isso é coisa minha, okay?

— Essa é sua forma gentil de dizer que não tem nada a ver comigo? - ela questionou com desdém.

Christian deu de ombros.

— Então eu posso contar para tia Grey - ela ameaçou, fazendo Christian arregalar os olhos.

— Ela vai me matar - ele resmungou.

Ana quem deu de ombros dessa vez.

Christian bufou.

— O que você quer? - falou entredentes, irritado.

Ana sorriu cinicamente, cruzando os braços.

Ao menos parecia a garotinha que estava chorando há alguns minutos.

— Que me prometa que nunca mais vai beber - declarou.

Christian inclinou a cabeça.

Não esperava por aquilo, logo de tudo o que ela podia pedir.

— Não posso, só tenho quinze anos, seria uma promessa totalmente vazia.

Ana mordeu o lábio inferior.

Realmente ele estava certo.

— Huuum... então prometa que não vai mais beber até ter idade legal - falou.

— Não posso também. Eu vou para faculdade, iria quebrar a promessa no primeiro dia.

Ana bufou.

— Qual é, esse negócio deve ser horrível, tem um cheiro horrível, que necessidade! - ela se irritou. - Mas, ta, então prometa não beber mais até a faculdade.

— Huuum, que tal até os dezoito?

Ana levantou as sobrancelhas.

— Vai ser quando você for para faculdade.

— Até os dezoito então.

Ana suspirou em rendição.

— Eu juro, se eu desconfiar, você está muito ferrado, eu conto tudo para a tia Grey, até mesmo que você pula a janela do quarto de madrugada para ir para sabe-se lá onde...

— Okay, okay, entendi. Eu prometo, pronto - ele estendeu a mão para ela, para selar o acordo.

Ana encostou a mão na dele, mas logo a retirou.

— Espera! - falou. - Precisa me dizer também qual o presente que você e o Elliot vão dar para os tios Grey.

Christian balançou a cabeça.

— Tia Greeeey - Ana gritou bem baixinho, já abrindo a porta do quarto.

Christian a puxou de volta pela mão.]

— Eu não sabia que você era um demoniozinho, com quem aprendeu essas coisas?

Com minha mãe... - Ana pensou. Já vira Elena fazendo aquele tipo de coisa tantas vezes, que havia aprendido de cor e salteado.

— Então?

— Eu não posso contar.

— Então vai dormir comigo e a Mia na cabaninha debaixo da escadas nos próximos quatro dias de férias.

Christian xingou em voz alta, o que fez Ana arregalar os olhos.

— Desculpe - ele sussurrou de volta. - Eu durmo, durmo o mês inteiro naquela droga, mas não vou falar.

Ana deu de ombros, concordando com a cabeça e então esticando a mão, finalmente selando o acordo.

Aquela fora a vez que mais falou com Christian provavelmente em toda a sua vida, e acreditava que não teria uma conversa tão longa com ele nunca mais.

Claro, ela não fazia ideia dos próximos acontecimentos em sua vida, mas aquele havia sido um momento legal.

— Você cumpriu? - Ana questionou, tocando de leve na fotografia dentro do porta retrato pesado e bonito.

Christian tocou os lábios em seu cabelo, e então balançou a cabeça.

— Sim - ele respondeu num tom fechado, o que claramente dizia que não queria falar sobre o assunto.

Ana se virou, esbarrando os lábios nos dele, mas sem realmente beijá-lo.

— É uma ótima mesa - ela sussurrou, olhando atrás dele, o objeto grande e estranhamente não bagunçado, mas logo sentindo um vibração contra si.

— O que? - ele questionou à ela antes de pegar o celular no bolso.

— Empresa. É uma ótima empresa - ela falou, dando um passo para trás. - Não vai atender? - questionou quando o mesmo suspirou ao olhar o visor e então recusar a ligação.

Automaticamente o celular voltou a vibrar.

Ana franziu o cenho.

— Deve ser importante - falou quando Christian novamente recusou.

— Não, não é importante - ele murmurou irritado quando o celular voltou a vibrar novamente.

Ele recurou mais uma vez e então baixou a barra de notificação, colocando o aparelho na função modo avião, antes que carregasse por completo, Ana ainda pôde ver mais uma vez o nome aparecer na tela antes de ser recusado em forma automática e então o celular perder sinal por completo.

— Já volto - Christian informou, seguindo para uma porta que provavelmente deveria ser o banheiro enquanto Ana resolveu se sentar no sofá em formato de L que havia no canto da sala.

O Grey voltou em segundos, indo direto se sentar na cadeira atrás da mesa, pegando os papeis organizados em cima da mesa e assinando rapidamente em algumas folhas.

O clima era totalmente outro, Ana sabia que não era com ela, alguma coisa o perturbava naquela ligação.

Mas quem era Leila?

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