5 Anos

Ano-Novo


— Papai… Papai… Papai! — Tony acordou com a voz de Morgan chamando por ele.

— De quem é a vez? — ele perguntou grogue, mas não obteve resposta. Então abriu os olhos e viu o rosto da filha.

— Maguna?

— Banheiro.

— Banheiro… — o homem demorou um tempo pra ficar entender o que a filha quis dizer, ainda grogue. Até que enfim a ficha caiu, como uma injeção de adrenalina. — Oh, merda! — ele se livrou da manta do sofá com dificuldade, e então pegou a filha no colo e correu até o banheiro. — Quase lá… Quase lá.... — ele disse agitado, a ajudando a se despir e sentar no troninho. — E… pronto! Manda ver. — ele encostou na parede para respirar. — Você não me ouviu dizer aquela palavra agora a pouco, né? — perguntou olhando para a menina, que cantava e balançava as perninhas, totalmente alheia. — Ótimo. — respirou aliviado.

— Mas que jeito de acordar o seu velho, heim! — Tony comentou enquanto caminhava com a filha no colo. — A mamãe iria adorar presenciar essa cena. Aliás, cadê a sua mãe? — foi até a cozinha, onde encontrou um bilhete na porta da geladeira. — “Videoconferência no escritório”. Bom! Acho que somos só nós dois pro lanche! Tá com fome? Eu tô faminto. — ele pôs a menina no cadeirão e abriu a geladeira.



Após realizarem a refeição, Tony decidiu levar uma xícara de café para a esposa. Quando parou na frente do escritório, pôs o dedo na frente dos lábios, pedindo silêncio da parte de Morgan; que repetiu o gesto, entendendo o recado. Então ele abriu a porta devagar, encontrando Pepper de maquiagem feita, usando camiseta, blazer, calça moletom e um confortável par de pantufas.

— Podem entrar, eu acabei de encerrar a reunião.

— O que houve de tão importante que te fez trabalhar em um feriado? Aliás, eu amei o seu visual “trabalhando em um feriado”. — ele disse, olhando-a de cima a baixo, enquanto ela caminhava até ele.

— Muito obrigada. — ela beijou a bochecha de Morgan. — Não foi nada demais; só o último faturamento do ano. Isso é café?

— Sim. Fizemos especialmente pra você.

— Bem, então neste caso… — ela pegou a xícara e deu um gole. — Como foi o filme?

— O papai dormiu de novo. — Morgan riu.

— Eu não dormi! Só descansei os olhos.

— Você dormiu assistindo Frozen.

— Descansei os olhos. — ele repetiu.

— Você parece o meu pai falando isso. Ele não parece o vovô?

— Vovô! — Morgan riu.

— É um filme tão parado, e tem todas aquelas músicas! Se fosse um filme com mais ação eu não teria dormido.

— Então você admite? — Pepper sorriu vitoriosa e saiu do escritório, sendo seguida.

— Ok, eu admito. Maguna, na próxima vez eu escolho o filme. Vou te apresentar John Wick. — Tony sentiu o olhar mortal da esposa em sua direção. — O que? Você sabe que eu tô brincando. — ele pôs Morgan no chão. — E então, está tudo certo pra amanhã?

— Sim. — a mulher se sentou no sofá, depois de pegar a manta no chão. — O pessoal do cabelo e maquiagem vem às onze, então preparem-se para comer as sobras de hoje, porque eu não vou cozinhar. Já o pessoal da organização e buffet vem às quatro e nossos convidados às sete. O jantar vai ser às oito…

— E a queima de fogos meia-noite em ponto. — Tony acrescentou a única parte do plano criada por ele, enquanto se jogava em uma poltrona.

— Silenciosos, pois não queremos assustar Morgan. — Pepper concluiu. — A madame aqui tem permissão para assistir os fogos… — ela abraçou a filha, que havia sentado no seu colo; e então depositou um beijo no topo de seus cabelos escuros. — Mas em seguida é direto para a cama.

— Ouviu isso? Direto para a cama! — Tony repetiu.

— Não! — a menina desceu do colo da mãe e correu, sendo seguida pelo pai.

— Temos uma fugitiva! — ele começou a fazer o mesmo som dos propulsores de suas armaduras.

— Não corram dentro de casa! — Pepper pediu e suspirou, antes de beber mais um pouco de café.

— Você ouviu a mamãe! — Tony capturou a filha, que tentou resistir. — Não pode correr dentro de casa! — ele conseguiu domar a fera, e então reparou em algo pela janela. — Olha, tá nevando.

— Deixa eu ver! — a menina tentou se ajeitar nos braços do pai e teve uma ajuda. Então os dois admiraram a bela vista das montanhas de Aspen, onde eles estavam passando as festas de fim de ano.

— É lindo, não é? Como no filme. E como lá em casa, mas sem Gerald e as galinhas.

— Pode brincar lá fora?

— Sua mãe nos agradeceria... — ele deu uma olhada no relógio. — Nós temos uma hora e meia até o pôr-do-sol. Dá tempo de fazer um boneco de neve e uns anjos. Vamos lá; vamos chamar a mamãe e botar roupas quentes. E você perdeu a chance de cantar aquela música!



No dia seguinte, tudo seguiu como Pepper havia planejado. A casa, ainda com vestígios da decoração de natal, recebeu novos ornamentos para celebrar o atual feriado. O cheiro de comida estava delicioso e a playlist de fim de ano de Tony tocava desde cedo.

— Muito bem… — Pepper pôs uma tiara branca nos cabelos de Morgan. — Você está pronta. Por favor, fique limpa.

— Okay…

— Quer me ajudar a escolher minhas jóias?

— Sim!— a menina se agitou, até que a mãe se sentou ao seu lado na enorme cama, segurando a maleta com as jóias que havia decidido levar para a viagem.

— Muito bem! Vamos começar pelo… colar. — Pepper ergueu duas opções e Morgan apontou para o que queria. — Ótima escolha! — ela rapidamente prendeu o objeto ao seu pescoço. — Que tal um bracelete? — a mulher mostrou as opções e Morgan escolheu. — Muito bem, agora faltam os...brincos.— Pepper prendeu o bracelete com diamantes no pulso, antes de escolher um par entre os vários na maleta. — Que tal esses?

— Gostei.

— Você gostou? — a mulher sorriu boba, como sempre ficava quando a filha falava qualquer palavra. Então botou o par de brincos, enquanto Morgan fuçava tudo que havia na maleta.

— Bonito. — a pequena disse, segurando o colar em forma de coração feito de fragmentos de bomba.

— O papai me deu esse de presente.

— Pep! — elas ouviram Tony chamando na escada.

— Aqui no quarto! — a mulher gritou, antes de voltar a olhar para a filha. — Um dia te conto a história por trás dele. — ela disse; e segundos depois o homem entrou no quarto.

— Os convidados chegaram.

— Eu desço em um minuto.

— Papai! — Morgan largou o colar e correu até ele.

— Olha só pra você! — ele a pegou no colo. — Está linda, milady.

— Obrigada. — a pequena respondeu educadamente.

— Precisamos tirar fotos antes que o vestido deixe de ser branco. — Pepper calçava os saltos brancos ao dizer.

— E foi por isso que eu sugeri comprarmos ao menos três vestidos pra hoje.

— E foi muito inteligente de sua parte, porque esse já é o vestido número dois.

— O que houve com o primeiro?

— Nada de mais. Apenas um pequeno incidente envolvendo um copo d’água. — a mulher se levantou, e Tony finalmente pôde dar uma olhada em seu vestido branco longo com mangas compridas e um enorme decote, uma faixa na cintura de mesma cor e cheia de diamantes, e uma fenda na lateral, que revelava sua bela perna esquerda. O homem engasgou. — Você está bem?

— Você está deslumbrante. — ele disse, meio tonto.

— Obrigada... Assim como você, Sr. Stark… — ela puxou levemente a lapela do terno dele. — Sério, você está bem? Está meio pálido.

— Não foi nada. Apenas minha esposa quase me fazendo ter um ataque com esse vestido. — soltou uma lufada de ar, tentando se recompor. A mulher sorriu.

— Depois de todo esse tempo…

— Sempre, baby. — ele acariciou as costas dela, e ganhou um beijo delicado nos lábios.



Após se recompor, Tony acompanhou a esposa e filha até a sala de estar, onde os convidados bebiam e conversavam. Entre eles estavam pessoas já consideradas de casa, como Happy, Rhodes e os Potts; e outros nem tanto, como alguns tios e primos de Pepper.

Não haviam crianças, então Morgan passou a noite inteira sendo paparicada por todos. Interagiu timidamente com os parentes mais distantes; comeu doces antes do jantar junto com Tony e Rhodes; brincou com Happy, riu de piadas de toc toc do seu avô, e após o jantar, batalhou contra o sono nos braços de Pepper.

— Você pode dormir, meu amor... — a mulher disse, acariciando as costas da filha.

— Não… — a menina respondeu, com o rosto deitado no ombro da mãe.

— Vamos lá... Quer que eu conte uma história?

— Não…

— Quer que o papai conte uma história? — Pepper perguntou no momento exato em que Tony se aproximou com um copo infantil.

— Não…

— E que tal um pouco de leite quente? — ele fez a oferta, e Morgan refletiu por um tempo.

— Sim. — ela cedeu, e ergueu a mão.

— Aqui está. — ele entregou o copo, e a menina imediatamente começou a beber. — Escuta só. Sexta-Feira? — ele cutucou o dispositivo em seu ouvido.

— Sim, chefe? — a voz eletrônica respondeu.

— Por favor, defina um alarme para dez pra meia-noite, para que a Maguna possa assistir os fogos com a gente.

— Alarme definido, chefe.

— Obrigado. Viu? Ela vai me avisar, e então vamos te acordar para ver os fogos. Agora, olhos fechados. — ele fechou as pálpebras da filha, que as abriu de novo e riu, encerrando a gargalhada com um bocejo. — A batalha está perdida, é hora de se render.

— Não… — a pequena disse, mas suas pálpebras estavam cada vez mais pesadas.

— O gelo está acabando! Onde eu posso encon… — Rhodes entrou na cozinha falando alto e foi recebido pelo casal chiando. — Oh. Eu não sabia que vocês… Foi mal. — todos olharam para Morgan, que não demonstrou reação alguma à chegada inesperada e praticamente dormia no colo da mãe.

— Vou levá-la lá pra cima antes que nossa batalha esteja perdida. — Pepper disse, pegando o copo da filha, antes que ele fosse parar no chão, e o entregando a Tony.

— Ok. — o homem depositou um beijo delicado nos cabelos de Morgan e as observou saírem da cozinha. — Você disse que precisava de gelo? — ele deixou o copo de Morgan na pia e foi até a máquina de gelo.

— Sim, está quase acabando. — Rhodes o observou encher um balde.

— Tá olhando o que? — Stark perguntou ao perceber o olhar.

— Você. Como você está?

— Não poderia estar melhor. — Tony respondeu com um leve sorriso, o entregando um balde cheio de gelo e pegando o vazio que estava em sua mão. Rhodes, mais uma vez, viu verdade no olhar dele. Aquilo havia se tornado algo constante nos últimos anos, mesmo que ainda existisse aquela pequena porcentagem que ainda se sentia mal pelo estalo. — E você, como vai?

— Ainda caçando cientistas-malucos; mas o número de incidentes diminuiu bastante desde o acordo, o que é ótimo. Sobra mais tempo para caçar terroristas.

— Primeiramente: você está quebrando a regra número um. E depois: você não respondeu a minha pergunta. Então vamos rebobinar a fita, ok? E você, como vai? — Tony repetiu a pergunta, entregando outro balde cheio de gelo.

— Estou ótimo, obrigado. — Rhodes sorriu, pegando o balde com a mão livre.

— Assim é melhor. Agora vamos voltar para a festa, antes que você me faça dormir. Por que não apareceu quando precisávamos de ajuda? Teria sido útil. Você falaria de trabalho por dez segundos e BAM, o bebê está dormindo.

A festa prosseguiu por mais algumas horas. Todos cantaram, dançaram e beberam. se permitindo aquele momento de alegria enquanto aguardavam pela hora da virada. E quando o momento estava perto de acontecer, os Stark trouxeram Morgan de volta, como prometido.

— Preparada para ver os fogos? — Tony perguntou animado, enquanto Pepper botava um abafador de som nos ouvidos de Morgan, caso algum vizinho resolvesse soltar fogos comuns.

— Sim! — a pequena gritou, com um sorriso enorme no rosto e dando pulinhos de alegria. Então Pepper a pegou no colo e a entregou a Tony, quando a contagem regressiva começou. Quando a contagem chegou a zero, luzes piscaram no céu, saindo não só da casa em que os Potts-Stark estavam, como de praticamente todas da região. Morgan deu gritinhos de alegria e bateu palmas agitadamente, sendo observada pelos pais.

— O que achou? — Tony perguntou, ainda durante as explosões.

— É lindo, papai! — a menina respondeu eufórica.

— Feliz ano-novo! — ele a beijou na bochecha, e Pepper fez o mesmo. Então o casal se entreolhou, com sorrisos ocupando seus rostos.

— Feliz ano-novo. — eles disseram ao mesmo tempo.

— Eu te amo.

— Eu te amo.

E então trocaram um beijo apaixonado, sob as luzes no céu.