Oh, you're in my veins, and I cannot get you out

1

A primeira vez foi quando Todd viu seus olhos.

Eram cor de pinhas, quentes como um pedaço de lenha crepitando na lareira, a cor de um torrão de terra molhado que anuncia vida. A escuridão morna de uma noite de verão pendurada em seu rosto pálido, adornada por cílios que o maravilharam.

Todd não sabia que a poesia era algo que poderia existir em qualquer lugar, mas também não achou que fosse a visão do paraíso.

Afinal, ele só achou estar apaixonado pela primeira vez em tanto tempo.

— Não ligue para eles – a voz entornou pelos lábios rosados de Neil, estampados em um pequeno sorriso – Logo você se acostumará com toda essa bagunça.

Y-yeah, eu acho que sim – Todd conseguiu corresponder um sorriso com veracidade pela primeira vez.

2

A segunda vez aconteceu na caverna.

Onde todos os trasgos viviam do lado de fora e deuses eram criados do lado de dentro, onde Todd permaneceu em silêncio em sua lucidez cálida e silenciosa avivada por cada verso proferido pelos lábios de Neil, onde os cigarros arranhavam suas gargantas e a fumaça os sufocava...

Onde Todd pegou-se sendo observado por Neil através da névoa e embriaguez traiçoeiras.

Todd deslizou para o mundo real por um momento; um lugar taciturno onde não havia muita luz, onde os dormitórios eram úmidos, onde Neil acordava antes de si. Um lugar onde seu pai realmente não se postava como um e sua mãe fingia não ver.

Um lugar onde Todd não poderia amar Neil, se ele estivesse apaixonado.

— Ei, Todd – Neil roçou seus dedos timidamente pelo joelho do loiro -, esta noite nós vivemos aqui. Estamos vivendo o aqui e o agora – Todd percebeu que Neil era poesia, percebeu que ele realmente queria viver aquilo.

Ele achou que estava apaixonado pela pessoa mais iluminada do mundo.

3

A terceira vez foi rápida e ligeiramente confusa.

Como o astro inflamado no céu, o peito de Todd ardia. Em desespero. Enquanto as palavras eram vomitadas pelos lábios trêmulos de forma desesperada e gaga, sua garganta ardia e ameaçava fechar-se. Em completa angústia esperou-se sufocar, enquanto na verdade seus pulmões libertavam-se para mais uma golfada de ar.

O semblante boquiaberto de Neil, o brilho em seus olhos, o deslumbre estampado em seu sorriso clandestino – isso o acalmava todos os dias e a confirmação disso o fez arfar -.

Deus, ele era um anjo.

— Nunca se esqueça disso – Mr. Keating confidenciou, fazendo-o se sentar.

4

A quarta vez pareceu ser recíproca.

O tédio parecia mortífero, estacando no peito de cada presente naquela sala de aula desânimo e descrença de que maneira alguma eles conseguiram sair da aula de álgebra com vida.

Apenas quando o final da tarde chegou e as estrelas penduraram-se no céu anunciando o início de mais uma fresca noite Todd percebeu o quão bem-vindas seriam as aulas de álgebra. Elas pareciam alternar-se entre um universo e outro onde, apesar de Infernais, não se comparavam ao mundo real.

Era seu próprio aniversário e Todd não ligava, acordado do fato apenas quando o presente de seu pai chegou em suas mãos. O mesmo conjunto. O mesmo bilhete.

O mesmo descaso.

Seus joelhos fraquejaram e as lágrimas acumularam-se atrás de suas pálpebras. Ele não gostaria que alguém o visse ali naquele estado, então de toda e qualquer maneira ele tentou esgueirar-se para as sobras, esperando impossibilitar alguma vista indesejada de si mesmo.

— Todd?

Aquela voz. Aquela maldita e amável voz.

— Neil – ele piscou, mandando qualquer resquício de choro embora.

Ele lhe perguntou se estava tudo bem, e Todd confidenciou que era seu aniversário. Eles alaram o kit e quando as folhas espalharam-se pelo céu voando para todos os lados como livres pássaros, suas risadas fizeram-se tão altas que todos podiam ouvir, mas sequer o fizeram.

Exceto Todd e Neil que, sorrindo um para o outro, fitaram-se até o momento tornar-se constrangedor o bastante para fazê-los corar; mas eles não desviaram o olhar.

Talvez Todd estivesse um pouco apaixonado.

5

Todd estava febril, e fora ligeiramente alucinado que ele pensou estar apaixonado por Neil – pela quinta vez -.

Aquela época do ano era traiçoeira, esgueirando por debaixo de suas cobertas o frio que as noites lá fora faziam, fazendo-o ficar doente. Era domingo e na próxima semana, todos veriam Neil brilhar. O mundo teria a sua primeira e última degustação do que o garoto era capaz de fazer, mas ninguém sabia disso.

Nem o próprio mundo.

Então Todd empoleirou-se em uma montanha de cobertas e afundou-se em outra buscando refúgio contra a friagem, enquanto Neil treinava suas falas e batia contra a própria cabeça o script.

— C-Cuidado, Neil – sua voz soou acre e ele pigarreou, mal vendo a figura esbelta de Neil aproximar-se de sua cama.

— Não fale nada, Todd. Você está doente – os deuses, o sono, a febre, tudo deve ter lhe dado a impressão de que os lábios quentes de Neil estavam pousados sobre a sua testa, mas quando Todd abriu os olhos e viu o amigo levantando-se novamente, a dúvida escorregou para trás de sua cabeça e ele se deixou levar pelas falas de Perry e sua voz espetacular.

Todd não estava realmente prestando atenção, e quando mariposas psicodélicas rodearam os cílios de Neil e sobrevoaram seus cabelos rebeldes, o sono lhe acometeu e seus últimos pensamentos foram: eu estou me apaixonando por Neil Perry.

+ 1

Mr. Keating sentou-se ao seu lado e as cadeiras eram confortáveis e suas mãos tremiam tanto! Aquela era a noite de Neil, aquela era a noite de seu show, onde seu estupendo sorriso ofuscaria as luzes dos holofotes e derreteria toda a neve lá fora.

Era a noite onde Todd Anderson se declararia para Neil Perry e sem expectativa nenhuma ele recitaria sua mais nova criação.

Quando Neil apareceu, sua presença encheu o ambiente. Completou-o com calor, com uma verdade nada menos do que libertadora, com os olhos misteriosos de seu personagem piscando para os límpidos e tão brilhantemente infantis de Todd.

Mr. Keating sorriu para os dois garotos.

Ao final, os cabelos suados de Neil adoravelmente colavam-se à sua testa e seu enorme sorriso ao agradecer à plateia conquistou o coração de Todd por completo. Ele queria dizer à Neil naquele momento, gritar para todos ouvirem, toda sua timidez afogando-se no sentimento amornado que assentava-se em seu estômago. Seus olhos estavam repletos de lágrimas.

E continuaram repletos quando Neil o observou da janela do carro de seu pai.

E escorreram pelo rosto ligeiramente avermelhado de frio quando Todd abriu as janelas do quarto para recitar.

Neil esgueirou-se silenciosamente pelo quarto e abriu a janela do quarto, despido da cintura para cima além de sua coroa de galhos e, de alguma maneira, sabia que as nuvens que olhava no céu eram as mesmas que Todd enxergava.

— Desculpem-me garotos. Desculpe-me Mr. Keating. Perdoe-me Todd.

De alguma maneira, quando o estopim da noite anunciou-se longe, Todd deixou-se cair na cama depois de fechar as janelas, amedrontado, triste, sozinho.

Ele amava Neil, e aquilo era uma certeza.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.