4:00 Am

Capítulo 6


“Valery, isto está muito bom!” A sua voz aveludada e máscula falou, enquanto o seu corpo se movia na minha direcção. “Estava assim tão distraído enquanto corrigia os teus trabalhos antigos para só agora ter reparado?”

Ri-me da cara de confusão do Professor Baker, segurando na mão as duas folhas que lhe tinha entregado na tarde anterior, completamente rabiscadas com a minha letra. Pela primeira vez em toda a minha vida podia dizer, com orgulho, que tinha entregado um trabalho duas semanas antes do prazo final.

“Talvez, a verdade é que o Professor parece estar sempre perdido no mundo da Lua.” Comentei, encolhendo os ombros. “Mas, isso não é necessariamente uma coisa má. Eu gosto de estar no Mundo da Lua.”

Ele apenas se riu, acenando a cabeça como que me dissesse que concordava. Ficámos em silêncio um bom tempo, talvez por não sabermos bem o que dizer ou até porque não necessitavamos dizer nada naquele momento, até começarmos a ouvir gritos vindos da sala situada junto àquela em que nos encontrávamos.

O Professor Baker olhou-me e eu olhei-o a ele; ambos podíamos ver a curiosidade crescer a cada grito ouvido. De repente, tanto eu como ele nos levantámos sem fazer muito barulho, indo até junto à parede onde o quadro se situava parede essa que partilhávamos com a outra sala. Encostámos os ouvidos à parede e tentámos entender o que era dito e quem dizia.

“Achas que isso vai resultar, Chester?!” a voz que gritava coberta de raiva e algum nervosismo, parecia ser a do professor de artes, Mike Shinoda. O Mike que deixava Ceci a suspirar. “Estás a brincar com os sentimentos de uma pessoa! Não, não só uma pessoa, mas uma aluna tua! Eu sei que queres resolver isto tudo, eu também quero, mas nunca brincaria com o coração de alguém que não merece!” entendi de imediato que falavam de mim, e engoli em seco. “Ela quer ajudar e tu vais usá-la!”

Notei que o Professor Baker sabia exactamente do que falavam. Talvez não que a rapariga em questão era eu, mas que alguém naquela escola sabia o seu segredo e estava decidida a ajudar; e graças a essa vontade, seria usada e o seu coração seria partido.

“E que solução tens, Shinoda?!” ripostou de imediato a pessoa que depressa entendi ser Chester, não só por Mike o ter referido, mas por conhecer aquela voz em qualquer sítio. “A Val é a nossa única saída, desculpa lá se quero utilizá-la para sair desta merda de esquema que nunca quis! Ela vai esquecer, e decerto nem sente nada por mim, só atracção!”

Desisti de escutar as conversas da sala seguinte e saí de perto da parede, andando a passo largo e apressado até à mesa onde tinha deixado a mala e o Ipod, pronta a ir-me embora; depressa o Professor Baker iria começar com perguntas e eu não queria ter de responder.

A juntar a isso, sentia-me usada embora ainda não tivesse sido. Entendia, por um lado, o desespero de Chester e de todos os outros para saírem daquilo que os prendia naquela escola e naquela falsa vida; ainda assim, não entendia como podia pensar em utilizar-me quando as minhas intenções eram as melhores.

“Valery?” fui lenta demais a ir-me embora, sendo apanhada pela voz do Professor Baker, que parecia agora mais confuso do que nunca.

Virei-me para encará-lo, sentindo agora as lágrimas começarem a tomar conta dos meus olhos; não deixei dar parte fraca, respirando fundo.

“Professor Baker, eu sei de tudo.” Não valia a pena negar, e era mais fácil ser eu a contar tudo o que sabia do que responder às mil perguntas que sabia que ele teria para me fazer. “Eu quis ajudar, e ainda quero. Sei o quanto vos deve custar estar aqui sem escolha, e tudo o que puder fazer, irei fazer. Mas não me peça para falar do que ouvimos porque nem eu sei o que se passa ali.” A minha voz estremeceu, fazendo-me insultar-me a mim própria por ser fraca.

Zacky chegou-se perto de mim e, sem dar por isso, comecei a fechar os olhos com medo do que aí viria. Calculava que não me fosse magoar fisicamente, mas nunca conseguiria ter a certeza disso. Relaxei a minha postura quando senti dois braços envolverem o meu corpo num abraço amigável.

“Lamento. A sério, desculpa por teres de saber tudo isto, de lidar com a verdade e de saberes assim que ele te queria usar.” Disse-me num tom baixo ao ouvido; agradeci mentalmente a Deus por o Professor Baker não levar toda a situação para o lado amoroso. Podia dar porcaria para o nosso lado, mas sabia que nunca falaria nada; se o Chester fosse despedido, eles sofreriam consequências juntamente.

Quebrei o abraço uns segundos depois de ele me abraçar.

“Obrigada, Professor Baker.” Disse honestamente e o toque de entrada para as aulas soou por todo o recinto. “Vemo-nos na sua aula.” Disse-lhe rapidamente, agradecendo pelo toque ter soado na hora certa, saindo como um relâmpago.

O Professor Baker ficou a olhar para mim, sem saber bem como reagir à minha fugida repentina. Ainda assim, não se moveu, sabendo que era errado e suspeito vir atrás de mim.

Procurei Ceci com o olhar, sem sucesso; íamos ter Desenho, portanto calculava que ela já estivesse na sala com o professor Shinoda. Não consegui evitar passar pela porta da sala de Espanhol, onde Chester se encontrava com um ar muito relaxado, como já era hábito nele.

Quando me viu aproximar, sorriu-me e piscou-me o olho. Rapidamente passei o olhar por todo o corredor, vendo que ninguém se encontrava ali. Cheguei-me perto dele, mas não demasiado.

“Vai à merda, Bennington.” Murmurei-lhe apenas, entredentes, saindo de perto dele depressa até á sala que procurava, assim como a pessoa que procurava. Precisava contar a Ceci tudo o que sabia, o quanto antes.

Enquanto andava, podia sentir o seu olhar cravado nas minhas costas, confuso e agitado; no entanto, não importava. Agora o jogo mudava, e quem estava ao controlo era eu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.